“Falling Skies”: O futuro depois do fim
Nova série da TNT, “Falling Skies”, discute o futuro da Humanidade após uma indefensável invasão alienígena. Eles chegaram, nós perdemos e o que vai acontecer num futuro em que pequenos grupos rebeldes são a última esperança da nossa raça? Noah Wyle pode ter as respostas!
Pessimismo social e racial tem sido um tema muito debatido pela Ficção Científica na TV e, curiosamente, na grade da TNT nos últimos anos. “Battlestar Galactica” explorou esse conceito de forma moderna e dramática com seus dilemas e, de certa forma, preparou o caminho para a chegada de novos produtos como “Falling Skies”, série produzida por Robert Rodat e estrelada por Noah Wyle, – finalmente voltando à TV e, dessa vez, como protagonista principal – e Moon Bloodgood.
A dupla faz parte de um grupo de sobreviventes do ataque alienígena que devastou as grandes cidades humanas e desestruturou o mundo conhecido. Sem muito orçamento para efeitos exagerados ou grandes batalhas, “Falling Skies” aposta em seu apelo dramático e na identificação do público com seu elenco para ser bem-sucedida. E essa aposta é arriscada demais, ainda mais nos dias de hoje.
A razão é simples: hábito de público. Ou seja, o público atual está habituado a um nível de investimento e tecnologia tão grande em produções de Ficção Científica que, confrontado com algo menos grandioso, pode repelir a ideia. “Falling Skies” enquadra-se nesse cenário. Embora permeado pela “presença constante” da ameaça alienígena, a série é um “drama humano”, como classifica o produtor Robert Rodat, em entrevista exclusiva ao B9, que também conversou com Noah Wyle, Moon Bloodgood e o co-produtor executivo Mark Verheiden.
“A pergunta: o que faríamos em caso de uma invasão de longo prazo, diferente do cenário de “Guerra dos Mundos”, por exemplo? Sempre me deixou curioso”, comenda Rodat, desde sua primeira reunião com o núcleo que, eventualmente, produziria a série. Quando Steven Spielberg se envolveu, como produtor executivo, as peças não poderiam ter se encaixado de forma melhor, afinal, ele ainda é o diretor mais apaixonado pelo assunto em Hollywood.
“Spielberg tinha uma ideia clara, uma raça alienígena que matava os adultos e raptava as crianças”
Se a presença do todo-poderoso não fosse o suficiente, a realidade da produção definiu seu futuro. “Quando sentimos as limitações orçamentárias, focar tudo isso nas relações humanas definiu os rumos e facilitou um aspecto da produção: menos tela verde e mais cenários elaborados, e reais”, lembra Verheiden, que veio da linha de produção de “Battlestar Galactica” e suas derivadas.
Ou seja, quer dizer que os alienígenas não estão lá? Mentalmente sim, fisicamente nem tanto. De forma engenhosa, “Falling Skies” apresenta a invasão pelos olhos e desenhos de uma criança, que registra a evolução da derrocada humana numa introdução barata e criativa. Nos primerios episódios, o foco está nos grandes cenários e cidades devastadas, nas naves inimigas e em alguns robos de combate – a linha de frente dos E.T.s.
Seguindo os bons paradigmas da Ficção Científica, “Falling Skies” consegue manter sua narrativa alimentada pelos problemas que causamos a nós mesmos. Com um grupo tão grande e heterogêneo, histórias não faltam, mas a ausência dos alienígenas pode ser fator negativo no início da jornada, porém, isso é estratégico. Robat e Verheiden entraram numa saia justa durante a entrevista quando nossa reportagem, aparentemente, jogou uma bomba atômica no grande segredo do programa.
| Spoilers a partir parágrafo seguinte! |
Os alienígenas são apresentados gradativamente por conta do orçamento, claro, mas também pela razão da invasão. Uma criatura morta aparece em segundo plano no piloto e só vemos o robô de combate e algumas naves e essa peculiaridade levantou uma teoria: e se esses seres não são os verdadeiros invasores e estão fazendo o trabalho sujo para alguém mais forte? Alguém que, possivelmente, tem laços com a raça humana? Rodat ficou branco e Verheiden desconversou, mas não tiveram escolha.
“Cadeias evolutivas estão entre os temas da série e DNA também; esse é o tom que queremos seguir ao longo dos primeiros dez episódios da primeira temporada [piloto + 9]”, diz Rodat. “Falling Skies” é praticamente uma série de guerra com roupagem ficcional, uma “alegoria” como define Verheiden, que vai discutir conflito entre povos e o efeito da necessidade de uma recriação da Humanidade, depois que a guerra aniquilou tecnologia, comunicações e as estruturas das grandes cidades.
“Gostei da perspectiva de trabalhar em algo tão grande como Falling Skies, com tantos cenários, ramificações e, novamente, muitos personagens”, analisa Noah Wyle, em seu primeiro papel como protagonista na TV desde o fim de “Plantão Médico”. Ele vive Tom Mason, um professor convertido em soldado, que se divide entre a responsabilidade como pai e as demandas de seu grupo, militarmente liderado pelo severo Weaver, vivido por Will Patton (“Duelo de Titãs”).
“Fiquei curioso para criar esse mundo pós-guerra no qual toda nossa preparação e sensação de segurança deixaram de existir. Hoje em dia é tudo tão fácil, não é? Acreditamos que nada disso possa acabar, mas e se acabar? O que fazer? Apertar o botão de reiniciar foi interessante”.
Bastante atraído pela combinação “papel principal + Steven Spielberg”, Wyle sentiu segurança suficiente para dar a cara a tapa novamente. “Depois de Plantão Médico, fiquei na posição incomum de poder escolher muito bem qualquer papel; e acabei recusando muita coisa na TV [tentou o cinema com afinco]. Agora pareceu o momento certo, num gênero que me deixa desconfortável o suficiente para precisar aprender demais e valorizar muito os arcos de crescimento dos personagens”, avalia.
Desde 2009, Wyle fez apenas dois filmes pequenos e ficou fora do radar. “E também foi um jeito de transformar minha incapacidade de ter uma carreira no cinema em algo legal, do tipo ‘esperei o projeto certo para poder continuar na TV’”, descontraí, gargalhando, ao se auto-criticar por ter falhado na tentativa de migrar para a telona.
Tom Mason é o meio termo entre os civis e os militares. Mesmo no piloto, já se pode notar raízes de preconceito entre as duas “castas” sociais e alguns dos núcleos e desafios previstos para os personagens de “Falling Skies”. Interessante notar que, mesmo com essa raça alienígena altamente tecnológica e dominante lá fora, o maior problema enfrentado por essa comunidade é um pequeno grupo de humanos violentos e mal-intencionados. “Em meio a essas situações de vida e morte, reagimos em extremos. Infelizmente, um deles é muito negativo e desprezível; é nessas horas que as pessoas boas realmente se revelam”, comenta Wyle, que contracena – e deve fazer par romântico – com a ex-Laker Girl Moon Bloodgood (“Exterminador do Futuro: A Salvação”), habituada a armas e filmes de ação.
Mas, desta vez, Moon é uma veterinária que se transformou em médica oficial desse núcleo de sobreviventes. “Ensinei vários truques com as armas para Noah e foi interessante mudar de lado nessa série, normalmente preciso treinar bastante para cenas de ação e usar os cabos de proteção”, conta Moon, que, recentemente, esteve no filme “Faster”, com Dwayne Johnson.
“Esse tipo de série reforça uma coisa menos comum do que imaginamos, mas extremamente necessária: o fato de que as mulheres não são, ou pelo menos não querem ser, meras coadjuvantes ou interesses amorosos. Ver valor dramático no que podemos fazer é algo motivador”, pontua Moon, que dá vida a Anne Glass, personagem que foi onde muitas outras já estiveram ao fazer autópsia num ET. “Fazer cara de nojo é bem simples, ainda mais com toda aquela gosma que eles colocam dentro do bicho. Até que fiquei bem séria considerando a situação!”, sorri a atriz.
“Falling Skies” tem uma premissa interessante, a chancela de Steven Spielberg e status de superprodução da TNT [que parece tentar reenergizar sua grade com o espírito dos áureos tempos de seus fantásticos filmes originais na década passada], com direito a estréia mundial e tudo mais, mas trilha o sempre complicado caminho da ficção científica. Se mesmo “Battlestar Galactica” com sua qualidade incontestável foi relegada aos sábados em sua última temporada no canal, como manter algo totalmente novo e inferior – visual e dramaticamente – no topo?
O nível de Galactica é alto demais para comparação, aliás. “Stargate Universe”, recentemente cancelada pelo SyFy, apostou num começo gradativo e estratégico assim como “Falling Skies” e pagou com a vida no final da segunda temporada.
Não há muita paciência no espectador, bombardeado por opções mais aceleradas ou engraçadinhas. Cada vez mais, acertar o tom e o ritmo se faz necessário para fazer sucesso na TV. O piloto da série gera interesse, mas peca pela velocidade e a natureza hollywoodiana de sua produção: todos os principais sobreviventes, especialmente os jovens, são bonitos e sorridentes; saídos diretamente dos catálogos de beldades holllywoodianas. A Ficção Científica já exige suficiente em termos de “suspensão de realidade” para arriscar com meros detalhes.
Caso seus objetivos sejam alcançados e a TNT encontre um horário adequado em sua programação – curiosamente, a estreia brasileira aconteceu simultaneamente nos canais TNT e Space, onde “Battlestar Galactica” terminou seus dias – “Falling Skies” pode ser uma alternativa marcante entre o pensamento arrojado da ficção e a profundidade do drama social. Com sucesso e mais orçamento, quem sabe a guerra não seja apresentada num futuro próximo. De qualquer forma vale assistir e tentar desvendar o segredo dos verdadeiros mandantes do ataque que acabou com o mundo que conhecemos.