Disco novo do Ludov mostra uma banda que sabe se reinventar sem perder a identidade
“Miragem” é o quarto álbum da banda, e um dos melhores de 2014 até agora
“Então por que não se aventurar mais?”
É com esse espírito que o Ludov – macaco velho que vem remando contra a maré da indústria há 12 anos no mercado independente – acabou de lançar seu quarto álbum, Miragem.
O nome não poderia ser mais pertinente. O disco surge mesmo como um oásis no meio de um deserto tão árido e ríspido, que é o nosso cenário musical atual. Que bom ouvir um disco novo de uma banda tão competente e constatar que já é um trabalho vencedor não só porque conseguiu nascer, mas também porque suas músicas são excelentes.
Copo de Mar foi o primeiro single oficialmente divulgado pelo Ludov para promover Miragem. A música abre o disco e já ambienta você num universo cheio de metáforas inteligentes, sonoridade densa e produção meticulosa de Arthur Joly.
“O mar que você me deu não serve pra navegar” é o pontapé (ou tapa na cara) inicial de uma obra que revela uma banda mais madura, mais pensativa, mais questionadora.
Miragem amplia seus contextos e significados, fazendo o papel de um ombro amigo musical que compreende nossas tormentas, nossos sonhos que a decepção transformou em pesadelo, nossas expectativas enterradas debaixo de um punhado triste de realidade.
Contudo, Miragem está longe de ser um disco deprê. Muito pelo contrário. Há um toque extra (e muito bem-vindo) de melancolia, mas a musicalidade sempre diversa e criativa do Ludov nunca deixa as músicas caírem nas armadilhas fáceis da auto-penitência. E aí que entra a esperteza da banda. É gratificante perceber a maturidade de quem tem tanto tempo de estrada e sabe se aproveitar dessa experiência.
Quem Cuida da Casa é Ludov típico, e Na Fila do B-52’s tem aquelas sacadas poéticas deliciosas com as quais eles vêm nos acostumando há tantos anos. Mas o mais legal é sentir como eles estão à vontade e orgulhosos de seu novo material. Eu, como admirador da banda, fico orgulhoso também. A dobradinha Sétima Arte e O Fim da Paisagem arranca arrepios da espinha e encerra o disco numa atmosfera esperançosa, desafiadora e apoteótica. E aí você entende que acabou de ouvir um disco de gente grande. E como se não bastasse, a capa do álbum também é linda. Uma ilustração f*** do Gabriel Bá.
Miragem foi bancado por uma iniciativa de crowdfunding e saiu nas versões digital e vinil. Tenho certeza que quem ajudou a financiar este novo trabalho do Ludov não se arrependeu. Ninguém ajudou a financiar um disco demo de garagem. Todo mundo ajudou a trazer à tona um dos melhores discos de música brasileira do ano.
O som do Ludov está cada vez melhor e mais ousado. E eu sou cada vez mais fã.