What Design Can Do: 7 coisas que o design pode fazer pelo mundo
Bônus: uma mini-entrevista com Marcello Serpa
A sexta edição do What Design Can Do, a conferência anual sobre o impacto social do design, aconteceu em Amsterdã entre os dias 30 de junho e 1 de julho e reuniu designers do mundo todo para discutir o que o design pode fazer pelo mundo. Cobri o evento para o B9 e separei os 6 aprendizados principais:
1. Assumir sua responsabilidade
Antes de pensar o que o design pode fazer, é preciso pensar no que o design faz. Hoje, damos soluções que pensam apenas no curto prazo. O impacto ambiental de não pensarmos em materiais e processos sustentáveis está visível no aquecimento global, enquanto a obsessão pela comodidade contribui para a epidemia de obesidade no mundo: o design tem um papel fundamental em algumas das maiores crises que o mundo vive hoje. “Devemos ser mais críticos com nós mesmos, pensar no impacto de nossas ações”, convida Nynke Tromp, professora da de design social na universidade de Delft, na Holanda.
2. Ser mais construtivo e menos destrutivo
“Não pode ser só sobre o número de views, mas sobre o que as pessoas levam da sua mensagem”, provocou a jornalista holandesa Eefjie Blankrvoort. Ela falou sobre como o jornalismo muitas vezes prioriza mensagens de ódio apenas porque elas vão gerar audiência, seja dos que são contra ou a favor. Vale para tudo que produzimos: estamos trabalhamos para incluir mais e mais pessoas ou estamos sendo excludentes? Estamos construindo algo ou apenas destruindo inconsequentemente?
3. Dar visibilidade para as questões mais importantes
Uma das grandes forças do design é sua capacidade de colocar uma lente de aumento sobre questões que precisam ser discutidas. O designer Floris Kayaak faz isso na prática, criando objetos fictícios que nos fazem questionar os rumos da evolução tecnológica.
Vídeo sobre o projeto Human Birdwings, de Floris Kayaak:
Vídeo sobre o projeto Oscar, The Modular Body, de Floris Kayaak:
4. Pensar no impacto do processo
Mais do que ter um produto final que salva vidas ou muda o mundo, é preciso pensar em toda a cadeia de produção. A estilista senegalesa Selly Raby Kane mostrou como a escolha dos locais para seus desfiles mudou o cenário urbano de Dakar.
5. Unir tecnologias de ponta e tecnologias das pontas
Para ter impacto social, o design deve servir de ponte, levando para as periferias simbólicas e práticas do mundo as tecnologias de ponta, mas também se adaptando às tecnologias que nascem nas bordas da sociedade. O urbanista Kunlé Adeyemi uniu seus conhecimentos em arquitetura ås técnicas de construção típicas das casas-barco de Lagos, na Nigéria, para criar uma escola flutuante. O protótipo fez tanto sucesso que está agora na Bienal de Veneza.
“Inove nas pontas e faça a ponte para o centro”, propõe Juliana Rotich, especialista queniana em tecnologia da informação.
6. Valorizar a diversidade como a maior força criativa do mundo
Diversidade é um tema quente numa União Europeia em que a imigração, seja interna ou externa, é sinônimo de crise. Ravi Naiboo, fundador da plataforma de promoção do design africano Design Indaba, coloca a diversidade como a maior força da África. “Diversidade gera criatividade e criatividade é dinheiro.”, diz Ravi. Não é nenhum segredo o poder criativo que uma maior variedade de pontos de vista agrega.
7. Permitir às pessoas desenharem suas vidas, encontrarem sua voz e usá-la
Apenas colocar pessoas de diversas origens em uma sala não basta: é preciso que todas elas tenham voz. Petra Steinem, que foi diplomata do Egito em Damasco, defende que ser humano é ser capaz de ser dono da sua vida, não importam as circunstâncias. E desenhar a sua própria vida só é possível quando a pessoa pode mergulhar em si mesma e encontrar a sua voz.
O autor, mencionado na palestra de Petra Steinem, diz que pretende voltar ao seu país após a guerra e pintar outras obras de mestres europeus, para lembrar que todos compartilhamos a mesma humanidade.
Bonus Track: entrevista com Marcello Serpa
O publicitário brasileiro Marcello Serpa, fundador da agência AlmapBBDO, deu uma pausa em seu ano sabático para palestrar no What Design Can Do. Conversei com ele sobre o evento.
B9: Estamos em um evento que discute o que o design pode fazer pelo mundo, mas e a publicidade? O que a publicidade pode fazer por um mundo melhor?
Marcello Serpa: A publicidade pode ajudar a difundir ideias, mas ela só comunica. Publicidade é o reflexo do que a marca é. O grande desafio hoje é parar de comunicar intenções e comunicar ações. Como eu falei na minha palestra, se todas as marcas estão tentando salvar o mundo, quem é o FDP que está estragando o planeta?
B9: Muitas palestras aqui falaram sobre diversidade. É um assunto quente na Europa, foi muito falado também em Cannes. Como você vê a falta de diversidade na publicidade brasileira?
MS: Está melhorando em termos de mensagem, mas não dentro das agências. O mercado fica muito fechado em si, se retroalimentando. Todo departamento de criação deveria ser o mais heterogêneo possível. Enquanto a gente só quiser trabalhar com pessoas como a gente, o mercado não evolui.
B9: O que está faltando para termos um mercado mais diverso?
MS: Os tomadores de decisão precisam começar a fazer ao invés de falar. A ignorância sobre a ignorância é o pior. Não adianta falar que sabemos o que está errado e não fazermos nada.