Snakes on a Plane
Você já deve ter lido muito sobre, foi matéria na grande mídia internacional e nacional, até da Veja, Folha e demais jornalões, mas como a data de estréia nos EUA se aproxima (dia 18, dia 7/9 no Brasil), não custa falar mais sobre um filme que é a representação fiel do poder que a equação “pessoas + internet” pode gerar.
“Snakes on a Plane” (ou SoaP para os fãs) poderia ser um desastre cinematográfico (e não tenho dúvidas de que o filme é ruim até o osso), caso seus produtores não tivessem parado para ouvir seu público-alvo.
Desde que foi mencionado pela primeira vez pelo seu próprio roteirista, Josh Friedman, em seu blog pessoal, SoaP se transformou em uma verdadeira febre na internet. Em um post intitulado “Snakes on a Motherfucking Plane”, de agosto de 2005, Friedman já começou tirando sarro, contando que a New Line lhe tinha oferecido uma história absurda.
A partir disso, o filme se espalhou rapidamente pela rede, através de blogs, fóruns e comunidades. Com as poucas informações que tinham sobre a produção, fãs começaram a criar músicas, posters, trailers, anúncios, paródias, camisetas e até canecas do filme.
Como se não bastasse, as pessoas começaram a palpitar sobre a história, sugerir cenas e ficaram histéricas quando souberem que a New Line iria mudar o título, até então provisório, para “Pacific Flight 121”. Até Samuel L. Jackson, principal ator do filme, entrou na jogada e se colocou do lado dos fãs.
Produtores burros e ranzinzas de Hollywood poderiam ir contra esse fenômeno e declarar que estavam querendo distorcer a idéia original. Mas desta vez, em uma jogada esperta, o estúdio não só permitiu, como incentivou a “invencionice” dos internautas.
Deu acesso a imagens e logos oficiais do filme e ainda licenciou as criações. E além de manter o título “Snakes on a Plane”, aceitou o desejo principal dos fãs: dirigir o filme a jovens adultos, re-filmando cenas para torná-las mais violentas e sangrentas.
Esse fenômeno customer-made, viral, long tail, e tudo quanto é definição moderninha que você queira encaixar aqui, fez com que a Wired chamasse SoaP de “o melhor pior filme do ano”. Até um livro ilustrado relatando toda a febre por SoaP na internet foi lançado: “Snakes on a Plane: The Guide to the Internet Ssssssensation”.
Por último, uma ação interativa criada pela Varitalk permite você brincar com seus amigos enviando uma mensagem personalizada, via e-mail ou celular, com a voz do Samuel L. Jackson.
Vários outros filmes já ganharam um imenso buzz e hype por causa da expectativa das pessoas, mas “Snake on a Plane” é um fenômeno sem precedentes na indústria do entretenimento. O barulho dos fãs foi tão grande, que tornou impossível para a mídia e os produtores ignorarem o que eles estavam falando.
Mais do que um filme trash salvo do limbo pelas pessoas com o poder proporcionado pela internet, é importante observar que esse é um caminho sem volta, um verdadeiro marco. Não que você tenha que se subordinar aos fãs sempre (se conseguir conquistá-los, claro), mas é impossível calá-los, e diria o sábio: é melhor ouvi-los.