A dois meses do evento, Boticário anuncia que vai parar de usar o termo “Black Friday”
CEO justifica decisão citando desconforto de parte do público com o termo e anuncia que empresa vai renomear ações de marca na data para "Beauty Week"
O Grupo Boticário vai parar de usar o termo “Black Friday” em campanhas e ações relacionadas à data de liquidações que acontece tradicionalmente depois do dia de Ação de Graças. A decisão foi anunciada na última terça (30) pelo CEO da empresa, Artur Grynbaum, e acontece pouco menos de dois meses antes da edição deste ano – que a princípio será abordada pelo Boticário a partir de agora como “Beauty Week”.
Em um longo texto publicado em seu perfil no LinkedIn e batizado de “O nosso adeus ao uso do termo Black Friday”, Grynbaum escreve que a companhia tomou a decisão em respeito ao público que sente desconforto com a nomenclatura, cuja origem até hoje é motivo de debate se tem ou não ligação com a escravidão. “Esse movimento emergiu nas equipes do Grupo Boticário, a discussão ganhou força e esse é o resultado.” comenta o executivo no post; “Naturalmente há riscos de perdas para o negócio, há pouco tempo para adaptarmos a estratégia e estamos comprometidos em seguir atendendo as necessidades dos nossos consumidores da melhor forma, mas decidimos assumir: melhor que esperar a perfeição, é construir juntos aquilo em que acreditamos.”.
Grynbaum ainda lembra os compromissos do Boticário em promover igualdade nas jornadas de trabalho da empresa, que desde 2013 busca incorporar políticas de equidade racial, de gênero, LGBTQ+, de pessoas com deficiência e de diferente gerações, e ainda convida outras companhias a repensarem o uso do termo com outros batismos “que façam sentido para cada empresa e setor”. “Não estamos falando ‘só’ de uma mudança no termo: está em pauta aqui o caminho para alcançarmos o sucesso responsável e dar mais uma contribuição para uma nova perspectiva de raça na sociedade, com senso de urgência e coragem.” escreve na publicação.
O debate em torno da palavra “Black Friday” já acontece há algum tempo na mídia. Embora não existam dados científicos suficientes que comprovem a ligação do nome com o período da escravidão nos Estados Unidos, alguns pesquisadores acreditam que o termo venha da polícia da Filadélfia dos anos 50, que o usavam para definir a caótica sexta-feira posterior ao dia de Ação de Graças na qual população e turistas visitavam em massa as lojas da cidade e a região via um aumento no número de crimes e delitos cometidos.
Complica muito o fato de que o batismo só passou a ser usado de forma recorrente nas últimas décadas, mas as críticas dos últimos anos acontecem sobretudo em cima do uso pejorativo da palavra “Black”, reforçando uma conotação recorrente da cultura em assimilar ao preto o que é barato e portanto não tem valor.