Os melhores álbuns nacionais de 2020

Os melhores álbuns nacionais de 2020

Confira a lista do B9 com os álbuns nacionais que foram destaques em 2020

por Soraia Alves
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Os impactos da pandemia de Covid-19 na indústria cultural foram enormes, e para os artistas brasileiros não foi diferente. Com a falta de apoio e investimento na cultura nacional, não é surpresa que a situação dos artistas independentes ficou ainda mais delicada, mesmo com a criação de ajudas emergenciais como a Lei Aldir Blanc.

Com tanta dificuldade, é natural que o número de lançamentos nacionais em 2020 tenha sido um tanto menor. Ainda assim, muitos trabalhos de qualidade chegaram ao público e com uma grande diversidade musical. Confira, então, a lista do B9 com os álbuns nacionais que foram destaques em 2020.


10. Arthur Melo – “Adeus”

A arte simples e delicada da capa de “Adeus” é uma boa amostra do que encontramos no terceiro álbum de Arthur Melo. De sonoridade branda, porém rica em elementos, o disco foi criado no período pré isolamento social, mesmo que traga justamente a temática de solidão e saudade. Totalmente produzido por Arthur, “Adeus” carrega um universo de sentimentos e pesares, bem representado na faixa “De Lá pra Cá / Tráfego”, que através de uma descrição de um dia comum, nos dá uma visão muito mais desiludida do ordinário. “E tudo isso só esperando o carnaval chegar”, canta Arthur sobre suas expectativas, mas em 2021 nem carnaval deve ter. A espera será ainda mais longa.



9. Pabllo Vittar – “111”

Embora “111” não seja inovador como Pabllo Vittar prometeu, o álbum traz um posicionamento mais seguro da cantora, que explora canções em português, espanhol e inglês, parcerias que passam por Psirico, Ivete Sangalo, Jerry Smith, Thalia e Charli XCX, e especialmente uma gama maior de influências musicais, ainda que a base pop tecnobrega se mantenha forte, como no hit “Amor de Que”. É impossível não citar “Rajadão” como sendo a maior experimentação de Pabllo até agora, que além de explorar todo o potencial vocal da cantora, traz uma interessantíssima mistura de influências do gospel brasileiro e da música eletrônica.



8. Lucas Boombeat – “Nem Tudo É Close”

“LGBT resiste! LGBT insiste! LGBT persiste / Quando seu pai olha pra sua cara / E diz que prefere seu filho no crime”. Os versos que estão na faixa “Guerreiros e Guerreiras” sintetiza o trabalho de Lucas Boombeat: resistência. Para além das letras diretas e que expressam muito das experiências pessoais do cantor, o trabalho direcionado pelo produtor musical Vibox também é uma representação de todas as influências musicais de Lucas, que se autodefine como “um mistura de bicha com maloqueira”. Do trap ao reggae, tudo é bem dosado em “Nem Tudo É Close”, que ainda traz uma estética visual inspirada na série “Pose”.



7. Rico Dalasam – “Dolores Dala Guardião do Alívio

“Dolores Dala Guardião do Alívio” é um EP de apenas 5 faixas, mas é o suficiente para colocar Rico Dalasam entre os destaques de 2020. Extremamente íntimo e confessional, o álbum traz reflexões significativas, como em “Vividir”: “São tantos os pedaços / Soltos pelo mundo / Juntos num abraço”. O disco realmente é marcado por sensibilidade, ainda que não poupe críticas como na maravilhosa “Braille”: “Pra que tanto número, se a alma flopa? /Não tem guarda-sol, quando o corpo frita / Eu tô no Brasil e pra muitos aqui / O futuro é um caminhão-pipa”. Um trabalho conciso e primoroso.



6. Tatá Aeroplano – “Delírios Líricos”

Com faixas longas, algumas beirando os 7 minutos, “Delírios Líricos” é o sexto e belíssimo álbum de Tatá Aeroplano. Com arranjos detalhistas, o trabalho traz referências diversas da música brasileira, que na maior parte do tempo nos lembra a fase anos 70 de Roberto Carlos. Canções como “Amoras na Beira do Rio” trazem uma melancolia reconfortante, enquanto a calmaria de “Delírios Líricos” (faixa-título) abre espaço para uma psicodelia inesperada. Outro destaque é “Ressurreições”, que nos moldes de composições do Nando Reis ressalta a mensagem simples e certeira “só o amor é capaz de matar o medo”.



5. Mahmundi – “Mundo Novo”

Marcela Vale entrega mais um trabalho cheio de particularidades e ternura. Depois do ensolarado “Para Dias Ruins”, de 2018, Mahmundi explora novas estéticas em “Mundo Novo”, menos sintéticas e mais acústicas. É, de fato, um novo passo na carreira da cantora, mas que consegue se conectar com o pop oitentista dos trabalhos anteriores enquanto explora mais elementos da MPB. A delicadeza das letras é sempre um destaque nas canções de Marcela, principalmente porque combinam de forma poética com sua voz. Bons exemplos disso são as faixas “Convívio” e “Nós de Fronte”. Porém, é em “Sem Medo” que a nova estética de Mahmundi chama mais a atenção, afinal, como ela mesma diz: “Tudo é pra aprender, tudo é pra evoluir”.



4. Marcelo D2 – “Assim Tocam Os Meus Tambores”

Criado durante o período de isolamento social, “Assim Tocam Os Meus Tambores” tem um processo de produção diferenciado. O álbum foi gravado através de mais de 150 horas de transmissões pelo Twitch, o que permitiu a colaboração de muitos artistas como Baco Exu do Blues, Juçara Marçal, BK, Criolo, Russo Passapusso, Jorge Du Peixe, Don L e Djonga. O resultado da produção é curioso, além de colocar Marcelo D2 ao lado da nova cena do rap nacional, o que ajuda não só a revigorar a imagem de D2, mas também trazer novas sonoridades ao seu trabalho. Essas sonoridades, no entanto, são plurais indo da poesia declarada com Criolo em “Tambor, o Senhor da Alegria” ao resgate do manguebeat em “Malungoforte”, que traz um sample de “A Praieira”, da Nação Zumbi. “Assim Tocam Os Meus Tambores” é um refresco bem-vindo à obra de Marcelo D2.



3. Letrux – “Letrux Aos Prantos”

As letras debochadas e extremamente criativas de Letícia Novaes estão de volta em seu segundo álbum, uma produção mais rebuscada que a do álbum anterior “Letrux Em Noite de Climão”. O trabalho traz muitos fragmentos das desilusões amorosas de Letícia, mas também é uma exposição de ansiedades e medos que dá um tom muito mais introspectivo às canções. Essas reflexões fazem de “Letrux Aos Prantos” o dia seguinte dos excessos vividos no disco anterior. É uma boa sequência, pesada e ressacuda como um domingo. O jeito é reclamar da vida (“Eu Estou Aos Prantos”) e reviver tudo de novo (“Déjà-vu Frenesi”).



2. Jup do Bairro – “Corpo Sem Juízo”

Ouvir o primeiro disco de estúdio de Jup do Bairro é uma experiência incrível. Enquanto a voz grave denuncia racismo, transfobia e desigualdade social, a sonoridade passeia por influências do rock ao funk. “Corpo Sem Juízo” é um álbum que nos arranca diversas reações. É fácil rir com os versos “Na saída já sacava um Halls /Dar uns beijinho no escadão, hum, nada mal /Com as meninas era mais legal / Pois eu sempre ficava com brilho labial”, de “O Corre”. Já em “Luta Por Mim”, o sentimento é de aflição ao ouvir “Virei postagem na sua rede social / ‘Cê lamentou e escreveu sobre a repressão policial / Sua hashtag foi o ponto final”. O trabalho todo tem pontos interessantíssimos, como o hard rock da parceria com Deize Tigrona e a ótima “All You Need Is Love” com Rico Dalasam e  Linn da Quebrada.



1. Djonga – “Histórias da Minha Área”

Desde a emblemática capa, cujo conceito visual lembra a estética de “To Pimp a Butterfly” de Kendrick Lamar, “Histórias da Minha Área” é um soco no estômago que mantém o “rap raiz” de Djonga e retrata a violência contra a população negra nas periferias brasileiras. As 10 músicas do álbum mantém batidas e arranjos mais simples em meio às variações de flow, além de influências bem sutis de outros gêneros, com um pouco mais de ousadia em faixas como “Mania” (feat MC Don Juan) e “Oto Patamá”. A crueza dos arranjos, no entanto, são embalos perfeitos para Djonga apresentar crônicas sobre “sua área”, que é mais uma situação social que um espaço físico.

Com produção de Coyote Beatz, “Histórias da Minha Área” é um retrato de um Brasil elitista que prega meritocracia, marginaliza a favela, e é tão egoísta quanto incapaz de promover qualquer mudança positiva para quem tem menos. A cada um só cabe ser o protagonista de sua própria história, como o próprio rapper. A nós também cabe ouvir Djonga e só aprender.


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