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SXSW 2019: Segredos públicos, bagagem em debate
Frank Warren e Brené Brown vão ao festival para fazer reflexões dignas de quem lê confissões do mundo todo e de quem fez as pazes com o passado
A Ju Wallauer falou na live que rolou domingo no Instagram do B9 sobre as tendências envolvendo privacidade. Ela deu detalhes e explicou os possíveis impactos nas nossas vidas. Acho que você devia clicar no link aí e ver, mas vou te dar um spoiler: privacidade vai ser como ter um ajudante para se vestir, ter um ferreiro de confiança ou almoçar em casa: é simplesmente uma coisa do passado que precisa ser explicada para as pessoas mais jovens.
Engraçado que enquanto de manhã a gente pensava em maneiras de tentar salvar a menina Privacidade da morte, de tarde eu tava vendo a palestra de um cara chamado Frank Warren, fundador do site hpostsecret.com que é dedicado justamente a tornar públicos os segredos das pessoas, protegidas ainda sob o anonimato (que também não anda muito bem das pernas).
O conteúdo da palestra é de modo geral um “melhores momentos” do conteúdo do site (toma o link aqui de novo), mas com algumas reflexões do maluco que recebe quilos de cartões postais com segredos todo dia em sua casa.
A questão é o que o site permite que você comente sobre os segredos postados. Como muitos dos segredos são problemas que as pessoas estão passando e não têm coragem de contar, muitos comentários oferecem ajuda, uma palavra amiga, um apoio… e isso ajuda. Essa interação se tornou um dos propósitos do site, que já arrecadou mais de um milhão de dólares em doações para o Sistema Nacional de Prevenção ao Suicídio, que é um serviço que recebe ligações e ajuda pessoas passando por momentos ruins.
Então uma das reflexões dele é como esses segredos podem ser uma bagagem pesada para as pessoas carregarem. Poder postar anonimamente ajuda elas aliviar um pouco esse peso. E eventualmente receber um comentário pode ajudar a começar a resolver um problema. O que tem uma ligação direta com o que a Brené Brown falou numa das sessões que abriu o SXSW na sexta.
Foi um ótimo painel onde a Brown, que é uma conhecida autora de livros e pesquisadora, fala um pouco sobre pertencer no sentido de se sentir confortável em algum lugar ou grupo, se sentir entre os seus. E ela fala sobre a própria trajetória, como ela aprendeu a se sentir confortável na própria pele. E isso passou por ela resgatar quem ela era no passado – estudante, nerd, com cabelo dos anos 80, essas coisas. Que só aceitando e estando em paz com quem ela já foi, mesmo que ela tenha sido um pouco ridícula, ela realmente consegue parar de carregar o peso de tentar esconder isso.
Sacaram? A ligação? Segredos… bagagem… Viu o que eu fiz aí (além de juntar o tema de dois painéis num só)?
Eu não sei até onde vai o futuro distópico que falaram na palestra de tendências da qual a Ju falava no começo desse texto. Mas acho que tem um efeito auto-anulador nele. Por um lado, a perda de privacidade causada pela tecnologia causa uma grande ansiedade em todo mundo e torna cada vez mais difícil lidar com o ambiente hiperconectado. Por outro lado nos obriga a ficar mais ligados das coisas que postamos falamos por aí e também a aceitarmos com mais facilidade nossos erros e quem a gente foi no passado. Uma coisa meio que compensa a outra.
Não que a privacidade não vá deixar saudade. Ela vai, assim como a gente sente falta de almoçar em casa e ainda dar aquela dormida vendo “Globo Esporte” na sequência. Mas a sensação é que a gente vai aprender a conviver com ela e ainda ver valor na situação, como a gente valoriza usar o almoço para interagir com amigos do trabalho. Ou resolver perrengues, como rever o que você compartilhou aí pelas redes.