Cosmos: Uma jornada pela imaginação aos limites da Ciência
Evolução da série clássica de Carl Sagan impressiona pelo visual, atualiza conceitos científicos e inspira a se apaixonar pelo universo
Emprestando palavras de Neil DeGrasse Tyson, o apresentador de “Cosmos: A Spacetime Odyssey”, “Carl Sagan foi o maior divulgador científico do século passado e inspirou milhares de jovens a seguirem o caminho da ciência” e é a ele que se deve a melhor estreia da TV mundial nesse ano. Foi esse professor apaixonado que nos levou a um passeio pelo universo na década de 80 e é em sua homenagem que o programa retorna com relevância e maravilhamento.
O que é “Cosmos”? O subtítulo explica: uma odisseia através do tempo e do espaço, ou seja, uma compilação dos principais temas conhecidos pela ciência começando nos primórdios da astronomia e explorando os confins do espaço e do tempo. É a democratização máxima do conhecimento. E isso já diz muito.
Contando com as reprises e gravações, a estimativa é de 40 milhões de espectadores na primeira semana
“Cosmos: A Spacetime Odyssey” estreou com pompa e circunstância nos Estados Unidos no último domingo (estreia no Brasil na quinta-feira, dia 13, às 22h30, no NatGeo Wild) em todos os 10 canais do grupo Fox (incluindo os esportivos e a TV aberta), no mesmo horário, apoiado por uma campanha pesada e bastante ampla.
Foi um bombardeio de ciência, resultado, 8,5 milhões de espectadores na estreia, que enfrentou competição pesada de “The Walking Dead”, da nova série sobrenatural da ABC, “Ressurection”, e o final de “True Detective”, na HBO.
Contando com as reprises e gravações, a estimativa é de 40 milhões de espectadores na primeira semana. De quebra, o presidente Barack Obama fez a introdução do programa que, com certeza, vai integrar o currículo escolar norte-americano muito em breve.
No primeiro episódio, uma mistura de fotografia, computação gráfica, animação e live action integrada com CG foi utilizada para apresentar o conceito da série e também o famoso “calendário” imortalizado por Carl Sagan na primeira versão do programa. De acordo com o calendário, o Big Bang foi primeiro de janeiro e a nossa civilização se desenvolveu nos últimos momentos do final de dezembro.
Como peça introdutória, a narrativa aproveitou-se da história de Giordano Bruno, do geocentrismo e das descobertas de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei para mostrar a força da ciência e a natureza transformadora de suas descobertas.
Curiosamente, ao invocar Bruno, falar de religião foi preciso e o texto tratou do assunto com excelência, sem dar trela para disputas ideológicas ou se menosprezar qualquer um dos lados, inclusive dando plena razão ao pensamento do padre: “se Deus é infinito, por que o Universo seria finito?”.
Buda e Maomé também foram citados, deixando claro o tom de respeito e pacífico do programa. O astrofísico DeGrasse Tyson aproveita o programa para fazer o convite: questione absolutamente tudo que você sabe. Esse é um dos maiores princípios científicos por possibilitar a descoberta de novos conceitos, provar os paradigmas atuais ou desacreditar novas ideias mirabolantes. É um constante convite à evolução.
DeGrasse Tyson vai bem como âncora, fala com clareza e traz uma convicção que só um cientista poderia trazer
Olhar para o espaço também faz esse convite, pois, em vez de criar uma sensação esmagadora de inexpressividade do ser humano se colocado em escala cósmica, pode incentivar as mentes certas e ir além dos limites do conhecimento e ampliar essa participação. Claro, é tudo questão de ponto de vista, mas a empolgação do apresentador abre o caminho para o positivismo da mensagem, não a depressão pelo fato de sermos apenas segundos no calendário cósmico e partículas quase inexpressivas na imensidão do universo conhecido.
DeGrasse Tyson vai bem como âncora, fala com clareza, entende absurdamente sobre o assunto traz uma convicção que só um cientista poderia trazer. E, de cara, já emplacou alguns bordões interessante como “we are made of star stuff” (somos feitos de material estelar).
Carl Sagan criou a base para uma ciência acessível e realizável, e incutiu esse conceito nas pessoas, seja com a pesquisa ou com seu trabalho de ficção
Se Carl Sagan era o cientista e mestre, DeGrasse Tyson é o explorador estelar com os olhos inocentes de uma criança, a mente afiada do homem maduro e a curiosidade de incontáveis gerações ainda por vir. Muito por conta do visual melhorado, e da direção moderna, a “Nave do Conhecimento” é mais acolhedora, sem contar que lembra a Eva, do filme “Wall-E”. A produção é de Ann Druyan, viúva de Sagan, e de Seth MacFarlane, de “Family Guy”.
“Cosmos” tem por missão cruzar fronteiras, explicar as maravilhas e terrores das galáxias, visitar buracos negros, supernovas, falar sobre a criação do universo e buscar respostas por meio das teorias mais atuais. Assisti ao lado da minha filha de 7 anos, que já havia visto alguns episódios apresentados por Sagan, e a empolgação foi a mesma, ao conhecer a realidade por meio da ciência, com texto bom, explicação visual correspondente e conceitos provocadores – e irresistíveis – para mentes mais jovens.
Ela é muito falante, normalmente. Ficou em silêncio o programa todo, como se nada mais importasse. Foi interessante ver essa reação, pois testou a efetividade do material e a clareza da mensagem, mas sem falar a língua dela ou a minha: o resultado é algo universal.
Depois de aprender sobre a origem do universo, os primórdios da Terra, de nossos ancestrais, o nascimento da Lua e passear até os confins das galáxias conhecidas, “Cosmos” nos lembra de onde veio e para onde vai.
O novo “Cosmos” é programa obrigatório para jovens inspirados e veteranos curiosos
DeGrasse Tyson compartilha a história do dia que passou com Carl Sagan, quando o professor tentou recrutá-lo para a universidade de Cornell, e da impressão que aquele encontro causou no “jovem negro de Nova Iorque”. A homenagem é emocional e muito justa, afinal, Sagan criou a base para uma ciência acessível e realizável e incutiu esse conceito nas pessoas, seja com a pesquisa ou com seu trabalho de ficção.
Ao lado da série educativa “How The Universe Works”, o novo “Cosmos: A Spacetime Odyssey” é um dos programas obrigatórios para jovens inspirados e veteranos curiosos sobre o mundo da ciência e a capacidade da engenhosidade humana, se colocada a serviço de uma causa nobre, claro.
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Fábio M. Barreto está em sua segunda viagem a bordo da Nave do Conhecimento, adora ficção científica desde criancinha e até escreveu uma, “Filhos do Fim do Mundo”.