O Boticário: É necessário mudar?
Curiosamente, de tempos para cá, o surgimento de debates online sobre novas marcas tem se tornado frequente. E nessa semana, como muitos de vocês souberam, o caso foi de O Boticário. As primeiras perguntas que faço são: a mudança era realmente necessária? Isso veio de uma idéia ou de uma necessidade? Apontada pelo cliente, pela agência de publicidade ou por um escritório de design?
Particularmente, sou defensor da vitalidade das marcas (bem construídas). E temos bons exemplos disso: a American Airlines (do Vignelli) e a Fedex (da Landor) são clássicos do design neste aspecto. Que comportam de maneira eficiente (e perene) o espírito das empresas, sustentados pela forma. No final das contas, evoluções são bem-vindas? Claro que sim. Mas nem sempre são necessárias.
Voltando ao caso… ontem e hoje, a maior parte das críticas que li, apontavam para o acento do “á”. Realmente, tem um aspecto diferente (resolveram o acento aplicando uma personalidade de ascendente). Mas honestamente, não ligo tanto assim para isto (pêlo em ovo, vai!).
Impressão particular: O Boticário é uma marca sensorial. Quando penso nesta palavra (esqueça a empresa, pense apenas no teor de “boticário”) me vem na mente algo delicado e suave. Como se estivesse em um pequeno atelier, com uma simpática vendedora, que me mostra cada fragrância e me ajuda a perceber a sensibilidade e o aroma de cada produto. E adoro esse sentimento.
Sinto que ainda não encontrei isto na nova paleta de cores (quero vê-las pessoalmente). Até aqui ela me parece linda. Moderna, vibrante e feminina. Mas vendo as sacolas, tenho a impressão de que dentro tem um tênis ou um secador de cabelos. Não uma essência de banho que quero dar de presente. Mas verdade seja dita: as embalagens (ao menos as duas publicadas) estão bonitas.
Outro ponto é aquela linda bossa atrás do “B”. É belíssima de se ver em uma proporção mediana. Mas não consigo imaginar como ficaria, por exemplo, aplicada em um tubo de batom. Pequena demais? Fina demais? Imperceptível demais? O que também me deixa curioso sobre o estudo de packing. Testaram isto nas “sei lá quantas 2.000 embalagens” da empresa?
No geral, a estruturação está elegante. Um tipografia legal, com um movimento bacana e um kerning adequado. Tem personalidade. Mas ainda assim, não consigo encontrar a essência de banho que quero dar para a minha mulher. O que me deixa com uma última pulga atrás da orelha: com tudo isto, quem é o novo target de O Boticário?