9 filmes para ver antes de “Era Uma Vez em Hollywood”

9 filmes para ver antes de “Era Uma Vez em Hollywood”

Os filmes que inspiraram o diretor, servem de referência ou ajudam o espectador a mergulhar no mundo caótico do novo trabalho de Quentin Tarantino

por Pedro Strazza
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No próximo dia 15 de agosto chega enfim aos cinemas brasileiros “Era Uma Vez em Hollywood”, nono (e possivelmente penúltimo) filme da carreira de Quentin Tarantino. Como em grande parte de sua carreira, o longa estrelado por Leonardo DiCaprio, Margot Robbie e Brad Pitt é quase todo construído em cima de diversas referências da formação cinéfila do diretor, que aqui redireciona sua atenção para a Hollywood de 1969 para fazer o registro de uma indústria em plena transformação – com alguns twists próprios e um tanto já característicos de seu cinema.

O cenário escolhido pelo cineasta para seu novo projeto, porém, destoa um pouco de outros de seus filmes de época dado o nível de especificidade histórica no qual a trama se insere. Ao contrário de “Bastardos Inglórios” e “Django Livre”, onde tratava de temas muito conhecidos do público ao redor do globo, Tarantino em “Era Uma Vez em Hollywood” trata de um panorama histórico muito particular e que na teoria diz respeito apenas à trajetória de Los Angeles, ainda que as consequências dos atos envolvidos tenham de fato impactado toda a cultura estadunidense e quiçá mundial da próxima década.

Estamos falando, claro, do assassinato de Sharon Tate por membros da família Manson, mas também de toda dinâmica de Hollywood no fim dos anos 60, das inevitáveis transformações culturais envolvidas na contracultura da década representada no movimento hippie e muito, muito mais. É um cenário extremamente complexo no qual “Era Uma Vez em Hollywood” navega, um cujo todo exercício de contextualização não seja fácil de se assimilar numa primeira visita.

Quem sabe muito bem desta questão é o próprio Tarantino, que já desde antes do lançamento vem se preocupando em criar pontos de entrada para o público começar a conhecer a década de 60 antes de ver seu novo trabalho. Além de uma maratona que preparou para os canais por assinatura da Sony (uma que acontece justo nesta semana no Brasil), o diretor também organizou no cinema que administra, o New Beverly Cinema, uma mostra com 34 filmes da época que de certa forma guiaram seu processo criativo durante a realização de “Era Uma Vez…”.

Você pode ler aqui a lista de filmes programados por Tarantino no New Bev e ouvir aqui seus comentários no podcast oficial do estabelecimento, mas seguindo o espírito deste exercício de contextualização – e algumas das dicas lançadas pelo diretor – o B9 também resolveu fazer sua própria lista para ajudar o incauto espectador a se preparar com antecedência para o longa. De referências estéticas de Tarantino a obras que mergulham o espectador no caos da Hollywood (e dos Estados Unidos, de certa forma) do fim dos anos 60, elencamos abaixo 9 filmes que você pode assistir antes de sua sessão do 9° trabalho do cineasta – mais algumas coisinhas que podem te ajudar neste processo.

(E não se preocupe: as descrições abaixo NÃO incluem spoilers de “Era Uma Vez em Hollywood”)

Confira abaixo (os filmes estão organizados por ordem cronológica):

“Sangue de Pistoleiro” (Phil Karson, 1958)

Ainda que estejamos falando de uma produção cuja história se ambienta nos anos 60, o primeiro filme desta lista na verdade foi produzido mais de uma década antes dos eventos de “Era Uma Vez em Hollywood”: lançado em 1958, “Sangue de Pistoleiro” se relaciona com o novo projeto de Tarantino por duas razões distintas. A primeira é que o faroeste dirigido por Phil Karson é uma das bases do diretor para conceber um dos filmes da carreira de Rick Dalton, celebridade fictícia vivida na história por DiCaprio que toma como base uma variedade de atores de estúdio que viram sua carreira mudar por completo (e para pior) na virada da década de 60 para 70.

Uma dessas personalidades azaradas é Tab Hunter, protagonista de “Sangue de Pistoleiro” e que foi um dos últimos atores a firmar um acordo de exclusividade com a Warner Bros. (isto é, trabalha apenas em filmes do estúdio) até largar o acordo devido a toda a pressão envolvida em ser uma das estrelas mais promissoras da indústria. E se você quer entender até que ponto Hunter se iguala a Dalton, basta aqui a informação de que ele chegou a estrelar uma sitcom intitulada “The Tab Hunter Show”, encerrada depois de meros 36 episódios exibidos.

O segundo motivo que leva “Sangue de Pistoleiro” a ser incluído nesta lista mesmo sendo uma produção dos anos 50 é que ela carrega um mesmo sentimento de negação dos personagens perante a chegada do fim de uma era que acontece em “Era Uma Vez…” – um efeito que Tarantino também emula de “Caçada Humana”, longa de Arthur Penn que também vale a visita. Na história, Hunter e James Darren interpretam dois filhos de um poderoso rancheiro (Van Heflin) que a partir de uma tragédia envolvendo um trabalhador indígena passam a questionar a seu jeito o poder do pai de afastá-los de “problemas”. O mais interessante é que todo este processo é levado pela narrativa de Karlson com reflexos diretos na figura do rancheiro, que com seu império insiste em lutar contra o status de regulamentação da cidade que ajudou a fundar, algo que o levará a pagar as consequências da pior forma possível.

“A Invasão Secreta” (Roger Corman, 1964)

Outro artista que inspirou Tarantino na concepção de Rick Dalton é Edd Byrnes, um dos integrantes do elenco deste “A Invasão Secreta” que Roger Corman dirigiu em 1964. Como Hunter, Byrnes manteve por um tempo um contrato com a Warner e chegou a entrar no lugar do colega em “Darby’s Rangers” depois deste recusar o papel, mas ele nunca foi alçado ao posto de grande estrela no cinema e no fim acabou ficando conhecido por seu papel estelar em “77 Sunset Strip”, seriado que o estúdio viu estourar entre o público adolescente no fim dos anos 60.

A razão pela qual “A Invasão Secreta” está presente nesta lista, porém, não passa exatamente pela trajetória de Byrnes, mas porque o longa é a produção “copiada” por Tarantino para compor a carreira de Dalton que mais aparece no curso de “Era Uma Vez…”. Convertida pelo diretor para o filme “The 14 Fists of McCluskey” (e com Dalton no papel de Byrnes, óbvio), a história ambientada na Segunda Guerra Mundial é uma espécie de precursor de “Os Doze Condenados” que estouraria quatro anos depois, mantendo uma mesma premissa de presos sendo obrigados pelo governo a atuar numa missão contra os nazistas na Europa. O projeto é um dos poucos da carreira de Corman (que ajudou a lançar nomes como Martin Scorsese no mercado) a ter um orçamento bastante alto, e isso fica muito evidente durante todo o curso da produção – que ainda conta com atuações fantásticas de Stewart Granger, Raf Vallone e Mickey Rooney.

Ah sim: se você está tentando lembrar aonde viu a cara de Byrnes antes de ler este post, saiba que ele participou de “Grease” como o host do baile da escola Vince Fontaine, anos depois de romper contrato com os Warners e abandonar a série que o eternizou.

“A Morte Anda a Cavalo” (Giulio Petroni, 1967)

Ainda tratando da concepção da carreira de Rick, é vital falar um pouco da relação entre Hollywood e o cinema italiano da época. Mais exatamente a forma como a Itália importava atores menos consagrados do cenário americano para fazer seus faroestes spaghettis e filmes de crime (os “poliziotteschi”), cujo baixo valor de produção, altos pagamentos para “estrangeiros” e necessidade de astros para viver grandes heróis agradava os artistas em baixa no sistema de estúdios ao mesmo tempo que funcionava para a produção de gênero italiana – o único problema, claro, era a verdadeira babel de línguas do set, dado que os produtores gostavam de economizar o máximo possível e permitiam que seus elencos multiculturais vivessem os seus papéis na língua no qual se sentissem mais confortáveis (tudo era dublado por cima depois).

Quem mais se deu bem neste modelo de negócios obviamente foi Clint Eastwood, cuja parceria com Sergio Leone não apenas os alçou ao estrelato no meio mas legitimou esta conexão EUA-Itália como um caminho de carreira válido, mas ninguém sintetiza melhor esta produção do lado estadunidense que Lee Van Cleef, o que nos leva a citar este “A Morte Anda a Cavalo”. Se em Hollywood ele nunca chegou a decolar de fato e foi relegado a papéis de vilões menores e caricatos, nos spaghetti Cleef se consagrou como intérprete de justiceiros, homens que não obedeciam o beabá da lei mas buscavam o mais correto sempre que possível. Isso se repete no filme de Giulio Petroni, onde o ator interpreta um caçador de recompensas que em sua busca por vingança acaba servindo de mentor a um jovem cujo assassino de sua família é o mesmo homem que ele caça.

Cleef não foi uma inspiração para a criação de Rick Dalton, mas diversos dos atores que Tarantino “aproveitou” para construir o personagem fizeram essa travessia ao velho continente para melhorar o status de sua carreira. Além de “A Morte Anda a Cavalo”, a título de curiosidade vale a pena procurar filmes como “Ringo Não Discute… Mata” e “Moving Target”, que o diretor reaproveitou para compor a carreira de seu protagonista – há também “Joe, O Pistoleiro Implacável” que é estrelado por um tal Burt Reynolds, mas já voltamos a falar deste último.

“O Vale das Bonecas” (Mark Robson, 1967)

Falar de Hollywood em 1969 implica passar pelo assassinato de Sharon Tate, mas no caso de “Era Uma Vez em Hollywood” talvez seja mais importante relembrar a trajetória ascendente da atriz no sistema que precede sua morte tão trágica. Tendo despontado no cenário como modelo, Tate fez sua estreia nos cinemas em 1961 em um papel menor no épico bíblico “Barabbás”, mas só começaria a fazer barulho no mercado em 1967 e a partir de “O Olho do Diabo”, filme de terror inglês no qual dividiria o protagonismo da história de terror com o prestigiado David Niven.

Pouco depois de marcar território no cenário europeu, porém, a atriz estouraria de vez ao participar de “O Vale das Bonecas”, drama lançado pela 20th Century Fox durante a temporada de prêmios e que renderia a ela uma indicação ao Globo de Ouro de Atriz Mais Promissora. Embora longe de ser bom – ambientado no competitivo da música e acompanhando a trajetória trágica de três mulheres dentro do cenário, a produção comandada por Mark Robson não parece ter muito o que fazer além de explorar o sofrimento de seus personagens – o filme merece a visita por providenciar umas das atuações mais sólidas de Tate, que tem espaço suficiente para desenvolver as dores de seu papel de artista que se submete à indústria pornográfica na Europa apenas para sustentar o marido hospitalizado.

É também em 1967 que Tate vai conhecer o cineasta Roman Polanski, que na época já despontava no cenário mesmo antes de fazer sucesso em Hollywood com “O Bebê de Rosemary”. Os dois se casariam no fim daquele ano depois de trabalharem juntos em “A Dança dos Vampiros”, no qual o diretor não apenas comandava mas também atuava no elenco como protagonista. Depois de todo o caos da temporada de premiações, ambos se mudariam para Los Angeles no fim de 1968, bem a tempo de prestigiar o lançamento de “A Arma Secreta Contra Matt Helm” que Tate atuava junto de um estressado Dean Martin – uma produção, aliás, que faz uma participação bem marcante em “Era Uma Vez em Hollywood”.

“100 Rifles” (Tom Gries, 1969)

Voltando uma última vez a Rick Dalton, ainda que o personagem seja baseado em uma variedade de artistas é imprescindível e até fundamental falar de Burt Reynolds. Como Hunter, Byrnes, Vince Edwards, Fabian, Ty Hardin e tantos outros, Reynolds é mais um destes nomes que só se deram mal na virada cultural drástica da década, mas sua trajetória é um pouco diferente porque em 1969 ele ainda era um grande sucesso em Hollywood devido ao seu trabalho em… séries de TV. O problema mesmo era o cinema.

Isso porque por mais que na época estivesse estourando na televisão graças a sua progressão entre os seriados “Gunsmoke”, “Hawk” e “Dan August”, nas telonas Reynolds ficou marcado por uma sequência de azares, incluindo passar ou perder grandes papéis em produções de destaque (como “Os Dozes Condenados”) para pegar filmes completamente irrelevantes ao cenário, como “Projéteis de Ouro” e “Sam Whiskey, o Proscrito”.

Houve também este “100 Rifles”, um faroeste ambientado no México que de certa forma reflete não apenas o status da carreira de Reynolds – onde ele vive um ladrão de bancos que acaba ficando de pano de fundo para as idas e vindas da relação dos protagonistas vividos por Jim Brown e Raquel Welch – mas do próprio gênero dentro do sistema de estúdios no fim daquela década. Conforme a produção perdia a imensa popularidade nos cinemas e passava a fazer mais sucesso nas telinhas, os filmes perderam o caldo grosso que permitia uma variedade maior dentro do gênero e se converteram em dois tipos de produções, as mais comerciais e miradas para todo o público (como “Dívida de Sangue”, tocada na base da sátira e que rendeu um Oscar a Lee Marvin) e as que já faziam miravam o revisionismo daqueles arquétipos (como “O Tiro Certo” e “A Vingança de um Pistoleiro”, ambos de Monte Hellman).

Não à toa, assim, que todos estes atores selecionados por Tarantino para conceber Dalton tenham caído no esquecimento na década de 70, um momento onde o faroeste virou nota de rodapé. A exceção seria o próprio Reynolds, que em 1977 voltaria com tudo aos holofotes graças ao sucesso imprevisível e pontual de “Agarra-me Se Puderes” e suas continuações, que ajudou a por de pé junto do amigo e diretor Hal Needham. Tarantino sabe muito bem do lado surpreendente da trajetória do ator, e não por acaso planejava incluí-lo no elenco de “Era Uma Vez em Hollywood” como homenagem até o artista morrer no fim de 2018 – e você ainda pode sentir ecos tristes deste ato no filme, dado que o papel de Reynolds foi dado a Bruce Dern.

“Bob, Carol, Ted e Alice” (Paul Mazursky, 1969)

Quem viu “Mad Men” provavelmente já sabe disso, mas no campo socio-cultural a década de 60 é um dos momentos mais conflituosos dentro dos Estados Unidos por conta do choque explosivo do american way of life com os movimentos contraculturais da década, em especial o hippie cujo “paz e amor” contrastava com a sedimentação do país como nação bélica maior do mundo. Diversos filmes da época souberam fazer o registro deste conflito de comportamentos em diversos formatos, narrativas e mesmo tema, mas nenhum sintetiza melhor este sentimento complexo entre o progresso e o conservadorismo no seio familiar que “Bob, Carol, Ted e Alice”, que por um acaso foi um dos grandes sucesso de 1969 a ponto de lançar de vez a carreira de Eliott Gould.

O filme de Paul Mazursky gira todo em torno desta confusão de valores que se dá na sociedade da época, representado aqui na história dos dois casais do título que passam a ser “contaminados” pelas questões de sua época dentro de seus romances. A partir do momento que Bob (Robert Culp) revela a Carol (Natalie Wood) que a traiu durante uma viagem de trabalho e esta repassa a informação para os amigos Ted (Gould) e Alice (Dyan Cannon) acrescentando que o perdoou, os quatro passam a se ver cada mais despidos dos ideais monogâmicos a ponto de começarem a considerar, mais para a reta final da história, a possibilidade de realizar uma orgia.

O mais fascinante de “Bob, Carol, Ted e Alice”, porém, é que ao contrário de seus colegas de época “À Procura da Verdade” e “Procura Insaciável” ele busca retratar este choque de valores a partir de uma chave cômicas e isenta de conflitos verdadeiros entre os personagens, uma noção que “Era Uma Vez em Hollywood” busca reproduzir a seu jeito.

“O Segredo Íntimo de Lola” (Jacques Demy, 1969)

Um dos elementos mais deslumbrantes da narrativa de “Era Uma Vez em Hollywood” é a forma como Tarantino faz o retrato da Los Angeles do fim dos anos 60. É algo que não surge apenas porque a produção se preocupou em restaurar o visual da cidade na época nos mínimos detalhes, mas porque ela acontece em meio a deslocamentos dos personagens, que estão sempre dirigindo de um lado para o outro, percorrendo as estradas em direção a seus destinos.

Como praticamente tudo em sua carreira, Tarantino tirou este modo de operação de outros filmes, mais especificamente este “O Segredo Íntimo de Lola” que marca a única incursão do cineasta francês Jacques Demy por Hollywood – um destes vários diretores europeus que, como Michelangelo Antonioni e o próprio Polanski, ousaram se aventurar pelos Estados Unidos na época. O olhar “estrangeiro” do diretor da nouvelle vague é fundamental para definir o traço hipnotizante do longa, que acompanha o dia de um jovem arquiteto fracassado (Gary Lockwood) em busca de dinheiro para manter o carro recém-adquirido em sua posse enquanto o resto de sua vida parece ruir, seja no afastamento de sua namorada ou na convocatória para se alistar ao exército e participar da Guerra do Vietnã. Há até mesmo o deslumbre perante a inesperada aparição de um jovem europeia (Anouk Aimée) na rua, do qual ele se apaixona perdidamente.

Toda a história do filme, porém, se concentra nos deslocamentos do protagonista por Los Angeles, momentos dos quais Demy retira a maior sensação possível de desencanto sobre o mito do sonho americano perante as fachadas coloridas em tons pastéis das lojas e estabelecimentos. É um registro anômalo e tanto, ainda mais se considerar que mesmo dirigido por gente de fora o filme ainda é um produto de Hollywood.

Billy Jack (Tom Laughlin, 1971)

Além de Dalton e Tate, o novo filme de Tarantino também conta um terceiro protagonista na figura de Cliff Booth, um dublê ostracizado pela indústria vivido por Brad Pitt e que na história atua como assistente pessoal de Rick quando não pode trabalhar para ele em sua profissão de origem. Booth é o personagem mais díficil de compreender na trama porque ele em teoria é só um compilado de diversos dublês de sucesso da época como Gary Kent e o Hal Needham que dirigiria depois “Agarra-me Se Puderes”, mas tanto Tarantino quanto Pitt tinham um outro nome maior em mente durante o processo de concepção – e este nome é o de Tom Laughlin.

A trajetória de Laughlin pela indústria é uma das histórias mais confusas, enlouquecedoras e ao mesmo tempo influentes para a formação de Hollywood como a conhecemos hoje. Tendo começado a carreira em papéis menores na televisão, o ator teria uma carreira no geral fracassada nas telonas, tendo como crédito maior seu trabalho como protagonista do “Os Delinquentes” de Robert Altman – um papel feito de forma sofrida, dado que ambos não se deram bem entre si no set. Por conta da falta de oportunidades, depois de estrear na direção com “Like Father, Like Son” em 1961 o artista abandonaria Hollywood para se dedicar 100% a uma escola que fundou junto da esposa Delores Taylor em Santa Monica.

Mas este não foi o fim da sua carreira. Depois de financiar e dirigir o relativo sucesso de bilheteria “Nascidos Para Perder”, Laughlin pouco tempo depois estouraria de vez no cenário ao pegar seu personagem neste último filme e criar uma sequência estrelada por ele, este tal de “Billy Jack” que se tornou um verdadeiro fenômeno cultural do início dos anos 70. O filme bombou entre os jovens por conta da premissa, que mostrava os esforços de uma espécie de cowboy desencantado com o sistema (Laughlin) para proteger uma escola de uma reserva indígena do preconceito da cidade vizinha. A direção confusa do ator era nada perto da confluência de temas que iam da introdução de uma metodologia junguiana e valores de comunidades indígenas à popularização de artes marciais – porque sim, o filme busca tratar de um desencanto com o sistema a partir da figura de um cowboy indígena que dá roundhouse kicks e tem uma mira pra lá de precisa.

O mais fascinante de todo este processo, porém, é que “Billy Jack” teve tamanho impacto nos Estados Unidos que acumula até hoje uma das maiores bilheterias do cinema independente americano, financiando duas sequências ainda mais ambiciosas da parte de Laughlin, respectivamente “O Julgamento de Billy Jack” e “Billy Jack Goes to Washington” que se provaram fracassos retumbantes de bilheteria. E foi com “O Julgamento…” que Laughlin entrou pra história de Hollywood ao inaugurar no circuito estratégias de distribuição que depois se consolidariam como padrões no lançamento de qualquer blockbuster, incluindo aí a estreia simultânea em cidades ao longo de todo o território estadunidense e a exibição de publicidade durante os intervalos comerciais das emissoras de televisão.

“Aniversário Macabro” (Wes Craven, 1972)

Pra fechar esta lista, é um tanto impossível não mencionar os crimes de Charles Manson e sua “família” no fim dos anos 60 e começo dos 70 quando se tratando de Hollywood e “Era Uma Vez em Hollywood”. Sua importância, entretanto, vem menos pelo lado dos crimes aterrorizantes que cometeram que pelo impacto destes atos, dado que em parte eles foram responsáveis por estabelecer os preceitos que dominariam a cultura estadunidense dos anos 70.

Isso vale para a indústria cinematográfica do país, cuja sede por psicopatas e fascínio por assassinatos começaria a moldar a forma como estúdios e diretores se relacionavam com a violência nas telonas. O terror obviamente é quem mais denota esta nova tendência da sétima arte nos EUA, o que nos leva a este “Aniversário Macabro”. Além de ser responsável por lançar a carreira de Wes Craven, o filme foi um dos que fortaleceu a popularidade do então nascente horror de invasão, que se inspirava justo nos crimes dos Manson para materializar o clima de paranoia dos americanos de ter sua casa invadida por criminosos dispostos a fazer os maiores males possíveis a suas pessoas.

É bom ressaltar nesta hora o ineditismo destas narrativas no curso histórico de Hollywood. Como “Sweet Savior” e (posteriormente) “O Massacre da Serra Elétrica”, “Aniversário Macabro” reflete em seus feitos os impactos diretos da passagem dos Manson pelos Estados Unidos, em especial Hollywood depois do assassinato de Sharon Tate em seu domicílio, grávida de 8 meses – afinal, se uma celebridade como ela podia ser morta pelas mãos de psicopatas como eles, quem no país poderia estar em segurança?

Embora não esteja presente fisicamente, este sentimento de insegurança que adentraria as ruas pacíficas de Los Angeles depois de agosto de 1969 com certeza está na mente de Tarantino durante todo o curso de “Era Uma Vez em Hollywood”.

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