Como o Oscar e os Talk Shows norte-americanos estão resolvendo o maior problema que já enfrentaram
A renovação de formato e público vai definir a nova geração
Há poucas semanas, Jimmy Fallon substituiu Jay Leno no Tonight Show e transformou o programa num desfile de pesos pesados, cheio de participação ativa do apresentador e extremamente ágil. Adoro Leno e estranhei um pouco, mas esperei. Então chega o Academy Awards apresentado por Ellen DeGeneres, “a moça da selfie épica”, repleto de contato com o público, live tweet, pizza e tom leve. Entendi a ligação entre as duas coisas enquanto conversava com uma colega inglesa: é reposicionamento a longo prazo. E faz todo o sentido, afinal de contas, quem vai alavancar a audiência desse pessoal nas próximas décadas?
A primeira dica foi dada por Jerry Seinfeld no sofá do Tonight Show, ele e Fallon conversavam sobre algum momento do passado deles e, enquanto imitava Seinfeld, o apresentador mencionou o conselho que recebeu do amigo: “esse trabalho [como host] é quase eterno” e o escolhido vai passar entre 20 e 30 anos naquela cadeira, tocando um programa diário.
A audiência tradicional dos talk shows já está garantida, mas vive uma redução – assim como quase tudo na TV tradicional – por conta do sucesso dos programas online. Jimmy Kimmel tem martelado esse nicho há anos e Fallon entendeu o recado. Ele tem uma missão: construir uma nova base de fãs, que, assim como Sienfeld disse, ficará com ele ao longo das próximas 3 décadas.
Então, por trás de todo aquele envolvimento, de torneios de lip synch, palhaçadas e stand up comedy, há um objetivo maior. A renovação. Exatamente a mesma mentalidade que alimentou o Oscar 2014, com Ellen. Ela interagiu com o público, fez de tudo para se transformar na representante da audiência no palco (embora seja tão famosa e rica quanto as pessoas sentadas no Dolby Theatre na noite do Oscar) e quebrar a parede que sempre separou os apresentadores do público nas grandes premiações.
A audiência tradicional dos talk shows vive uma redução – assim como quase tudo na TV – por conta do sucesso dos programas online
Resultado? 47.3 milhões de espectadores (8% melhor que 2013), o maior número desde 2000, com apresentação de Billy Crystal. De quebra, Jimmy Kimmel apostou em remakes de vídeos do YouTube e bateu seu próprio recorde com o programa especial subindo 22% em relação ao ano passado.
A velha guarda desceu a lenha tanto em Fallon “um exibido que briga por atenção com seus entrevistados, em vez de falar com eles” quanto em Ellen “que, em certo ponto, desistiu de apresentar e só se preocupava com a internet”. É um choque de realidades e o recorde da selfie (que se aproximou de 4 milhões de RTs), aliada à movimentação nas mídias sociais – devidamente reconhecidas durante a apresentação – deixam claro a disposição dos produtores em aceitar as mudanças e jogar no mesmo time.
O caminho ainda será longo, claro. Ano que vem tudo pode mudar no Oscar? Sim. Mas os resultados e a presença online devem ser o suficiente para evitar qualquer mudança no rumo. Esse foi o Oscar descontraído e jovial que prometeram com Anne Hathaway e James “Locão” Franco, sem a pompa solene ou aquele puxa-saquismo infinito. Há quem goste. Há quem critique. Sempre vai ser assim.
Fallon, por outro lado, segue firme e forte, fazendo um strike atrás do outro e se consolidando. Ele é versátil, pode agregar como atração secundária e tem história com muitas das grandes celebridades por ter convivido com elas por muito tempo, logo, é uma mistura promissora. Resta a ele encontrar esse público logo, antes que as grandes cartas sejam queimadas e ele seja obrigado e gerenciar o que construir nesse início triunfante.
É hora de renovação. E todo mundo sabe. Você gostou dessa nova linha de raciocínio tanto do Oscar quanto do Tonight Show?