“Passageiros” explora ficção científica, romance e ação, mas sem grande sucesso em nenhum deles

“Passageiros” explora ficção científica, romance e ação, mas sem grande sucesso em nenhum deles

Assim como em “O Jogo da Imitação”, o diretor Morten Tyldum abandona as questões mais provocativas em prol do convencional

por Virgílio Souza

⚠️ AVISO: Contém spoilers

Escrito por Jon Spaihts antes mesmo que ele fosse contratado pela Fox para criar “Prometheus” e pela Disney para adaptar “Doutor Estranho”, o roteiro de “Passageiros” frequenta as salas de executivos de Hollywood há quase uma década. Diferente do que costuma acontecer na indústria, pouco foi mudado entre a proposta inicial e a versão que chega aos cinemas agora. Os produtores provavelmente solicitaram um desfecho mais otimista (ou mesmo “feliz”), que combinasse com as figuras de Chris Pratt e Jennifer Lawrence e seus potenciais de bilheteria, mas as alterações não atingiram as ideias centrais que, em 2007, colocaram o projeto no topo da black list (lista de melhores roteiros ainda não desenvolvidos).

É raro ver um conceito original ser não apenas preservado ao longo de suas reedições, como também levado adiante pelo estúdio com alto orçamento e certa liberdade criativa. O problema é que, neste caso, o desastre estava anunciado desde o início, e Morten Tydlum, o diretor escolhido para a ocasião, apenas tratou de confirmá-lo: “Passageiros” definitivamente não sabe o que quer ser.

O diretor Morten Tydlum com os protagonistas no set

“[O filme] é um drama filosófico, uma comédia existencial, uma história de amor, um thriller de sobrevivência, um épico espacial”, diz Spaihts em entrevista. O roteirista trata essa “passagem entre gêneros” como algo positivo, mas é ela quem condena o longa em primeiro lugar, principalmente porque os responsáveis nunca abraçam essa “fluidez”.

Tydlum, por sua vez, repete duas das piores marcas de seus trabalhos mais recentes. Como em “Headhunters”, ele enfileira plot twists como se não houvesse outro recurso possível, incapaz de criar algum senso de consequência entre as cenas; e como em “O Jogo da Imitação”, abandona as questões mais interessantes em prol do que existe de mais convencional na trama. Ainda, o diretor não demonstra confiança ao articular suas metáforas: como se não confiasse no próprio texto, sempre usa a imagem para confirmar o que foi dito (se um personagem usa a ideia de um afogamento para ilustrar uma situação, é questão de tempo até outra personagem se afogar literalmente).

De todo modo, o primeiro terço do filme, quando tudo parece mais controlado, é o que funciona melhor. Após três décadas hibernando ao lado de outras cinco mil pessoas na nave Avalon rumo a Homestead II, uma colônia da Terra, Jim (Pratt) acorda inesperadamente. Ainda faltam noventa anos até o destino final, e o rapaz se vê obrigado a buscar soluções sozinho. Voltar a dormir é impossível, assim como estabelecer contato ou tomar um retorno na viagem.

Trailers e o restante do material de divulgação escondem a provocação central do filme

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Meio “Perdido em Marte” pela combinação entre habilidade e improviso, meio “Robinson Crusoé” pelos efeitos do deslocamento e da solidão no personagem principal, esse segmento inicial tenta se beneficiar do carisma de seu protagonista. As interações com o bartender-robô Arthur (Michael Sheen) são divertidas, mas incomoda um pouco que o diretor acompanhe seu processo de descoberta (e posterior desilusão) de maneira tão burocrática. Apesar do design curioso, a nave carece de personalidade, e as atividades que ocupam um ano inteiro são filmadas apenas em montagens rápidas, pouco preocupadas em preparar o ambiente para a grande virada a seguir.

Os trailers e o restante do material de divulgação escondem, mas o ponto-chave dessa aventura com dois dos maiores atores da atualidade não é uma provocação pequena. Depois de cogitar suicídio, Jim decide despertar Aurora (Lawrence), desesperado por companhia e insensível aos efeitos de suas ações — acordá-la significa também condená-la à morte ali, naquela mesma nave. Durante uma parte desse segundo capítulo, porém, a omissão prevalece, e o que se vê é um romance regado a piada sobre a vida no espaço, com acenos estranhos para “Titanic”.

Construído como o de um típico produto de ação, o desfecho não consegue ser envolvente ou criativo

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Mesmo quando entrega sua grande revelação, Tydlum não aproveita os questionamentos que havia introduzido. Em vez de explorar os vários porquês espalhados pela trama, o diretor escolhe as saídas mais fáceis e pinta a ruptura do casal como a de um romance normal, que nada depende do contexto próprio da ficção científica e da gravidade do ocorrido. Dado o contexto, a cena em que a garota é surpreendida pelo rapaz no refeitório, por exemplo, não poderia se desenrolar como um acidente de percurso banal, terreno, quando, na verdade e nas palavras de Aurora, representa um improvável reencontro entre assassino e vítima.

Apesar do modo como sua personagem é tratada, Lawrence se mostra dedicada a dar ao filme alguma pulsão. Quando a câmera se volta pela primeira e única vez para o passado e ela assume a narração, “Passageiros” desperta legítima curiosidade. Olhar para as motivações e escolhas proporcionadas pela tecnologia parece ser uma tendência do gênero em tempos recentes (“San Junipero”, episódio da terceira temporada de “Black Mirror”, já havia tratado do tema com maior profundidade, ou ao menos mais concentrado em sua alegoria). Aqui, embora feita de passagem, essa reflexão revela uma atriz mais interessante do que o material oferecido a ela.

Na virada para o ato final, a direção confirma sua falta de rumo. Construído como o de um típico produto de ação, o desfecho não consegue ser mais envolvente ou criativo do que, digamos, aqueles dos trabalhos que consagraram suas duas estrelas (não é preciso ir longe: mesmo “Jurassic World”, contestado por várias razões, conseguia aproveitar melhor as habilidades de Pratt no momento decisivo).

Tydlum, que afirmava querer um filme “intimista e focado nos personagens” e, ao mesmo tempo, “com escala épica”, se mostra satisfeito em ter realizado o primeiro e passa a se concentrar apenas no segundo — como se as duas coisas existissem de maneira independente. Também ele, que dizia rejeitar “roteiros que são apenas sobre salvar o planeta ou combater alienígenas”, acaba se contentando em evitar a explosão de uma nave — como se esse ato heroico justificasse, sob qualquer perspectiva, os absurdos anteriores, inclusive com relação aos personagens com os quais ele diz se importar. Em um sentido geral, “Passageiros” é três filmes em um: ficção científica, romance e ação. É uma pena que nenhum deles tenha sucesso, e que colocá-los em sequência sem aparar as arestas apenas comprometa ainda mais o pacote completo.

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