Munique *****
Sei que muitos pensarão que isso não é um grande elogio, mas “Munique” é o melhor filme de Spielberg desde “A Lista de Schindler”. Não apenas pela nova prova de que o diretor é extremamente hábil no manejo da camera, na montagem e em criar cenas brutais de tensão, mas também por não se acovardar diante de um tema tão espinhoso.
“Munique” é um thriller cinematicamente visceral com seu suspense e violência gráfica, mas acima de tudo é eficiente em contar uma história sobre moral, ética e política sem acobertar nínguem ou tentar tornar tudo mais digerível para a platéia.
Ao traçar a todo instante paralelos com os dias atuais, somos levados aos mesmos questionamentos de Avner. Será que é possível um dia interromper um ciclo vicioso de violência, sendo que retaliações são incentivadas e financiadas?
Mas Spielberg também é corajoso ao mostrar que, os mesmos responsáveis por atos tão violentos, são também pessoas com família, sonhos e o desejo de ter um lar. Mesmo que o custo seja alto demais. Sem tomar partido por nenhum dos lados, “Munique” utiliza diálogos de duplo sentido para dizer algo que nem precisaria ser dito: toda violência tem volta.
Muito distante daquele diretor que fugiu do sangue no fraco “Guerra dos Mundos”, Spielberg faz o público não apenas entender porque a imagem de um homem com a cabeça coberta por uma meia na sacada de um apartamento durante as Olimpíadas de 1972 tornou-se uma das mais emblemáticas do século passado, mas sim se perguntar porque tudo o que aconteceu ali e depois dali não serviu de aprendizado para nínguem.
Assim, da mesma maneira que Avner e seu grupo procura legitimidade moral para matar, quando pergunta por exemplo “Você sabe porque estamos aqui?”, fazemos hoje ao questionarmos o real propósito de terem exércitos espalhados pelo planeta em busca de condenação ao inimigo, porém, matando todo mundo antes “apenas por prevenção”. Será que um dia ainda teremos chance à paz?
Pelo impacto, coragem, frieza e inteligência, “Munique” é até agora o melhor filme do ano. Sinal de que Spielberg continua sendo um mestre de seu tempo, pelo seu talento e poder de criar uma obra comercial tão provocativa.
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