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SXSW 2019: Por que a Pixar é muito mais legal que você e eu
Trio de animadores do estúdio fez uma palestra bastante entrosada, minuciosa e descontraída no festival
Desculpe, não é nada pessoal. Apenas uma verdade, muito provavelmente, ainda que inconveniente.
Existem dois tipos básicos de palestras no SXSW: as dos pensantes e as dos fazedores. Não estou estipulando um julgamento. Ser de um tipo ou do outro não é garantia de que a apresentação vai ser boa.
Tem gente que é excelente em teorizar, antecipar o futuro, conjecturar, estudar e expressar suas conclusões de um jeito convincente e sedutor. Outro perfil é o de quem está ali porque tem um trabalho ou um conjunto de trabalhos realizados espetacular, seja na área que for. E acontece bastante de palestrantes fazedores desempenharem apresentações decepcionantes, já que se expressar em público não é muitas vezes sua zona de conforto.
Não foi o caso do trio da Pixar que se apresentou ontem na lotada sala 18 ABCD do Centro de Convenções de Austin. Deanna Marsigliese é designer de personagens, responsável por desenhar e executar as figuras que vão dar forma aos heróis imaginados pelos roteiristas; Paul Abadilla é designer de cenários, uma mistura de arquiteto e engenheiro de mundos virtuais, que cria os lugares por onde as histórias vão se desenrolar; e Joshua Holtsclaw é um designer gráfico e elabora todo tipo de material visual que aparece dentro das cenas, como pôsteres, embalagens de produtos fictícios ou painéis de carros de super heróis.
Além de ser ela própria uma personagem de desenho animado ambientado nos anos 60, Marsigliese contou os detalhes do seu processo criativo. A gente não imagina que para chegar à forma final de um personagem, alguém se aprofunde tanto em raciocínios criativos. Um dos vilões de “Os Incríveis 2”, Winston Devor, por exemplo, é narigudo para fazer uma referência a um tubarão, ideia que também se reflete na sua forma de vestir e cores escolhidas.
Abadilla contou, entre outras coisas, que a arquitetura do esconderijo onde a heroína é atacada no mesmo filme é em formato de labirinto, trazendo a ideia da armadilha que acontece na cena para as próprias paredes do prédio onde ela se passa.
Holtsclaw desenvolveu nos mínimos detalhes o rótulo da embalagem de cereais matinais da mesa onde Flecha toma café da manhã. Ela traz uma piada escondida, que acrescenta um segundo nível de diversão à cena.
Embora nenhum das centenas de esboços que cada um deles executou durante o processo vá ser visto pelo público, eles tem uma qualidade artística de dar inveja. Muitas vezes, nem o resultado final de cada uma dessas etapas exaustivas vai ser de fato percebido pela maioria das pessoas que assistem ao filme. Lembra como era o padrão da espiral hipnótica projetada na sala do Hipnotizador? Então.
Mas a paixão e o respeito com que cada um deles trata e expressa o seu trabalho artístico, sem dúvida, é percebida, no conjunto, e é parte do que faz dos filmes da Pixar o sucesso que são. Do ponto de vista criativo, os três deram uma das palestras mais inspiradoras que eu vi até agora nesta edição do festival.
Guys, you’ve got a friend in me.
> Confira a cobertura completa do B9 no SXSW 2019