Mesmo desfalcada, HBO faz de “His Dark Materials” um experimento contido e bem resolvido na CCXP 2019
Mesmo sem Dafne Keen, 1° incursão da série baseada em "Fronteiras do Universo" no evento conseguiu aproveitar o espaço reduzido para trazer novas audiências e agradar fãs já estabelecidos
Até o ano passado, a HBO mantinha com a CCXP uma relação baseada em um único tema: “Game of Thrones”. A emissora desde 2014 apostou no evento a partir da série, que gradualmente se revelou o melhor investimento possível graças à sua conversão como o maior fenômeno da televisão da década. Era uma jogada tão segura que o estúdio se mostrava confortável o suficiente para bancar uma estratégia básica, incluindo no painel final da produção na feira em 2018 cujas frustrações derivaram exatamente da limitação do papo frente os convidados presentes.
A CCXP 2019, porém, colocou a emissora e seu modo de operação em uma posição de risco pra lá de evidente. Pela primeira vez sem a possibilidade de agregar “Game of Thrones” à programação do evento (graças, claro, ao encerramento do programa no primeiro semestre), a HBO precisou recuar e repensar sua apresentação no auditório Cinemark – não havia como repetir os espetáculos das últimas edições porque não existia algo que substituísse em empolgação a produção baseada nos livros de George R.R. Martin. E com “Watchmen” ainda indeciso sobre se converter ou não em minissérie e “Westworld” precisando do mistério absoluto para se vender ao público, restou ao estúdio fazer de “His Dark Materials” sua principal atração para o palco maior do evento.
O mais curioso é que no fim a estratégia até que deu certo. Com ares de painel menor, mas não menos despido de sua própria importância, a primeira incursão do seriado baseado nos livros de Phillip Pullman não apenas se mostrou uma opção digna ao auditório Cinemark como funcionou como uma ponte bem resolvida entre as apresentações agigantadas (e muito mais ambiciosas) da Netflix e da Warner Bros. no domingo.
Também ajudou um pouco que a HBO pareceu ter aprendido com os erros do ano passado e soube como fazer uma apresentação sem a presença de um star power. Com o anúncio logo no começo do painel de que Dafne Keen – protagonista da série e principal estrela do evento – não havia vindo à CCXP devido a problemas pessoais, a apresentação conseguiu manter-se intacta graças ao empenho dos atores Ruth Wilson e Clarke Peters em entrar em detalhes sobre o processo criativo da série e os bastidores da produção.
Foi acima de tudo uma conversa interessante de se acompanhar para os espectadores presentes no auditório, fosse este fã da série ou não, porque as discussões escapavam do nicho e atingiam temas maiores – Wilson inclusive arrancou aplausos ao não desviar de uma pergunta sobre a relação da série com a religião e tecer um longo comentário sobre a noção de pertencimento em cultos do tipo. Os dois convidados revelaram coisas como o envolvimento maior de Tom Hooper na parte criativa do projeto (é o diretor a quem a equipe recorre para materializar o universo da produção) e que Pullman compareceu uma vez ao set, aproveitando uma viagem para assistir o primeiro episódio – e Peters não segurou nos elogios ao autor, definindo-o como alguém que “escreve para as pessoas refletirem, sejam elas crianças ou adultas”.
Além de exibir dois featurettes já divulgados (no caso este e este) para apresentar os personagens de James McAvoy e Lin-Manuel Miranda ao público, o painel ainda contou com alguns detalhes rápidos da segunda temporada de “His Dark Materials”, incluindo a confirmação de que a série adentrará o terreno do segundo livro da saga, “A Faca Sutil”, e que todas as filmagens do novo ano foram resolvidas oficialmente no último sábado.