Transcrição Mamilos 77 – Olimpíada: abertura, dopping e Rafaela Silva
Jornalismo de peito aberto
Essa transcrição é fruto do trabalho colaborativo dos lindos Lu Machado, Jonas Rocha, Leticia Dáquer e Samuel Freire. Vida longa aos Melhores Ouvintes <3 (Bloco 1) 0’ - 10'59'' Esse podcast é apresentado por B9.com.br Cris: Mamileiros e Mamiletes bem vindos ao Mamilos 77, mais uma semana juntos para fazer esse jornalismo maroto aí de peito aberto. Eu sou Cris Bartis e essa é a minha companheira de quadra
Ju: Ju Wallauer
Cris: vem aquecido que essa semana a gente tá tão olímpica
RISOS
JU: Caio, juiz do Mamilos, recordista absoluto na maratona do amor desse podcast o que vamos ouvir essa semana? Cês não sabem mas a gente fala uma hora e meia e ele fala 5 minutos no podcast e as pessoas só escrevem pra dizer que a voz dele é linda, que o Caio é incrível
Cris: homens, mulheres, crianças agrada a todos os públicos
Ju: é!
Caio: olá personas, Corraini aqui novamente pra trazer a vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos dessa semana. Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical deste programa pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no e-mail [email protected] e facilita e muito a minha vida vocês já estão cansados de saber se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar os downloads direto das músicas deles para utilizar no episódio. Nessa edição nós iremos ouvir o Lucas Guimarães um artista que trás a suavidade da região nordeste do Pará no toque das cordas de violão, então fiquem aí com Lucas Guimarães no Som do Mamilos
[sobre trilha]
Distribua teu sorriso
Abrace todos se puder
Doe beijo aos teus amigos
Dê amor à uma mulher
[desce trilha]
Cris: Ju eu fiquei sabendo que tem um beijo especial essa semana
Ju: tem um beijo enorme pros lindos Mamileiros cariocas que atenderam ao meu chamado e de última hora pelas redes sociais aproveitaram a passagem relâmpago que fiz, eu passei só a segunda feira no Rio de Janeiro, pra me encontrar num bar. Eu pedi uma mesa pra 8 e chegaram mais de 30 pessoas numa farrona Mamileiro! Ou seja, conclusão o que aprendemos com essas história, moral do He-Man, nunca duvidem da força de um “Vam’arca” carioca porque quando eles falam vamo marcar eles vão mesmo! Foi uma enxurrada de amor e de carinho, como é legal conhecer vocês, como é legal. Ó pra quem pediu “eu quero Mamilos em Curitiba, eu quero Mamilos em Porto Alegre, em BH, em Belém” a gente vai fazer um projeto especial pra conseguir em 2017 visitar mais cidades, aguardem.
Cris: eu queria dizer que eu fiquei com muita inveja muooita! Mas aquela foto todo mundo bonitinho ali juntinho e Juliana mandou pra mim logo na sequência já era de madrugada, seus vadios, aí me senti abraçada e beijada foi muito fofo.
Ju: ó um beijo pra Pernetinha que levou até presente, to entregando nesse minuto pra Cris
Cris: uuuuu acabei de ganhar
Ju: um beijo pra Etienne que nos levou até a rodoviária e um beijo pra Kelly que não tem nada a ver com isso que é de São Paulo, mas que é da Bradesco seguros que é meu cliente e ela foi até minha cliente falar que ela era a minha ouvinte falou” vocês conhecem a Juliana…” Risos foi muito fofo um beijo Kelly
Cris: que legal! É né, aquela de sempre, fale com o Mamilos até porque né a gente faz isso aqui pra que? Pra ouvir o retorno. Então pra gente saber se você tá gostando, se você tá amando, traz contraponto pega isso é leva pra outro lugar, conta pra vó, conta pra tia…
Ju: pra saber quando tem encontro de Mamileiros só se você estiver nos seguindo no Facebook não é mesmo?
Cris:exato!
Ju: ou no Twitter não é mesmo?
Cris: eu acho que a gente é tão mal de redes sociais porque se tem 50 mil ouvintes nesse programa por que que têm tão pouca gente em Twitter e faces? Cadê vocês?
Ju: cadê?
Cris: então vai lá, da like, conversa com a gente, manda e-mail pra [email protected] e comente na nossa página no B9 porque lá surgem comentários muito interessantes as pessoas começam a conversar por ali e acaba formando aquela rede marota de comentários inteligentes. Ju tem merchand?
Ju: tem merchand super legal Gênero e número que vai fazer jornalismo de dados com equidade de gênero é a primeira plataforma brasileira que vai abordar questões de gênero a partir de jornalismo de dados. Elas vão liberar as bases que elas estão usando para análise pra qualquer um usar a fonte, ou seja, jornalistas, estudantes fiquem de olho nessas meninas que elas vem pra mudar o jogo. Essa dica foi do Marco Túlio.
Cris: quem é Março Túlio? É aquele melhor forrozeiro das Galáxias?
Ju: forrozeira chamegada
Cris: também integrante dessa seleta bancada?
Ju: nosso colaborador que melhor sabe dançar forró
Cris: eó transcrição, gente galera se prontificando pra ajudar, o grupo tá bombando essa semana a gente publicou outras transcrições então aproveite esse material porque ele foi feito com muito carinho pra você. Você quer recomendar para um amigo? Vai lá manda uma parte da conversa, escreve um pedacinho p, manda pra ele e fala sabe onde tem mais? aqui nesse áudio.
Ju: é falando em divulgação a gente tem mais uma integrante na equipe do Mamilos
Cris: aí meu Deus, mas é fofa hein?
Ju: gente,
Cris: pensa, a gente ganhou um pokemon!
RISOS
CRIS: ela é muito fofa
Ju: é a MC que vai nos ajudar postando nas redes sociais do Mamilos. Gente, assim, eu não tenho roupa pra falar com essa menina. 16 anos ela entrou em Princeton em Engenharia tá? Eu não tenho Q.I. pra conversar com ela mas ela adora o Mamilos e ela quer nos ajudar e ela vai assumir as redes sociais do Mamilos
Cris: já assumiu, já assumiu assim bombando né?
Ju: já cheio de schedule, cheio de posts, cheios de ideias, cheio de estratégia tá animal! Então diretores de arte, designers, se apresentem pro serviço ela chegou cheia de ideias pra continuar esse papo gostoso que a gente tem aqui durante a semana, colaborem porque o Mamilos é muito melhor com vocês
Cris: beijo MC, cê é muito fofa! Então vamos pro fala que eu te escuto?
Ju: gente, entrem no post dessa semana do B9 sombra ver a quantidade de professores e estudantes de Letras que escutam o Mamilos eu fiquei impressionada
Cris: fiquei até preocupada na hora de responder
Ju: né? eu fico pensando cara a gente tá formando professor eu acho que essa é uma das maiores honras e uma das maiores responsabilidades que já nos deram
Cris: vamo fechar esse podcast?
Ju: já, já deu né? Já atingimos o que a gente queria, pronto!
Cris: o primeiro comentário é da Paula “ agora eu sei o quanto a Daiane Soares me ama por ter indicado vocês pra mim, porque agora amo vocês e quero indicar pra todo mundo que eu amo também #muitoamorenvolvido e do contrário da maioria eu faço brigadeiro ouvindo vocês esse é o meu trabalho, obrigada por fazer tudo com amor e excelência mil beijos a todos do Mamilos amo amo amo”. A gente só queria responder pra ela o seguinte a gente aceita amor em forma de brigadeiro certo Juliana?
Ju: super! Todos vocês podem mandar brigadeiro, não mande beijo mande brigadeiro.
Cris: bom, manda sempre um brigadeiro e um vinho por favor, porque a gente come o doce e corta ele ok? Vamos fazer isso aí!
Ju: o Augusto Vieira disse “ sou graduando em Letras quase finalizando o curso, trabalho com educação há cerca de dois anos e é arrasadora a realidade de colegas de trabalho, professores que limitam seus alunos amigos e pessoas do seus círculo social na busca de um português “culto” interrompendo discursos e tirando a importância das informações previamente ditas partindo de uma perspectiva mais linguística língua é comunicação não importando as discordâncias gramaticais que possam aparecer, entendeu tá ótimo o importante é saber pautar e preparar o aluno para o tipo de linguagem usada pro meio em que ela se enquadra nunca desprezando as outras existentes mas concedendo opções contextos linguísticos formais ou informais por exemplo to num júri, numa mesa com amigos ou apresentando trabalhos esse é o papel do professor. Pregar que determinada forma de discurso é inferior ou superior não é olha que isso é ainda questionável por ser um quesito de pru encaixe social, se colocar como possuidor de um tipo de discurso superior ou ter uma necessidade de corrigir pessoas que tiveram oportunidades diferentes, contextos distintos ou por simples questões de variação regional limitam o contato e o principal objeto do discurso a troca de informações”
Alec: entendeu , não me sacrifica.
Ju: isso aí!
Cris: o Jeferson disse “que bom que voltaram, vocês não têm ideia da minha alegria ao ver escrito preconceito linguístico na capa tudo o que foi comentado lá foi excelente embora tenha faltado bastante coisa afinal este é um assunto muito longo não tem como dar conta dentro do espaço de um podcast mosque é super compreensível e não tira a qualidade do que foi feito o preconceito linguístico é um dos primeiros assuntos que entrávamos na turma do primeiro ano do ensino médio geralmente lemos o trecho do livro do Bagno comparamos com trechos de outros autores e opiniões de jornalistas à respeito e é impressionante a implicação dos alunos com este assunto ele chegam ao ensino médio dizendo “SÔR, sou uma negação em português” o problema é que durante o ensino fundamental eles recebem uma educação linguística puramente normativa e inflexível e até intimidadora como sendo o ideal, tanto da modalidade oral como escrita para repensar isso tudo leva bastante tempo e não é da noite pro dia que eles deixam de ter aversão à escrita e a expressão oral na sala, mas precisa ser feito os resultados embora demorem para aparecer são gratificantes parabéns pelo excelente episódio já é um dos meus favoritos”
Ju: olha que fofo esse e-mail que eu vou ler gente, é de um Colombiano e aí cê pensa, dá tilt né? Ué como é que o cara tá escutando meu podcast se o cara é da Colombia? Então o e-mail do Franciso de Paulo da Colômbia: “ eu estou aperfeiçoando meu português porque vou estudar no Brasil, assim foi que eu descobri a família B9 de podcasts. O fato de ter variações de acordo com classe sociais e o lugar de nascimento é natural e também é ter diferentes registros, variação da língua dependendo do contexto por isso quando vocês criticaram o fato de que se exigisse que as pessoas na rádio ou jornais falassem mais parecido com Rio de Janeiro ou São Paulo não é uma coisa má porque nem todo mundo entende os sotaques fortes, desde a minha experiência aprendendo português posso dizer que pra mim sotaques do Nordeste e do interior são mais difíceis de entender do que o sotaque paulistano, os registros linguísticos servem como método para identificar as pessoas nas suas caixinhas, por exemplo notei quanto vocês usam palavras em inglês e como disparava-se o número de anglicismos quando falam de conteúdo relacionado com trabalho ou publicidade mas quando falam de assuntos familiares o sotaque fica muito mais forte e regional”
(Bloco 2) 11’ – 20’59”
Cris: Ounnnn
Ju: Fofo! Francisco, a gente é idiota mesmo. O mercado de publicidade é retardado, a galera fala “printar”, sabe? Não dá pra respeitar quem fala printar.
Cris: Gabriela Pato, ela disse:
“Eu estava ouvindo o ultimo podcast sobre o preconceito linguísticos e várias vezes me veio na cabeça a época em que eu fazia curso técnico em segurança do trabalho. Na minha turma existiam alunos da mesma faixa etária, entre 16 e até 20 anos. De todos os 20 alunos que se formaram, havia um que se destacava pelo modo de falar, se expressar e de agir. Ele sofria muito preconceito linguístico mas o caso dele era um pouquinho diferente. Esse aluno falava de forma muita culta, muito correta. O que era motivo de chacota e risadas em volta dele e das apresentações dele durante as aulas. Nunca participei das brincadeiras ou das chacotas mas sempre quando alguém imitava ou fazia piada, eu dava risada e comentava algo do tipo: Ai gente, tadinho do menino, é o jeito dele. Hoje, me arrependo horrores por não ter feito algo para ajudar esse menino a ter o respeito da sala. Enfim, minha ideia em compartilhar essa história com vocês é pra mostrar que as vezes se a pessoa escrever e falar certo demais, também acaba sofrendo preconceito linguístico, isso não acontece somente o pessoal que comete os erros de português, trocam palavras ou não sabem pronunciar corretamente uma palavra”.
Ju: É, cê tem razão Gabi. A gente falou no programa que a língua é um dos jeitos que a gente tem que separar as pessoas em grupos, em caixinhas, os nossos e os outros, mas a gente explorou pouco as diversas formas de segregação: os estranhos, os burros, os pobres, os cafonas, os velhos. Tem vários jeitos da gente separar as pessoas, colocar em caixinhas, né? Não nos pertencem são outros, de acordo com o jeito que elas falam. Não é só por falar errado ou, tem várias formas.
[Sobe trilha]
[desce trilha]
Ju: Vamos para o que interessa? E vamos apresentar quem tá nessa mesa linda hoje?
Cris: Aqui apressado. A pessoa já olhando e assim, tipo e ai?
Ju: Vão me deixar falar ou não? Me convidaram pra ficar ouvindo ou pra falar?
Cris: Então, por favor, vamos começar com quem não vem a muito tempo? Um tal de Alec?
Ju: Quem é você Alec, na fila do pão?
Alec: Bom, se vocês ainda não sabem que eu sou corintiano, vocês não são nem mamileiros, nem mamiletes, né?
Ju: Risos
Alec: É um prazer tá de volta e uma honra dividir essa mesa com essa pleia de..
Ju: Oh!
Alec: ja que a gente tava falando…
Cris: Que, que é isso hein…
Ju: Isso que é gastar o verbo, né?
Alec: Exatamente. Muito obrigado pelo convite e por tá de volta aqui.
Ju: Hoje a gente só tem jornalista na mesa. O Alec é jornalista e quem tá do meu outro lado? Quem é você?
Peu: Boa noite, eu sou o Peu Araujo.
Ju: Você escreve errado, Peu?
Peu: Eu escrevo, às vezes, como eu falo então…
Ju e Cris: Risos
Alec: Eu também…
Ju: Você já foi criticado por escrever errado, Peu?
Peu: Já, já fui criticado por usar o, termos mais coloquiais, isso é normal. Acho que o Alec, a gente tava comentando sobre isso um
pouco antes e jornalistas são muito preconceituosos com a escrita e tendem a tentar ficar defendendo a norma culta e…
Alec: O jornalismo brasileiro, inclusive não só isso, como ele adotou a mudança ortográfica em 2009.
Peu: É
Alec: Então,ou seja, essa coisa da formalidade ela foi levada tão ao pé da letra que…
Peu: Sim, é verdade
Alec: Inclusive Portugal não adotou a mudança
Ju: São mais reais que os reis.
Peu: E me dói, escrever ideia cada vez que eu tenho que escrever
Ju: Nossa, Meu Deus do céu.
Cris: Eu já falei
Ju: Eu pensei nisso a primeira coisa que eu pensei quando o Alec falou, foi
Alec: E um português me disse que jamais vai escrever facto sem o c, por que facto sem o c é terno. Então ele jamais vai escrever
facto sem o c.
Cris: Ai, essa língua…Vamo então começar com o giro de notícia?
Ju: Bora
Peu: Vamo
Cris: Número 3. Juiz libera demonstrações políticas durante os Jogos. Com torcedores expulsos, muito se discutiu na semana passada sobre a proibição de manifestações em estádios. Muitos memes nos divertiram, com a criatividade brasileira para burlar a vigilância. [Risos] Desculpa, impossível ler isso sem rir, com a pessoa
Peu: Fora você sabe quem, né?
Cris: Desculpa, um beijo pra você que fez esse cartaz. Mas a sofrência acabou oficialmente na noite de segunda, quando um juiz federal do Rio de Janeiro deu a primeira decisão liminar, que é uma provisória, liberando as demonstrações e de manifestações pacíficas durante os Jogos e proibindo a repressão e a retirada de manifestantes dos eventos olímpicos. Para ele, para o juiz, impedir as manifestações “passa por cima do princípio constitucional da liberdade de expressão”.
Ju: Parabéns pra ele, mas ele roubou a nossa pauta. Porque a gente reuniu esses celebres convidados, justamente para discutir o quanto isso era ultrajante. E ai tirou a nossa pauta, mas tá no giro de notícias pra vocês prestarem mais atenção. Assim: se aprofundem nessa discussão. Por que que o COI quis passar uma lei no Brasil falando de restrição de manifestação? Por que que a gente acatou? Por que a gente extrapolou o que essa lei permitia? Qual é a discussão? Procurem saber.
Alec: Só pra colocar uma pimentinha ai, percebam que não tem nenhuma publicidade na olimpíada.
Peu: Sim.
Alec: Vocês perceberam que não tem nenhuma placa de propaganda? A olimpíada é limpinha e cheirosinha. Isso inclui também e evidentemente, há má interpretação, a questão da manifestação política, etc. Mas nós estamos falando de um evento que nem se quer expõe os patrocinadores no evento, tá? Então só pra gente tentar [Peu: tem uma…] não ter mania de ver golpe em tudo.
Peu: Uma coisa que foi usada também, é que no estatuto do torcedor, tá lá que não pode ter manifestação racista, não pode é… homofóbica, nada disso. Outras coisas não tão sendo bem investigadas.
Ju: É Policiadas né?
Peu: Por que, por exemplo o bicha, [Ju: tem razão] quando o adversário vai bater o tiro de meta, ele continua sendo gritado pelo estádio inteiro, mas o que foi usado é foi uma brecha que não pode ter esse tipo de manifestação e nem insulto [Ju: Sim], você não pode insultar outra pessoa.
Ju: Fora não é insulto né?
Peu: E fora, estavam usando esses gritos especificamente como insulto, então
Ju: É, não é, fora não é insulto
Peu: Uma coisa que eu queria comentar é só aquele grupo de BH, que foi todo mundo [Cris: BH né, gente], eu fiquei imaginando aquele pessoal bêbado depois, o T do lado do R, trocando, sabe assim… [Cris: Virou outra coisa] E pensar que a pessoa foi retirada do estádio porque ela tava com uma letra na camiseta.
Cris e Ju: É…
Ju: Isso se chama abuso de poder, era a discussão que a gente ia ter, mas não vai ter porque cortaram a nossa pauta. Beleza.
Peu: Obrigado.
Ju: Vaza negociação de delação premiada de Funcionários da Odebrecht que implica Serra. A campanha do atual ministro das Relações Exteriores, José Serra, à Presidência da República em 2010 recebeu R$ 23 milhões de caixa 2 da Odebrecht, é o que dizem executivos a investigadores da Operação Lava-Jato. A revelação foi feita na semana passada a procuradores da força-tarefa da Procuradoria-Geral da República (PGR) por funcionários da Odebrecht que tentam acordo de delação premiada. É a primeira vez que Serra é citado em supostos esquemas de corrupção por possíveis colaboradores da operação que investiga desvios na Petrobras. Então, vocês estão vendo que tem muitos possíveis, supostos, talvez, será, pelo menos disseram, é o boca-a-boca. Assim, até a Marina já foi citada nessas coisas, então, procurem saber. Vamos acompanhar. O famoso vamos acompanhar.
Cris: É, a primeira vez que ele é citado, é normal existir um burburinho em volta do nome dele, mas o fato é, é um primeiro indício. Tem uma fumaça, tem que investigar pra ver se tem fogo.
Vamo lá número 1, Votação do impeachment vai para a reta final: O Senado aprovou, após 15 horas de votação, o relatório que recomenda que Dilma seja levada a julgamento pela Casa. O julgamento está previsto, inclusive, para o fim desse mês, logo pós-olimpíadas. O ex-ministro José Eduardo Cardozo, responsável pela defesa de Dilma, disse acreditar que ainda é possível reverter o resultado no julgamento final do impeachment. Na pronúncia, nós sabemos que aqueles que estão em dúvida devem votar contra o acusado. Mas, no julgamento final, quem está em dúvida deve votar a favor do réu, é o ‘in dubio pro réu’. Então, esse resultado não está vinculado ao julgamento final”. É aquela visão romantizada, né? Das coisas na minha opinião. Acho que as coisas tão encaminhando, mais ou menos pro lado que a gente esperava, acho que a grande novidade de tudo isso é que a Dilma, parece não voltar, mas o Temer parece não se sustentar. Então, acho realmente difícil que ela volte. Foi um suplicio essa votação, os argumentos, na minha opinião, nem os prós, nem os contra, foram realmente… [Ju: Atento ao mérito] se prenderam ao fato. Ninguém pensou no fato, cada um foi lá falou o que quis, pessoas que na primeira votação, votaram de uma maneira, votaram diferente agora, teve um quorum maior contra. Então vamos pular bastante olimpíada, por que na sequencia, vai ser duro o páreo.
Alec: No final o que a gente tá assistindo é um exemplo clássico de quando o poder se esvai e no final das contas o que a gente assiste é uma pessoa que vai terminar sozinha, isolada, uma mulher digna e que termina de forma completamente isolada e que é um exemplo, né, imenso do poder vai desaparecendo e você simplesmente abandonado. É o que acontece.
Cris: Alec, não tem um pouco ali do melhor papel dela que é o de resistência? As vezes eu fico pensando isso, sabe? Eu, quetinha? Ela desempenha muito bem esse papel. De uma pessoa extremamente forte, que não se dobra as dificuldades, que se mantem na resistência. Então, muitas vezes a hora que eu olho e a situação como um todo é tão ruim, mas ela desempenha tão bem esse papel de não de dobrar, que eu acho que no final das contas ela saindo e tudo mais, ela vai ser lembrada, ela vai entrar pra história, como uma mulher inquebrável e ai…
Peu: Eu só acho que subestimaram demais o poder das raposas, sabe assim?
Cris: É, pode ser.
Peu: E elas são poderosas mesmo e eu acho que em algum momento a gente, a gente não deu tanta importância e quando a gente viu, sabe aquela… [Cris: Já era as galinhas] luta greco-romana, você tá naquela posição delicada?
Cris: Risos
Peu: Que o adversário tem que te pegar por trás ali, entende? Quando a gente viu, a gente já tava…
Cris: Segurando as suas orelhas… [risos]
Alec: Eu não tenho a menor dúvida que sob a perspectiva daqui a 30 anos, né? Possivelmente vai se lamentar o que aconteceu.
(Bloco 3) 21’ – 30’59” – Transcrição de Leticia Dáquer
Cris: É isso aí.
Ju: Vamo falar de coisa boa? Vamo falar de Top Therm?
Cris: Vamo nos divertir um pouquinho?
Ju: Vamo. E qual é o primeiro assunto, gente? Vamo falar, por favor…
Peu: … Da música da Cachorro Grande. Ah, não.
(risos)
Ju: Da abertura das Olimpíadas. Por quê: Porque há duas semanas, de acordo com o Datafolha, que eu não sei se tem credibilidade pra fazer pesquisa ainda, apenas 40% dos brasileiros apoiavam as Olimpíadas. Crise, desemprego, instabilidade política, um cenário de discussões polarizadas, tecido social esgarçado. A gente foi obrigado a encarar o nosso racismo, machismo e homofobia escancarado nas redes sociais enquanto as minorias ganham mais voz e espaço. Ou seja, é conflito atrás de conflito. Zika, denúncia de corrupção, o medo da violência e da falta de estrutura no Rio, todas as semanas uma chaga diferente exposta, cada dia um novo 7×1. Que clima pra receber um evento mundial, né? Um evento que independentemente da sede tem levantado cada vez mais críticas. Além disso tudo, desse cenário que seria ruim pra qualquer coisa, desse evento que potencialmente é ruim pra qualquer coisa, tem o viralatismo batendo forte, né? Teve um desbunde de organização e grana na abertura na China, um show-off de influência cultural e grana em Londres, e agora a gente. É a nossa vez.
Cris: Lá vem nós.
Ju: Quê que a gente tem pra mostrar pro mundo? Uma audiência variando do completo desinteresse à angústia de passar vergonha foi surpreendida na sexta-feira pela abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Uma cerimônia que custou 85% menos do que a de Londres e arrancou elogios da imprensa internacional. O que a gente vai conversar um pouco sobre a repercussão entre os brasileiros, o que a cerimônia nos fez sentir e pensar, e quais são as polêmicas envolvidas. A gente tem vários prós e contras, mas eu queria começar a conversa perguntando, Peu, cê assistiu? Cê curtiu, comé que foi?
Peu: Comi guacamole e… A gente se juntou na casa de uns amigos, da Helena e do Felipe, e a gente foi pra assistir meio que naquela expectativa do… vai ser aquela…
Ju: Vai dar merda, né…
Peu: Vai ser a abertura da Copa…
Ju: Hashtag vai dar merda.
Peu: Abertura da Copa do Mundo, que foi meio deprê, assim, e tal, tava todo mundo nessa expectativa, e foi aquilo lá, a gente começou
a ver, e aí, pô, não tá ruim (Ju ri), pô, não, num, realmente num tá ruim, não, caralho, tá ficando bom, e chegou uma hora que tava todo mundo lá, já esperando a entrada da delegação e tal, foi divertido, assim…
Ju: Eu digo mais, eu acho que o BuzzFeed fez um post muito preciso de mostrar a variação das nossas emoções, foi assim: pô, num tá ruim… Não, tá bom.. Cara, como tá bom! Ai, gente, como tá lindo…
Peu: O Paulinho da Viola!
Ju: Já pode dizer assim, que legal ser brasileiro, né! Pode dizer que tem orgulho? Caralho, somo brasileiro, que lindo!, e terminou “eu amo todo mundo, eu quero abraçar todo mundo!”
Alec: Vocês choraram, gente?
Peu: Não.
Ju: Chorei.
Peu: Olha, não foi pra tanto, também.
Cris: Olha, eu fiquei muito emocionada
Ju: [Eu chorei.
Cris: porque eu assisti com a minha filha, né. E, poxa, ela é uma criança de quase 6 anos, e ela tá assim, “por quê que tá tendo essa festa?”. Olha, filha, são os Jogos Olímpic – é uma canseira assistir coisa com criança, cê tem que explicar tudo, né. E aí de repente ela falou, “nossa, que legal, os portugueses! Olha os africanos, né, mamãe, hoje somos todos livres”, aí cê vai ficando um nozinho na garganta, porque cê vai percebendo nela a percepção de mundo, então a culpa não é minha, a culpa é da Tatá, foi por isso que eu fiquei emocionada. E aí entrava uma música, entrava outra música, entrou Mc Sofia, e ela ficou louca! E aí ela dançava, e aí ela assistiu todas as delegações e ela ficava assim: “que país legal, né!” E aí aquilo foi, e ela, “mamãe, por quê que não tem o Brasil até agora?”, e aquilo foi envolvendo, acho que foi envolvendo todo mundo, e eu, “Filha, tá na hora de cê dormir, cê tem natação amanhã cedo”, “Não, mas eu preciso muito ver o Brasil”, e ela “Ah, olha essa bicicletinha que bonitinho!” “Olha, esses moços são uns gatos!”, então ela foi se envolvendo com aquilo, eu fui me envolvendo, e as músicas, e Jorge Benjor, uma coisa que eu acho que ninguém tem, sabe. Ninguém tem aquilo.
Peu: É… Paulinho da Viola, o…
Cris: Aí a Giselle Bündchen entra, muito poderosa, maravilhosa, e ai cê fala MEUDEEEEUS A GENTE É MUITO BOM, e parecia que as pessoas tavam ligadas na tomada! E todo mundo… E a hora que acabou eu queria sair, as pessoas e falar “Vamo arrumar esse país!”
Ju: Não, gente, a coisa que, assim, eu chorei, eu olhava pro Merigo e falava assim, como que a gente consegue fazer isso dar errado, cara! Porque assim, a gente tá há tanto tempo assim… Pô, a gente tá no Mamilos 77, 77 programas falando dos nossos problemas, das coisas que a gente tem que consertar, então assim, a gente levantou o tapete e tem sujeira pra caralho embaixo. E ok, estamos conscientes, tem muita sujeira, mas de repente virar essa moeda e ver as coisas que a gente tem de bom, e que é legal, e que, assim, principalmente ter uma identidade ali, sabe? E ver que, assim, tinha uma diversidade, tinha um respeito pelas diferenças, eu curti ver isso, eu curti ver coisas que eu não gostava, então, sei lá, eu não gosto de ver a Anitta mas eu curti que ela tava ali, eu valorizei ela estar ali. Eu fiquei feliz dela estar ali, assim, eu valorizei porque o viralatismo nosso é pegar MPB, que é o que o mundo disse que é bom, e a gente falar, não, a gente só mostra isso aqui, porque o resto não pode mostrar, porque isso não tem chancela, não tem carimbo. E aí de repente, a MPB foi respeitada, sabe, Tom Jobim tava lá, Vinícius tava lá, sabe, o samba de raiz tava lá, mas não é só isso que a gente tem. A gente é tudo, cara. A gente é Anitta também. A gente é Jorge Benjor também.
Peu: E foi foda a Ludmila cantar um funk antigo, né. Ela cantou…
Ju: Todas as músicas pra mim foram impecáveis
Peu: Rap da Felicidade.
Ju: não quero nem saber se é clichê ou não, elas foram impecáveis em nos retratar, e isso me emocionou pra caramba. E aí ver Karol Conká lá no meio, sabe, e isso é a gente…
Peu: Com a Sofia…
Ju: Mc Sofia, então assim, eu acho que a escolha, ela foi tão diversa, foi tão representativa, assim, eu acho que todo mundo olhou praquilo e se enxergou, e ao mesmo tempo que foi representativa, foi show-off, porque assim, beleza, tá, a gente não tem 1000 anos de história e de cultura pra influenciar os outros. A gente tem isso aqui, ó, 500 anos, é o que temos. Não tem muita grana, também não temo não. Organização não, não somo bom nisso aí, mais ou menos, mei que tem hora que num dá pra saber o quê que é. Mas o que a gente é bom é, a gente sabe fazer festa. E aqui ó? Bateria! Conversa não, hein, que a gente tem melhor do que no mundo inteiro. Então na hora que a gente já tava indo pro abraço e entra a bateria de escola de samba! Falei “queísso, não tem pro mundo!”
Alec: Não, mas, se cê bota bateria de escola de samba…
Ju: É Brasil, cabô! É Brasil! É Brasil!
Cris: Eu achei engraçado que primeiro foi aquele auge, né, até entrar a Regina Casé.
Peu: É.
Cris: Porque foi aquele negócio incrível.
Peu: Porque a gente falou “Puta, o Brasil é um grande Esquenta, né.”
(Ju ri)
Cris: A hora que começou a ficar muito festa, pára, tem um cliente, tem um cliente, aí entra a palavra do “a gente tem que preservar o mundo, né”, a pauta do Leonardo DiCaprio na Olimpíada, que é super importante e tudo, mas deu aquela esfriada no ânimo.
Peu: E a Baía de Guanabara, né, os caras falando de preservar, de sustentabilidade, e os atleta nadando no lodo.
Cris: Não, e a gente é muito engraçado, porque olha, a nossa pira olímpica é menor pra consumir menos oxigênio, mas agora vamos soltar fogos pa caraaaaaaamba…
Ju (rindo): Eu pensei isso na hora! Mas que pira linda, né, cara, mostrando que não importa o tamanho, importa o prazer que ela dá, não é mesmo! Que pira incrível! Não foi? Foi uma pira incrível.
Cris: Eu não conseguia parar de olhar praquele negócio se mexendo, eu vi até dormir.
Peu: Praquele negócio ou o porta-bandeira de Tonga?
Alec: Lissérgico, né.
Cris: Muito lissérgico aquilo. O porta-bandeira de Tonga, eu não entendi por que ele tava molhado.
Alec: Não é molhado, é bezuntado, é diferente.
Cris: Não, mas aquele negócio é lissérgico, eu ficava olhando praquilo e não parava, sabe… Alec, conta pra gente, para de enrolar, conta pra gente…
Alec: Não, eu tô quietinho aqui, porque primeiro, sabem que eu sempre venho aqui porque é o anticlímax, né.
(Ju ri)
Alec: Eu acho que só existe uma coisa mais chata do que cerimônia de abertura, que é a cerimônia de encerramento…
Peu: É, a de encerramento é triste mesmo.
Alec: É, cerimônia de encerramento é sempre muito chato…
Cris: Ainda mais pré-impeachment, cê imagina, vai ser tipo…
Peu: A cerimônia de encerramento vai ser o Temer discursando, assim…
Cris: Ah, eu só queria falar uma coisa, porque foi muito divertido, eu escuto de vez em quando o José Simão de manhã, e ele falou que
o Temer perdeu uma oportunidade única de ser ovacionado. Que era só ele começar o discurso falando “Primeiramente fora eu, segundamente estão abertos os Jogos Olímpicos”. Todo mundo teria batido palma. Cê imagina se o cara zoa ele mesmo?
Ju: Ah, ele não é o Obama, né, sai desse corpo.
Alec: Alguém comentou que ele…
Cris: Ele tava duro, coitado.
Alec: … que ele falou mais rápido que aquele cara depois do, do remédio, sabe assim, esse medicamento deve ser contra-indicado em casos de dengue. Ele falou mais rápido que esse cara, e…
Cris: Oito segundos, né.
Alec: E foi muito, né. Se fosse o Phelps… Inclusive incluiu um caco, né.
Peu: Ele falou da cerimônia belíssima. O protocolo diz que é apenas, né, “Declaro abertos os trigésimos Jogos Olímpicos da História”. Mas então eu dizia que, primeiro que eu acho chato, na verdade, segundo que eu acho que tem que ter essa afirmação de o que a imprensa internacional tá achando, né,
Alec: Que é um saco.
Peu: …na verdade foda-se a imprensa internacional, né.
Cris: Ah, a gente adora se auto-afirmar, né.
Peu: Exatamente, aquela necessidade sempre de auto-afirmar. A gente tem que mostrar o que tem que mostrar e acabou. A competição é nossa.
Ju: Mas foi, né. Mas foi. E eu acho que essa foi a beleza.
Alec: Acabou sendo pelo que eu vi de repercussão.
Ju: Nao, não, a apresentação não foi pautada pra gringo ver, né.
Peu: Mas é engraçado que sempre rola aquela matéria na zona mista ali depois, entrevistando jornalistas do mundo todo, perguntando o quê que eles acharam, tipo, foda-se, entendeu?
Ju: Mas, Peu, o foda-se foi conceitual, porque quem é Karol Conká?
Peu: Mas virou pauta da imprensa pra…
Ju: Ah, tudo bem, mas aí…
Peu: E outra, Karol Conká ela foi tocada pelo Gilles Peterson na rádio da BBC, que é um dos principais pesquisadores
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de música, ela fez duas turnês europeias, foi pros Estados Unidos, tipo, tem um porquê da Karol Conká tá ali.
Ju: Ah, mas eu acho que, de verdade, por todas as outras pessoas, o porquê é mais pela gente do que por eles. Porque se pra eles ela é grande, boa, legal, mas ela não tá ali por causa disso. Porque o Caetano é grande pra eles também e ele não tá ali por causa disso. Ele é grande porque PRA NÓS ele é grande. Então assim, isso que é a parte que eu achei bonito, então assim… Tava ali…
Peu: Não, não, é que eu só acho que assim, a gente tá numa inocência, entendeu…
Ju: Não, eu não tô menosprezando…
Peu: Na inocência de achar que tipo, a Karol Conká ela tá ali porqeu ela é patrocinada pela Skol, é um dos artistas que a Skol tá mais investindo dinheiro na parte de música…
Cris: Ao menos tá investindo bem, né…
Peu: Ela tem um plano de carreira, não tô julgando a carreira da Karol, acho ela talentosa, mas tem um porquê dela estar ali e não uma outra MC. A Ludmilla é da Som Livre, né, da gravadora da Globo. A Anitta tá traçando uma carreira internacional.
Ju: Tá, tudo bem…
Peu: A única surpresa que eu tive musical foi a Sofia.
Ju: Mas vamo pro que transcende isso. Elza soares lá, cara.
Peu: Sim, foi maravilhoso.
Ju: Puta, mas isso aí pegou meu coração e arrancou, sabe.
Peu: Foio foda. Nesse ponto eu não discuto
Ju: Putz, cê acha que gringo sabe quem é essa mulher, quê que ela… Não quero saber se você sabe, naquele momento pra gente fazia sentido…
Alec: Mas é o famoso foda-se o gringo, né.
Ju: Foda-se!
Peu: A Elza acho que foi um foda-se o gringo.
Alec: A gente sempre tem essa necessidade de se preocupar com o que vai ser transmitido
Ju: Não é nem fodase o gringo, é hashtag procure saber. Cê não sabe Shame on you. vai procurar saber, pesquise, sabe.
Alec: Peu acabou de demonstrar aqui um motivo pra presença da Karol Conká que talvez não tenha sido discutido, ou as pessoas não atinaram pra isso…
Peu: E talvez não seja esse o real motivo, mas pode ser.
Alec: É uma tese, temos aqui uma tese que e possível, enfim, mas principalmente essa coisa da preocupação com o que vai se pensar lá fora, essa competição é nossa, né? Abraço, né? Cabô.
Ju: E aí, falando em “é nossa”, eu queria que a gente conversasse assim, porque tipo assim, a coisa mais especial que eu vi, foi que eu comecei indo assistir uma cerimônia com medo de passar vergonha, e no meio do caminho eu tava orgulhosa de participar e orgulhosa de ser brasileira, eu terminei isso falando “ai que legal, que bacana que a gente é”, e aí eu fiquei pensando sobre patriotismo, né? Patriotismo e identidade, de como você se enxergar como, Ah, isso é o que eu sou. Se eu tivesse fora do Brasil, tem um monte de ouvinte que nos escuta de outros lugares do mundo justamente porque tem saudade de ouvir português, de ouvir o quê que tá acontecendo aqui e tal. E você se identifica mais como brasileiro quando cê ta fora do que quando cê ta aqui. E aí eu fiquei pensando sobre isso, tipo, se faz sentido ainda patriotismo nos dias de hoje, em que a gente tá falando dum mundo cada vez ais sem fronteiras, se essa ideia de patriotismo não nos fodeu demais como espécie humana, já no passado, não é isso que nos colocou em guerra, não é isso que provocou um monte de morte desnecessária? Se patriotismo não é um conceito um pouco ultrapassado. No dia mesmo, em meio as lágrimas que eu tava aaaaaaaaaaaah sou brasileiro, eu fiquei pensando isso, mas será que e um valor…
Peu: Eu não sei como definir a torcida que tá rolando nas Olimpíadas, porque cê tem dois prismas, assim, né, cê tem uma torcida que aprendeu a lidar com diferentes esportes, ela tá começando a entender que não é só medalha, que às vezes o cara chegar em nono lugar mas essa ser a melhor posição dum brasileiro na história das Olimpíadas é importante, mas ao mesmo tempo cê tem a torcida que vira e, enfim, massacra a seleção masculina de futebol. Não que ela não deva ser massacrada… Eu não tô entrando no mérito da importância disso, mas eu acho que cê pode chamar as duas coisas de patriotismo, mas elas têm… Elas são muito diferentes uma da outra.
Ju: Matizes diferentes.
Peu: Sabe assim, cê pode falar que a torcida que vai pro estádio esperando o melhor da seleção masculina de futebol tá sendo patriota ao vaiar uma seleção que não dá show, que não joga bem.
Alec: Na verdade esse é o patriotismo de resultado, né.
Peu: Exato. E aí cê tem o outro lado também, da torcida que aprendeu a se motivar. O jogo do basquete contra a Espanha, o Pau Gasol, que é um jogador excelente da NBA e tal, ele errou dois lances livres no final, e quem tava no estádio comentando e numseiquê, falou que o barulho da torcida era ensurdecedor. Talvez ele tenha tremido na base, e foi um outro lance assim, a torcida ela de fato ela interferiu na…
Alec: A própria medalha de prata no tiro, o atleta o Felipe Wu que conquistou a medalha, ele disse ao final da prova, “Eu nunca pensei que torcida influenciasse no meu esporte. A partir de hoje eu penso diferente”.
Cris: A partir do momento que cê tá no Brasil, que as pessoas tão tudo formada nos…
Alec: E no caso foi até uma coisa negativa – a torcida atrapalhou o desempenho do adversário, não é que turbinou o desempenho dele, mas enfim, influenciou no resultado.
Cris: Influenciou.
Peu: Mas cê pode tirar duas coisas de patriotismo, mas porra, não sei se a gente aprendeu…
Ju: Mas a pergunta é mais ampla, a pergunta é, tem espaço isso ainda? Faz sentido? Por quê que eu tô orgulhosa de pertencer a um espaço geográfico? Sacou a operação, tipo… Faz sentido isso ainda? Eu achei linda a cerimônia, super me pegou, meu emocional tava completamente ali, e depois eu fiquei pensando, tipo, esse lance de patriotismo não nos causou muito mais problemas do que traz benefícios?
Cris: Será que depois de passar, a gente tá numa época tão sofrida, com tanto desgaste da auto-imagem, com tão pouca esperança sobre o que a gente é capaz de construir, que quando a gente vê uma boa entrega, a gente comemora. E a gente fica muito feliz.
Peu: Sim.
Cris: Eu acho que a gente sofre muito, como nós somos um país que, na minha opinião, viaja pouco pra fora do Brasil, e consome pouca cultura de fora do Brasil, eu acho que no dia-a-dia lê pouca coisa de fora do Brasil, a gente tem muita mania de falar, “Só no brasil mesmo, né, só no Brasil mesmo que tira o Whatsapp do ar’. Não, não é, a Inglaterra quer fazer a mesma coisa, a França, a Arábia, a gente falou isso no programa passado.
Alec: Não, “só no Brasil que tem fila na Olimpíada”, por favor, né gente! Pelamordedeus, isso sempre aconteceu, vai acabar a comida, acabou a comida… Em Atlanta, 1996, tamo falando de uma olimpíada nos ESTADOS UNIDOS, todo o transporte da olimpíada, ou seja, pra atleta, jornalista, dirigente, foi feito por motoristas que não conheciam Atlanta! Se perdiam…
Peu: E não tinha o Waze, né.
Alec: Não existia GPS, né, não existia nada disso, ou seja, teve atrasos monumentais, e foi nos Estados Unidos, não foi no brasil.
Cris: Na Inglaterra foi feito um estadio que depois ninguém sabia o que fazer com ele, foi leiloado a preço de banana e o governo ainda teve que adaptar…
Peu: Pequim também…
Alec: Reboco caindo na Vila Olímpica em Londres, enfim…
Cris: Em Londres…
Alec: Então tem essa bobajada de “só no Brasil”…
Cris: Eu acho… A gente
Alec: Muito bem lembrado por você.
Cris: A gente faz muito isso, sabe, “ah, menina, só no Brasil pra gente poder fazer uma Olimpiada que acabou o hamburger”
Peu: Teve bosta pra caralho também, não adianta…
Cris: A gente falha como qualquer… Nós não somos nem melhor nem pior que ninguém, então quando a gente fica muito nesse, “olha, só a gente tem político assim, só a gente tem violência urbana, só a gente…” Quando a gente começa a perceber que na verdade a gente é capaz de fazer coisas boas também, e se organizar e receber pessoas e acolher bem pessoas e outras culturas, a gente começa a falar, “poxa, talvez a gente não seja tão ruim assim”.
Peu: Agora cê imagina isso se os gastos com as Olimpíadas não fossem superfaturados.
(Cris ri): É…
Peu: Porque tem esse outro lado também.
Ju: Mas essa é a minha tristeza. Se a gente tem tudo isso, comé que a gente consegue fazer dar errado, olha que legal…
Peu: Imagina se todo o dinheiro fosse aplicado, imagina se não tivesse um desvio, imagina se não tivesse o jeitinho. Aí a gente teria a melhor Olimpíada da história, entendeu.
Ju: É, então. Mas aí que é a mexida, virada, que cê dá pra assim, tá, eu não sei se é patriotismo que a gente tá falando ou se é identidade, sabe. Porque o patriotismo ele pressupõe que
Alec: Pertencimento
Ju:… eu sou melhor que você e eu quero conquistar você. Identidade é uma outra parada, né, que é assim, eu terminei essa cerimônia me sentindo parte de alguma coisa, uma parte de uma coisa que não sou eu, então assim, vamo deixar claro aqui, não sou do rap. Não sou do treme-treme lá do norte. Mas naquela hora eu era, de verdade era.
Alec: Tocou Gangue do Elétrico, é verdade, isso é muito legal
Ju: E foi lindo isso, eu adorei isso, sabe. Então assim, não sou da Anitta, mas naquela hora eu era. Então eu acho que esse fechamento de o poder que a cultura tem de fazer a gente enxergar alguma coisa, enxergar que independente das nossas diferenças, independente das coisas que a gente discorda, a gente tem algo muito grande, muito importante, muito valioso e em comum, e que isso é bonito e que isso deve ser protegido. Isso é o poder da cultura, e aí a gente acabou de sair de uma discussão de que se cultura era relevante ou não, cultura não põe pão na mesa, e tá faltando pão, então corta essa linha do orçamento. Então uma cerimônia poderosa dessas, num momento em que a gente ta discutindo se cultura é relevante, pra mim isso foi um tiro na cara, no coração, sabe. Assim, foi uma coisa tão clara, uma mensagem tão clara de que assim, se você não entendia, Ju, na sua planilha de Excel, pra que objetivamente serve a cultura, quanto que a gente gastou em milhões com a Olimpíada, quanto que esses recursos vão ser desperdiçados, quanto que essa estrutura vai ficar ociosa depois, tudo isso é mensuravel, tudo isso é linha de planilha. Quanto vale uma nação que não se encontrava há ANOS em algum momento, por causa do trabalho de algumas mentes muito criativas, conseguir se encontrar, se enxergar, e se ver parte de um todo, quanto vale isso? Fala pra mim?
Cris: A última vez que a gente se encontrou foi pra chorar um 7×1, então… Que bom se encontrar, né.
Peu: É, tem uma coisa. Eu entendo o sentimento.
Alec: Aliás, falando em 7×1, a Alemanha jogou lá agora e ganhou de 10 a zero, [Cris: Deus me livre ] então a Alemanha deu 17 gols no Mineirão, hein. A Alemanha fez DEZESSETE GOLS no Mineirão.
Cris: A Alemanha vai querer mudar pra Minas, desse jeito.
Alec: Com certeza!
Peu: Podia, inclusive. Tem um lance de pertencimento
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que eu gostei, mas eu não, eu gostei da abertura, eu tenho gostado dos Jogos, eu gosto muito de esporte, eu acompanho, eu assisto muitos esportes. Mas eu não consigo me sentir mais brasileiro por isso, sabe, assim, eu não tenho esse sentimento. E me incomoda, por exemplo, algumas coisas que acontece que me trazem muito mais a vergonha do que pertencimento, que é tipo o Eduardo Paes virar pra delegação da Austrália e falar “vou pôr um canguru lá na entrada pra cês se sentirem em casa”…
Cris: Foi dureza né.
Peu: …sabe, assim, é, esse tipo do jeitinho do brasileiro, da malícia…
Ju: Não, mas a gente tá falando só da abertura, daquele momento mágico…
Peu: Não, mas eu tô usando um exemplo que assim, isso daí passa muito mais uma imagem negativa, [Ju: Claro] que as vezes, aí sim, falando agora sobre a repercussão que isso pode gerar, é muito mais constrangedor a bosta que o prefeito fala da cidade que vai sediar uma Olimpíada repercute muito mais as vezes do que a beleza do espetáculo, sabe. Então às vezes a gente perde muitas oportunidades de calar a boca…
Ju: Ah, sim.
Peu: E é isso é que queima, sabe, assim, é isso que as vezes cê olha e fala, “não precisava disso, não precisava ser assim…”
Alec: Aliás, nada como o começo da competição em si que vocês perceberam que todos esses personagens, né, desapareceram né, então não tem mais Paes, [Cris: Não tem…]não tem Beltrano, Ciclano…
Cris: Pezão que saiu do hospital pra ir na cerimônia, né. Pezão tá realmente muito doente, eu fiquei assustadíssima com a imagem dele na tela. Ele é outra pessoa.
Alec; Aliás o nosso presidente interino fez até uma brincadeira de mau gosto com relação a isso, né.
Cris: Nossa, não tive o desprazer, o quê que foi?
Alec: Ah, “você está muito melhor, o câncer fez muito bem a você”.
Ju: Aaaaah.
Cris: Bom, vamo passar pra próxima pauta. É isso, tá vendo, a gente é muito sem noção. Um quer mandar canguru, o outro elogia porque o outro tá doente, então assim… Falta muito preparo.
Peu: Então essas coisas talvez tirem de mim o brilho da abertura, sabe, foi legal, sabe, mas cê fala, puta…
Alec: Mas o alívio é que a partir da abertura esses personagens desaparecem.
Cris: Então, mas deixa eu falar uma coisa que eu acho muito importante até na nossa falta de cultura da celebração, porque a gente tem muito problema… A gente vira e fala assim, “não dá pra eu ficar feliz com isso, porque isso aqui tá errado” A gente não tá falando do todo, a gente tá falando de, naquele momento, naquelas três horas com o Galvão louco falando, a gente se sentiu junto, feliz com o que tava produzindo…
Peu: Bêbado…
Cris: …feliz por ter dado certo, bebemos, nos abraçamos, e falando “pô, a gente pode ser legal, te considero pacas, Brasil”. Foi naquele momento, isso, o fato de você celebrar ter sido bonito e ter dado certo e te dado orgulho, não quer dizer que você ignora o fato de nós termos ENE problemas.
Peu: Sim, a abertura foi um comercial da Coca-Cola, sabe, de tão bem feito.
Cris: Sim, mas se você não respirar, se cê não colocar a cabeça pra fora em algum momento… Eu acho que a cerimônia foi isso, cê não tem nem energia pra lutar. Porque cê fica tão preso num mar de problema que cê começa a pensar que talvez não tenha solução. E eu acho que cê tem um pinguinho assim de luz entrando, cê fala “pô, dá pra fazer, vai”.
Ju: Não, gente, não pode ser só chicote, tem que ter cenoura também, né. E é isso, cê tem que ver uma luz ali na frente.
Peu: Eu acho que cê ter a oportunidade de acompanhar a ginasta americana Simone Biles, o ginasta chinês, o Phelps na piscina, é…
Cris: Que incrível, né!
Peu: …o time americano masculino de basquete, a Marta, é… Eu acho que você ter a oportunidade de ver esses personagens de perto, cê ter os melhores do mundo naquilo ali, na sua frente, eu acho que isso é muito rico.
Ju: É.
Peu: Isso talvez seja o maior legado, é o que a gente tava falando antes, pro Brasil no futuro, assim, com relação ao esporte, de ampliar o leque, de ter outras possibilidades que não se resumam ao futebol ou, né, ou a uma meia dúzia de esportes, assim.
Cris: Perceber a importância, né, e a diversidade, né…
Peu: E isso é muito rico, é muito importante, acho, pruma criança, ver de perto isso, ter a oportunidade de ir à quadra, ao estádio, acompanhar e aí sim, você pensa naquele lance do… mais lúdico, que cê transporta esse lance da abertura pros Jogos e na cabeça duma criança isso pode ser uma influência.
Alec: E é por isso também que eu falei, mencionei antes, que essa competição é nossa, né, ela não é do mundo, essa aqui é nossa.
Ju: Tá, veio essa conta, agora é pra gente.
Alec: Isso, claro, claro, a gente tem que se preocupar conosco, né, o que o gringo achou, né, dane-se.
Peu: Mas pra não parecer um cara pessimista, eu só quero dizer assim, apesar de todos os problemas a gente pode ter um legado esportivo muito importante pro Brasil daqui dez anos, daqui vinte anos, de uma nova geração de atletas que se inspiraram nas Olimpíadas que aconteceram no Rio. Eu acho que isso é muito possível e viável, até porque, principalmente na cidade, porque querendo ou não, parte dessa estrutura continua. E uma quadra de handbol ela só funciona pra se jogar handbol, e ela vai ser uma escola, vai ter alguns lugares que já tao sendo pensados pro futuro. Sabe, algumas coisas a gente vai perder, mas acho que o que ficar disso pode render futuros atletas, pode render alguma coisa importante pro Brasil no esporte.
Alec: A instalação de canoagem já tinha sido aberta e virou um grande piscinão naquela região, é, uma área que vai ser, enfim, lazer, enfim…
Cris: Pergunta…
Alec: Tem coisas positivas também no meio disso tudo.
Cris: Pergunta: cês acreditam na Reserva lá dos atletas, na das plantinhas lá, aquilo vai vingar? Porque a ideia é boa, né.
Peu: A ideia é boa, mas… Agora eu não sei como vai ser feita..
Cris: Vejamos, né, se os feijãozinho vão tudo lá pra terra, pra virar…
Peu: Vai dar pra gente acompanhar?
Cris: Comé que chama? Floresta dos Atletas, alguma coisa assim…?
Peu: Onde vai ser?
Cris: A ideia foi boa, no Parque Deodoro.
Peu: Eu acho bom. Eu acho uma ideia ótima. Mas…
Cris: No PPT tava ótimo, vamo ver se vão plantar…
Alec: Teoricamente foi colocado ali de forma simbólica…
Peu: Eles deviam colocar…
Alec: Mas vocês que conhecem storytelling, né, muito melhor do que eu, sabem que se não for plantado, alguém vai lá depois e coloca uma muda já crescida e…
Cris: A gente dá um jeito de entregar o job.
Alec: Claro, claro.
Ju: Vamo à última pergunta que eu queria fazer, se, tudo bem, a gente tá falando que foi ótima a cerimônia, que a gente se enxergou, que teve muita representatividade, e tal, mas rolou uma polêmica que inclusive queriam que fosse pauta do Mamilos passado, a gente falou, cara, a gente não vai falar de uma coisa que a gente não sabe se é ou não é, vamo esperar a cerimônia, a gente comentar a partir da cerimônia, que era de que existia na cerimônia uma parte em que a Giselle Bündchen era assaltada por um menino negro, e que o menino era levado pelo BOPE. E aí a internet veio abaixo, que absurdo, como pode acontecer isso, e tal, e a gente conseguiu uma fonte de DENTRO da organização da abertura…
Cris: Eu não acredito, Juliana!
Ju: Um mamileiro que fez o storyboard da cerimônia, e ele vai nos contar se é verdade isso ou não.
Cris: Vamos ouvir o Anderson então.
Anderson: Então, eu sou o Anderson Awvas, eu sou ilustrador das cerimônias olímpicas, participei da cerimônia de abertura e cerimônias de encerramento. Eu não sei nem se eu poderia, mas eu queria dar uma esclarecida sobre isso. Essa cena, ela aconteceu num evento-teste, num ensaio. Aí, se eu não me engano, foi o UOL que postou pela primeira vez sobre a cena de assalto da Giselle Bündchen, assalto entre aspas. A cena de assalto da Giselle Bündchen na cerimônia de abertura. E, cara, isso é triste porque assim, existia uma cena e essa cena não tinha absolutamente nada a ver com um assalto. Mas assim, isso é triste, porque eu como negro me senti muito ofendido com toda essa questão das pessoas compartilhando um negocio que simplesmente não tinham ideia, aí o cara que escreveu a matéria baseado em simplesmente nada, em preconceito puro das pessoas que viram a cena que era um ambulante, que dentro da cerimônia existiam vários ambulantes que andavam, andando pelos atletas, andando no meio do publico e tal, e esse ambulante, era até o garoto que fez o Acerola, ele vinha correndo no final da cena da Giselle, vinha correndo com um guarda-sol na mão, de verde, apresentava pra ela os produtos dele, e ela tipo, ah, como se fosse olhando, vendo, e a cena vinha os seguranças, como se fosse uma cena meio que, parecida com o que aconteceu no encerramento de Londres, que o gari dançava no final, com os segurança e tal, e eles vinham pra tirar o cara. Só que levaram esta cena como se fosse um assalto à Giselle, e o cara era simplesmente um vendedor, negro, correndo. E assim, isso me machucou bastante porque era uma cena que fazia uma ligação muito interessante com o Rap da Felicidade, que entra logo em seguida, que é eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela que eu nasci, porque a Giselle entrava no meio dos seguranças e dele, e defendia o fato do cara simplesmente ser um vendedor e não, querer que nada acontecesse com ele. E realmente algo triste, porque muita gente compartilhou, muita gente compartilhou sem saber, sem ler a matéria, porque na própria matéria ele diz que era um suposto assalto, que na verdade fica tudo bem no final, era só uma confusão e não sei quê… Assim, uma tristeza só pra compartilhamento de ódio, e a gente já veio… Você vê onde se chegou, né, cara, nessa tensão de “vai dar certo, não vai dar certo”, uma coisa maravilhosa que a gente tá fazendo, e recebe uma notícia dessa, de um vazamento desse, foi algo realmente triste, a cena acabou caindo, mas eu particularmente me senti muito ofendido com essa questão, muita gente acabou compartilhando, então a gente acabou entendendo completamente errado uma coisa e esse mal que a gente tem de compartilhar, um marketing do ódio, né, o marketing do, ah,
(Bloco 6) 51’ – 1:00’59” – Transcrição de Leticia Dáquer
eu, pô, o cara tá esperando o pior, aí ele já vê e já, pô, vamo compartilhar isso aqui, né possível que isso ta acontecendo, ahmeudeus, e não sabe de absolutamente nada, né. Era uma cena que no começo eu não entendia muito bem, mas aí depois que eu fiz esse link de pensar, porra, cara, é só um cara querendo ser feliz e, vendendo, sendo o ambulante ali, era uma brincadeira, era uma coisa que tinha uma crítica forte, essa crítica do cara que só tá fazendo o trabalho dele, ele é, sofre esse preconceito todo dia, todo dia o cara tá correndo de polícia, e levantaram pra todos os lados, né, porque aí falaram que era o BOPE, que aí tava manchando o nome da polícia, que tava manchando o nome de numseiquê, e eram só seguranças e não tinha nada a ver com o que reverberaram e foi algo muito triste pra todo mundo que tava envolvido. Não foi uma coisa feliz, tirar essa cena não foi uma coisa feliz, e só reafirma essa questão no quanto nós somos preconceituosos e como tem essa visão macro que as pessoas tiveram ali, como eles entenderam errado, como você olhar o garoto negro correndo faz você pensar em si mesmo, sabe.
(música)
Cris: Vamos então ao Trending Topics número 2, porque nem só de festa vive a Olimpíada. Doping. A morte de uma ciclista de 23 anos na abertura das Olimpíadas de Roma de 1960 sob suspeita do uso de anfetaminas, marca o início da guerra contra o doping pelo Comitê Olimpico. Visto como uma traição aos ideais e de fair play, o doping prejudica a premissa de que todos os atletas devem partir das mesmas condições de competir. A guerra às drogas de Nixon, que prevê a criminalização como a melhor forma de combate, também contribuiu para construir a visão do doping que nós temos hoje. Maradona, Armstrong, Giba, Jaqueline, Daiane dos Santos, Mauren Maggi, são alguns dos nomes envolvidos em escândalos recentes de doping. Nos Jogos Rio 2016, o embate veio a tona novamente quando a Agência Mundial Antidoping expôs um esquema estatal de doping na Rússia, que ameaçou deixar toda a delegação do país de fora da competição. Após intervenção do COI, 118 atletas foram suspensos e outros 271 atletas foram liberados para participar. No entanto, a comissão paralímpica, no momento está totalmente excluída dos jogos. Afinal, doping é roubar no jogo? Será que dá pra proibir? Polemicona pra vocês.
Alec: Putz, eu vou começar por um amigo meu que sempre fala…
Peu: …que sempre tá dopado…
Alec: Ao contrário, o seguinte, eu quero ver record sendo quebrado, né, tem mais que dopar todo mundo mesmo, eu quero é que as marcas sejam superadas.
Peu: Eu acho que devia dopar aqueles caras que têm menos condições, assim,né. Tipo, vai dopando, aquele nadador, de onde que era…
Cris: O gordito?
Peu: É, dopa esse cara, velho, vai que ele alcança ali…
Cris: É porque quando a gente coloca o doping no meio, eu acho que fica ainda mais difícil todo mundo ter acesso, deve ser caro isso. E assim, eu não sou uma grande entendedora de esporte, e sei que eles fazem o exame de urina, de sangue, em algumas situações, e aí às vezes tem coisas, tem uma substância, nem sempre essa substância ajuda no rendimento mas ela é ainda assim proibida. Eu lembro desse caso específico da Mauren, que ela alega ter sido um creme de cicatrização pós-depilação, e que no creme tinha uma substância que era proibida. Eu acho superdifícil uma pessoa ter controle de tudo o que ela tá usando. Principalmente atleta.
Alec: O Giba, por exemplo, atleta que foi mencionado, é um doping de maconha.
Cris (rindo): Maconha, desde quando maconha ajuda no rendimento?
Alec: Que a rigor não é uma competição intelectual, né, por gentileza…
[risos]
Peu: É, eu acredito que ele não tenha ficado mais ágil.
Alec: Pois é.
Peu: O Phelps, né.
Cris: O Phelps falou… O Phelps foi muito polêmico
Peu: O Phelps é um consumidor contumaz, né, consumidor de maconha, isso não vai ajudar o Phelps…
Cris: Não, e pra comer o tanto de caloria que ele tem que comer ele precisa de alguma coisa pra abrir o apetite… Agora,
Ju: E realmente maconha é a melhor coisa, não é mesmo?
Cris: Aquela amiga nossa que contou (rindo). Mas o Phelps foi muito polêmico, porque ele disse que ele não sabe se algum dia ele já nadou limpo. Porque também tem muito de preparados, isotônicos, cremes, e uma série de outras coisas que eles usam, que eu acho que eles não têm controle total.
Alec: A própria manipulação dos suplementos, o Cesar Cielo teve um caso, né, que existiu uma contaminação, tecnicamente ele acabou sendo absolvido porque houve uma contaminação num suplemento que tinha sido misturado, entende…
Cris: Sucrilhos com alguma outra coisa.
Peu: Mas é o tipo de coisa que pode acontecer em substancias que realmente cê não imagina, né, e o doping é isso, às vezes é uma lista infinita de itens que…
Alec: E que muda com alguma frequência, né…
Cris: Só pode comer brócolis.
Peu: Eu lembro de um caso antigo do São Paulo na Libertadores, década de 90, que o Zetti tomou chá de coca e caiu no doping…
Ju: É verdade. É verdade. Isso aí foi famooooso…
Alec: Teve o… Falando em São Paulo, ainda nos anos 80, com Naldecon, os jogadores, Zé Sérgio, né, tinha tomado um Naldecon e caiu no exame antidoping.
Ju: Então, mas… Aí, a questão é: primeiro que sempre existiu, né…
Peu: Naldecon.
Ju: …questão de você melhorar o seu desempenho por alguma coisa, e mano, atire a primeira pedra quem nunca tomou café pra ficar acordado, porque não conseguia ficar acordado. Então assim, do café até as coisas que prejudicam, porque assim, tudo prejudica a sua saúde de alguma maneira, né, então você começa no café e você tem gradações que podem até te matar. E aí a questão é…
Alec: Eu comecei com café e depois eu fui pra drogas mais fortes…
Ju: Drogas mais pesadas, né…
Cris: Tipo café com uísque, né… Dez e meia da manhã…
Ju: Mas a questão é pra você barrar pessoas que falam assim, “gente, tem que jogar o esporte limpo, o esporte que é sem aditivos”, bom, sem aditivo nenhum, bem… [Cris: Não temos, senhor.] É um purismo que meio que não temos. Eu acho a discussão superválida quando você vai falar assim… Quanto mais você permitir o doping, porque assim, a Olimpíada, por questão conceitual, no PPT lá, ela é sobre a celebração do espírito humano, sobre o quanto a gente pode chegar. Se você começa a colocar aditivos e aditivos, no final do dia põe um braço mecânico, põe um avião e tá tudo valendo. O que a gente quer saber e o que o corpo humano, é uma coisa, não é você contra o outro, é você contra você mesmo, quão longe você pode chegar, entendeu.
Peu… Eu acho que…
Ju: Então eu não acho essa pergunta impertinente, eu acho essa pergunta OK, ela é interessante, porque se a gente tá numa competição eu contra eu mesmo, a gente quer saber o quê que o ser humano consegue atingir, é pertinente você falar, “cara, eu não quero ter ajuda, com a ajuda eu sei que eu vou mais longe”, com um cavalo eu vou muito mais rápido do que eu correndo sozinha, mas eu quero saber o quanto é que eu consigo correr afinal de contas, entendeu. Então assim, o carro é muito mais rápido que o ser humano, mas mesmo assim eu quero saber quanto que o ser humano consegue, ele sozinho, correr. Então não acho uma pergunta idiota, eu acho uma pergunta interessante. A questão é que eu não sei se tem como controlar. Essa e a pergunta que eu acho mais relevante.
Peu: O que eu acredito e que assim, o doping eu acredito que ele deva ser combatido, porque é uma trapaça, de certa forma, com os outros atletas que tao ali do seu lado. Porém, o que acontece, tem, cês leram no texto aqui falando, pros atletas partirem do mesmo ponto de condições.
Ju: Nunca vai ter, né.
Peu: Os atletas já não partem desse mesmo ponto.
Ju: Já não partem.
Peu: …desse mesmo ponto de condições. Então não tem como você comparar a ginástica artística da Rússia, da China e dos EUA com a do Brasil, da Venezuela, entende…
Ju: Mas, Peu, mas no ponto zero já não chega porque, por exemplo, que chance tenho eu contra o Phelps, entendeu?
Peu: Exatamente isso que eu tô dizendo, é… Você já parte dum, já tem um ponto aí que é, não dá pra comparar. O que cria também do doping é, tem uma lista infinita de ingredientes que não podem ser consumidos, e aí o que acontece, ficam todas as delegações e a maioria dos esportes tentando chegar ao resultado próximo de potencializar resultados, de pedir, de melhorar condições, buscando uma outra lista de ingredientes também.
Ju: Exato.
Peu: Esses suplementos, essas coisas. Então fica tipo, um grupo tentando coibir e um outro grupo tentando burlar isso e melhorar o resultado sem que seja detectado.
Ju: Mas isso não é a guerra às drogas? Exatamente igual, a mesma coisa? Cê fala, cara, a proibição num vai resolver o problema.
Peu: É que aí cê pega o caso da Rússia, ele é meio aberto, e descarado…
Cris: É que foi institucionalizado total, né…
Peu: Ele é estatal, ele tem… Ele tem um esquema que…
Alec: Nesse caso específico sim, o que a gente tem é uma atuação sistemática e de acobertamento, inclusive.
Ju: Sim, é o caso de…
Cris: Dos órgãos federais!
Alec: É inclusive um absurdo, né, atletas russos num poderem competir e outros poderem competir.
Cris: É porque eles, o COI decidiu que as Federações Internacionais…
Alec: Isso, as federações que iam decidir.
Cris: Algumas federações eles permitiram e outras não.
Alec: Tem federações inclusive controladas pela Rússia.
Cris: Que melhor pra eles, né.
Alec: Pois é.
Cris: E… o que eu não consegui entender é como que na Paralimpíadas eles resolvem excluir todo mundo. Por quê que não se aplicou a mesma regra que cada comissão internacional fosse decidir…
Alec: Tem uma coisa, a gente tá falando de doping de corpo, né. Mas tem doping tecnológico também. Ele tem mecanismo na bicicleta, mecanismos na bicicleta…
Ju: Mas na natação isso foi muito discutido na época daquele maiô.
Alec: Isso, o super maiô…
Ju: Muito, muito muito discutido.
Alec: O super maiô em Pequim que foi a maior quebra de records da história da natação, foram 25 records numa única Olimpíada…
Peu: Que maiô, hein.
Alec: Porque se utilizou a tecnologia…
Ju: É menos atrito, gente.
Alec: Só que também não é igualdade de condição, o atleta do Quênia, né, não tem acesso ao maiô que o Phelps tem acesso.
(Bloco 7) 1:00’59” – 1:10’59’’ – Transcrição de Leticia Dáquer
Ju: Então, mas aí a gente tá falando o seguinte…
Alec: Por isso foi proibida a utilização dessa roupa.
Ju: Então, mas a gente tá falando que a essência da competição é sobre descobrir o quê que o corpo humano pode fazer. Se isso é corpo humano com ajuda, ajuda mecânica, ajuda medicamentosa, ajuda de…
Alec: As ventosas lá do…
Ju: É isso que, é assim, é uma área cinza, porque assim…
Alec: O atleta paralímpico…
Ju: A competição não é sobre justiça. Porque no final do dia você nasceu com um biotipo e o cara outro nasceu com outro biotipo e não tem justiça nenhuma nisso, é completa aleatoriedade. Então assim, claro que o esforço, e o empenho, têm um papel extremamente importante, extremamente importante. Mas no final do dia cada um nasceu com uma ferramenta completamente diferente e não há justiça no ponto de partida. Fim, cabô.
Alec: Olha só, o atleta paralímpico que usa aquela prótese e que corre praticamente, né, em [= condições de igualdade
Cris: [igual um leopardo
Alec: [= com um né, um atleta que não é… um atleta que tem as duas pernas.
Cris: Parece que até mais rápido, né.
Ju: Mais rápido, ele é mais rápido.
Cris: Eu fico me questionando porque assim, quando a gente também fala, “não dá pra combater, todo mundo pode usar”, a gente tá indo na mesma linha da roupa, né. As pessoas não vão ter acesso, é muito caro também isso. Quando a gente vê outros países indo com delegações superpequenas que a gente ama, né. Se for duas pessoas só a gente quer que a pessoa seja brasileira, a gente vai torcer pra ela até morrer. A gente ama oprimido. E… Essas pessoas nunca vão ter acesso, sabe. Então a gente nunca vai ter minimamente uma competição onde o corpo humano tá ali pra superar os desafios, nanana, porque algumas pessoas vão ter acesso a usar a melhor roupa, usar o melhor medicamento, e outras não.
Peu: Eu acredito…
Cris: Então cê começa a discutir a essência olímpica.
Peu: O doping ele deve ser combatido sim, eu acho que se uma pessoa tá usando algum combustível pra ela correr 100 metros em três segundos, isso daí tem que ser questionado.
Cris: Tem que ver issaí.
Peu: Mas o que a gente tá falando é que assim, eu acho que alguns itens que estão nessa lista, por exemplo, a maconha, ela meio que passa, ela entra ali por ser proibida em alguns países, e nem se sabe direito por quê que tá ali, o THC não…
Cris: É, talvez rever a lista…
Peu: Transmitir uma mensagem à juventude… Winners don’t use drugs…
Ju: Peço licença à mesa pra discordar, então vou trazer só pra provocar uma visão diferente. Eu acho que o jeito da gente melhor combater o doping não é pela proibição, é exatamente da mesma maneira que a gente usa, ta descobrindo pra droga, é orientação, deixar claro, tá valendo tudo, nem tudo compensa, então saiba, entenda o quê que isso faz pra você, e se é isso que você tá falando, de que “ah, então mas um vai ter mais condições do que o outro”, então a gente vai conversar sobre como dar condições iguais pra todo mundo. Mas não é proibir. Vamo conversar sobre isso.
Peu: Que é a ideia como a gente começou essa conversa, né.
Ju: Mas vamo descobrir! Se você quiser se dopar, sim, se você quiser, não, mas é uma escolha. E vamos debater e escolher. Não é proibir.
Peu: Mas eu não acredito que as coisas sejam tão… A gente consiga ser tão Poliana, sabe, assim, pra entender, eu acho que um atleta olímpico em alto rendimento, um cara que é cobrado por resultados, que ele passa 4 anos praticamente treinando praqueles segundos ali, ele não vai pensar duas vezes, acredito eu, se ele conseguir baixar em 3 segundos, em 4 segundos, o tempo dele, e conseguir bater o cara que tá do lado ali, e o cara do lado ali vai olhar também vai falar, cara, vou tentar baixar esses 3, 4 segundos também, e, entende? Eu não sei se um atleta de alto rendimento que tem condição de alcançar um record olímpico, de alcançar um record mundial, ele vai olhar praquilo, não sei se ele vai virar e falar, vou ter a consciência de não usar, entendeu.
Ju: Mas, Peu, qual é o critério, qual e o critério, porque o critério é, puta, essa substância ela faz mal pro seu corpo? Beleza, deixa eu te contar: o treino que eles fazem também faz mal pro corpo deles e ninguém tá nem aí…
Peu: É, na verdade o critério é uma lista, entendeu…
Ju: Então qual é o critério, entendeu?
Peu: O critério é uma lista.
Ju: Mas por quê? Porque você definiu que é! Então se eu disser que não é, pô…
Peu: Isso, mas aí eu vou dar um exemplo de hoje, o Facebook anunciou que barrou os ad blockers, né. Três horas depois já tinha, né, uma maneira de burlar isso.
Ju: Pois é, então, por isso eu acho ineficiente…
Peu: Essa é a luta contra o doping, né.
Ju: Pra quê?
Peu: Você impõe restrições a substâncias e nós vamos descobrindo outras substâncias que vão sendo utilizadas…
Cris: Eu concordo com isso, eu acho que tem uma discussão anterior a liberar ou não isso, que é por que nós competimos? E aí a gente vai voltar numa coisa muito mais lúdica, e talvez até muito mais antropológica, que é por que nós nos unimos pra torcer? Porque… a partir do momento que você sabe que tudo aquilo é fake, aquilo é construído, eu acho que muda um pouco dessa essência. Não vejo nada de errado em se sentar pra discutir a respeito, acho hipocrisia a gente colocar uma lista gigantesca de medicamento, acho que a gente realmente deveria reduzir a lista ao que altera o potencial de alcance, maconha não altera o seu… Bom, até que aquela amiga minha disse que não altera o potencial de alcance, mas existe um mundo de substâncias que a gente precisa entender os porquês das proibições, acho que vale muito a pena discutir porque a gente sabe que a proibição não dá certo. Mas a gente precisa entender que isso é de jogos…
Peu: Mas aquele negócio da maconha, que tem um cara que eu não conheço…
Cris: Que ele é amigo seu…
Peu: O pior é que é verdade. Um amigo de um amigo meu. Esse amigo comentou que esse brother dele fumava pra caralho e pra puxar ferro. Academia. Porque ele leu em algum lugar que isso melhorava o rendimento dele pra esse tipo de exercício, né. Pro corpo, pro… E ele fazia isso, ele fumava, fumava, fumava e malhava, malhava, malhava, é isso.
Cris: É porque eu fico, o meu questionamento…
Alec: Doutor Google. Já até deu esse programa aqui, né.
Cris: O meu questionamento é, se você não é você quando tá competindo, qual que é a essência da competição?
Ju: Mas quem disse que não é você? Cê não acha que você é você quando cê toma um café?
Cris: Não, é um questionamento que eu tenho, eu não sou necessariamente concordo com isso…
Peu: Fica doidona de café.
Ju: É, é que eu acho que é um puritanismo, assim, isso não nos pertence…
Peu: Tomei um café e não sei como eu voltei pra casa…
Ju: Isso foi construído nos últimos anos mas isso não nos pertence, a gente nunca achou que por causa de tomar um café ou por n coisas a gente não ia ser a gente mesmo. E principalmente assim, esse questionamento de, nossa, mas eu vou lá pra torcer, pra ver o desempenho até onde a gente pode chegar. Ok, com isso você continua vendo, porque não pense que eu, gordinha sedentária, vou tomar todas as balas que o Phelps toma e vou sair nadando que nem ele.
Cris: Vai ficar muito mais gordinha.
Ju: Nunca! Entendeu? Então assim,
Peu: Mas tem uma questão que é assim, eles não tão tomando café, né.
Ju: Não, ok, mas assim, o mérito de treinar, o mérito de ir atrás dos seus objetivos, de… Todos os méritos do esporte continuam acontecendo, independente das substâncias que você tomar. A questão das substâncias é que elas põem em risco real, de fato, agudo, a sua vida. Sua vida útil como atleta, e principalmente sua vida como pessoa, cê pode morrer por conta dessas coisas. Então pra mim é…
Peu: Mas não é isso que ta em discussão.
Ju: A minha discussão é; vamos deixar claro quais são os riscos e você calcula qual é o benefício e tá claro pra todo mundo isso, pronto, fim. Eu não acho que a gente consiga controlar doping, e eu não acho que essa luta, essa guerra contra o doping vá nos levar a lugar algum. Então assim, eu gostaria, purista que sou, eu, Juliana, não pro mundo, pra mim, que se fizesse competições sem doping algum. Pra gente ver até onde a gente pode chegar. A gente não vai ter isso em larga escala, eu não posso impor isso pra todo mundo, então libera!
Alec: Mas aí cê considera, sei lá… Whey, doping…
Peu: Ué! Ele não melhora o desempenho?
Ju: Mas claro que pode considerar! Qualquer coisa pode ser!
Peu: Ele não é feito pra melhorar o desempenho? Ele não é feito como suplemento? Pra melhorar o desempenho do cara na academia, pra ele emagrecer, pra ele… Então é isso, assim, tem muitas coisas que podem ser consideradas doping e que a gente acaba consumindo e, sei lá, eu acho que a medicina da nutrição, da gastronomia, ela é uma das coisas que são mais ágeis, e mais mudam constantemente, então coisas que podem…Substâncias, mistura de substâncias que fazem mal, depois cê saca que não faz tão mal, e, eu acho que o lance do doping é meio que essa a linha de pesquisa, quase, sabe? Que ingredientes eu consigo juntar aqui pra potencializar o meu resultado? É isso. Então eu sinto que a gente tá discut… Rodando em círculo porque eu não vejo um caminho assim possível, tipo, ó, todo mundo tá dopado, ninguém mais vai usar nada, porque o não usar nada é praticamente impossível hoje pro atleta de alto rendimento.
Ju: Não, eu acho utópico. Eu acho utópico, só isso. Eu acho uma coisa mega utópica, entendeu.
Peu: É, não tem como cê imaginar um atleta sem tomar suplementos alimentares, sem tomar uma série de coisa que eles… ele está acostumado a usar pra manter o nível que ele tem. E você tirar tudo isso, você vai ter uma baixa dos resultados, já. E você liberar o doping também, sabe, assim, é…
Cris: Vamo voaaaaar…
Peu: É uma discussão que a gente vai passar aqui a noite inteira e talvez a gente num chegue numa conclusão…
Ju: Tudo bem, é um trending topics, a gente só levantou a bola, mas acho que a gente já falou sobre muito…
Peu: Eu murchei a bola, foi mal.
Ju: Não, eu acho que a gente já trouxe muito mais profundidade pra discussão do que normalmente a discussão geralmente é “doping, que coisa horrível, shame on you, vai pro ostracismo”. Comé que cê ousou usar doping?
Peu: Quem num tá dopado? Quem?
Cris: Quem num tá? A gente tá hoje, a gente tomou um vinhozinho aqui, antes de começar esse programa…
Peu: Eu não, que eu tô tomano água só.
Cris: Tá dopado de cloro.
Peu: É.
(Sobe trilha)
E acordo querendo mais
(Desce trilha)
Ju: Vamos agora para o Trending Topics 3, vamos falar sobre Rafaela Silva e a primeira medalha de ouro do Brasil. A primeira medalha de ouro do Brasil na Rio 2016 veio de uma atleta da Cidade de Deus, uma as mais emblemáticas favelas do Rio de Janeiro. Veio de Rafaela Silva, que em 2012, após ser eliminada das Olimpíadas de Londres, sofreu ataques racistas nas redes sociais capazes de abalar sua confiança até a vontade de treinar. Veio da bolsista que treina no Instituto Reação, projeto social de Flávio Canto. Veio da criança agressiva que estava sempre comprando briga. Veio da mulher que não se encaixou no rótulo de bela, recatada e do lar, e namora há três anos com outra mulher.
(Bloco 8) 1:10’59” – 1:11’59’’ – Transcrição de Leticia Dáquer
Veio, enfim, de quem o Brasil ignora, negligencia, silencia e mata. Vamo celebrar essa vitória, homenagear Rafaela e refletir um pouco sobre o quanto essas violências nos custam como país, e o impacto que uma história dessas tem pra uma nova geração. E aí, assim, todo mundo falou, assim, foi muito contada a história dela essa semana, e isso foi muito legal, foi muito vibrada, e a primeira coisa que me faz pensar, Neil DeGrasse Tyson já falou isso nos EUA, só pra não rolar um viralatismo aqui no meio do programa de, “ah, no Brasil, só no Brasil”, não, no mundo inteiro, a gente se questiona quantos recordistas olímpicos, quantos prêmios Nobéis, quantos empreendedores que mudariam a regra do jogo não estão sub aproveitados e jamais serão descobertos porque estão em situações de risco, em favelas, periferias, e por exemplo aqui no nosso caso…
Alec: Em zonas de guerra mesmo!
Ju: Zonas de guerra… No Brasil profundo, que tá fora dos centros onde as coisas acontecem, enfim. Essa é uma discussão que eu acho interessante, né.
Alec: Eu acho que a gente perde muitos talentos no Brasil pela violência, por uma série de coisas, nas periferias, nas zonas mais afastadas, e também por não ter opções de outros esportes. Aí é uma outra questão que eu acho que não cabe abordar agora, mas a gente perde, e é foda eu acho muito importante louvar a vitoria da Rafaela porque é isso, é um ouro que veio duma menina preta, pobre e lésbica! E não é por, não é louvar por, ah, vamos louvar a minoria, a questão num é essa, a questão é que se a gente não olhar pra essas pessoas que têm menos dinheiro, que têm menos condições, e não dar condições pra elas superarem essa linha da pobreza, pra superarem as condições que elas têm, a gente via manter elas onde elas estão. Então por isso que acho que o ouro dela deve ter pesado pra muita gente, deve tá entalado na garganta de muita gente, sim, que tinha dinheiro, que tinha condições de lutar, de desenvolver no esporte, e não chegou lá. Eu me sinto muito feliz, assim, eu vejo essa vitória com muito carinho, sabe. E é importante que apareçam mais Rafaelas por aí, enfim, eu fiquei realmente emocionado com o que aconteceu com ela e eu acho importante, eu acho importante a gente celebrar e comentar, é importante falar…
Ju: Contar a história dela, né. Não pasteurizar essa vitória.
Alec: O Globo Esporte fez uma matéria muito boa falando sobre isso, inclusive colocando a parte invisível, né, da vitória dela, que é a namorada, que segura todo o rolê da casa pra ela focar só no treino. Essas pessoas são invisíveis também, né, e elas são importantes pra história, a mãe da Rafaela, a namorada da Rafaela, acho que tudo isso é legal de você entender, olha, um atleta não é feito só daquele, daqueles 3 minutos ali, são 3 minutos, sei lá, no judô, ele é feito de toda uma história que tem atrás e que a gente não viu, né. Acho que isso é legal.
Ju: Não, achei bonitinho que ela falou da psicóloga, que ajudou ela a acreditar assim, foram dois momentos em que a gente viu o profissional ser lembrado no discurso do atleta, né. Então teve ela falando assim, cara eu não acreditei mais, eu não quis mais fazer, então eu tive uma psicóloga que me ajudou a acreditar que eu tinha potencial e que eu devia continuar, e enfrentar os meus medos e continuar. E o Diego Hypolitho falou isso também, você falhar em duas Olimpíadas, ele falou, eu não tô aqui pra competir com ninguém, eu tô aqui pra competir comigo mesmo, pra eu vencer os meus fantasmas, pra eu vencer os meus medos, e teve uma psicóloga que me ajudou muito nisso.
Cris: Eu fiquei extrema… Eu não conheço quase nada de judô, né, mas torço que é uma beleza. Então é assim, DÁ NA CARA DELAAAA, assistindo o negócio.
Peu: Você é daquele tipo que ELA GANHOU A LUTA POR YAKISOBA! Ela ganhou a luta por yakisoba!
Cris: Tipo isso! E a gente colocou a televisão no meio do estúdio, tava todo mundo assistindo, e a hora que aparece essas coisas o controle fica comigo, né, hohoho, e aí eu aumento, e fico aimeudeus! aimeudeus! Eu falava assim, olha, ela não tá curtindo” Porque ela é muito, ela tava tão concentrada, né, eu falei nossa, ela não ta curtindo, a menina não tá feliz não? Num vai chorar não? Quando ela foi pra final, e tem toda uma questão de respeito no judô, né, cê do tipo CHUPAAAAA!, não tem isso, a pessoa respeita o adversário, cumprimenta o adversário, tem toda uma coisa contida, só quando acaba mesmo e sai dali que eles começam a comemorar, mas não comemora na frente das pessoas das quais eles venceram, né, é um negócio cheio do respeito…
Peu: Quase igual nas outras modalidades, né, basquete…
Alec: É, nessa olimpíada teve um caso que não foi assim, né, um judoca do Líbano, que era brasileiro, né…
Peu: Sim. Só que se ele não voltasse ao tatame…
Alec: Ele seria punido por dois anos a priori.
Cris: Saiu louco comemorando…
Peu: Não, ele falou que foi roubado e tava questionando a arbitragem…
Alec: Que é algo que de fato não cabe no judô, era tudo o que você falou, mas esse ano nós tivemos um exemplo ao contrário…
Cris: De não isso… Só que não!
Alec: Ele teve que voltar e fazer a saudação pra ele poder sair, senão ele teria…
Peu: Ele seria suspenso liminarmente, né… Apenas Por não ter feito essa liturgia do cumprimento ele já teria sido suspenso.
Cris: E é impossível não ficar descabelada, né. Todas as minas ficam muito descabeladas.
Alec: O técnico dela arrumando o cabelo foi bonitinho.
Cris: Cara, eu ia falar isso, foram três segundos que mexeu muito comigo, ele, a hora da entrevista, ele secou o rosto dela sujo de suor e lágrima, ele colocou o cabelo dela atrás da orelha, ele beijou os olhos dela e colocou ele na frente da jornalista pra falar. Essa relação técnico e atleta é um misto louco, né. A Juliana tava falando isso, né, Ju, que já treinou, o quanto você se afeiçoa àquela pessoa, o quanto aquela pessoa fala “pula!”, cê pula…
Ju: Porque só funciona se você tem confiança irrestrita…
Peu: E ela é fraternal, paternal, depende, né, é muito foda, cara.
Ju: É, e assim, ok, óbvio que justamente como todas as relações de confiança, como mãe e filho, marido e mulher, amigo, todas as relações que são muito profundas, você abre espaço pra um abuso que aí quando o abuso acontece, ele é devastador, claro que nessa relação…
Cris: Joanna Maranhão tá aí…
Ju: …também existe essa possibilidade, né, tá aí o Whiplash que fala sobre isso, né, que aquela coisa é, qual é o limite entre o cara querer te levar ao seu melhor, o quanto ele pode fazer, o quê que vale e o quê que não vale nesse limite, né, assim, isso no esporte acontece demais, mas você vê relações muito legais. O Guga com o técnico dele, que substituiu o pai, todas essas atletas assim, imagina, a ginástica artística teve um técnico que a atleta ia errar o salto e ele pegou a menina no ar, pra ela não se estrebuchar no chão, então assim…
Cris: Flavinha…
Ju: Então é assim uma sintonia, e uma confiança, que eles têm, e que assim, eu acho que como nosso background maior é futebol, a relação de técnico de futebol com jogador, cara, é a caricatura da relação do técnico com o atleta, entendeu. Porque não tem nada a ver. Ah, o professor, o nananã, parece que ele inspira as pessoas… Isso não é nada perto dum atleta e o seu técnico, sabe. Aquele técnico que fica, que pega um atleta de doze anos, de nove anos, e leva ele até o auge da vida dele, que é o cara que tá todos os dias dedicado a esse atleta e que tira o melhor dele, que é essa relação é uma coisa… É muito, transcende, né, é uma das relações mais fortes que tem.
Peu: Inclusive tem alguns filmes, né, que falam…
Ju: Tem, putz…
Peu: que fazem… Que trazem essa história de superação, do personagem, do, enfim.
Ju: Do mestre, que te leva por tudo isso, né.
Peu: Eu acho muito foda. Uma coisa que eu fiquei muito incomodado com o lance da Rafaela é que pra variar, né, a gente, a internet também libera o pior do que a gente tem, né…
Alec: Não vamos notabilizar idiotas, por favor. Sem mencionar nomes, porque nós damos visibilidade a idiotas.
Ju: Isso.
Peu: Boa, brigada, Alec. É uma autoridade… mas teve um jornalista que é crítico musical, diz, né, que é, que fez um tuíte muito desagradável, desnecessário, assim, perdeu uma boa oportunidade de ficar quieto, falando que a vitória de uma favelada não ajudaria outros favelados a não ser ela mesma.
Ju: Puta, aí era o próximo tópico, é muito bom falar sobre isso. Quê que cê acha disso?
Peu: E é o tipo de coisa babaca, porque essa menina já veio de um projeto social, e uma das primeiras coisas que a mãe dela falou assim que ela ganhou foi o quanto ela poderia ajudar o projeto social que ela veio com essa vitória. Porque isso traz visibilidade, traz patrocinadores, e traz dinheiro, e traz condições pra formarmos outros judocas.
Alec: E mais do que isso, inspira as pessoas, né. Eu ia…
Peu: E é isso, imagina a Cidade de Deus como tá agora…
Alec: Eu ia colocar de novo o anticlímax, né, que na verdade talvez vocês não saibam mas eu trabalhei 16 anos como jornalista esportivo, então desde mil novecentos e me esqueci eu ouço essas histórias, eu conheço essas histórias, e de política de estado no Brasil elas não vão ter impacto nenhum.
Ju: Sim.
Alec: Exatamente o que elas vão ter é essa possibilidade de inspirar as pessoas. Então quando você justamente tá dizendo isso, é o maior erro que você tá cometendo. É exatamente nesse aspecto que esse tipo de conquista vai auxiliar, porque politicamente, esportivamente não vai, novamente, não vai acontecer nada no Brasil…
Peu: Economicamente talvez não aconteça né.
(Bloco 9) 1:11’59” – final – Transcrição de Leticia Dáquer
Alec: É, absolutamente nada, mas vai inspirar alguéns, né, a ser uma Rafaela, por exemplo. E isso não tem valor, né, isso não tem custo.
Ju: É, essa era a pergunta da pauta, quanto vale uma história inspiradora, um exemplo que transcende condições desfavoráveis e aspira à grandeza? Quanto vale
Alec: Quanto vale pros jornalistas, né, pra gente vale muito, sabe, cê ter uma boa história.
Ju: Não não não, quanto vale pro menino que todo dia tá lá na Cidade de Deus falar assim, “não é a Giselle Bündchen, a mina que tava jogando bola comigo, a mina que me bateu!” É ela, entendeu? Quanto vale isso, quanto vale uma pessoa…
Alec: Isso é muito maior que qualquer política de Estado.
Ju: Porra!
Alec: Tem vários tabus, né, que numa pessoa só ela conseguiu derrubar, usando um trocadilho babaca, dar um ippon nessas porras todas, mas primeiro o fato dela ser uma mulher, e o judô é uma luta, então é possível que tenha preconceito por ser uma mulher dentro dum esporte de luta, um esporte mais agressivo, por ela ser negra, e por ela ser lésbica, então, assim, cê tem…
Ju: Pobre e periférica.
Alec: Cê tem muitas vitórias numa mulher só, sabe, assim, numa medalha só, essa medalha é muito simbólica, e até agora ela é a única de ouro, né, se não me engano. Pode ser que até o momento em que você esteja ouvindo este podcast…
Ju: Torcemos pra que não seja…
Alec: Esperamos, esperamos que nesse momento, né, a gente tenha subido no quadro de medalhas…
Ju: A gente soube de outras histórias incríveis…
Cris: Pra mim teve uma coisa incrível nisso, que… Pra mim, eu acabei comparando a vitória da Rafaela com a Bíblia.
Peu: Meu deus!
Cris: Cada um lê…
Peu: Nossos comerciais, por favor!
(todos riem)
Alec: O Feliciano também comparou, assim.
Cris: É que na verdade cada um interpreta do jeito que quer, cada um lê do jeito que lhe é mais confortável, cada um usa pra provar o seu ponto. Teve gente que usou pra provar o ponto de “viu como os militares sempre salvam a nossa honra?” Teve gente que falou, “viu, não precisa de feminismo nem de cotas”, teve gente que falou “tá vendo como cotas são importantes?”, teve gente que falou “tá vendo que programas sociais são importantes?”. Então na verdade cê pode… É tão antagônico, tinha gente pegando dois lados completamente diferentes…
Alec: Seres humanos são uma bosta. Resumo, né.
Peu: Que coisa esquisita, né.
Cris: A mina tá lá, ralando pra caramba, lutando…
Alec: A gente poderia tá fazendo um outro programa aqui, né, que a disciplina militar, né, sendo que isso na verdade é uma especie de bolsa, né, os militares se aproveitaram de atletas, né, que já tinham um resultado, pra dar um dindinzinho…
Cris: Pra abraçar…
Alec: …a mais pra eles, e também um pouco de visibilidade, e aliás a Rafaela nem sequer fez a continência no pódio, que eu estava esperando, eu falei “agora a internet vai quebrar ao contrário”, porque até então era favelada-negra-lésbica, e ela vai fazer a continência, e meudeusdocéu, que absuuurdo…
Cris: Vira sargento…
Alec: E não aconteceu a continência, né, o que de certa forma me aliviou, mas…
Cris: Ela falou inclusive… Ela falou que não fez com medo de perder a medalha, porque corre-se o risco.
Alec: E isso, exatamente, ela teria que fazer a continência, porque existe uma disciplina militar, gente, são…
Peu: E os Jogos Militares são concorridíssimos, na real. Os Mundiais Militares, os Panamericanos…
Cris: Eu trabalhei um pouco nisso, é muito louco os Jogos Militares… Lançamento de granada, sabe, uns negócios muito surreais… É sério!
Alec: É, mas tem atletismo, esportes convencionais, eu entrevistei alguns atletas que…
Ju: Gente, vamo parar o programa pro lançamento de granada? Tipo, num dá, né… Comé que a gente continua falando depois disso?
Cris: É verdade…
Peu: Não foi ninguém do lançamento de granada, mas muitos, muitos corredores, enfim, arremessadores, lançadores, são militares. Porque é isso que o Alec tava falando, uma forma dos caras terem uma grana a mais, é uma competição difícil, os Jogos Militares…
Alec: E o militar é ultra competitivo, né, é um dos caras mais competitivos de todos os setores, né.
Peu: E os caras não têm nenhuma função a não ser esportiva. Além do quê, muitas das bases miliares têm uma estrutura melhor do que os lugares que eles treinam. Então agora no Rio eles tinham muita gente que tava indo pra base militar do Rio porque o arco e flecha tinha uma… O tiro com arco, né, tinha uma base boa, na cidade em que o Marcos de Almeida mora, e tem uma base lá. Uma série de outros esportes também tem uma estrutura militar melhor do que às vezes a cidade propicia, o governo…
Alec: Toda essa estrutura que tá aí em Deodoro vai ficar como legado, né, pras Forças Armadas, e é até bom que seja assim, né, porque o Exército de alguma forma ele fomenta a prática esportiva também.
Cris: Sim…
Alec: Então não há uma crítica nisso.
Cris: Não, muito da minha questão é assim, como a gente sempre busca provar o nosso viés com as coisas. O poder de distorção que a gente tem pra sempre provar o nosso viés.
Peu: De distorção ou convencimento?
Ju: Não, viés de confirmação, né, você seleciona da realidade aquelas coisas que confirmam o que você pensa, e dá destaque, e o que nega você vira o olho e…
Peu: Todos nós aqui nessa mesa vivem disso, né.
Ju: Todos. Todos.
Cris: É, confirmação de viés.
Peu: E você que tá nos ouvindo provavelmente aí faz isso também.
Cris: É um jeito que você tem de pregar a sua visão de mundo pros outros.
Alec: Mas eu vejo que as redes sociais potencializam isso muito.
Cris: O interessante disso é que no caso dessa vitória em específico, tinham coisas completamente antagônicas.
Peu: Sim.
Cris: A direita tava usando a vitória dela e a esquerda tava usando a vitória dela.
Peu: Que bom.
Cris: Ambas pra comprovar seu viés.
Peu: A vitória foi usada.
Cris: É isso, né. E pra mim…
Alec: A vitória é dela, né. Por favor, não usem a vitória dela, por gentileza.
Cris: Ela ralou muito pra isso, né. É isso, então? Temos um programa?
Ju: Ainda não. Falta o Farol Aceso.
Cris: Ô meudeus, é mesmo! Vamos então para o Farol Aceso.
(música)
Cris: Vamos então pro Farol Aceso. Vamo começar com as visitas. Peu, por favor, conte pra gente, quê que cê vai indicar?
Peu: Eu tenho duas coisas, na real. A primeira, ela, você tá ouvindo esse podcast na sexta.
Ju: Isso.
Peu: Então estreia hoje The Get Down, que é uma série que conta a história do hip hop no Bronx, nos Estados Unidos, em Nova York, e ela tem produção executiva do Nas, que é um rapper embaçado, e além da série, que é muito foda, eu já assisti três episódios porque eu vou fazer matéria sobre isso, tem um trailer feito especialmente pro Brasil que é uma música do Rodrigo Gi, com Jamés Ventura, e o refrão cantado pela Tássia Reis, e o trailer, ele é dirigido pelo Oga, Oga Mendonça, que vocês conhecem…
Ju: A voz mais amada do Mamilos…
Peu: Que vocês conhecem aqui… Cês precisam ouvir o Oga rimando, inclusive.
Ju: Olha, não vimos isso!
Peu: Não é essa a oportunidade, posso falar então, ouça o Projeto Manada também, que é um grupo que o Oga tinha, do rap underground, e ele é muito conhecido no rap, pelo Projeto Manada, e pela história que ele tem.
Cris: É um homem de mil faces, hã…
Ju: Vou procurar conhecer isso…
Peu: Achei que cês já tivessem ouvido, inclusive…
Ju: Puta, não!
Peu: E o trailer aparece amanhã, a série estreia amanhã, e o Oga dirigiu esse trailer e eu participo desse trailer.
Ju: Olhaí…
Cris: Modelo, manequim e ator!
Peu: Sim, exatamente.
Ju: Canta, dança e representa!
Peu: Jogando as pipoca pra cima lá e assistindo a série na casa do Jamés. Foi divertido. E aí, pra fazer um jabá, mais um, sábado, dia 13, a partir das 15 horas, tem a décima-primeira edição do Rabo de Galo, que é a festa que eu faço junto com o Komodo. É uma festa de música brasileira dedicada ao vinil, uma festa de vinil dedicada à música brasileira, tamo aí… E aí tem a presença do Davi Teiú, que é… Ele tem apenas 12 anos e discoteca muito, é o filho do Komodo, o Teiú… E também vamos ter o Givly Simons, que é a voz e a sensualidade do Figueroas Lambada Quente…
Ju: Não acredito!
Cris: Sério?
Ju: Luiz Higino vai COM CERTEZA.
Peu: E é uma oportunidade raríssima…
Ju: Esse sábado? Vou tentar ir.
Cris: Que legal!
Peu: …de ver o Givly tocando, né.
Cris: Jura?
Peu: E… E ele tem um acervo de brega…
Cris: A gente pode nós duas ficar lá atrás fazendo “lambada, amor…” Pode?
Peu: Pode, ué, pode fazer o que cês quiserem…
(ambas riem)
Peu: O Givly ele tem uma coleção de discos de música romântica, que chamam de brega e tal, que é muito foda, e ele trouxe disco pra cá a gente ta namorando essa participação dele faz um tempo, e vai ser também a despedida da casinha, lá da Amália de Noronha, 256. A Rafa e o Niggas vão se mudar pruma casa um pouco mais dentro do bairro, mais pra dentro de Pinheiros, e aí vai ser a saideira, e vai ser muito alto-astral. Seria legal se vocês fossem.
Cris: Massa.
Peu: Se não conhecem a Casa Brasilis lá, é bom conhecer.
Cris: É bem bonitinho lá.
Ju: E você, Alec, quê que cê indica?
Alec: Eu vou indicar um documentário, porque eu acho que falta um pouco de vida real nas suas vidas, vocês falam só de séries, filmes…
(ambas riem)
Alec: E vai um pouco também na linha… O que o Peu indicou me fez lembrar aqui, que é aqui o Fresh Dressed, que é um doc, um documentário que já tá disponível aí, já pode ser visto, e que conta, né, com muito estilo, né, a história do estilo do hip hop. Então da moda, né, da importância das marcas no hip hop, é um doc bem legal, eu acho que vai inspirar muita gente. A gente falou, né, tanto de inspiração aqui hoje, acho que é muito bacana, a marca não é só aquela coisa malvada, né, mas ela também inspira, né. E esse documentário mostra isso de forma bem marcante, assim.
Peu: E muito bom, mesmo.
Ju: E você, Cris?
Cris: Então, eu vou dar uma dica pra meninos e meninas, e quem não se identifica como menino ou menina, mas quem quiser conhecer melhor o corpo pra explorar os prazeres. Eu li uma matéria sobre sexo tântrico, que uma amiga.. Não, mentira, um jornalista, um casal de jornalistas fizeram, eles fizeram um curso de masturbação feminina. É bastante didática a matéria, e eles têm um monte de foto com uma pepeca de plástico lá, que eles usam pra demonstrar, sobre uma série de coisas superlegais que cê pode fazer com sua namorada, com o seu namorado, com você mesma, achei extremamente instrutivo e acho, principalmente pros rapazes, que querem conhecer um pouco melhor a anatomia do corpo feminino, e parar de bancar o DJ naquele momento, a matéria é muito boa. Vai estar na pauta pra vocês explorarem um pouco sobre masturbação feminina.
Peu: NEssas horas a gente sempre é criticado, né.
(riem)
Cris: A gente não tá falando de música? Então. Banque o DJ somente no momento correto. Ju, conta pra nós.
Ju: Primeiro eu queria indicar um programa que eu fiz, o Código Aberto, com o Márcio Balas, normalmente o Código Aberto acho que não tem muito a ver com os mamileiros, porque ele fala mais especificamente sobre comunicação, sobre criatividade, sobre publicidade, mas o Márcio é sensacional. Ele é O cara que fez florescer o improviso no Brasil, então assim, ele é um palhaço, e eu não sabia que palhaço podia ser uma coisa tão séria, e aí quando eu fui estudar pra fazer a entrevista com ele, o que esse cara já estudou e o que esse cara sabe, e o embasamento que ele tem, e a simplicidade que ele tem pra falar sobre isso, e o jeito super aberto de conversar sobre como que a gente lida com o erro, como que a gente lida com as pessoas, como é que a gente consegue atingir pessoas de idades, sexo, gosto… vivências completamente diferentes, como e que o riso nos desarma, o quê que o riso nos traz, o que que o improviso nos traz, enfim. Uma conversa deliciosa, acho que vale muito a pena, Código Aberto com Márcio Balas. E eu assisti a série Marco Polo, segunda temporada do Marco Polo…
Cris: Juliana bombando nas mesinhas de…
Ju: APAIXONADA, apaixonada, porque eu assisti a primeira, gostei mas nada demais, tanto assim, gosto muito da história, então tava muito interessada, e eu não sei se na segunda temporada eu já conhecia mais os personagens, então me importava com eles, eu não sei se porque deu certo a primeira e eles ganharam mais grana, então os figurinos tavam mais legais, os cenários tavam mais legais, tinha mais grana de produção pra fazer as cenas de batalha, enfim… Mas eu curti demais, adorei o desenvolvimento de cada personagem, adorei as histórias, curti muito, então vale a pena Pra quem se empolgar, depois vale a pena ler a série do Conn Iggulden chamada O Conquistador, que fala justamente sobre Gengis Khan. É isso?
Cris: É isso. Temos então o Mamilos número 77, muito obrigada, esse momento, essa presença…
Alec: Sete sete pra um corintiano é cabalístico, né…
Peu: Pra punk também…
Cris: Fica a gostosa sensação…
Alec: Entendedores entenderão
Cris:… de passar essa vibe boa para punks e corintianos e pra todos os mamileiros. Brigada, gente, um beijo.
Ju: Beijo.
Peu: Tchau.
(música)