Rede social preferida da extrema direita, Gab cresceu quase 200% no 1° semestre de 2019
Empresa também descentralizou a plataforma para prevenir que ela seja encerrada em decorrência de eventos futuros
Em outubro do ano passado, um atentado a uma sinagoga em Pittsburgh levantou na mídia a relação entre a rede social Gab e movimentos da extrema direita, que usavam a plataforma de promoção do “livre discurso” para promover terrorismo estocástico, inundando o site de notícias falsas e postagens de ódio a diversas minorias. O caso acabou por inviabilizar a continuidade da plataforma, conforme empresas como o PayPal, a Stripe e o GoDaddy encerraram suas parcerias com o Gab e forçaram seu fundador Andrew Torba a desativar sua criação.
Se na época parecia o fim da trajetória da rede social, uma reportagem da Vice não apenas revela que o Gab continua vivo, mas está mais forte do que nunca no meio online. Reestabelecido pouco mais de uma semana depois do seu “fim”, o site aumentou de forma assustadora neste primeiro semestre de 2019, atingindo uma taxa de crescimento no tráfego de quase 200% e de 180% em usuários nos últimos seis meses de acordo com os cálculos do SimilarWeb. A empresa de pesquisa ainda afirma que só em julho o número de visitantes ao site foi de pouco menos de 1 milhão.
Esta expansão se deve em parte ao fim do 8chan, empresa “concorrente” que passou por um processo similar ao do Gab no ataque da sinagoga há duas semanas com o tiroteio em El Paso, no Texas – o responsável pelo ataque era usuário regular da plataforma. Com o encerramento das atividades do 8chan, o grosso de pessoas que frequentavam o site voltaram ao Gab, que para se “precaver” de chances futuras de ser desativado mudou em julho toda sua infraestrutura inteira para uma plataforma descentralizada.
O fato de ter se tornado uma rede social sem sede de dados fixa também se tornou um dos principais “pontos de venda” da empresa em seus esforços de publicidade. Nas horas posteriores ao tiroteiro no Texas, a conta oficial do Gab no Twitter buscou agremiar novos usuários alegando que “a liberdade na internet estava sendo esmagada” e que o futuro era “descentralizado e open source”.
Além de encontrar uma forma de manter a plataforma não importando o que aconteça, o Gab também vem promovendo atualizações para manter seu site tecnologicamente em pé de igualdade com outras redes sociais, incluindo aí uma versão paga que permite subir vídeos de melhor qualidade, opção de verificação e um serviço de e-mail personalizado. A empresa, porém, não tem feito o mesmo que os outros no que consta administrar o tipo de publicação que passa pelo seu site, um debate que só tem avolumado nos últimos meses em companhias como o Twitter, o Facebook e a Snap Inc..
O Gab mantém hoje as mesmas proibições de sua fundação em 2016, quando Torba deixou o Vale do Silício irritado com o banimento de movimentos de ódio das redes. A plataforma hoje só não permite ameaças de terrorismo, ameaças diretas de violência, pornografia infantil, pornografia e doxxing – racismo e comentários anti-semitas, por outro lado, podem ser perpetrados nos posts sem maiores problemas.