Não somos mais os mesmos nem vivemos como nossos pais na pandemia
Palestras do Fast Company Innovation Festival apontam caminhos construtivos para manter a sanidade mental em tempos de pandemia, home office e quarentena
Duas conversas no Fast Company Innovation Festival chamaram a minha atenção nestes primeiros dois dias de evento. Ambas falavam a princípio sobre como se organizar – física e mentalmente – para lidar com a vida pós-pandêmica. Sei que proliferam na internet os textos e lives sobre o “novo normal”, então as dicas pragmáticas que darei por aqui serão as que ainda não encontrei nestes lugares.
O que realmente me chamou a atenção nas duas conversas foi uma questão mais subliminar (e central, ao mesmo tempo) nas nossas vidas: a tendência a repetir comportamentos de forma não intencional. Há diversos campos de estudo sobre como nosso cérebro toma decisões – e se você não leu “Pensando Rápido e Devagar”, do Daniel Kahneman, a hora é agora – mas mais recentemente tem-se discutido muito sobre a aplicação destes conceitos na economia comportamental, que estuda como orientar a tomada de decisões e criação de hábitos a serviço de objetivos definidos. Aliás, há uma “discussão dentro da discussão” sobre os limites éticos de uso dos princípios de economia comportamental da qual faz parte o documentário “O Dilema das Redes”, da Netflix.
Olhar pra todas estas coisas tem me feito pensar bastante sobre como – em especial durante tempos pandêmicos – é cada vez mais importante termos consciência: do que nos move, do que nos transtorna, do que nos limita, do que nos alivia. E hoje, de alguma forma, dois experts em coisas bem diferentes me ensinaram um pouquinho a prestar atenção nestes sentimentos e a “acordar nosso cérebro” dos comportamentos não intencionais com pequenas ações.
Primeiro foi o professor Art Markman, da Universidade do Texas, que me ensinou que o nosso cérebro só aprende a partir de ações – então não fazer uma coisa não o ensina. Pra educar nosso cérebro a ir na direção certa, precisamos agir na direção oposta do comportamento que desejamos evitar, pra ele entender o que é certo. Um exemplo simples: não comer um doce não faz o cérebro entender que vc não deve comê-lo; já comer uma cenoura ao invés do doce faz.
Por isso, Markman sugere que sempre que aquela sensação de confinamento ou angústia bater você mude de lugar. Vale trocar de ambiente ou sentar noutro lado da sua mesa; dê uma voltinha pela casa, brinque por dois minutos com o cachorro, por aí vai.
Depois foi o Nate Berkus, decorador de interiores, que falou sobre como de fato a pandemia está nos fazendo usar ao máximo cada metro quadrado que temos em casa. Especialmente pra quem mora em espaços pequenos e que sofre com a angústia de terminar o dia de trabalho e não poder fechar a porta do escritório e usar o resto da casa, ele trouxe uma solução que também usa o truque de “dar uma sacudida no cérebro”: se posicione na mesa da sala de forma que vc olhe pra um lado da sala enquanto trabalha – pra introvertidos, por exemplo, uma perspectiva mais fechada inclusive pode ajudar. Acabou o dia de trabalho? Feche o computador e se volte pro outro lado do recinto.
Se você tiver um pouquinho mais de espaço, use um móvel relativamente alto (uma estante ou biombo já serve) para criar uma divisão no ambiente. Um lado vira “o lado do trabalho”, e quando bater aquele bodinho basta levantar, dar dois passos e redescobrir seu outro ambiente atrás da divisão.
O mais importante, acima de tudo, é prestar atenção nos sinais – de cansaço, de tensão, ou qualquer outra emoção. E não esquecer que em tempos difíceis como os que estamos vivendo, o mais importante é praticar a gentileza consigo mesmo.