“Shazam!” resgata valores tradicionais apenas para repeti-los em formato mais pop

“Shazam!” resgata valores tradicionais apenas para repeti-los em formato mais pop

Zachary Levi batalha solitário para dar corpo à aventura ingênua do filme, que repete os mesmos problemas de outras adaptações da DC Comics pelas vias da sátira

por Pedro Strazza

É difícil não encarar “Shazam!” a princípio como uma espécie de limpeza de paladar na DC Films, dado que a premissa do longa de David F. Sandberg parece surgir como uma antítese a tudo que a Warner Bros. e sua divisão focada nas adaptações dos quadrinhos da editora vem produzindo desde os anos 2000. A história de Billy Batson, o menino que vira um super-herói ao passo de uma palavra mágica, inevitavelmente escapa da rotina de produções sóbrias e/ou epopeicas do estúdio com sua ambientação terrena, ainda mais quando localizada em um contexto de redução de custos e do desejo da empresa por tramas localizadas. Para o público, a ideia soa como um alívio, em especial depois da verdadeira crescente de exemplares cataclísmicos e fatais do gênero nos últimos tempos que deve encontrar seu ápice com o próximo “Vingadores”.

Ao mesmo tempo, o filme do antigo “Capitão Marvel” também chega ao cenário num momento da História no qual as aventuras de super-heróis parecem estar no auge dentro da cultura pop, uma época onde personagens como Batman, Superman e Homem-Aranha encontram-se tão sedimentados no imaginário cotidiano que eles passaram a ser os referenciais imediatos das pessoas – algo que inclui, por consequência, o deslumbre amplificado da faixa infantil por estas criações. E apesar do viés cotidiano continuar a existir, é exatamente esta faceta pop que atua como verdadeiro norte da produção, um cuja sede por beber deste mundo no qual o extraordinário é um item de conversa se confunde muitas vezes com esta retomada do fascínio pelo extraordinário – e é mais ou menos à partir daí que seus problemas começam.

O diretor David F. Sandberg, ao centro, com o elenco no set

Não que Sandberg almeje com o projeto uma retomada de valores mais ingênuos ao gênero, porém, algo que fica bastante evidente no prólogo com a introdução do vilão Thaddeus Silvana (Mark Strong) e do conceito por trás dos poderes dos personagens. Vindo do terror, onde além de uma boa quantidade de curtas também dirigiu “Quando as Luzes se Apagam” e a continuação de “Annabelle”, o diretor busca resgatar de forma literal em “Shazam!” uma porção de fundamentos tradicionais do gênero que encontram algum reflexo nas histórias em quadrinhos, principalmente aqueles capazes de situar os confrontos entre mocinho e bandido como um conflito de valores puro, ditados ao pé da letra entre o maniqueísmo luz e sombra – não à toa, os tais sete pecados são materializados como gárgulas. Se tanto Silvana quanto Batson (Asher Angel) contam com traumas em suas formações e são introduzidos ao fantástico em sua chave mais aterrorizante – e Sandberg faz questão de carregar de temor todas as passagens para a caverna do mago interpretado por Djimon Hounsou – é a forma como eles encaram seu contato com o mundo mágico que os define como protagonista e antagonista da história.

O longa sem dúvida encontra o pé quando imerso apenas nestes valores ingênuos com pé no horror, mas a verdade é que depois do preâmbulo a produção se mostra muito mais confortável em assumir o lado pop de sua premissa que de fato desencadear um procedimento de tradução e processo destes traumas. Se o arco do protagonista de início sugere um drama de abandono que romperia com os atuais arquétipos do estúdio, aos poucos esta tendência se revela a oposta, ávido em reproduzir a jornada do herói pautado por questões familiares que já vimos ser repetido à exaustão em “Aquaman”, “Mulher-Maravilha”, “O Homem de Aço” e, claro, “Batman vs Superman”.

Sandberg busca resgatar uma porção de fundamentos tradicionais do terror que encontram algum reflexo nas HQs

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O que muda dos antecessores para esta nova produção é mesmo este formato mais pop com o qual esta estrutura é repetida, o que talvez explique o porquê de “Shazam!” soar próximo de projetos como “Deadpool” e “Esquadrão Suicida” ao invés de “Homem-Formiga e a Vespa” e “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, aí sim obras que almejam o elementar do gênero. O ponto desta cisão, para bem e para mal, vive na versão super-heroística de Batson (interpretada por Zachary Levi) e sua relação com o também órfão Freddy (Jack Dylan Grazer), cujo fascínio e deslumbre são direcionados menos para a descoberta dos poderes que o fato de encarnar um herói: Levi faz o máximo para conciliar as duas partes em sua atuação, mas ambas as vertentes nunca se encontram de fato na narrativa e isso só faz acrescentar à dissonância de tom geral da obra.

Retome o “resgate de valores” das intenções de Sandberg no meio do caminho e pronto, temos um filme que começa sob intenções puras e logo se converte no exercício de sátira, desta vez despido de acidez e domesticado aos interesses do estúdio. É uma espécie de grande Frankenstein de maquiagem um pouco mais agradável, mas não menos bizarro em suas feições e trejeitos pasteurizados que se manifesta na narrativa, em especial quando acondicionada a uma dinâmica de grande comédia estadunidense dos anos 90 que mira um reforço da instituição familiar enquanto atira referências a outros heróis – o que não deixa de ser em si uma anomalia bizarra, dado o atual estado de renovação e abandono de seus heróis (e atores) no qual as produções da DC se encontram.

O filme começa sob intenções puras mas logo se converte no exercício de sátira domesticado aos interesses do estúdio

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Apesar da deturpação da proposta, esta derivação não sairia tão ingrata se Sandberg mantivesse algum tipo de unidade narrativa que unisse todas as pontas, mas a verdade é que o cineasta repete aqui todo o jogo fragmentado e incapaz de articular uma cena de seus longas anteriores. Falta ao diretor a capacidade de amarrar situações em uma linha contínua sem apelar para qualquer tipo de quebra, algo que se em “Annabelle 2” e “Quando as Luzes…” era traduzido em obras muito dependentes do momento em “Shazam!” se converte em inchaço puro e simples, das piadas de descoberta dos poderes ao longo e arrastado terceiro ato que consegue se perder até mesmo no timing da entrega da consumação dos valores familiares e do jogo simbólico dos vilões sobre Silvana – o próprio emprego dos sete pecados como antagonistas, vale dizer, fica perdido em tantas viradas e empregos diferentes ao longo da história.

O grande erro, entretanto, está mesmo na repetição estrutural, o que só ressalta a sensação de sufocamento do filme. Se “Shazam!” pode servir para muitos como um ponto de reinício simbólico, um marco para novos procedimentos dentro das produções da DC Films, sua reafirmação de temas e arcos sugere que o problema verdadeiro do estúdio não está com os nomes criativos que substituiu a todo instante, mas no modo operacional que impede suas histórias de procurarem novos ares fora das velhas dinâmicas e arquétipos. E sob este ângulo, acenar para o pop e as novas gerações não deve surtir nenhum efeito além de expor o ridículo.

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