Incapaz de realizar evento, Festival de Cannes vai anunciar seleção oficial em junho
Plano é exibir parte dos filmes previstos para participar da mostra em outros eventos do segundo semestre; diretor artístico também confirma que Netflix retornaria ao festival este ano com "Da 5 Bloods"
A edição deste ano do Festival de Cannes se encontra cada vez mais entre a cruz e a espada. Adiado no fim de março devido à pandemia do coronavírus, o evento viu seu plano B de acontecer no começo de julho naufragar com a prorrogação do isolamento social na França e suas mostras paralelas cancelarem aos poucos seus trabalhos devido a inviabilidade de qualquer mostra no cenário. Nas últimas semanas, porém, a organização não apenas manteve de pé a realização da seleção oficial como se mostrou determinada a não realizar uma edição digital do festival, alegando que o formato não caberia à sua proposta.
Como fazer acontecer uma mostra de cinema em tempos de distanciamento social sem apelar ao online, então? Esta pergunta começou a ser respondida neste último domingo (10), conforme a Variety informa que Cannes irá anunciar em junho os filmes relacionados na sua imensamente popular seleção oficial para depois exibi-los ao redor do globo.
A ideia é mais ou menos simples e envolve o que um porta-voz da entidade define como uma “reexpansão ‘para fora dos muros’ em colaboração com outros festivais do segundo semestre”. Com os filmes escolhidos originalmente pelo time do diretor artístico Thierry Frémaux para a competição declarados no mês que vem, Cannes deve começar a negociar a exibição destes títulos em outros eventos ao redor do globo, com o selo da seleção oficial exibido no começo das sessões. Na prática, é uma adequação do circuito de festivais à realidade da pandemia: embora Cannes deixe de acontecer, os filmes previstos continuarão a ser exibidos nas mostras que conseguirem acontecer no calendário deste ano.
Vale acrescentar que esta lista não refletirá a íntegra da seleção oficial do festival, entretanto. Ao Screen Daily, Frémaux escreve que a seleção a ser divulgada em junho é apenas uma parte do que havia sido selecionado para competir no festival, com todos os projetos “marcados para serem lançados no cinema entre agora e o outono de 2021”, além de englobar produções que teriam participado da mostra Um Certo Olhar e na seção fora de competição. “Em nossos corações, tudo o que queremos é promover os filmes que assistimos e amamos.” declara o diretor; “Nós recebemos filmes de todo o mundo, trabalhos magníficos, e é nosso dever ajudá-los a encontrar um público”.
Frémaux também confirmou na entrevista que Spike Lee, antes anunciado como presidente do júri da edição deste ano, a princípio deve permanecer na posição para a edição de 2021, com o festival “na esperança” de que o cineasta tope o adiamento do trabalho. O diretor artístico inclusive chega a afirmar que “Da 5 Bloods”, o novo projeto do cineasta, estava previsto para ganhar uma exibição na seção fora de competição do festival e marcar o retorno da Netflix ao evento depois de três anos de brigas.
A questão agora é que parte do circuito vai conseguir exibir os filmes da seleção de Cannes, claro. Embora Frémaux cite os festivais de Toronto, Deauville, Angoulême, San Sebastian, Nova York, Busan e Lyon como eventos que a organização já está em contato sobre uma possível parceria, ninguém sabe se estas mostras de fato acontecerão devido a incerteza sobre até que momento a pandemia e as medidas preventivas vão durar em cada região do planeta. Isso também inclui Veneza, o qual Cannes declara estar negociando uma “realização conjunta” do festival, mas que também depende da própria existência do evento para acontecer – uma confirmação que vai acontecer agora apenas no fim do mês, quando a entidade por trás do festival italiano comunicar a decisão.