“Marighella”, de Wagner Moura, tem lançamento em novembro cancelado no Brasil
Dificuldades burocráticas com a Ancine fizeram com que distribuidoras desistissem de lançar a obra em tempo do aniversário de 50 anos da morte do ativista e do Dia da Consciência Negra
Após estrear com ótima recepção em fevereiro durante o Festival de Berlim, o filme “Marighella”, obra que reconta a trajetória do guerrilheiro Carlos Marighella e é protagonizada por Seu Jorge, viveu poucas e boas.
O filme, inicialmente, sairia em abril, mas desde sua exibição em Berlim, o longa-metragem dirigido por Wagner Moura vem sido adiado e enfrentando enorme dificuldade de chegar ao circuito brasileiro. E dessa vez, mais uma vez o lançamento foi cancelado.
Após muita incerteza, o filme havia ganhado uma data para chegar ao cinema: 20 de novembro, no Dia da Consciência Negra. Entretanto, hoje, a O2 Filmes e a Paris Filmes, distribuidoras de “Marighella”, divulgaram hoje uma nota oficial onde os produtores afirmam que, em virtude da falta de tempo para cumprir todos os trâmites exigidos pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), esta chegada de “Marighella” ao circuito nacional foi anulada.
Em agosto, a O2 entrou com um pedido para a verba de comercialização do filme ser liberada antes da assinatura efetiva do contrato com o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), já que este estava demorando para ser finalizado. No mesmo período, a O2 teve outro recurso negado, referente a um pedido de ressarcimento de despesas pagas com dinheiro da produtora no valor de mais de R$ 1 milhão, por meio do FSA.
O governo de Jair Bolsonaro tem tido muitos problemas com a Ancine, agência que um porta-voz do governo já chegou a afirmar ter a intenção de reformular para que trabalhe apenas com projetos com um “sentimento cristão”. Em agosto, Bolsonaro demitiu o diretor da Ancine e afirmou buscar um substituto com visão “evangélica”. Nessa semana, o presidente apresentou, no Poder Legislativo, um projeto de lei que prevê um corte de quase 43% no orçamento do FSA em 2020.
Com os atritos administrativos e ideológicos (e a clara perseguição do governo), não surpreende o fato de “Marighella” não conseguir chegar aos cinemas. Afinal, além de todos os problemas burocráticos, há também o fato de “Marighella” retratar o período da ditadura militar pelo ponto de vista de um guerrilheiro de esquerda, enquanto o presidente, um militar da reserva, já deixou claro publicamente ser a favor do golpe de 1964 e da ditadura.
Não deixa de ser triste, porém, ver um filme nacional que estreou com uma recepção internacional tão positiva, não conseguir chegar às luzes do projetor do cinema brasileiro. Quem perde, como sempre, é o público e o próprio cinema.
Você pode ler abaixo o pronunciamento oficial dos produtores do filme sobre o adiamento da estreia:
Nós, produtores do longa-metragem “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, anunciamos que a data de lançamento do filme nos cinemas brasileiros, divulgada anteriormente para 20 de novembro de 2019, está cancelada.
Os produtores haviam escolhido o mês de novembro, que marca os 50 anos de morte de Carlos Marighella, e o dia 20, da Consciência Negra, para a estreia. No entanto, a O2 Filmes não conseguiu cumprir a tempo todos os trâmites exigidos pela Ancine (Agência Nacional do Cinema).
“Marighella” segue sendo apresentado com muitos sucesso em vários festivais de cinema no mundo. Nosso objetivo principal sempre foi a estreia no Brasil. Os produtores e a distribuidora Paris Filmes vão seguir trabalhando para que isso aconteça.
Produtores de “Marighella”