Ao tentar eliminar os fios, para onde a Apple leva o mercado dos acessórios de celular?
Empresa tenta revolucionar o mercado de smartphones ao transformar fones e carregadores em "gadgets complementares"
No evento desta última terça (13), que trouxe ao mundo suas grandes novidades de 2020 no mundo dos celulares, a Apple confirmou que a próxima geração do iPhone, o iPhone 12, não virá com fones de ouvido nem carregador em sua caixa. Posteriormente, a empresa confirmou também que os modelos XR, SE e 11 também deixarão de trazer carregador e fones em suas próximas remessas, vindo apenas com o cabo lightning. Agora, porém, vem um pequeno mas insuficiente alívio para os clientes da empresa: os carregadores e EarPods ficarão mais baratos.
Apesar do barateamento, a novidade como um todo surpreendeu. Há algum tempo era especulado que a Apple poderia abandonar os acessórios que acompanham os smartphones em sua nova geração de aparelhos, mas não que a novidade influenciasse também nos modelos que já estão no mercado.
Assim como, há alguns anos, a empresa forçou o fim da entrada P2 para fones, dando um empurrão no crescimento do mercado de fones Bluetooth, agora a empresa fundada por Steve Jobs parece decidida também a dar um fim à cultura de ceder acessórios que acompanham os produtos principais. Uma das concorrentes da Apple, a chinesa Xiaomi, não perdeu a chance de debochar da empresa de Tim Cook.
Sobre a entrada P2, outros concorrentes seguiram a tendência dos fones, como o Google, que passou a produzir sua linha principal, o Pixel, sem entradas para fones com fios. Mas a novidade ainda encontra resistência de alguns concorrentes e principalmente do mercado consumidor. Além do Google, Samsung e Motorola também são grandes nomes do mercado tecnológico que lançaram modelos sem as entradas.
Mas voltando aos acessórios, para justificar a mudança, a Apple utiliza a defesa de que reduzir a produção de carregadores ajuda a diminuir a emissão de gás carbônico, já que a maioria dos consumidores já possui os acessórios necessários comprados em gerações anteriores e, portanto, não precisam de novos carregadores. Na prática, é bem diferente, já que a mudança também será implementada para aparelhos de entrada (o SE e o XR são, literalmente, projetados para ocupar esse espaço do mercado).
Com isso, a Apple até mantém um desconto para os aparelhos mais baratos, mas obriga o cliente a investir mais dinheiro em acessórios que, tradicionalmente, já estavam inclusos na compra. É visível que a ideia da empresa é tornar seus acessórios não um item complementar aos iPhones, mas algo de alta qualidade que deve ser adquirido por um preço à parte.
Não por acaso, os acessórios mais básicos são alguns dos produtos que a Apple mais tem investido nos últimos anos. Além de ter criado os fones bluetooth mais queridos do mercado, os Airpods, a empresa também tem tentado inovar na forma de carregar aparelhos. Enquanto a maioria dos dispositivos Android vê no carregamento rápido o futuro do relacionamento do aparelho com a bateria, a Apple continuava entregando seu carregador um tanto quanto ultrapassado e promovendo, separadamente, modelos de tomada com voltagem superior – mas ainda aquém dos concorrentes – e, principalmente, nas bases de carga bluetooth.
Resta saber, então, como o mercado vai receber e se adaptar a essa tendência. Se a mudança dos acessórios será como a da entrada P2, que lentamente vai sendo também abandonada por outras empresas. Vale lembrar que, assim como a Apple investe pesado em seus Airpods, a Samsung também investe pesado na linha de som, com os Galaxy Buds+ e com uma parceria para disponibilizar fones AKG em seus smartphones – como acontece no seu último topo de linha, o S20, que ainda vem com uma capinha de silicone. O próprio S20, porém, é um smartphone que também vem sem a entrada P2.
É clara a intenção da Apple de tentar desenhar um futuro sem fios. Primeiro, a remoção do cabo P2, depois, o investimento pesado nos carregadores bluetooth, e agora, o total abandono dos fios em suas caixas. Por mais que a tecnologia de carregamento sem fios seja de fato muito atraente e promissora, ainda parece ser uma tecnologia a ser aperfeiçoada e melhor assimilada por público e mercado em um futuro próximo.
Não é difícil imaginar que, a curto prazo, a Apple seja a única grande empresa que foca nos smartphones completamente livres de fios, mas pela relevância e influência da empresa americana, é difícil também imaginar que isso impacte negativamente em seus negócios. O que será mais interessante de se observar, portanto, é como os concorrentes reagirão nas próximas gerações. Enquanto Samgung e Motorola, por exemplo, tentam inovar com celulares dobráveis, a Apple mantém seus aparelhos com um visual mais conservador – o iPhone 12, por exemplo, lembra bastante o iPhone 5, que até hoje é um dos mais elogiados por sua aparência – e tenta expandir toda a tecnologia ao redor do aparelho.