B9 entrevista J.J. Abrams: O Guru Moderno
De certo modo, a carreira de J.J. Abrams sempre foi marcante na minha jornada profissional. Quando desembarquei nos Estados Unidos em janeiro de 2008, o destino era a junket de estréia de “Cloverfield”, que deveria contar com a participação do diretor. Ele não apareceu.
Meses depois desse desencontro, Joshua Jackson mencionou algo que nunca esqueci:
“J.J. é um daqueles caras que pensa em velocidade acelerada, nunca para de ter ideias e fazer zilhões de coisas ao mesmo tempo. Você vai ver quando puder conversar com ele”.
Talvez por isso, ou simplesmente pelo respeito profissional e certa idolatria pelas ideias malucas dele, entrevistar J.J. acabou se tornando um objetivo a ser atingido com honras. Coisas de jornalista obstinado. Quase quatro anos se passaram e os ventos soaram ao meu favor, logo, tive quatro oportunidades de conversar com Jeffrey Abrams. A última delas, porém, foi especial pois, finalmente, tive uma individual (ou 1-1 como chamamos por aqui) com o sujeito e aí foi a hora de libertar o nerd cinéfilo que existe dentro de mim.
Não digo isso para me gabar nem algo do gênero, mas como compartilho da devoção pelo J.J. com o Carlos Merigo, achei legal contar um pouco dessa história para vocês entenderem as razões e circunstâncias do longo papo a seguir. Ficar empolgado também faz parte do jogo, o que não impede o exercício do profissionalismo. Nunca entendi essa história de que repórter de cinema não pode demonstrar paixão pelo que faz. Nada tira da minha cabeça que, em qualquer profissão, amor extremo pelo assunto traga muitos benefícios. Especialmente quando se sabe exatamente onde o fanboy acaba e o profissional começa.
Chega de enrolação. Com vocês, J.J. Abrams.
B9: Gosta do potencial do iPhone 4 para gravação de áudio? A maioria dos jornalistas já entrou na onda.
J.J.: É uma grande ferramenta. No começo da produção de “Super 8”, gravei alguns diálogos temporários no meu iPhone e mandava por e-mail para os editores e eles já encaixavam no corte. Quando estava fazendo “Star Trek”, eu tinha que ir até o set para fazer esse tipo de coisa; cada vez que precisava gravar uma fala demorava…desta vez, era só gravar e enviar.
Facilita o processo…
… bastava ligar para os atores e dizer: “pode gravar essa linha rapidinho?”. Eles falavam na hora ou então mandavam por email. No máximo, o processo demorou uns 20 minutos para ser concluído envolvendo um ator em Nova Iorque e um editor em Los Angeles. Acho que acabei usando uma dessas temporárias em “Super 8”!
O que eu mais gostei foi a assinatura visual que você trouxe. Ao mesmo tempo em que parecia tão realista, parecia desconectado da realidade com o elemento dos alienígenas. E tem também a atmosfera de Spielberg. O quanto foi difícil se afastar do conceito de aliens monstruosos e fazer um alienígena que não tem tanta cara de alienígena?
Você fala do alienígena?
Sim, o jeito como vocês conceberam a criatura foi uma boa sacada. Não fazê-la parecer completamente estranha. Isso garantiu uma atmosfera spielbergiana sem precisar fazer um bicho tão mostruoso e mais relaciovável, como os de “Cowboys & Aliens”, por exemplo.
“Eu não descarto nenhuma tecnologia, desde que encontre um bom uso para ela.”
O grande desafio do filme foi imaginar uma criatura que fosse assustadora, difícil de definir, intimidante e misteriosa – e que ainda assim, no final do filme pudesse nos surpreender. Porque as pessoas precisam ser capazes de entender a face da criatura para poderem se apegar a ela. Ela precisa, em algum nível, ser antropomorfizada, para que as plateias possam se identificar com ela. Tivemos longas discussões sobre isso.
Poderíamos facilmente imaginar um alienígena que se parecesse com uma Pirâmide (risos), mas aí não haveria como identificar se a tal pirâmide está furiosa ou assustada. Percebemos que o extraterrestre precisava ser alguma coisa que tivesse olhos e uma boca. Alguma coisa para a qual você pudesse olhar e ter uma vaga ideia do que se trata. É uma questão de gosto; algumas pessoas vão ver a criatura e dizer “é o melhor alien que eu já vi”, enquanto outras dirão “que desastre”. Quem sabe o que as pessoas vão pensar, mas nossa meta era criar algo crível, com que as pessoas pudessem se sentir ligadas em algum nível. Acho que a Industrial Light & Magic fez um grande trabalho neste filme.
Falando em crível, acabei de ver “Cowboys & Aliens”. Percebi muitas semelhanças entre os alienígenas de Jon Favreau e os seus.
Sério?
Bem, eles são grandes monstros velozes com vários braços. Mas, em vez de criar monstros semelhantes a insetos, como os de “Distrito 9”, eles seguiram pelo caminho algo bizarro de “Cloverfield”. Como é criar um novo estilo de aparência para alienígenas? Você cria as aparências dos aliens pensando em estabelecer tendências, ou segue o que lhe parece fazer mais sentido?
Nunca crio algo pensando em estabelecer uma tendência, sempre penso no que preciso para o filme.
Isso meio que responde à pergunta. Sempre levo em consideração coisas como o tom da cena, o estilo visual do filme, e enxergar do que o filme precisa. O que preciso fazer para servir à história que quero contar. Se temos uma cena com um forte senso de urgência, imagino que a câmera deva ter alguma energia por si só. Ela vai estar em movimento, nunca fixa. Se temos uma cena calma, a câmera não deve se mover muito. Se quero criar suspense e tensão, procuro me manter próximo do objeto de foco.
Existem algumas coisas que você decide em resposta às necessidades do filme; se vou usar uma câmera de mão ou fixa, qual ângulo devo usar. A criatura surgiu partindo do princípio de que precisava ser uma coisa da qual as pessoas pudessem ter medo a princípio, mas com a qual acabariam ficando ligadas com o decorrer da trama. Isso exigia uma criatura que não fosse uma coisa só; dependendo da cena, ela é bípede ou anda como uma aranha. Queríamos algo único, que você pudesse identificar pela silhueta, mas que fosse muito diferente do que você esperaria ver. Foi uma questão de perceber do que o filme precisava, e encontrar a abordagem adequada.
Falando sobre o filme, o quanto a cena na estação de trem é autobiográfica? Eu quase chorei vendo aquilo, é brilhante. As reações… (risos)
…(risos) Essa é uma cena particularmente autobiográfica, mas o conceito de um grupo de crianças fazendo um filme em “Super 8” foi basicamente o que eu cresci fazendo; eu e todos os meus amigos diretores. Quase todo mundo que conheço viveu isso quando criança, e essa foi uma parte da diversão de fazer este filme. Especialmente com alguém como Larry Fong (diretor de fotografia de “Super 8”), que conheço desde os 12 ou 14 anos. Era isso que costumávamos fazer.
Essa é uma parte muito autobiográfica do filme, mas claro que o que acontece depois não é. Nunca filmei numa estação de trem com uma mega explosão acontecendo atrás de mim! (gargalhadas). Em termos de estabelecer a cena, de viver a situação. Estou estudando cinema, então começo a entender bem como é. Foi muito familiar. Quase como se você estivesse lá.
Devo que dizer que fiz algo incomum para este filme. Não li nenhuma notícia sobre a produção, só vi o teaser, e entrei na sessão pensando “vamos ver o que J.J. Abrams aprontou desta vez”.
Ainda dá pra fazer isso? (risos).
É difícil, mas possível.
Entendi todas as piadas sobre cinema que aparecem no roteiro. Mas o mais engraçado foi ver grande parte da imprensa descrevendo o filme como “uma mistura de Os Goonies com E.T.” Não tem nada de Goonies no filme, só porque é um grupo de crianças?
Tudo que fiz sempre passou por esse tipo de comparação. Quando fiz
“Alias”, a série era chamada de “versão família de La Femme Nikita”. “Lost” era visto como uma mistura de “Arquivo X” com “Survivor”. Obviamente, “Missão: Impossível 3” e “Star Trek” não tiveram esse problema; foram comparadas ao que já havia sido feito nas franquias. Tudo é comparado, e ano que vem surgirá uma série que alguém vai comparar a “Alias”. Ou algum filme de ET que será comparado a “Super 8”, e aí meu filme se torna algo cool. Vai entender.
É até meio absurdo, porque eu não vi nada de “Os Goonies” no seu filme. Nem a sensação de aventura que “Os Goonies” tinha; trata-se de um filme de monstro, e as crianças estão em perigo de verdade. Você mudou alguma coisa no seu trabalho quando começou a ouvir esse tipo de comparação?
Entendo que as pessoas precisem comparar coisas que elas não conhecem com coisas que elas conhecem. Faz todo sentido. Mas eu sempre rio quando vejo esse tipo de coisa, porque uma novidade futura sempre acaba sendo comparada ao que você fez. Nesse momento é minha vez de perguntar, então estava certo na primeira vez? (risos).
Basta ver o que acontece hoje, quando as pessoas comparam tudo a “Lost”.
Sim, mas… enquanto estava trabalhando com Steven (Spielberg) na história, perguntei a ele se uma trama com evacuação de cidades e conspiração do governo não seria semelhante demais a “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”.
Ele me disse, sem pensar muito: ‘A ideia de uma conspiração militar para esconder a existência de alienígenas não é minha, isso vem de outros filmes’.
Acredito que o ponto seja que muitos jornalistas americanos disseram que a presença de crianças no filme é algo que Steven sempre fez, assim como Steven foi influenciado por (François) Truffaut e outros cineastas. Existem influências, e influências das influências.
Talvez parte disso tenha a ver com o fato de que as pessoas sempre esperam por um filme de criatividade extrema, com uma história completamente nova… mas isso nunca vai acontecer, já que todas as histórias já foram contadas. As pessoas sempre esperam por algo que não acontece.
Isso tem a ver com vários fatores. Todo mundo é um crítico agora, e todos os filmes estão disponíveis para serem usados como referências. As pessoas sempre estão comparando filmes a outros filmes; elas dizem que querem algo diferente, mas quando surge um filme inovador como “A Origem” reclamam que “é muito confuso”. Sempre há algo para criticar. “Esta tomada é muito monocromática”, “o roteiro tem camadas demais”… entendo que as pessoas comparem e critiquem as coisas, porque eu mesmo também faço isso. Mas ao mesmo tempo, quem quer apenas criticar sempre encontra algo.
Num artigo que escrevi para a edição brasileira da Rolling Stone mencionei o fato de como você e outros, poucos, diretores estão liderando uma onda para trazer novas ideias, mudar um pouco as coisas. Uma coisa que mencionei foi como, em “Star Trek”, você foi um dos únicos a realmente olhar para o espaço. E agora, em “Super 8”, você traz os aliens para a Terra. Eu estava discutindo essa tendência com James Cameron alguns dias atrás: por que a ficção científica parou de mostrar o espaço e começou a se concentrar em trazer as ameaças para a Terra? Vimos isso em filmes como “Distrito 9”, “Super 8″… e mesmo em “A Origem”, em que a mente humana serve de cenário.
Primeiro… bem, eu não sei. (risos) Segundo, parte disso tem a ver com a paranoia. Alienígenas ameaçadores diante de nós.
A sensação de que estaríamos sendo observados.
“Executivos olharam para as contas de um filme como “Cloverfield” e disseram: ‘Olha só, eles fizeram isso por US$ 20 milhões!'”
Exatamente. Além disso, a tecnologia que prometia viagens espaciais, e que nos levou à Lua e era vastamente divulgada não só em publicações científicas, mas em ficção científica entre os anos 30 e 60, nunca se tornou realidade. Um dos meus episódios favoritos em “Além da Imaginação” era o piloto (Where is Everybody?). Ele mostra Earl Holliman acordando sozinho numa cidade, e ao final do episódio você descobre que ele está passando por um teste antes de ser enviado ao espaço – mas agora terá que ser levado para um hospício, porque enlouqueceu no decorrer do episódio. Enquanto é carregado pelos médicos, ele olha pra Lua e diz “da próxima vez, não vai ser um teste”.
Ainda não tínhamos ido à Lua na época, então a vontade de “audaciosamente ir aonde ninguém jamais esteve” era uma influência muito forte. Era uma possibilidade que inevitavelmente se tornaria uma conquista. Uma vez que alcançamos à Lua e a vida fora da Terra tornou-se possível, uma série de histórias começou a ser contada sobre isso – algumas maravilhosas e outras horríveis, claro.
Outra coisa a ser considerada é que é obviamente muito mais barato filmar na Terra e criar criaturas digitais do que criar outro planeta, e muito mais fácil construir um relacionamento com personagens humanoides que fazem coisas do dia a dia e têm reações humanas. Tantos filmes espaciais já foram feitos que a ideia do espaço sendo misterioso e assustador se tornou uma espécie de clichê. No começo de Star Trek, na cena em que a mulher é sugada da nave para o vazio do espaço, tudo fica em silêncio por algum tempo. Mesmo estando num filme, onde isso geralmente é mostrado com barulho e explosões, eu queria lembrar às pessoas que o espaço é esse vácuo frio e aterrorizante.
De qualquer forma, esse processo é cíclico. Faz sentido pra mim que os filmes venham para a Terra, ainda que eu pense que isso começou quando os executivos olharam para as contas de um filme como “Cloverfield” e disseram “olha só, eles fizeram isso por US$ 20 milhões”. Acredito que seja um jeito mais barato e menos óbvio, e até por isso é inevitável que voltem a fazer filmes com humanos indo ao espaço, em vez de aliens vindo à Terra.
Como você encara esse momento para o gênero e qual a função de “Fringe” nesse cenário?
De onde você tira tantas perguntas boas? (risos). Cada dia mais, a ficção científica se transforma na nossa vida cotidiana. Por exemplo, quando trabalhamos em “Fringe”, constantemente lemos matérias bizarras sobre acontecimentos reais e também acompanhamos discussões sobre novas possibilidades descobertas pela comunidade científica, sejam testes, teorias ou mesmo produtos sendo aprovados para uso.
Encaro as duas primeiras temporadas de “Fringe” como uma história de fundo para o desenvolvimento da terceira, não apenas dando respostas, mas construindo uma base dramática.
Seria impossível iniciar a história nesse momento, sem esse embasamento, pareceria maluco demais, mesmo para a gente (risos). Convenhamos, “Fringe” é um show ridículo em vários aspectos; mostra essa ciência ultrajante e coisas totalmente exageradas, mas não lida com Ficção Científica do modo que “Star Trek” faz, por exemplo.
“Fringe” é claramente algo fora do normal, uma vida cotidiana bastante incomum, mas cujo sentimento é de estarmos lidando com teorias científicas sem pensar “isso vai acontecer daqui centenas de anos”, mas imaginar suas aplicações imediatas. Não tentamos simular os resultados de Além da Imaginação, por exemplo, uma série que amo de paixão, ao investigar alienígenas e elementos claramente sobrenaturais, ou mesmo Arquivo-X. Pode-se pensar: tudo isso é absolutamente improvável, entretanto, isso não torna o assunto impossível. É isso que me atrai na série, pois passamos a impressão como é viver num mundo de ficção científica, sendo que, na verdade, é exatamente onde já vivemos.
Quando “Cloverfield” foi lançado, eu lembro de ouvir você dizer que queria mostrar às pessoas que americanos podem fazer um bom filme de monstro. Você sente que isso foi alcançado?
Quando eu estava no Japão, foi uma inspiração para mim ver que…bem, eles têm o Godzilla. E o Godzilla ainda é uma figura tão relevante lá.
Ele está na TV até hoje.
E é muito legal fazer um filme de monstro que não precise do Godzilla para funcionar, mas que siga o mesmo estilo. “Cloverfield” foi meio assim. A ideia de fazer algo quase artesanal, filmado com uma câmera caseira, foi fundamental para o que nos propusemos, e funcionou muito bem. Sou um grande fã de criaturas e monstros, e existe muita coisa nesse estilo que eu ainda gostaria de fazer. Claro que nem tudo que eu faço precisa ter monstros, mas desde criança eu sempre adorei os filmes de Ray Harryhausen e os monstros dos anos 50 e 60. Adoro todos eles. Quando eu era criança não havia DVDs, então nós líamos livros sobre filmes de terror para conhecer os filmes, cartazes e histórias.
Devemos esperar que o novo “Star Trek” seja lançado em 3D? (Por favor, diga “não”.)
Eu não descarto nenhuma tecnologia, desde que encontre um bom uso para ela. Ainda estamos trabalhando no roteiro, então é meio cedo para falar sobre isso. Sei que “Star Trek” em 3D poderia ficar muito bom visualmente falando, mas isso não pode ser o objetivo do filme. A história que eu resolver contar não pode ser diretamente influenciada pelo número de dimensões em que o filme será rodado. O importante é se concentrar nos personagens, nas condições e credibilidade do filme. Se acontecer de filmarmos em 3D, tem que ser porque temos grandes ideias de como usar esse efeito, e que isso seja a coisa certa a fazer.
Parte de mim adoraria brincar com o 3D só pra ver como ele funciona, mas eu não sou um grande fã da tecnologia pela tecnologia.
Você tem gostado do que viu em 3D até agora?
Acho que Michael Bay criou um visual muito bom em “Transformers: O Lado Oculto da Lua”. Mas o fato é que existem poucos bons filmes em 3D que eu possa citar: “Avatar”, “Transformers” e “O Expresso Polar”. Três filmes que usaram essa tecnologia de um modo espetacular. A maioria do que eu tenho visto, porém… adorei o último Harry Potter, mas não fez diferença tê-lo visto em 3D. Houve uma ou duas cenas em que o 3D realmente foi bem usado, mas fora isso eu me peguei pensando que estava vendo um ótimo filme em 2D. Eu não recomendaria vê-lo em 3D.
Falando um pouco sobre TV, atualmente, qual seu papel em “Fringe”? Manda-chuva controlador ou ombro amigo?
(risos) Meu trabalho é estar disponível quando sou necessário. Seria muito destrutivo ficar me intrometendo e mudando tudo. Sempre penso muito no nível de envolvimento, pois posso facilmente começar a impor meus desejos e até que ponto vou permitir aos produtores fazerem seu trabalho? Não me sinto confortável ao dizer que os produtores comandam o programa até o momento em que eu resolva mudar tudo. Leio todos os roteiros e vejo todos os efeitos visuais, mas evito ser como produtores com quem já trabalhei que passavam a semana fora e, quando apareciam, detonavam absolutamente tudo que havia sido feito. É impossível manter uma equipe motivada dessa maneira, pois sabem que tudo precisará ser refeito, não importa a qualidade.
A quantidade de projetos com os quais você está envolvido te transforma numa espécie de Jerry Bruckheimer dedicado à ficção científica? Aliás, quando você consegue dormir?
(risos) Mais do que todo mundo imagina, menos do que eu gostaria. (risos) É impossível estar presente em seis programas ao mesmo tempo, mesmo Bruckheimer – um sujeito que conheço há anos, com quem já trabalhei e que admiro além da imaginação – pode fazer isso. É um erro brincar de fantoche e tentar controlar todas as cordas. Fato: parece que estou implantando dedos novos (risos), mas confio no meu pessoal. Damon [Lindelof] está escrevendo o segundo “Star Trek” com Alex [Kurtzman] e Bob [Orci]. Bryan Burk é meu parceiro de produção em todos os projetos e Jeffrey [H. Wyman] controla muito bem o desenvolvimento de Fringe.
Acredito na definição de uma equipe competente, acima de qualquer crença na minha qualidade individual.
O quão importante são esses aliados na hora de ter novas idéias, então? Elas surgem e você comenta com eles ou há espaço para colaboração bilateral em todos os aspectos?
Boa pergunta. Dou muito crédito ao pessoal que trabalha comigo, pois, inevitavelmente, muitas das idéias não são minhas. Como todo roteirista, sempre que tenho contato com uma idéia, reajo de maneira diferente e tenho idéias de como ela poderia ser desenvolvida. E isso varia do desejo de fazer algo diferente, familiar ou até mesmo esotérico. Às vezes, alguém sugere algo que tenha apenas três silabas e eu já tenho uma reação para o conceito, simplesmente por achar que seguiriam outro caminho. Aí contam tudo e acho legal, mas aí digo: pensei que você faria tal e tal coisa. É alquimia. É basicamente a mistura de diversas reações e estímulos tanto físicos quanto circunstanciais para uma ideia.