Expo 2015: Darsena e Navigli são bons legados da feira
Ou a estranha habilidade de achar Praças Roosevelt em qualquer lugar do mundo
Se você me acompanha no Braincast ou no Mupoca, já sabe que eu tenho um certo fascínio por obras que propiciem a reocupação dos espaços públicos. Se não sabia, tudo bem, acabo de explicar. Em outras palavras, fico procurando Praças Roosevelt em todos os lugares onde passo, e Milão agraciou-me com este belo exemplo a seguir.
Havia uma região na cidade que estava mal cuidada, entregue. Talvez ninguém quisesse passar o seu tempo ali. Mas há alguns anos houve uma primeira obra, que reorganizou o calçamento em torno dos canais – ou navigli – que ainda restavam nesta região próxima ao centro da cidade. Por que não restaurar? Afinal, era uma obra concebida pela cabeça brilhante de Leonardo da Vinci.
Com o calçamento restaurado, vieram os primeiros bares e restaurantes. E as pessoas começaram a voltar. Mas ainda faltava um pouco mais. Faltava um espaço para se estar, independentemente de pagar para comer por ali. Um convite sincero a qualquer cidadão milanês ou turista para passear por ali. E então veio a Expo, que costuma deixar legados por onde passa.
Sim, legado. Sabe a Torre Eiffel de Paris? Legado da Expo de 1900.
Tudo bem, o parque enorme que recebe a Expo em Milão é novo. E vai ficar. Vai acabar virando um centro para outras convenções. Tem uma enorme facilidade para se chegar porque tem uma estação de metrô próxima, apesar de ser aparentemente no meio do nada. Poderia ser o único legado, mas não será.
Empurrados pela vontade de receber o evento com a melhor estrutura possível, os milaneses terminaram o projeto de revitalização da área do Navigli e do Darsena – área de encontro dos canais e antigo porto. O calçamento passou a ser exclusivo para pedestres de um lado e a contar com uma ciclovia de centenas de quilômetro na outra margem. No Darsena, uma espécie de parque foi criado, com espaço para as pessoas apenas ficarem por ali nos meses mais quentes do ano.
O resultado não poderia ser outro: atualmente é a área quente de Milão, constando nas dicas dos bares e restaurantes mais descolados da cidade e dos melhores agitos para a noite. Um dos locais, recém inaugurado, é o Mercato Metropolitano – integrante da Expo – que conta com comidinhas de todas as regiões da Itália em barracas e food trucks. E que vai permanecer aberto após o evento.
Você sabia que existem lugares em que há italianos que só falam alemão e comem joelho de porco e chucrute? Pois é. Tem até espaço perto dali para uma espécie de restaurante nipo-brasileiro, como eu, que serve ceviche(?) e caipirinha. É antropofagia até o osso em plena Itália que tanto preserva suas tradições.
Divago, é a fome.
O irreversível processo de ocupação já começou e deve manter a força em Milão. Para gastar dinheiro ou apenas para dividir uma cerveja barata com os amigos, o bairro é o destino. Agora, o meu também.