- Cultura 10.jun.2015
Devore ou seja devorado por “Tubarão”, o romance de Peter Benchley
Livro que deu origem ao clássico de Steven Spielberg relançado em edição especial
Você conhece a música que anuncia a presença da criatura – a trilha sonora de John Williams é tão conhecida hoje quanto no dia em que estreou na película de Spielberg. No mês em que o filme “Tubarão” completa 40 anos, nada mais justo do que falar do romance de Peter Benchley que deu origem ao blockbuster.
Com pouco menos de 300 páginas, “Tubarão” é uma leitura rápida, bastante envolvente e inteligente, e traz algumas tramas maiores para a história que a gente já conhece. Vários núcleos do romance foram removidos do filme para classificá-lo como uma (excelente) aventura repleta de suspense, então os fãs de cinema – e de bons livros – certamente vão encontrar aqui um universo inteiro para explorar.
Vale dizer também que o livro, que só era encontrado em sebos até então, foi relançado pela DarkSide Books este ano em duas edições. A Limited Edition, esta edição das fotos com capa dura especial e um corte vermelho nas páginas (apenas na lateral mesmo, o miolo é amarelado); e a Classic Edition, uma brochura com dobra especial na capa, mostrando a famosa cena dos banhistas correndo da água. As duas edições vem acompanhadas de um marcador de páginas em formato de barbatana pra você brincar de tubarão no seu livro.
O livro antes do filme
Assim como no filme, o jogo de poder é o mais interessante do livro, tornando-o mais denso do que uma “simples” história de tubarão-branco atacando pessoas na praia
Amity é um balneário situado em Long Island que depende muito do movimento do verão para que os moradores se mantenham bem pelo resto do ano. Verão gordinho, inverno feliz. Mas quando o corpo de uma turista é encontrado no mar, o chefe de polícia Martin Brody ordena o fechamento das praias da região a fim de garantir a segurança dos banhistas. Acontece que isso gera transtornos com figuras poderosas que movem seus palitinhos para abafar a notícia e liberar o banho de mar na cidade. A economia precisa continuar girando, custe o turista que custar.
Com esse enredo inicial, outras questões vem à tona. Esse jogo de poder é uma das coisas mais interessantes do livro e o torna mais denso do que uma “simples” história de um tubarão-branco atacando pessoas na praia. Peter Benchley descreve as relações necessárias para nos mostrar até onde as pessoas vão para assegurar que tudo siga dentro dos conformes. E ainda tem uma pitada de romance entre personagens, dando mais malícia às ações praticadas.
E o tubarão? Assim como no filme, ele é uma ameaça constante e bastante perigosa, e contribui para uma trama mais urgente e feroz. É como um relógio que faz a contagem regressiva para o próximo ataque, e nos deixa mais ansiosos justamente pela descrição de Benchley, que sempre foi apaixonado por estes seres ferozes.
Inspiração do autor e sucesso do livro
Benchley colocou seu fascínio pelo mar em todas as obras que escreveu. “Tubarão” foi seu romance de estreia, e a ideia surgiu anos antes ao se deparar com uma notícia que o fez pensar em como seria maluco se um tubarão-branco invadisse uma praia. Tempo depois, ele retomou a ideia e partiu de uma perspectiva mais ampla.
Por conta da demonização que sua obra causou no animal, Peter Benchley trabalhou arduamente, até o ano em que faleceu (2006), como ativista contra a matança de tubarões
Não apenas o “produto final” do tubarão comendo pessoas, mas o que realmente aconteceria – numa escala administrativa, inclusive – se o animal fizesse um belo banquete na praia em pleno feriado. A partir daí todas as outras subtramas se desenrolaram. A preocupação em criar uma história crível fez com que Benchley publicasse um livro com personagens sólidos e situações muito instigantes.
Peter também escreveu o roteiro da adaptação cinematográfica de Spielberg com Carl Gottlieb. Quando sentou para escrever o primeiro rascunho do script, Peter recebeu uma instrução de Richard Zanuck, um dos produtores do filme: ele deveria retirar romance, máfia e qualquer elemento que pudesse dispersar a atenção, pois “Tubarão” seria um filme de aventura em vários níveis.
O filme, que custou cerca de 8 milhões de dólares, rendeu mais de 300 milhões de bilheteria mundial e foi a obra que deu corpo ao conceito de blockbuster (um “arrasa-quarteirões” de excelente desempenho financeiro). Depois dele surgiram outros sucessos de bilheteria com estreia sempre marcada para o verão.
Além da aventura, o filme – e o livro – capricha no suspense ao evocar o medo dos telespectadores pela sugestão. Sabe quando você sente medo de algo, mas não vê a criatura? Some isso à trilha sonora de John Williams, já mencionada, e você tem um público sedento e devorador de pipoca.
E a respeito do sucesso, o combo filme + livro atingiu um público enorme e elevou o status do tubarão para bicho papão da natureza. Por muitos anos as pessoas tiveram um medo real e palpável de entrar no mar, um legado que acabou, de certa forma, demonizando o animal. Por conta disso, Benchley trabalhou arduamente, até o ano em que faleceu (2006), como ativista contra a matança indiscriminada dos tubarões.
Com todo esse background, espero que vocês tenham se interessado pelo livro. Acho que vocês vão precisar de um barco uma estante maior.
FICHA TÉCNICA
Título: TUBARÃO
Autor: Peter Benchley
Tradução: Carla Madeira
Editora: DarkSide® Books
Páginas: 320
Raquel Moritz é publicitária, autora do Pipoca Musical, e se arrepia toda quando ouve a música do John Williams.