O que foi mesmo que eu assisti anteontem?

O que foi mesmo que eu assisti anteontem?

por Carlos Merigo
O que foi mesmo que eu assisti anteontem?

Destruir o mundo parece ser o hobby de Roland Emmerich. Para que pensar em roteiros elaborados, dramas inesquecíveis e personagens profundos se podemos resumir tudo a desastres ambientais, invasões alienígenas e meia dúzia de piadinhas sobre a catástrofe que nos espera.

Não, não pensem que estou falando mal de “O Dia Depois de Amanhã”, na verdade, gostei do filme. É divertido, tem cenas fantásticas com efeitos especiais criados em computadores mais avançados do que aqueles que controlam sondas espaciais em Marte.

Mas a história é sempre a mesma. Cria-se um clima de tensão e suspense pré-tragédia, aí vem aquela tonelada de CG’s, chororô de pessoas arrependidas de coisas que não fizeram e no fim uma moralzinha, porque ninguém é de ferro.

Logicamente que o marketing monstruoso nos faz acreditar que estamos prestes a ver o melhor filme de todos os tempos. Meses antes de “O Dia Depois de Amanhã” chegar aos cinemas, já víamos outdoors, comerciais, ações externas (como moldes de pessoas penduradas em postes) e toneladas de publicidade sobre o filme.

Sim, o filme distrai, mas “Independence Day”, do próprio Emerich, continua sendo mais espirituoso e divertido. O lado bom é que em “O Dia Depois de Amanhã” não tem aquela patriotada americana, pelo contrário. E é justamente aí que mora o lado mais interessante do filme, além é claro, de saber que segundo cientistas todos os desastres mostrados são completamente possíveis de acontecer.

A crítica a política ambiental dos EUA, a ironia em mostrarem americanos sendo barrados na fronteira com o México e ainda o discurso: “Obrigado aos países de terceiro mundo, eles é que estão certos e são bonzinhos com a gente.” Tudo isso é absolutamente satisfatório.

Tá, mas isso não dura nem 10 minutos da projeção, voltemos aos efeitos computadorizados. Sim, são realmente impressionantes e convincentes, é legal ver tudo aquilo. A sensação é a mesma de se construir uma metrópole próspera em Sim City 4 e, quando estiver tudo bonitinho, apregoar sobre a cidade as dezenas de pragas inclusas no jogo.

A diferença é que Emmerich tem orçamento para mais efeitos. Mas tudo bem, quando lançarem Sim City 5 acho que já poderemos fazer algo parecido. E convenhamos, ver ondas monstruosas e uma nevasca monumental destruírem uma cidade inteira é divertido pra cacete.

Apesar dos excelentes efeitos, os lobos também criados em computação gráfica me incomodaram. São pouco naturais, deixando claro que não passavam de mais uma CG. Outro fator incomodo, a careta do Dennis Quaid. Ele passa o filme todo sempre com a mesma expressão, cara de quem chupou limão quando nasceu.

Tem também o Bilbo Baggins, quer dizer, o Ian Holm, que faz o papel do professor sabichão que nínguem reconhece, o nerd que sabe tudo de eletrônica e monta um comunicador em cinco minutos, o galã amigo e generoso e a mocinha tão sensual quanto uma folha de alface, por quem lógico, o galã é apaixonado.

Enfim, assistir “O Dia Depois de Amanhã” é sim muito recomendado. Desopila o fígado e massageia o ego, afinal, nós somos o terceiro mundo que, mesmo que não seja depois de amanhã, ainda vai ser generoso com os primos ricos do norte. Apesar disso, é um filme que amanhã mesmo você já esqueceu, nem precisa do depois.

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