Fora do eixo Rio-SP
Quando eu era mais novo eu fui roadie por pouco tempo e conheci nesse período uma porção de roadies de outras bandas. De vez em quando, eu viajava de ônibus com esses caras para umas gigs deles em cidades do interior. E era engraçado. Eu chegava numa cidade bem de interior e via as meninas todas com a roupa que muitas amigas minhas da zona sul carioca estavam usando. Na época isso era efeito da TV. Principalmente da Rede Globo. Claro que as revistas também ajudavam. E era curioso conversar com essas meninas com a roupa da moda e ver que elas continuavam sendo meninas do interior e que não tinham acesso a muitas coisas de cultura que nós tínhamos. Era legal descobrir isso. Era legal ser o cara que indicava as coisas que elas tinham que tentar fazer se fossem ao Rio, bandas legais para ouvir e tal. Social currency/whuffie para alguém?
Eu lembrei dessa história porque no início do mês eu fui para Manaus fazer uma palestra no curso de publicidade do IFAM e notei que hoje eu não teria tanta coisa para indicar. A internet nivelou/democratizou o conhecimento (duh!). Ela está fazendo hoje o que a TV fez no passado. Embora no Brasil a TV tenha um poder e penetração que é uma covardia, para quem é curioso e tem interesse (e acesso a internet) dá para ficar tão a par das últimas tendências e estudar tão a fundo diversos assuntos que não interessa mais onde você está geograficamente.
Provavelmente no passado para alguém fazer uma palestra para universitários em Manaus (ou no interior) a abordagem talvez tivesse que ser mais básica. A palestra que fiz lá abordando engajamento, internet, redes sociais, transmedia e RP foi exatamente a mesma que fiz em diversas faculdades em São Paulo. Sem diferença nenhuma e muitos estavam tuitando durante o evento e pelo papo que tive depois com os alunos, deu para notar que as dúvidas eram as mesmas daqui. A internet nivelou os estudantes de todo mundo. Foi em Manaus que fiquei sabendo que uma aluna está fazendo um TCC sobre transmedia correu atrás e está conversando/entrevistando o papa do assunto: Henry Jenkins. Eu já fiz parte de bancas de TCC sobre transmedia em São Paulo e o máximo que vi foram citações ao livro Cultura da Convergência e olhe lá.
O evento foi todo organizado por estudantes e com a ajuda (e contatos) do coordenador do curso Deco Salgado, e era uma galera que estava muito a fim de fazer acontecer. Devem ter apanhado muito, batido cabeça mas estava lá. Fizeram mais um evento.
A III SAP foi super bem organizada, divulgada usando as redes sociais e teve uma audiência sedenta por conteúdo. Se essa turma se juntar e resolver montar uma produtora de eventos em Manaus, é bem capaz de conseguirem cavar o seu espaço. Eles (Rodrigo Serrão, Larissa Barbosa, Rayanna Moreira, Nathalie Mendonça entre outros ) tem aquela gana e alguns querem fazer isso para ficar em Manaus e estimular a economia local assim como o mercado de publicidade local.
Depois da palestra, fiquei de papo com os professores Deco Salgado, Wally Lira e mais a planner Cassia Menini e notei que os dilemas deles são exatamente os mesmos dos professores em SP e no Rio. Os alunos de publicidade estão mais preocupados com a parte operacional do trabalho, saber mexer em softwares e etc (coisas que passam) do que se preocupar com a parte de conceito, as sofias e logias que podem ajudar em um planejamento e que são mais duradouras. Softwares e etc são ferramentas. É bom saber mexer mas é bom saber pensar também.
Conversei com os blogueiros do Varal e comentei que aqui no Brainstorm #9 nós raramente recebemos ações de outros locais que não a região sudeste. Por que isso? Estou falando de ações legais e que tenham apelo e originalidade não os releases muquiranas de “a agência _____ renovou o site de tal empresa”. Se for para mandar esse tipo de release, nem manda. Pelo menos não para mim. Agora se for um site realmente inovador e que ninguem tenha feito algo parecido antes, pode mandar.
A internet nivelou uma ponta mas tem que nivelar a outra: o cliente. Isso é mais dificil mas rola. Pode demorar mas quem começar antes, quem der o primeiro passo tem a vantagem competitiva. Imagina que sensacional não seria uma açao de caça ao tesouro em Manaus usando coordenadas de GPS? Ou uma açao de guerrilha em algum lugar no Centro Oeste que repercutisse mundialmente. Se a internet nivela o conhecimento, vamos difundir isso para todos. Ações de guerrilha na Avenida Paulista já se tornaram lugar comum o que diferencia é a ousadia e a execução bem feita.
Eu citei Manaus e a região Centro-Oeste apenas como exemplos. Na real eu queria plaestrar em todas as regiões do país e comprovar o que escrevi nesse post (pode chamar que eu vou :P). Eu quero receber ações sensacionais de todo o Brasil. Eu quero ver uma ação de cair o queixo feita por uma agência pequena do interior chegar aqui no Brainstorm #9 e até nos sites gringos de publicidade. Eu quero ver as pessoas divulgando essa ação espontaneamente e comentando a ousadia da agência e do cliente. Queria ver iniciativas como A Missa em outros estados. Eu quero ver o circo pegar fogo.
É aquela história que o Chico Science cantou e que é uma grande verdade:
um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar
E aí, pessoal fora do eixo Rio-SP, vocês vão me ajudar? Quem vai dar o primeiro passo a frente?