Cloverfield
Assim como aconteceu no lançamento do álbum “Year Zero” do Nine Inch Nails, chegou a vez do marketing quebra-cabeça chegar ao mercado cinematográfico.
Disse o The Boston Herald: “uma nova era no marketing de cinema, quanto menos se sabe sobre um filme que vai estrear, mais buzz ele gera”. Palavras do The Guardian: “um marco que confunde os espectadores para aumentar a paixão pelo produto”.
Essas são algumas das declarações que foram dadas há alguns dias, a respeito da estratégia de marketing que está sendo utilizada para o novo filme de J.J “Lost” Abrams, que tem o codinome “Cloverfield”.
Tudo começou com um misterioso trailer-surpresa exibido antes das sessões de “Transformers”, nos Estados Unidos. Algumas pessoas estão em uma festa de despedida de um rapaz, Rob (Michael Stahl-David), que vai para o Japão (uhn, ai tem…), quando Manhattan começa a ser atacada, e não pelo Osama, mas sim por uma criatura não identificada.
As pessoas na festa saem as ruas para ver o que está acontecendo. Muito barulho, explosões, carros voando longe e, de repente, a cabeça da Estátua da Liberdade cai rolando pelo no chão. E termina aí. Sem título. Nenhuma voz explicando. Sem atores famosos. Apenas uma data: 18-1-08.
Isso foi suficiente para gerar aquilo que Abrams e a Paramount Pictures esperavam: um frenesi na internet em busca de pistas e muita especulação sobre a nova produção. O YouTube rapidamente foi infectado com versões bootleg do trailer. Bloggers e vloggers se juntaram em um jogo de realidade alternativa (ARG), dissecando cada byte do trailer.
Foram essas pessoas que fizeram análises com espectrograma no áudio do vídeo para descobrir mensagens escondidas nas falas dos atores, e comparando inclusive o rugido do monstro com o de Godzilla. Outras usaram filtros de imagem e ferramentas de análise facial para tentar encontrar pistas nos fotogramas do trailer.
Tudo em vão. Mas na internet brotam sites e blogs todos os dias conspirando sobre o filme, incluindo os já famosos EthanHaasWasRight.com, EthanHaasWasWrong.blogspot.com e Slusho.jp (fabricante de bebidas fictícia, cuja logomarca pode ser vista na camisa de um dos atores que aparecem no trailer).
Porém, segundo o próprio J.J Abrams, o único site oficial é 1-18-08.com, o resto é tudo criação de gente fora da produção, e garante que as pessoas ainda nem começaram a encontrar as pistas reais do filme. Será? Difícil acreditar quando até a assessoria de imprensa da Paramount resolveu entrar no jogo, não respondendo sobre o filme e até mesmo não atendendo telefonemas de jornalistas.
Assim como será todo o filme, o trailer foi filmado com uma câmera digital em estilo amador, pelo próprio J.J Abrams, na intenção de mostrar a perspectiva da população. As filmagens começaram de forma sigilosa, na metade do mês passado, com orçamento estimado em 30 milhões de dólares, quantia moderada em relação as produções de Hollywood.
Enquanto rola a especulação na internet, Abrams se mantém em estúdio para tentar superar as expectativas, e a Paramount já comemora todo o buzz e mídia espontânea gerada por “Cloverfield”. Já no restante da indústria de cinema, executivos não param de falar entusiasmados do potencial oferecido pelas técnicas de marketing na internet, capazes de criar verdadeiros evangelistas por determinado conteúdo e fazer com que as pessoas se sintam parte do produto que estão criando. Botaram o ovo em pé…