Cuidado: A mediocridade quer te abraçar
Não sou muito mais velho (ou mais novo?) do que grande parte de vocês. Mas me lembro que, antes dessa coisa toda de internet, minha mãe recebia em casa uma mulher que vendia livros e coleções como a Barsa, Conhecer e Larousse. E pela cara de preocupação que ela fazia ao assinar aqueles cheques – ou das broncas quando me pegava desenhando nas páginas – o tal “trambolho em 30 volumes” devia ser bem caro.
E se você é bem mais novo do que eu e não faz a menor idéia do que eu estou falando, explico: eram sequências de livros sobre diversos temas; uma espécie de “mini biblioteca” sobre o mundo; uma Wikipedia em um único idioma, na estante da sua sala. E naquele tempo (em que era difícil saber as soon as possible sobre as coisas) era bem divertido passar o tempo com esses livros no colo.
Mas as coisas mudaram e nossa realidade com a internet vai muito além. Não estamos mais restritos aos textos e fotos. Temos também vídeos, áudios, gráficos, animações e opiniões de especialistas, amadores & curiosos sobre todos os por ques do universo. No entanto, nem sempre usamos essa engrenagem da melhor forma possível. E levanto aqui essa crítica para pensarmos justamente em nós: profissionais ligados a comunicação. Porque infelizmente somos diretamente afetados por este mal.
Existe essa idéia de que é necessário ficar sempre por dentro das novidades para não se perder no tempo. Algo como: “saber de tudo um pouco, o mais rápido possível e, se der, antes dos seus amigos.” Te deixando sempre com assunto no almoço ou tuitando coisas bacaninhas na frente dos outros. Mas sem perceber, você corre o risco de cair em uma lacuna repleta de conhecimento medíocre e superficial sobre grande parte das coisas. E para nós, curiosos natos, essa ratoeira está em todo lugar. Falo isso por duas razões: a primeira, óbvio, porque tomo os cuidados necessários para não ser infectado por este vírus, procurando me informar ao máximo sobre aquilo que eu realmente quero saber. A segunda, para não infectar vocês com posts medianos, sem profundidade ou mesmo conhecimento de causa. E reparem como tem se tornado cada vez mais comum conhecermos gente assim: profissionais providos de “muito conhecimento” (ou desprovidos de um pouco de honestidade?) incapazes de dizer: “- Eu não sei, cara.”
Gosto de chamar essas pessoas de “Barsa”.
“- Olha o Barsa ali!” :)
Meu avô (já falei dele aqui no B9 e também no A Day in the Life) foi um dos caras mais fodões que conheci. Extremamente inteligente, falava com fluência seis idiomas e fazia conexões entre Proust e Lacraia em uma única frase. No entanto, vivia largadão na cozinha, de sandália de dedo e camisa regata por dentro da bermuda, sem a menor pretensão de se mostrar um intelectual para os outros. E inúmeras vezes o vi fingir não saber um determinado assunto só para ouvir outra pessoa falando sobre.
“- Vô, por que o senhor disse que não sabe muito bem?!”
“- Sei, filho. Mas assim eu vou aprendendo cada vez mais.”
Ele nunca usou o Google, mas sabia que a essência está em buscar opiniões de todos, para ficar mais afiado e entender sobre um determinado assunto. Ele fugia desse superficial que “os caras bacanas e descoladinhos” possuem. E ele tinha razão. Fico extremamente feliz (e grato) em assumir para vocês que, tirando minhas áreas de interesse (Design, História da Arte e Música), sou um completo amador em todo resto que tento fazer. E ainda que seja naquilo que sei fazer, tenho aprendido MUITO aqui no B9, com comentários, replies e mensagens no Facebook que muitos leitores enviam. Essa troca de experiência e conhecimento nos torna pessoas melhores. É uma via de mão dupla, onde busco o máximo de referências, conhecimento e opiniões na hora de fazer um artigo sobre algo legal para vocês (para não oferecer um conteúdo medíocre), e recebo uma série de comentários, acréscimos e críticas, debatendo assuntos de nosso interesse.
Somos comunicadores. E não vamos morrer se não soubermos sobre o vídeo bacana que acabou de ser publicado lá no YouTube. Ele vai continuar lá e em algum momento você irá encontrá-lo. Me parece que é muito mais importante mergulharmos com vontade naquilo que nos interessa, buscando o máximo de opiniões e referências, do que qualquer outra coisa. E querem saber o que realmente precisamos? Eu não sei.
Mas quero me aprofundar e descobrir. :)