Os 35 anos de “Halloween”
John Carpenter ignorou o baixo orçamento e mudou o cinema de terror
Se você assistir “Halloween” hoje – o original – certamente não vai levar algum susto ou se impressionar com qualquer cena. É um filme simples, ainda mais se comparado ao volume de sangue, efeitos, cenas explícitas e ruídos excessivos das produções atuais. Porém, a criação de John Carpenter é a quintessência do cinema de horror e, até hoje, 35 anos depois, suas técnicas continuam influenciando o gênero.
“Halloween” não foi o primeiro terror do tipo. “O Massacre da Serra Elétrica”, “A Noite dos Mortos-Vivos” e “Aniversário Macabro” , por exemplo, já representavam um papel importante no cinema de baixo orçamento, mas nada perto do que Michael Myers fez em 1978. Com verba de apenas 325 mil dólares, “Halloween” levou multidões para as salas escuras, muito ajudado pelo boca a boca, arrecadando 70 milhões na época. Reajustando para hoje, seria algo como 240 milhões de dólares. É um dos filmes de horror mais lucrativos de todos os tempos.
John Carpenter tinha 30 anos quando seu “Halloween” estreou, e liderou uma avalanche de novos títulos do gênero ao longo de toda a década de 1980. Sem Michael Myers, não existiriam Freedy Krueger ou Jason, por exemplo. Carpenter tirou o terror da fantasia, e o colocou no “mundo real”. Myers não era um ser sobrenatural, era mais homem de carne e osso do que um monstro – e que adora matar gente promíscua.
Michael Myers nem era tão assustador, mas a trilha sonora mudou tudo
Com total controle criativo e inspirado por “Psicose” de Hitchcock, o diretor ousou visualmente. Desde a famosa primeira cena em primeira pessoa – quando o espectador ainda não faz ideia de que o assassino é apenas uma criança – até os enquadramentos que transformam todo o espaço vazio em uma ameaça. Carpenter manipula a audiência com sombras e, principalmente, som.
A trilha sonora é, certamente, o legado mais marcante deixado por “Halloween”. Composta pela próprio John Carpenter, a inesquecível música comunica tensão como nenhuma outra já foi capaz. Ele mesmo revelou que, ao mostrar o filme para os produtores, todos foram taxativos: “Isso não é assustador”. Talvez fosse apenas uma história de adolescentes contra um homem de máscara, mas a música mudou tudo.
Além da trilha, o baixo orçamento ditou todas as outras decisões criativas da equipe. A icônica máscara custou apenas US$ 1.98. Era imitação em borracha do William Shatner, comprada em uma loja qualquer, e pintada com spray branco para o filme. Prova de que pouco dinheiro não é desculpa pra nada.
Recentemente, foi lançada uma edição comemorativa em Blu-ray de 35 anos de “Halloween. E se hoje não é capaz de impressionar os millenials, eu pelo menos tenho boas lembranças de que me diverti e perdi noites de sono quando mal tinha idade para assistir filme de terror. Já vi o original dezenas de vezes, mas evito as sequências, principalmente se tiver o nome do Rob Zombie nos créditos. Não quero estragar a magia.
Para quem é fã, vale ver o vídeo abaixo. É o primeiro take da cena inicial, quando Carpenter ainda estava testando a filmagem em primeira pessoa. O utilizado na edição final do filme foi o segundo take.