SXSW 2021: vem aí o Design Relacional

Ninguém vai negar a importância do design nos dias de hoje. Muito se fala nele, e em todas as suas variações:  design “puro” (de produtos, ambientes, roupas) , design gráfico, design de serviços,  design thinking… estamos, todos, cercados por design. 

Hoje, porém, aprendi que como muitas coisas nos últimos anos, a abordagem que mais se comumente usa pra fazer design – a centrada nos humanos e suas necessidades – talvez esteja à beira de uma revolução. 

Comecei com Jess Holbrook, do Google. Ele abriu meus olhos pro fato de que nos últimos anos o HCD (“human centered design”), que nasceu pra criar soluções sistêmicas, vem sendo usado pra desenvolver “coisas”, ou partes de sistemas. Isso, mais o fato de que essa prática hoje olha com grande foco pra diminuir fricções, tem nos deixado menos conscientes das consequências das nossas escolhas e ações.

Parece estranho? Pois eu descobri que não é. O Bruce Mau, designer canadense que conheci em 2018 lá em Austin, concorda com Jess e acrescenta: além de estarmos olhando só pra partes dos sistemas, estamos esquecendo do contexto. Ao praticar design centrado nos humanos, estamos desprivilegiando todas as outras formas de vida. Isso está criando um desequilíbrio que ele chamou de “bolo com camadas de problemas”: pandemia com injustiça racial, mudanças no clima, falta de comida no mundo… a lista só cresce. 

Isso tudo parece estar acontecendo porque nós consolidamos um modelo ocidental de design que eh focado no indivíduo ao invés de focado na coletividade. Jessica Chen, diretora de UX da R/GA de NY, fez uma palestra incrível sobre como a cultura influencia o design, comparando sua vivência temporária em Shanghai com a sua experiência como UX designer em NY. 

Jessica fala de três dimensões chave que identificou como radicalmente diferentes nos hemisférios ocidental e oriental:

O coletivismo do Oriente o faz mais adaptável, aberto a sacrifícios individuais em prol do coletivo e traz luz ao aspecto mais relacional entre pessoas, marcas e tecnologia. 

O viés mais prático e menos teórico ou de pesquisa dos orientais os fazem realizar e testar com uma velocidade que os países ocidentais tem muita dificuldade de acompanhar – e com uma capacidade de implementação infinitamente superior.

O olhar contextualizado pras coisas dos orientais os faz menos prisioneiros  das armadilhas de desconexão e distanciamento de que falei acima. 

O avanço da integração entre os dois hemisférios (ao menos quando o assunto é design e tecnologia) deve nos fazer chegar a um novo modelo, mais balanceado e menos gerador de desequilíbrios como consequências dos nossos sucessos. Bruce Mau fala: “na ecologia, não há externalidades”. O impacto aparece. Por isso, o design precisa assumir sua responsabilidade para com o mundo. 

Alguns princípios deste modelo, apresentados por Jess em sua palestra:

#1: Pensar, olhar e criar sistemas, ao invés de coisas;

#2: Exercitar o aprendizado lateral (em outras palavras, pensar de forma menos isolacionista e linear e olhar mais pro contexto em que aquela solução existe, assim como buscar possibilidades de não começar do zero, como a China ensina com os superapps e os mini apps);

#3: Somar fatos e ficção. Aqui, estamos falando de especular, criar cenários, entender impactos.

Todos os 3 panelistas foram uníssonos em uma coisa: se continuarmos assim, autocentrados quando o assunto é criar soluções, nosso final não vai ser feliz.