O que nos dizem os indicados do Oscar 2014
A lista de filmes concorrentes já revela uma grande vencedora: a valorização das grandes histórias
Vez por outra, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas resolve apostar em tendências com seus indicados. Histórias transformadoras, críticas sociais, momentos históricos e etc são alguns desses temas. Em 2014, a mensagem é clara: dramas pessoais marcaram as produções do ano passado. É a vitória da história simples e efetiva contra as recentes tentativas de se popularizar a briga por Melhor Filme e um modo da Academia mostrar que, pelo menos por enquanto, vai manter o status quo e não arriscar.
Por que isso? Vejamos a lista de indicados a Melhor Filme. Exceto por “O Lobo de Wall Street” (The Wolf of Wall Street) e, até certo ponto, “Trapaça” (American Hustle), os demais indicados (9 no total) são exercícios de intimidade, brutalidade e dramas vistos pela lupa de seus diretores. Até mesmo “Gravidade”, com seus efeitos especiais e espaciais, ou “12 Anos de Escravidão” (12 Years a Slave), que encapsula a escravidão, sem reduzir sua importância e estupidez, se encaixam nesse perfil.
A tendência de filmes mais pessoais serve como alerta a jovens roteiristas: há espaço para esse tipo de história. É só escrever direito e parar de seguir fórmulas, afinal, nenhum dos indicados segue as regras de cursinhos ou livros de estrutura. Há um vencedor mais relevante: criatividade. E isso é fato.
A tendência de filmes mais pessoais serve como alerta aos jovens roteiristas: há espaço para esse tipo de história
Curiosamente, dois filmes de ficção científica (ou algo parecido) foram indicados. O espacial “Gravidade” (Gravity), de Alfonso Cuarón e o romance virtual “Ela” (Her), de Spike Jonze. A escolha desses longas é importante por também demonstrar que correr riscos têm suas vantagens. Muita gente riu do conceito de “Ela”, mas o filme vem conquistando espectador atrás de espectador de forma fantástica.
Já “Gravidade”, que resenhamos aqui, é um espetáculo, cheio de simbolismos, lições, sonhos e adrenalina. Sandra Bullock concorre a Melhor Atriz, George Clooney ficou de fora. Será que Cuarón vai quebrar a maldição e, finalmente, garantir um Oscar para um filme de ficção científica? As chances são boas.
Mas não há barbadas nesse ano, pelo menos nessa categoria. “Trapaça” é um rolo compressor de grandes atuações, com um roteiro exemplar e execução fantástica. É possível resistir ao combo Amy Adams & Jennifer Lawrence? E o que dizer da constante evolução de Bradley Cooper? Todos indicados. É um filme feito para uma razão: entrar para a história do cinema.
O outro grande concorrente é “12 Anos de Escravidão”, com direito a show de Chiwetel Ejiofor (indicado a Melhor Ator), bela direção de Steve McQueen e emoção garantida. Michael Fassbender também compete como Melhor Ator Coadjuvante e Brad Pitt, em pontinha estratégica, tem chances apenas se o filme ganhar, pois está indicado por ser produtor.
Será que Cuarón vai quebrar a maldição e, finalmente, garantir um Oscar para um filme de ficção científica? As chances são boas
“Philomena”, “Capitão Phillips” e “Nebraska” correm por fora, mas devem apenas cumprir tabela. O coringa desse baralho é “Clube de Compras Dalas” (Dallas Buyers Club), o que obriga a menção a Matthew McConaughey.
Ele tem grandes chances de levar o Oscar de Melhor Ator. Por conta de 3 motivos: “Mud”, “Clube de Compras Dallas” e “O Lobo de Wall Street”. Ele acertou tanto ano passado, chamou tanto a atenção, que é impossível não associá-lo à imagem de um grande ator em grande fase. Leonardo DiCaprio aparece novamente, dessa vez com chances (a recente indicação por “J. Edgar” ainda é misteriosa e sem sentido) por comandar o filme de Martin Scorsese (indicado a Melhor Filme e Diretor, entre outros).
A briga na direção fica entre David O. Russell (que também escreveu o roteiro indicado de “Trapaça”), Alfonso Cuarón (“Gravidade”), Alexander Payne (“Nebraska”), Stevem McQueen (“12 Anos de Escravidão”) e Martin Scorsese (“O Lobo de Wall Street”). Só tem cachorro grande. Palpite? Cuarón ou Russell.
Em 2014, a mensagem é clara: dramas pessoais marcaram as produções do último ano
Uma das grandes ausências foi Robert Redford, com “All is Lost”, que ficou de fora das categorias principais e só foi indicado a Edição de Som. Outro que ficou de fora foi Joaquin Phoenix, o protagonista de “Ela”, já era controverso por conta da não-elegibilidade de Scarlett Johansson por ter feito apenas a voz da interface Samantha.
O motivador “A Vida Secreta de Walter Mitty”, de Ben Stiller, foi totalmente ignorado e “O Jogo do Exterminador” não conseguiu a indicação a Efeitos Visuais, que conta com a presença bizarra de “O Cavaleiro Solitário” entre os indicados; aliás, “Homem de Ferro 3” também concorre.
A partir dessa semana, o B9 vai publicar textos sobre todos os indicados das principais categorias. Acompanhe, assista e monte sua listinha. Veja a lista completa de indicados no site do Oscar.
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Fábio M. Barreto mora pertinho do prédio do Oscar, mas, como todo mundo de Los Angeles, não consegue madrugar para assistir as indicações e fica sabendo depois de todo mundo!