"Halloween Kills" busca resposta final ao mito de Michael Myers
Imagem: Divulgação

“Halloween Kills” busca resposta final ao mito de Michael Myers

Sequência redireciona olhar aos arredores do embate do vilão com Laurie Strode para registrar os efeitos da presença maligna do assassino

por Pedro Strazza

“Halloween” enquanto franquia é uma experiência que à primeira vista pode soar como menor quando comparada a aquela oferecida pelo filme original, mas ela também carrega seus pontos de interesse. Enquanto a obra-prima de John Carpenter e Debra Hill é certeira no ato de registrar o horror por trás da figura de Michael Myers e suas ações, as sequências subsequentes se veem na tarefa ingrata de dar conta dos seus efeitos nos arredores, o que na maioria dos casos significa a cidade de Haddonfield – as únicas exceções reais seriam “A Noite das Bruxas”, cuja vocação pela antologia o redireciona mais ao fundo na ideia central do mal, e “Ressurreição”, pela inaptidão na hora de se relacionar com a série para além do retorno imediato.

“Halloween Kills”, continuação direta do reinício “legacionista” da saga pelas mãos da Blumhouse Productions em 2018, não apenas mantém essa lógica em voga como a adentra com certa consciência. Se o capítulo anterior respondia ao embate de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) com o “bicho-papão” renascido e toda a carga simbólica que este reencontro poderia render aos olhos do espectador, o novo filme redireciona as atenções à comunidade que envelheceu traumatizada pelos assassinatos cometidos por Myers em 1978. Prova maior disso são os primeiros movimentos da produção que, embora situada imediatamente após o fim do antecessor, dedica o prólogo ao fatídico “after” da noite em que Laurie sobreviveu ao psicopata e depois se concentra em personagens que de maneira tangencial se encontraram com o homem mascarado e viveram para contar a história.

David Gordon Green (à esquerda) orienta Anthony Michael Hall no set

Nesse sentido, é inevitável comentar que essa mudança também acompanha uma alteração no tom da narrativa, bruta no sentido completo da palavra – dá pra dizer que o nome “Halloween mata” é honrado tanto ao pé da letra quanto no sentido figurativo. De volta ao comando já com uma sequência confirmada, David Gordon Green abandona aqui a abordagem de sutil tradução do cinema de Carpenter para o contemporâneo a favor de uma direção seca, na busca de dar cabo da escalada de violência que se dá a partir dos assassinatos e da revolta da população, que passa a história na caça de Myers. A ausência dessa postura esteta é sentida (e explica boa parte da recepção amarga da produção nesse primeiro momento), mas compreensível: o filme se encena sobre o efeito maligno da presença do psicopata na comunidade, então talvez seja mesmo contraproducente glamourizar a carnificina sem um norte claro.

Mais interessante que as idas e vindas de Gordon Green na nova dinâmica de encenação, porém, é como ela se relaciona com os elementos da premissa, que efetivamente busca dar continuidade à história sem apelar para paralelismos com os anteriores – ainda que seja possível traçar algumas comparações com o “Halloween II” de Rick Rosenthal. Com tanta disposição a expor os temas da vez nos diálogos entre os moradores da cidade (natural perante ao cenário atual), a sequência é até discreta em se situar como um filme de horror acentuado pela madrugada do dia das bruxas, conforme os assassinatos dos dois “Halloween” enfim acendem na comunidade uma sede pelo revanchismo. O comentário óbvio (e muito truncado e superficial) em torno desses eventos seria o trumpismo, mas essa estrutura como no anterior acaba por atender melhor à exploração dos temas internos da franquia, sobretudo no reforço da imagem de Myers como uma criatura de puro mal e maior à figura humana – o que desta vez é materializado de maneira gráfica.

David Gordon Green abandona a abordagem sutil a favor de uma direção seca, na busca de dar cabo da escalada de violência

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É sob esses termos que se constata algumas das qualidades de “Halloween Kills” e em como ele escapa das convenções atuais mesmo quando as seguindo de maneira rigorosa – e nada como uma recriação do Loomis de Donald Pleasence com outro ator para denotar essa última. A começar pelos “tributos” da continuação ao “Halloween” original, que além da inserção dos acenos mais superficiais (vide as máscaras de “A Noite das Bruxas”) retorna alguns dos coadjuvantes de 1978 com novos rostos envelhecidos – entre eles Anthony Michael Hall – sem nenhum interesse benéfico aos mesmos, mas para ilustrar a ira do coletivo retroalimentado por Myers sem muito esforço. Uma lógica boba, de novo, mas que contribui para o amargor geral que acontece não por consequência dos atos narrativos e sim por vocação da obra a estes: há poucos itens de salvação na miríade de elementos da história, com todos condenados à corrupção essencialista ou à morte pelas mãos do assassino.

Mais importante, porém, é como a produção se sujeita à condição de uma postura de revolta sobre todos os acontecimentos, sendo efetivamente mais cética na ausência de resoluções efetivas empreendidas pela população e a própria Laurie, dessa vez confinada ao espaço do hospital enquanto se recupera do confronto com o vilão. Por mais que a presença da filha Karen (Judy Greer) e sua negociação com a turba renda ótimos momentos a partir disso, a chave para essa abordagem está na cena da personagem de Curtis com um também enfermo policial Hawkins (Will Patton), onde o último explica à primeira como a sua relação com Myers é menos predestinada que parte de um esquema maior de acontecimentos. São dois corpos traumatizados pelo encontro com o mal que percebem tarde demais a eficácia de seus atos para combatê-lo e agora precisam presenciar o resto de seu mundo alimentar o mesmo por um caminho similar.

Há poucos itens de salvação na história, com todos condenados à corrupção essencialista ou à morte pelas mãos do assassino

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Mas então como fica Myers dentro dessa narrativa? Talvez seja aí que o filme desande, pois a direção de Gordon Green está muito concentrada no impacto dessa imagem em terceiros para delinear um registro coerente que não repita tudo que veio antes – Filipe Furtado define bem esse conflito como uma incompatibilidade entre o assassino imparável e a criatura sobrenatural que domina todas as conversas. Mas enquanto essa indefinição no fim faça mal ao longa (sobretudo em seu desfecho, um tanto deslocado), ele também delimita o grau de impossibilidade que acompanha a meta maior de “Halloween Kills”, uma sequência atenta demais aos arredores e em como elas se relacionam ao embate central “pero no mucho” de Myers e Laurie.

Enquanto a resolução de tudo isso fica para o capítulo final da trilogia, o “Halloween Ends” que já nasce não muito promissor pelos interesses envolvidos, o risco tomado nesse “episódio do meio” do reboot da franquia é admirável pelo grau de comprometimento, um aprofundamento de questões nem tão interessado assim em seguir em frente. É um exercício sacramentado na imagem final mais relevante da produção, um grande ato de olhar lá fora para acabar enxergando o reflexo de si mesmo.

“Halloween Kills: O Terror Continua” está em exibição nos cinemas.

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