Basta acreditar
Porque as pessoas não se dão ao direito de sonhar? De serem inocentes sem imaginar que por trás de cada ato precise existir uma conspiração?
Talvez a maior lição deixada pelo escritor escocês James Matthew Barrie, autor de “Peter Pan”, e reiterada pelo filme “Em Busca da Terra do Nunca”, seja exatamente uma das frases que ele diz ao saber que as pessoas estão achando estranha sua relação com a família Davies: “As pessoas não podem ver ninguém feliz, que já querem encontrar uma maneira de destruí-la” (ou algo parecido com isso).
Assim como fez Barrie, o diretor Marc Forster quer resgatar a magia e defender a pureza de Peter Pan perante as inúmeras simbologias sexuais que tentaram enfiar goela abaixo da fábula. E Forster o faz de forma leve, tranqüila e emocionante.
Com um Q de “Peixe Grande”, somos invocados a despertar a criança que existe dentro de cada um de nós, acreditarmos que deixar o cinismo de lado e nos entregarmos a fantasia pode ser uma maneira muito melhor de se levar a vida.
É interessante perceber como as brincadeiras de Barrie com as crianças o faziam se desvencilhar do mundo cético lá fora, dando asas a sua imaginação e de todos a sua volta. Também é curioso ver como se dá um processo criativo, de como Barrie criou sua obra-prima “apenas” se divertindo e inventando histórias.
“Em Busca da Terra da Nunca” funciona como a fábula por trás da fábula. Se Peter Pan traz algumas das metáforas mais belas, como o menino que não quer crescer e o crocodilo que engoliu um relógio, o filme de Marc Forster mostra que a história da Terra do Nunca poderia facilmente carregar os dizeres: “inspirada em fatos reais”.
É um filme açucarado? Sem dúvida. É um filme que vai levar o espectador as lágrimas? Quase que invariavelmente. Mas em nenhum momento “Em Busca da Terra do Nunca” apela para o sentimentalismo barato, muito menos manipula quem assiste.
Cada ato do filme tende a levar o espectador ainda mais a emoção, mas o faz devagar. Forster dá um passo de cada vez, nos mostra as buscas, valores e defeitos de seus personagens, nos prova que é permitido sonhar, para só aí nos levar definitivamente a Terra do Nunca.
Mas o emocional do filme não seria nada sem a bela escolha do elenco. Johnny Depp e Kate Winslet preenchem a tela, ajudados pelo belo trabalho do garotinho Freddie Highmore, que faz o papel de Peter.
“Em Busca da Terra do Nunca” tem 7 indicações ao Oscar: Filme, Ator, Roteiro Adaptado, Direção de Arte, Figurino, Edição e Trilha Sonora Original. É um filme para se sair do cinema feliz, leve. Uma sensação contagiosa que se assemelha aquela transmitida pelos “25 assentos reservados” por Barrie para a estréia de sua peça.
Portanto, nada de querer crescer rápido demais, achando que assim não teremos tantos problemas como os que enfrentamos agora. Vamos acrescentar magia na nossa vida, devolver a fantasia ao espetáculo. Como? Basta acreditar. Soltar a imaginação.
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