Machismo de lideranças da Ubisoft diminuiu papeis femininos dos jogos de "Assassin's Creed"

Machismo de lideranças da Ubisoft diminuiu papeis femininos dos jogos de “Assassin’s Creed”

Executivos e departamento de marketing chegaram a barrar propostas com o argumento de que games com mulheres protagonistas não venderiam

por Pedro Strazza
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A Ubisoft nos últimos dias vem passando por um grave escândalo interno incluindo acusações de assédio sexual e moral por alguma de suas principais lideranças, algo que não apenas levou ao afastamento do CCO Serge Hascoët e outros dois executivos como expôs na mídia toda uma cultura masculina tóxica interna da empresa, cujos efeitos ainda tem rendido muitos choques no noticiário. O da vez, aliás, envolve uma das principais franquias do estúdio: “Assassin’s Creed”.

Isso porque uma nova reportagem da Bloomberg, dedicada justamente a trazer alguns dos resultados das investigações internas sobre o comportamento recorrente das acusações citadas, revela que foi justamente a cultura masculina e praticamente misógina cultivada pelas lideranças que levou a série a diminuir de forma significativa a presença de personagens femininas ao longo dos anos, mesmo quando estas eram tidas como protagonistas. Os dois maiores exemplos seriam “Origins”, cuja equipe teria descartado qualquer possibilidade de matar o assassino Bayek na história para permitir que o jogador assumisse o papel da esposa Aya; e “Syndicate”, que mesmo com seus dois irmãos nos papeis principais mudou o planejamento no meio do desenvolvimento para privilegiar a opção masculina (Jacob) e reduzir a feminina (Evie) a participações pontuais ao longo da narrativa.

Essas mudanças de planos sempre foram feitas a pedido de Hascoët e o departamento de marketing da companhia, que de acordo com a Bloomberg sempre alegaram que “protagonistas femininas não venderiam” os jogos. O CCO em si é uma figura que parece incorporar toda a toxicidade do ambiente: amigo próximo do CEO Yves Guillemot, o executivo chegou a conduzir reuniões em clubes de strip e fazer comentários explicitamente sexuais a seus subalternos, que na reportagem também comparam o ambiente de trabalho promovido por ele como um similar a uma fraternidade provinda do “Clube dos Cafajestes” – incidentes como manuseio de genitália e assédios inclusive chegaram a ser reportados à chefia.

As consequências deste comportamento podem ser sentidas no curso da série “Assassin’s Creed” desde 2014, de acordo com os funcionários ouvidos pela Bloomberg, pois durante o desenvolvimento de “Unity” um diretor criativo teria barrado a opção de jogo com personagens femininas alegando que seria “trabalho extra” adicionar animações e roupas do gênero no jogo. O padrão se repete nas produções mais recentes e o mesmo sofrimento das equipes dos games para se adequar aos direcionamentos irracionais da chefia: o “Odyssey” chegou a considerar ter a opção única de jogo com a personagem Kassandra antes de ser obrigado a incluir uma opção masculina (o irmão Alexios) para manter a protagonista, um mecanismo repetido no vindouro “Assassin’s Creed Valhalla” – que no início da divulgação focou as atenções no personagem homem.

Com tudo isso, não chega a ser uma surpresa que “Assassin’s Creed” até hoje não tenha um jogo protagonizado inteiro por uma mulher, mesmo sendo uma franquia iniciada em 2007 com mais de doze títulos disponíveis no mercado.

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