Para Andy Serkis, tecnologia de rejuvenescimento digital e humanos de CGI são motivos de preocupação a atores
Famoso pelas performances feitas por captura de movimento, artista levantou questões sobre direitos autorais e ética no uso das novas tecnologias que devem rejuvenescer Hollywood nos próximos anos
A disputa da estatueta de efeitos visuais no Oscar deste ano não parece que vai escapar da briga entre dois tipos de tecnologia distintos, mas muito similares em seus resultados. De um lado do ringue, há “O Irlandês” de Martin Scorsese que rejuvenesceu digitalmente Al Pacino, Robert De Niro e Joe Pesci a partir da tal maquiagem digital; do outro, o “Projeto Gemini” de Ang Lee chega apostando na concretização do velho sonho de Hollywood em recriar atores em versões jovens à partir da tecnologia CGI – além de tentar fazer pegar o tal “3D Plus” como formato de exibição.
E quem não está olhando com bons olhos para os dois “futuros” dos efeitos visuais na indústria? Andy Serkis, de todas as pessoas.
Há anos um eterno defensor da legitimação da performance por captura de movimentos como um tipo de atuação próprio na indústria, o ator expressou preocupação sobre as novas ondas da tecnologia durante sua passagem no IBC Show em Amsterdã neste fim de semana, onde foi um dos principais homenageados. A questão de Serkis sobre estes novos recursos, de acordo com relato publicado no Screen Daily, passa pelos meios de remuneração aos profissionais – em especial quando estes recursos pretendem reutilizar estas no futuro.
“Se a performance de um ator em um filme será reusada em outro tem de haver remuneração para este ator, sem dúvida. É a performance dele e ele deveria ser pago por isso.” declarou Serkis na ocasião, que também chamou atenção para a filiação desta tecnologia aos direitos autorais: “Quando sua atuação se torna um dado ela pode ser manipulada, retrabalhada ou amostrada, da mesma forma que acontece na indústria da música com exemplos de voz e batidas. Se nós podemos fazer isso, onde está o direito intelectual nesta equação? Quem tem direito sobre a performance do ator? Quais são os limites?”.
Serkis também exibiu preocupação com “a habilidade de criar personagens fotorrealistas”, que junto dos atores rejuvenescidos e de “ressuscitar atuações de artistas que já faleceram” levantam para ele “questões sérias” neste âmbito. Esta discussão não é muito nova, vale acrescentar, considerando que pelo menos desde “Rogue One: Uma História Star Wars” e o “retorno à vida” de Peter Cushing já acontece na mídia um grande debate sobre a reconstrução digital de atores após sua morte.
Inclusive foi no tocante aos limites e ética na captura de movimentos que Serkis acabou discutindo mais no IBC Show, onde chegou a declarar que a tecnologia representaria “o fim do casting por tipo” ao permitir que atores com deficiência vivam todo tipo de papel. Esse avanço, porém, vem com um leque de novos problemas aos olhos do artista: “Seria possível para um ator negro interpretar Abraham Lincoln e que eu, como um homem branco de classe média, vive Martin Luther King. A questão é se isso é eticamente correto. Diversidade é muito importante, então eu consigo entender as sensibilidades sobre este tema” afirmou na ocasião.