Ouvindo as vozes globais: As lições do “Cala Boca, Galvão”
Como faço de tempos em tempos, adoro passar algumas horas assistindo coisas incríveis na web, e o TED costuma ser um dos lugares (há outros, acredite) onde tenho verdadeiros momentos de prazer com a criatividade humana e, além sair sempre fascinado com o que vejo, acabo sempre renovado, com um mood bem melhor em relação ao mundo e ao ser humano. Hoje foi uma dessas noites.
Fui ao site, e como costumo fazer deixei que os conteúdos me achassem. E quem me pegou logo de cara foi uma apresentação do Ethan Zuckerman, pesquisador sênior da Berkman Center for Internet and Society da Harvard University, que tive o prazer de conhecer no ROFLCon, evento que participei no MIT no início deste ano.
Zuckerman começa falando que, como bom americano, não tem nada a ver com futebol mas que durante a Copa foi difícil evitar no Twitter as coisas em volta do tema como Vuvuzelas, FIFA e, a mais misteriosa para ele: o “Cala Boca, Galvão”.
A partir daí, Ethan conta o que o mundo pensou que era esse tal de “Cala Boca, Galvão” e sobre o que realmente se tratava a história. Num parêntesis, Zuckerman acaba com o restinho da imagem que o Galvão Bueno ainda pudesse ter, mas isso é assunto para algum colunista que entende de futebol…
O que é provocador é que Zuckerman está pouco interessado em mostrar como o NY Times caiu na história, ou quem foi o criador do vídeo, mas sim, usar o bizarro e incompreensível “Cala Boca, Galvão” como uma prova de que o mundo, que se acha uma aldeia global, de fato, está muito longe disso.
Se, por um lado, o “Cala Boca, Galvão” chegou ao NY Times, por outro, existem na verdade milhares de clusters que fazem com que circulemos sempre nas mesmas esferas, nos mesmos grupos, nos mesmos amigos, e pouco (ou nada) nos misturamos de verdade para um mundo melhor.
Zuckerman (@ethanz), que é um dos pensadores mais antenados do mundo digital, termina seu speech com um pedido que, penso, faz muito sentido:
“Não é suficiente a gente tomar a decisão pessoal de querer um mundo mais conectado, amplo, vasto. É preciso repensar os sistemas que temos. É preciso corrigir nossa mídia, a Internet, a educação, nossas políticas de imigração… temos que procurar jeitos de ampliar a capacidade de descobrirmos coisas ao acaso, expandir as traduções entre as línguas do mundo, acolher e celebrar as figuras que fazem as pontes e as conexões, e descobrir como cultivar a xenofilia. É isso que estou tentando fazer e preciso de sua ajuda”
Assista a apresentação de Ethan Zuckerman abaixo, com opção de legendas em português: