Com 32 milhões de views em 3 dias, “KONY 2012” redefine o conceito de ativismo digital
Eu já perdi a conta de quantos emails, tweets e facebooks de leitores do B9 pedindo pela publicação da campanha “KONY 2012” por aqui (obrigado a todos que entraram em contato). O vídeo, que já atingiu impressionantes 32 milhões de views no YouTube em apenas 3 dias, é provavelmente a maiorvelocidade viral que já testemunhamos em redes sociais.
Pra quem ainda não sabe, trata-se de um movimento de uma ONG americana chamada Invisible Children. A intenção é fazer o mundo tomar conhecimento de Joseph Kony, líder do Lords Resistance Army (LRA), um grupo de guerrilha armada em Uganda.
Kony é acusado pela organização de sequestrar mais de 60 mil crianças no país durante os últimos 25 anos. Meninos são obrigados a converter-se em soldados, enquanto meninas se tornam escravas sexuais. Quem não aceita, morre.
Assisti o filme na segunda passada, mas, desconfiado do estilo Hollywoodiano e da proporção de uma campanha para uma ONG, decidi esperar antes de falar qualquer coisa, além de procurar saber o queria dizer também todo o criticismo em torno da denúncia.
Apesar do sucesso do vídeo, muitas pessoas o criticam por informações erradas – como a localização de Kony (que nem em Uganda está) e o suposto tamanho exagerado de seu exército – e principalmente por retratar Uganda de uma maneira equivocada.
Foi criado até um Tumblr para reunir as críticas de “KONY 2012”, e nessa manhã a própria Invisible Children tratou de responder os questionamentos, apresentando mais informações de pesquisa e inclusive um relatório financeiro depois de ter sido acusada de ter gasto quase 9 milhões de dólares no ano passado, e apenas 32% disso com serviços diretos.
Resumindo: A Invisible Children estaria gastando seu dinheiro de doações para fazer filmes com fatos distorcidos e dados exagerados, segundo a Foreign Affairs.
Outra versão é que “KONY 2012” não passe de slacktivismo, ou seja, a falsa ideia de que simplesmente compartilhar, dar like ou retuitar irá resolver o problema. Um termo que define o ativismo de sofá, muito popular em tempos de redes sociais.
É natural que uma campanha de tamanho sucesso encontre seus detratores, mas a verdade é que o cinismo acabou misturando duas coisas diferentes: a ação pretendida pelo vídeo, que é a de espalhar o conhecimento e cobrar atitude dos líderes de outras nações; e a maneira como a peça soa maniqueísta com sua produção
Poderia até ser julgado dessa maneira quando se tenta encaixar o filme na categoria “documentário”, mas – política à parte – a verdade é que como peça de comunicação “KONY 2012” é brilhante, principalmente por se tratar de ativismo digital. Não só pelo vídeo em si, mas também pela interação, cartazes, produtos, etc.
Quanto as informações prestadas pela ONG e para onde vai o dinheiro doado, isso realmente precisa ser questionado e investigado. Mas e para aqueles em que o problema da campanha é parecer com roteiro e produção de Hollywood?
Basta lembrar que tem moleque de 14 anos fazendo vídeo em casa com muito mais audiência que produções profissionais. Faz tempo que a capacidade de gerar buzz e as ferramentas necessárias para um trabalho de comunicação não estão mais nas mãos de poucos e grandes.
Você pode até argumentar que não passa de um vídeo bem feito e emocional sobre um tema sensível, mas não é essa uma das ferramentas fundamentais da comunicação?
Jason Russell, CEO e co-fundador da Invisible Children, colocou um líder militar de guerra civil no mapa, mas também acaba de redefinir o conceito de trabalho humanitário e, principalmente, a maneira como mobilizar a mídia e as redes sociais em torno de uma causa. Só espero agora que de maneira honesta.