Amazon: boa para comprar, ruim de trabalhar
Artigo no NYT descreve a cultura exigente nos escritórios da Amazon
Em uma reportagem publicada no The New York Times na semana passada, empregados da Amazon descrevem como é o trabalho dentro dos escritórios da sede da empresa, localizados em Seattle, nos EUA. E embora você possa achar que uma companhia do tamanho da Amazon tenha um ambiente de trabalho amigável e propenso ao crescimento e bom desenvolvimento dos seus empregados, o que eles descreveram na reportagem do jornal não poderia ser mais divergente desse cenário.
Na reportagem, que entrevistou mais de 100 atuais e ex empregados da Amazon em setores como RH, vendas, marketing e engenharia, a Amazon é retratada quase como uma tirana que exige dos funcionários padrões “exageradamente altos”. Eles relatam até que existe um sistema de competições internas que organiza funcionários em um ranking – aqueles com piores performances são sumariamente demitidos.
Alguns deles conseguem viver seguindo este esquema – até com certo sucesso, dizendo que os padrões da Amazon “os fizeram ultrapassar os limites que achavam que tinham”. Outros dizem que ficaram viciados neste padrão exigente, citando a Amazon como “o melhor lugar que eu odiei trabalhar”. Ao mesmo tempo, há quem diga que a Amazon é “onde pessoas vencedoras vão para se sentirem ruins sobre elas mesmas” e que certos gerentes continuam a demandar de um funcionário mesmo que ele tire dias de folga não-remunerados para cuidar de um parente próximo adoecido.
Ao ser publicado, o artigo provocou uma onda de respostas, uma boa parte a favor da Amazon. O próprio departamento de RP da empresa apontou uma das respostas, a de Nick Ciubotariu, gerente de desenvolvimento de infraestrutura. Em um texto publicado no seu perfil do LinkedIn ele chama a reportagem de “descaradamente incorreta”, “tendenciosa” e “criada propositalmente para dados antigos” que não refletem a realidade atual.
Jeff Bezos, fundador e atual CEO da Amazon, não falou à imprensa sobre o artigo do NYT. No lugar, ele preferiu mandar um email à toda a empresa, com um link para a reportagem dizendo que “esta não é a Amazon que eu conheço” e que “qualquer pessoa trabalhando para a empresa descrita no artigo estaria louca de permanecer nela”.
Ainda assim, a reportagem parece bater bem com o que diz o site Glassdoor, que permite que funcionários relatem suas experiências dentro de uma empresa de forma anônima. Na página da Amazon, alguns dos empregados corroboram a existência do ranking e do tratamento exigente dos gerentes. E embora tais relatos sejam de 2013, alguns deste mês ainda também dizem que a Amazon demanda muito, deixa pouco tempo para a família e tem gerentes despreparados para os cargos que ocupam.
Esta não é a primeira vez que os padrões de trabalho da Amazon viram destaque na mídia. No ano passado a demanda exigente imposta aos seus funcionários de armazéns foi revelada e bastante criticada. E mesmo que esses relatos tenham aparecido no início de 2014, foi apenas no final do ano que eles começaram a mudar – e por pressão do governo americano. Então não me surpreenderia que a mesma empresa tivesse um comportamento parecido com quem trabalha nos seus escritórios.
Ao que parece, a polêmica dos trabalhadores de armazéns poderia ter provocado alterações profundas no seu estilo de gerenciamento. Mas não é isso que acabou acontecendo.