Transcrição: Mamilos 87 – Efeito Estufa, Nobel de Bob Dylan e Boatos
Jornalismo de peito aberto
Esse programa foi transcrito pela Mamilândia, grupo de transcrição no Mamilos
Início da transcrição:
[Vinheta de abertura]
Esse podcast é apresentado por b9.com.br
[Trilha Sonora]
Ju: Chegou a hora mais feliz da semana! Bem-vindos ao seu espaço de conversa com empatia, inteligência e bom humor. Eu sou a Ju Wallauer, essa é a:
Cris: Cris Bartis.
Ju: E hoje TEM polêmica! Caio, fala pra mim que que eu faço com o remorso de ter colocado um programa sobre divórcio no ar e não ter lembrado de te pedir pra tocar Drão? Depois eu fiquei ouvindo a música e choraaaaando! [Risos Ju e Cris] Eu acho que merecia, eu amo essa música, acho linda e acho que ela tem muito o toque que a gente deu pro programa de divórcio, né?
Cris: Tinha mesmo! Vai ter que fazer outros, será?
Ju: Vamos ter que fazer outro! [risos]
Cris: E Caio, essa semana tenho um pedido especial! Toca Sabotage pra gente pra comemorar esse disco póstumo depois de 11 anos? Que me pareceu atual e gravado ontem. Põe aí!
Caio: Olá personas! Corraini aqui novamente para trazer para vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos desta semana. Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical deste programa pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no e-mail: [email protected]. [email protected].’brrr’. Facilita, e muito, a minha vida se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele para utilizar no episódio. E nessa edição, vocês já sabem, então fiquem aí com Sabotage no Som do Mamilos.
[Sobe trilha]
Fez jus à questão
Cantou construção
Veja só meu irmão
Som de ladrão
Nenhum sem maldade
Até proceder, se criar pra quê?
É melhor temer
Eu caminho em paz
Onde quer que eu vá
Sou louco mais do que consciente
Minha mãe jaz onde quer que eu vá
Pode crer rapaz
Tenho ela em mente
Dj scratch, escreve um rap
Nos diverte, vai pra frente
De repente um disco pula
O beat muda, a culpa é sua
[Desce trilha]
Cris: E beijo para: Montanha no Espírito Santo.
Ju: Aracaju em Sergipe.
Cris: Itajubá, Minas Gerais em especial pra Ana Lígia.
Ju: Unaí em Minas Gerais.
Cris: Gosto demais, tá vindo todo mundo!
[Risos Ju]
Cris: João Pessoa na Paraíba.
Ju: Londrina no Paraná.
Cris: Goiânia, que é a capital de Goiás.
Ju: Fortaleza, no Ceará. Terra da Jandaia.
Cris: Sorocaba em São Paulo.
Ju: Olinda em Pernambuco.
Cris: Piedade de Ponte Nova em Minas.
Ju: Montreal no Canadá.
Cris: Boston.
Ju: Pra Maria Cristina, Nayra, Priscila Schall. São mãe e filhas que escutam Mamilos juntas e fizeram uma delícia de bagunça no meu post sobre divórcio. Uma declaração pra outra, coisa mais putuzinha. Eu adoro gente que escuta o programa com a mãe. Beijos suas fofas.
Cris: E gente é aquela coisa, né? Agora a gente mudou o nome desse quadro para ouvidoria mamilos.
[Risos Ju e Cris]
Cris: Então fale com o mamilos, a gente tá lá no Facebook, no Twitter, na página do B9. Tem nosso e-mail cheiroso, esse cantinho particular que é o: [email protected] . E nossa equipe linda e cheirosa:
Edição e Som do Mamilos com Caio Corraini
Redes sociais com Luanda Gurgel e Guilherme Yano
Apoio a pauta com a Taty Araujo
Transcrição dos programas com Lu Machado e equipe.
Vamos então pro fala que eu te escuto?
Ju: Bora!
[Sobe Trilha]
Canão foi tão bom…
[Desce Trilha]
Ju: Bruno Moreira: Cris e Ju, o programa foi, mais uma vez, incrível! Me ajudou muito! Estou casado há 14 anos, e não têm sido fácil os últimos meses, muitas mudanças em nossas vidas e meu filho mais velho acabou de completar 13 anos. A adolescência tem sido difícil demais. Coloquei em dúvidas algumas vezes o meu casamento e ouvindo o programa eu vi que muito era exagero e desnecessário da minha parte. Hoje eu decidi que devo mudar algumas atitudes e me esforçar mais para cuidar daquilo que eu mais amo: a minha família. Tenho 35 anos e estou há 17 com a minha esposa! Quero continuar essa história, mas de uma maneira mais saudável. Muito obrigado por aliviar tanto a minha vida!
Cris: Thiago Christão: Primeiro parabéns pelo podcast, muito informativo, muito educativo, muito tudebão. Conheci o programa através de uma amiga que mora aqui na Austrália também, infelizmente ela na Golden Coast e eu em Western Australia. O episódio sobre o divórcio foi uma terapia pra mim. Me separei há pouco mais de um ano aqui, tenho dois filhos e a ex é australiana. Vocês comentaram sobre o programa de guarda compartilhada e também sobre os programas de conciliação e de assistência psicológica aos pais em como tratar com as crianças após a separação que o Governo Australiano oferece, e vale aqui um adendo sobre: Como a Dra Ana disse algumas vezes durante o programa, nada disso adianta quando uma das partes age de má fé ou com a única e exclusiva intenção de prejudicar a outra. Pois bem, esses programas assistenciais aqui na Austrália são realmente ótimos no papel pra quem vê de fora. Na prática, como as leis muitas vezes garantem um poder excessivo a mãe, como no caso da comunhão de bens no Brasil, não funcionam muito bem. Eu tentei aqui por duas vezes a mediação e a mãe dos meninos não compareceu. O Centro Comunitário então emite um certificado que é a minha prova na corte que eu tentei conciliar mas sem cooperação da outra parte. A conciliação é o ponta pé inicial para o programa de assistência psicológica já citado. Sem a conciliação nada pode ser feito e a única razão pela qual ela não compareceu é porque sabe que teria de abrir mão por lei de alguns dos bens que manteve após a separação e também a guarda quase que única das crianças. O próximo passo é ir pra justiça, o que vai custar uma fortuna. Só expliquei a historia toda pra exemplificar que nem sempre, mesmo com um apoio super importante do governo, as coisas funcionam como deveriam…
Ju: É que assim, ele fala de custo, mas o maior custo que ele vai pagar são os filhos dele, que foi o que a gente falou no programa, né? E isso é muito difícil, porque ele tá na mão dela agora, né? Por mais que queira ser razoável, quando um não quer, no divórcio não dá…
Cris: [interrompe] Não dá pra saber.
Ju: Mas a questão não é essa. Assumindo que fosse essa questão. O problema é esse, você não precisa julgar quem tá certo ou não. É só falar assim, vai ter caso em que não tem o que fazer, os seus filhos vão sofrer, você vai ver seus filhos sofrerem.
Cris: É!
Ju: Quanto mais você brigar, mais ele vão sofrer. E não brigar por eles – é bom que fique bem claro – não quer dizer que eles não vão sofrer. Que fique muito claro isso: pai que quer parar de brigar na justiça para que os filhos não sofram, não faça isso! Não funciona! Não tem saída fácil desse enrosco, é um dos piores que tem.
Paloma Delgado: Achei interessante a fala da Ju sobre a injustiça da comunhão parcial de bens, mas não sei se concordo 100%. Quando você constrói uma vida com uma pessoa, por mais que não haja uma colaboração financeira direta, tudo é feito junto. Eu moro com meu namorado e faço faculdade. Será que eu conseguiria fazer a faculdade se não dividíssemos as contas? Ele comprou um carro. Será que teria comprado um carro se tivesse que pagar o aluguel sozinho? Eu montei uma empresa. Será que teria conseguido levantar uma empresa se tivesse que mobiliar a casa sozinha? E a casa de campo? E as viagens? E a cortina que era para ser a mais barata e ficou a mais cara?
Paloma, achei muito bom o teu e-mail, teve outros e-mails parecidos. Eu fico pensando: se você dividisse o apartamento com outra pessoa, quanto disso também não seria verdade? E nem por isso vocês dividiriam bens porque vocês dividiram apartamento por um tempo. Então é isso que eu acho, assim, até teve… eu não sei se ficou muito claro que eu acho quando filhos entram na questão aí tudo muda. Mas pra mim, pra mim e acho que ficou bem claro durante o programa, porque a Ana Canosa deixou bem claro, que era uma questão ética minha. Não, realmente não dá pra você refletir isso em lei, é uma inquietação ética minha. Mas realmente é polêmico.
Cris: Juliana Nunes: Boa tarde! Meu nome é Julianna, carioca da gema, 20 anos, estudante de direito e ouvinte assídua de vocês. Contando um fato curioso: quando vocês anunciaram que viria um episódio sobre divórcio, pensei: esse episódio vai demorar pra chegar, vou ter tempo de ouvir numa boa. Daí vocês avisam: VAI SER SEXTA-FEIRA. Pensei ‘putz, como assim sexta agora, eu tô cheia de matéria pra por em dia, semana de prova começa segunda. Opa, segunda!! De que que é a prova de segunda? DIREITO DE FAMÍLIA’.
Depois de dois dias estudando, que casa, descasa, une, desune. Considera a união estável e o casamento ao mesmo tempo pra ninguém sair perdendo. Mas e a mulher do caso concreto que tá vendendo os imóveis do casal porque tá sabendo que o marido descobriu que ela foi presa e quer anular a sociedade conjugal porque houve erro quanto à identidade moral dela, e mais outros assuntos. Parei pra ouvir o episódio e olha, nem fiz a prova ainda, mas DE JÁ AGRADEÇO PELA REVISÃO ACALORADA, e cheia de casos práticos pra pensar. Agradeço por um dos melhores e mais concisos episódios que eu já escutei desde o primeiro. Um beijo grande nas duas!
Ju: Claudio Oliveira Nascimento: Meninas, mais um brilhante podcast, sobre um tema que aflige quase todos, ou a grande maioria. Sempre, quando não você mesmo, alguém na família ou no círculo de amigos já passou por um divórcio. Eu só gostaria de colocar um contraponto para ajudar na discussão. Acho que a questão dos filhos no divórcio é um pouco mais complexa; eu vivi essa realidade de 03 formas: fui filho de pai separado, sou pai de filho separado, e trabalhei em um projeto social que atendia adolescentes de 10 a 15 anos. O que posso dizer é que existem marcas que o filho vai levar para o resto da vida. Entendo a opinião da Ana sobre isso, mas por outro lado, vejo que é um ponto que precisa ser tratado com uma das partes mais complexas e delicadas em um processo de separação. Mais uma vez, parabéns pelo programa!!
Cris: Acho importante citar que o foco do programa não foi esse, por isso que o assunto foi tratado de uma maneira muito rápida. A gente sabe muito bem o que que o divórcio pode causar, não só pros pais como pros filhos. Mas o foco mesmo era falar de relacionamento. Muito bom esse e-mail aqui complementando nossa visão, que ela é, sim, muito complexa e profunda.
Ju: É e a gente tem uma episódio que a gente acaba aprofundando melhor nisso que é o episódio de Guarda Compartilhada [Mamilos #4], né? Que é um programa inteiro só pra falar disso. Ah, eu acho importante pra encerrar os comentário sobre esse programa… Depois eu fiquei… eu escutei o programa, eu gostei muito, eu achei muito gostoso de ouvir. Aí depois quando terminou eu fiquei pensando nossa, mas assim a gente falou de casos tão… de pessoas bem resolvidas, de pessoas que sabem o que querem, que estão dispostas. Um cenário tão ideal, e se o amor só existisse nesse cenário ideal, né? E eu acho que é por isso o amor é tão revolucionário, porque ele aceita todo mundo. Quem chega machucado demais, quem chega com muitos traumas, quem chega sem dinheiro pra investir, quem chega com muitos erros, quem chega cego, quem chega sem se enxergar e sem enxergar o que que quer. o amor aceita todo mundo! Acho que a gente não colocou isso no programa e que assim amor é diferente de relacionamento. O seu amor você vai dar, independente das condições da pessoa. Estar num relacionamento ou não, é uma escolha. Porque aí relacionamento eu acho que é mais racional, no sentido que você tem expectativas, você tem necessidades que precisam ser atendidas. Amor não é!
Cris: E é por isso que a Ana Canosa falou que o casamento é o relacionamento que mais te faz crescer porque esse é um trabalho diário para manter esse amor. É por aí…
[Sobe trilha]
[Desce trilha]
Cris: Vamos então saber quem está aqui na mesa com a gente hoje pra conversar nesse programa de Trending Topics? Vamos começar com um parente da casa? Oi, Dani.
Daniel: Tudo bem?
Cris: Se apresente, por favor.
Daniel: Bom, , sou aqui um assíduo fã, já fiz uma ou duas participações e de novo recebi o convite. Foi uma puta alegria.
Cris: Delícia ter você.
Ju: [interrompe] Você está na cota de família, né?
Daniel: Eu tô na cota da família.
[Risos]
Cris: Muito bom ter você de volta aqui. E do meu lado aqui, minha querida xará, amadinha. Oi, Cris.
Cris de Luca: Oi.
Cris: Cris de Luca, amada. Salve, salve. Apresente-se por favor.
Cris de Luca: Cris de Luca, jornalista que de vez em quando da o ar da graça aqui no Mamilos porque as meninas gentilmente me convidam.
Cris: Mentira, é que a gente exige a presença dela.
[Risos]
Ju: Cris, conta pra eles o que que a gente tá preparando, o que que a gente vai fazer. Um programa bem legal pra eles sobre o que…?
Cris de Luca: Ahhhh a gente vai fazer uma atualização de Mariana.
Ju: A gente prometeu, a gente vai entregar e essa a gente está fazendo assim, ó, no capricho. Tá? Podem nos cobrar. Estamos fazendo.
Cris: Vamos então pro Giro de Notícias. Notícia número um: rebelião sinaliza o fim do pacto entre PCC e CV e espalham tensão em presídios. Rebelião no presídio Franco da Rocha, em São Paulo, termina com fuga de duzentos a trezentos detentos. Em Boa Vista, ao menos dez presos do Comando Vermelho foram mortos quando detentos ligados ao PCC arrebentaram os cadeados que separavam as alas e invadiram o setor da facção fluminense. Motim da prisão em Porto Velho deixou oito mortos. A explicação do ataque coordenado vem de Uziel de Castro, Secretário de Justiça e Cidadania de Roraima: “Eles declararam guerra entre as facções. Estamos percebendo nacionalmente o rompimento desse acordo entre eles”. Parece ser o fim de uma aliança de quase duas décadas entre as duas maiores facções criminosas do Brasil com consequências ainda não previstas.
Ju: Não existe vacina grátis. Jason Cone, Diretor Executivo do Médico Sem Fronteiras nos Estados Unidos, publicou um texto explicando porque a organização rejeitou a oferta da Pfizer de doar um número significativo de doses da vacina contra a pneumonia para as crianças que eles atendem. O texto fala da luta para ampliar o acesso às vacinas e medicamentos a preços mais baratos e de como os monopólios ou oligopólios do mercado farmacêutico contribuem para manter os preços artificialmente altos, negando a milhões de pessoas o acesso ao tratamento. A gente vai colocar o link na pauta. Eu recomendo muito que vocês leiam. Além da questão humanitária forte que existe nisso, pela questão de argumentação desse texto. É muito legal porque a manchete, ela é incompreensível. Como que um órgão que é desesperado para salvar vidas de crianças, eles sabem que pessoas vão morrer por conta dessa decisão, como que eles negam uma ajuda que eles precisam tanto? Ele faz uma análise muito boa. Acho que vale a pena a gente acompanhar.
Cris: E quando você achar que você tem decisões difíceis para tomar [Risinho da Ju] lembre-se desse moço que deve ter perdido umas boas noites de sono pra tomar essa decisão. Trending Topics [Giro de Notícias] número três [Cris canta a vinheta do Plantão da Globo]: Cunha preso em Brasília por decisão de Sérgio Moro. O ex-deputado Eduardo Cunha foi preso em Brasília pela Polícia Federal nessa quarta-feira [19/10/2016] e a sua casa no Rio foi alvo de operação de busca de apreensão. A prisão preventiva foi determinada pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, na primeira instância da justiça. O peemedebista perdeu o mandato de deputado federal em setembro após ser cassado pelo plenário da câmara. Com isso ele perdeu o foro privilegiado, que é o direito de ser processado e julgado no Supremo Tribunal Federal. A idéia agora é que o julgamento dele, do ponto em que está, continue, mas nas mãos do Moro.
Ju: Vamos então para o Trending Topics um? A gente vai falar de uma nova conferência para discutir o clima, que aconteceu em Ruanda. Cento e cinquenta países se reuniram nesse sábado em Kigali para Conferência de Ruanda para discutir a redução do efeito estufa. O encontro gerou um acordo para reduzir gradualmente o HFC, substituto do CFC em geladeiras, ar [ares] condicionados e aerossóis entrará em vigência no início de novembro com o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a menos de dois graus celsius. John Kerry, Secretário de Estado dos Estados Unidos, disse sobre o acordo: “Esse é um passo monumental que responde às necessidades das nações em particular e nos dá a oportunidade de reduzir o aquecimento do planeta em meio grau centígrado”. Para entender um pouco melhor sobre esse tema, a gente trouxe a advogada da ONG Uma Gota no Oceano, Stela Herschmann, que está acompanhando de perto essas negociações.
Cris: Stela, explica pra gente, qual é o problema?
Stela Herschmann: O Protocolo de Montreal na verdade foi criado para resolver o problema na camada de ozônio. Os nossos aparelhos de geladeira, ar condicionado e sprays de antigamente continham um químico muito danoso à camada de ozônio, que era o CFC, e isso criou um buraco enorme que trazia vários danos à saúde das pessoas. Então foi feito o Protocolo de Montreal que eliminou progressivamente esses gases, esses químicos e eles aos poucos foram sendo substituídos por outros que fossem menos danosos. Um desses gases é o HFC, que hoje em dia é o que tá sendo substituído, né, que estava entrando no mercado como a salvação para a camada de ozônio porque ele de fato não prejudica, porém se descobriu que ele causa um outro problema: ele é um gás muito potente no aquecimento global. Então os países do mundo agora se reuniram para tentar eliminar esse que é um dos seis gases principais de aquecimento global e é um dos mais potentes e o gás que na verdade mais cresce na produção e consumo no mundo.
Ju: Qual foi o compromisso firmado?
Stela Herschmann: Depois de anos e anos se discutindo se o Protocolo de Montreal poderia também cuidar de uma questão de aquecimento global, os países do mundo, agora em Kigali, na reunião que foi feita na semana passada, decidiram que sim, que o Protocolo de Montreal teria uma emenda para eliminar os gases HFCs e assim se adotarem substâncias químicas e alternativas que não só não causam destruição da camada de ozônio como também tenham um baixo potencial de aquecimento global.
Cris: Mas como que isso funciona no dia a dia, na prática?
Stela Herschmann: O Protocolo de Montreal ele sempre funciona da seguinte forma: os países envolvidos, chamados Países do Artigo Segundo, eles agem primeiro, isso significa que eles congelam sua produção e consumo antes, eles reduzem, começam suas etapas de redução, também antes e com isso a tecnologia, as alternativas se desenvolvem e se barateiam. Depois começa a fase dos países em desenvolvimento, chamados [Países] do Artigo Quinto, entre eles o Brasil, Índia, China, todos esses. No entanto, essa emenda de Kigali teve uma diferença, ela na verdade dividiu os países em desenvolvimento em dois grupos: os chamados Mais Ambiciosos, que foram China, Brasil e outros, todos os países da África, que assumiram compromissos mais cedo e por isso vão ter acesso a financiamentos também diferenciados; e outros países, como a Índia, que preferiram assumir metas mais tarde. Outra particularidade do Protocolo de Montreal é que ele possui uma instituição de financiamento próprio, que é o fundo multilateral. Isso serve para ajudar os países em desenvolvimento a fazerem a conversão de tecnologia. Quem financia, quem dá os aportes de capital, são os países desenvolvidos. Na verdade, o Protocolo de Montreal ele sempre foi muito eficaz, ele já eliminou quase cem substâncias. A gente espera que vá ser o mesmo, a gente espera o mesmo resultado com os HFCs, porque são as mesmas indústrias envolvidas e é um acordo que tem instituições sólidas e com experiência em lidar com esse assunto. Então há expectativa de grande sucesso com mais essa emenda ao Protocolo de Montreal.
Ju: Por que que isso foi uma vitória, se é que você considerou uma vitória? E, se não, por que que [não] foi considerado uma vitória e quais as suas considerações sobre isso.
Stela Herschmann: O acordo de Kigali, firmado na semana passada, foi celebrado por líderes do mundo inteiro e inclusive por setores industriais como uma grande vitória. Ela estava sendo realmente muito aguardada porque o potencial de mitigação que ela apresenta é muito grande. Por exemplo, o acordo de Paris feito em dezembro de 2015, que foi o grande acordo do mundo pra se tentar resolver, pra tentar conter as mudanças climáticas, ele prevê uma meta ambiciosa, que a gente ainda não tem um caminho claro de como vamos chegar, de evitar o aquecimento global de 2 graus celsius. E com ambições de conter esse aquecimento a 1,5. Essa emenda firmada em Kigali ela traz um potencial de você evitar até meio grau de aquecimento global até o final do século. Então na verdade ela é um instrumento muito eficaz, como eu disse anteriormente, com promessa de trazer um benefício climático muito grande. Uma das razões desse benefício climático é que os HFCs eles são gases de vida curta, então eles ficam menos tempo na atmosfera do que o CO2. Então é como se a gente tivesse que puxar dois freios de mão ao mesmo tempo: o do CO2 pra gente conseguir ficar dentro dos 2 graus celsius ou melhor ainda, dentro de 1,5. Mas isso vai levar muito tempo. Enquanto isso, a gente puxa o freio de mão, que é a eliminação ou a redução dos HFCs, que eles vão ser eliminados muito mais rápido, então você vai sentir um benefício disso muito mais rápido na atmosfera.
Cris: E por que que os países se comprometeram dessa vez? O que que afinal mudou pra mudar a postura?
Stela Herschmann: Na verdade, o protocolo de Montreal ele é considerado o tratado de meio ambiente mais bem sucedido da história. Ele tem adesão de quase duzentos países, ele já eliminou mais de cem substâncias em quase cem porcento. As decisões são tomadas por unanimidade e todos os países sempre conseguiram cumprir suas metas porque eles tem instituições muito fortes. Então quando surgiu a ideia de se usar essas instituições pra ajudar a resolver um problema das mudanças climáticas eliminando um gás que aumenta sua presença na atmosfera justamente devido ao protocolo de Montreal, a gente sabia que isso era uma estratégia que tinha um potencial muito grande de dar certo, né, de ser implementado de maneira eficaz. Os líderes mundiais foram sensíveis a isso, ao longo de muitos anos de trabalho. Essa emenda tá em discussão já há alguns anos e também tivemos o apoio do setor produtivo que viu nessa emenda uma oportunidade de se modernizar e que quis também, apoiou essa transição.
[Sobe trilha]
É, ladrão…
[Desce trilha]
Cris: Vamos então pro Trending Topics número 2: o Nobel do Dylan. Qual é o fato? O anúncio nesta quinta-feira, dia 13 [de outubro de 2016], do prêmio Nobel de Literatura foi surpreendente, no mínimo. Seu ganhador é o músico Bob Dylan, de 75 anos. É a primeira vez que o prêmio máximo da área vai para um compositor. Para a Academia Sueca, responsável pelo prêmio, Dylan é um poeta na tradição da língua inglesa e segue ativo pelos últimos 54 anos, constantemente reinventando a si mesmo. Ele mesmo já foi laureado com o Oscar, Grammy, Globo de Ouro e uma citação especial no Pulitzer. Até agora ele nem respondeu. Apenas um silêncio e nem disse nada, nem um “brigadinha”.
Cris de Luca: Ele ainda não respondeu mesmo?
Cris: Não!
Ju: Não… nem “obrigada”, nem se vai na festa…
Cris de Luca: Até semana passada eu sabia, agora nessa semana achei que já…
Cris: Não… ele falou “que prêmio, o que”… Então vamo conversar um pouquinho sobre essa polêmica, porque as redes sociais vieram abaixo. “Meu Deus, que loucura!”. “Porque esse cara ganhou esse prêmio?”. “Nossa, que legal, esse cara ganhou esse prêmio”. Então a gente teve um pouquinho de cada lado. O que que bateu pra vocês? How do you feel?
Daniel: Me chamou a atenção essa aparente soberba do cara de não se dar ao trabalho de responder… é quase… e aí… sério?
Cris: Olha, eu não sei. Eu to doida pra fazer 75 anos pra não responder nada pra ninguém.
[Risos]
Cris: Eu acho que você ganha uma carteirinha, um badge tipo “tô nem aí”. Mas ele é muito recluso, né?
Ju: Mas ele não se inscreveu, entendeu? Então tem uma coisa assim… também ele não é obrigado, né? Ele não se inscreveu, ele nem tava aí pro prêmio. Ele não tem que ligar pro prêmio, né?
Cris: Num sei né… É legal ganhar, eu acho…
Cris de Luca: É o Nobel né…não é qualquer prêmio…
[Risos]
Cris: Eu achei muito interessante porque a maior parte das pessoas que eu ouvi comentando sobre isso na verdade era meio que criticando a academia por ela querer pegar essa ondinha do tipo “olha como a gente é moderno”.
Ju: Tirar o mofo, né?
Cris: É. Há anos o prêmio vai para aquele poeta uzbequistão [uzbeque] que nunca ninguém ouviu falar e tudo mais. E aí de repente, vendo o mundo pop aí, estádios lotados, e tudo mais… vamos chegar um pouquinho mais perto desse pessoal numa época que a indústria literária tá aí sofrendo né, às mínguas. Então vamo tentar fazer uma ponte mais próxima do que as pessoas efetivamente curtem. Então assim, eu acho que tem algumas facetas. A primeira é enquanto academia, que recado que isso dá. Eu, particularmente, acho interessantíssimo, acho que a gente teve uma reportagem recente no jornal Folha de São Paulo discutindo mais ou menos através do perfil de uma futura primeira dama sobre o que é arte, né.
Ju: Não, não discutiu não…
[Risos]
Cris: A gente agora tá aqui discutindo o que é literatura. Então eu acho que se o recado foi esse eu acho que foi um recado bem dado.
Ju: O que você achou, Cris?
Cris de Luca: Então, eu fui pesquisar e o Pulitzer que ele ganhou foi pelo mesmo motivo. Então na verdade foi uma menção honrosa no Pulitzer e também em função daquilo que ele consegue fazer com a rima na música. Então ele faz poesia pra ser musicada, né. Foi isso mais ou menos que o pessoal falou.
Ju: Sim…
Cris de Luca: E eu ouvi em algum momento, não sei se eu tô louca, mas uma das muitas coisas que eu ouvi é que ele também tem uma pegada parecida com o que a gente tinha aqui no Brasil com os…
Ju: [Interrompe] Os trovadores? É, não é Brasil né, é península ibérica… mas também veio com o cordel pra cá… essa tradição oral.
Cris de Luca: Isso, exatamente. É a história do cordel, que é uma tradição oral do trovador, porque ele conta uma história inteira com começo, meio e fim. E tem uma outra questão que é a criação de palavras pra não perder a rima.
Ju: [Interrompe] O Rico Dalasam falou disso aqui…
Cris de Luca: E palavras que dão um melhor sentido pra aquilo que ele quer dizer, né. Então… E o inglês se presta muito a isso, né. Na tecnologia da informação a gente tem muito essa questão de você juntar duas palavras e fazer um sentido totalmente novo na língua inglesa que cabe muito bem na poesia que ele tá fazendo ali. Então não sei se é porque o Nobel resolveu parecer moderninho; porque se você for olhar outros prêmios em outras categorias eles procuram tá um pouco contemporâneos, né.
Ju: É, mas isso é interessante porque a língua é viva e a literatura também é viva, né? A literatura tá só em livro? Eu vi… teve um cara fazendo uma reflexão que eu achei muito gostosa que é assim: em tempo em que tem livros pra colorir e livros de youtuber, cê acha mesmo que a literatura tá só no que é impresso, na página do livro? E assim, também acho legal quando falam assim… ‘pô, o Brasil tem…’ isso é tão simples pra gente entender. No resto do mundo até pode ser difícil mas pra gente não existe uma questão se Vinicius de Moraes era poeta ou não, isso tá óbvio. Se Vinicius de Moraes tivesse ganho um Nobel você iria falar “óbvio, como não?”.
Daniel: Ju, eu acho uma coisa legal o que você tá falando porque quando eu ouvi essa história eu fiquei pensando… tem uma luta de classes bem interessante nisso que é a nobreza, a aristocracia do prêmio Nobel se curvando ao popular, ao burguês. [Ju: Sim.] Que teoricamente é menos catedrático, é menos virtuoso. Durante muito tempo na história a gente viu burguês comprando título. Então ele sim, seria o nosso amigo Paulo Coelho super estupefato por ter ganho o local na Academia Brasileira de Letras. Ele falou, ‘velho… pode até ser academia, pode até ser… pouco me importa. Eu como popular, eu como burguês nessa luta eu tô muito bem obrigado, e…’
Ju: ‘Já conquistei tudo o que me interessava.’ Essa discussão que eu acho que é a mais interessante de se ter, se perdeu um pouco com base na discussão dele. Se você gosta dele ou não. Menos se discutiu se é interessante, se a música pode ser poesia, se o Emicida é um poeta, por exemplo. Como que o Emicida não é um poeta, entendeu? Ele é. Não poderia ganhar?
Cris de Luca: Ele é. Chico Buarque, gente.
Ju: Chico Buarque! É menos se você gosta do Emicida e mais se é poesia ou não é poesia? Essa é a discussão. Não importa se você gosta do Dylan ou não. Tudo bem não gostar.
Daniel: E o que me chama a atenção é, agora que ele foi voucheado, então ele ganha mais importância, ou seja, o valor intrínseco ao que ele era ao que ele produzia até então não se questionava. Os que gostavam diziam “o cara é brilhante”, os que não gostavam falavam “o cara é mais um”. Mas como ele ganhou um prêmio, agora aquele prêmio tem capacitação pra tirar…
Ju: “Não, ele é uma coisa especial. Agora ele é uma coisa…” É, então eu acho que isso é um pouco do motivo por ele não dá tanta importância, sabe? “Eu já sou o Bob Dylan”. Eu entendo, não é menosprezar um Nobel, mas gente ninguém vai me conferir mais uma estrelinha na minha coroa, sabe?
Cris de Luca: É que com 75 anos não faz mais diferença…
[Murmúrios de concordância]
Daniel: Esse é o ponto. Esse status não faz nenhum sentido. Aparentemente não faz sentido, se não ele estaria pavoneando por aí. Ou falando “eu não acho que eu sou”. Ele pode até valorizar demais e não se considerar digno porque ele considera que aquele é o lugar do aristocrata. “Eu não to representando esse papel, eu quero conversar com outra classe, eu quero falar com outras pessoas e dialogar com elas”.
Cris: Até porque uma das coisas que faz com que ele seja tão reconhecido é ele ser a voz forte dos baby boomers, né, a geração pós-guerra cantando ou contando toda a transição e esse desejo de ser livre, de viver mais, de viver bem e muito de ser livre. Então ele tem várias canções que são de luta, de reconhecimento de minorias, de busca por liberdade de uma maneira geral, empregando um folk que é um ritmo muito envolvente. Então eu acho que não só o reconhecimento da obra dele em si, mas o reconhecimento de uma geração que através da cultura da música cantou essa mudança tão gigantesca que aconteceu no pós-guerra. Eu acho esse fato também bastante interessante e li uma frase que resume bem o que o Dani tá falando que é ”o Nobel não mudou o Dylan, mas o Dylan pode ser que tenha mudado o Nobel”.
[Risos]
Ju: É Cris, você falou do Chico Buarque eu tava lembrando: eu estudava as músicas do Chico na aula de literatura.
Cris de Luca: Sim.
Ju: Estudava, caía em prova. Então, realmente não me causa estranheza o Chico ganhar um Nobel de literatura.
Cris de Luca: E a gente teve música já na música popular brasileira na época de bossa nova, samba canção que cometem erros de português, da gramática, pra não perder a rima, né.
Ju: Sim.
Cris de Luca: No caso dele ele consegue construir frases sem danificar o idioma.
[Risos]
Cris de Luca: Muito ao contrário, ele enriquece o idioma. Acho que isso foi um motivo de ele ganhar o prêmio nobel, né. É se reconhecer que ali você tá usando algumas características de uma boa literatura. O poder de síntese pra expressar uma ideia, as construções de metáforas que ele coloca, porque ele é muito visual, então ele descreve uma situação visualmente né. Blowing in the wind é fantástico se você for olhar a letra devagar, mas peguem a letra por favor, e olhem o que significa a canção. Vocês vão ver que termina e você diz assim “caramba, que mensagem foi essa, que porrada, que coisa que eu tenho que levar”. É atual até hoje sabe? É o que a gente quer de construção de mundo. Principalmente a gente aqui, né?
[Risos]
Cris: Então, quem não gostou disso, na verdade, na maior parte das vezes foram os escritores mesmo. Digamos, escritores tradicionais, huh? Acho que sim, né. Como por exemplo, a citação do Pierre Assouline, que é um escritor francês, dizendo que ter atribuído ao Dylan o Nobel da Literatura é lamentável. “Eu gosto dele, mas ele não tem uma obra. A Academia Sueca se ridiculariza nesse caso, é degradante para os escritores”. E também para o escocês Irvine Welsh, com uma opinião bastante parecida, ele diz que “o resultado dessa decisão é uma nostalgia descolada, saída das próstatas antiquadas de um grupo de hippies senis”.
Ju: A crítica de que “ai, é um bando de véio saudosista que foi prestigiar uma coisa que era cara pra eles e não que tenha o valor, uma contribuição pra dar pra literatura”, ok, ele tá na crítica dele, mas dizer que o Dylan não tem uma obra? Que que é, ‘cê precisa fazer…
Cris: [interrompe] 54 anos de trabalho ‘cê fala que não tem uma obra?
Ju: [interrompe] Não, não, que que é? Cê precisa que eu compile as letras dele e faça um livro e publique, aí…?
Cris: [interrompe] Juliana, você teve uma ótima ideia. Inclusive, tiveram antes de você, amiga, porque vão lançar no próximo mês um compilado das… em livro, das letras dele. Então agora…
Ju: [Interrompe] E aí agora vai ter.
Cris: [interrompe] Já tem uma obra impressa.
Ju: Então acho que tá resolvido o problema, né.
Cris: Acredito que sim.
[Sobe trilha]
Pode acreditar
Pode acreditar, morô, mano?
[Desce trilha]
[Sobe trilha]
É o enxame, é a zica
SP Funk, Mr. Bomba
Sabotage
[Desce trilha]
Ju: Vamos para o Trending Topics 3, então. A gente vai falar um pouco sobre a boataria na internet. Como é que a gente identifica e tenta não ser parte do problema, mas da solução? Cê conhece essa história, né: “Facebook vai ser pago a partir do mês que vem, envie essa mensagem pra 3 milhões de pessoas e você vai ter gratuidade”, “se você der like, o Facebook vai doar não sei quantos milhões pra essa causa”, “vacina contra a rubéola que foi a causa de microcefalia”, “Dilma aprova implantação de chip em brasileiros”, “procurador da lava-jato disse: não temos provas, mas temos convicção”, “Wagner Moura se recusa a interpretar Moro em série: não interpreto mau-caráter”, “jantar de Temer para 400 deputados custou 30 milhões”. Somos atropelados por uma enxurrada de informações todos os dias. Notícias produzidas por jornalistas treinados e distribuídas por veículos gigantes com uma reputação a zelar, textões de especialistas e formadores de opinião nas redes sociais, mensagens e correntes de amigos e familiares que a gente confia, admira. E no meio disso tudo, muito, muito, muito, muito lixo. Dados imprecisos, descontextualizados, falsos, que formam nossa opinião. Boatos que arruínam reputações e colocam vidas em risco. Você tá ouvindo isso e pensando na sua mãe que acredita em todas as correntes que recebe no zapzap, na amiga lesada que compartilha no facebook manchete de sites duvidosos, no chefe que paga de informadão e só reproduz meme criado por marqueteiro responsável por guerrilha política, mas eles não tão nos ouvindo. A gente tá falando é com você mesmo, tá? Ninguém consegue checar todas as informações que trombam seu caminho quando corre o olho na timeline, então certamente tem coisa te escapando, e essas manchetes que você lê como notícia já hackearam seu sistema. Vamos debater um pouco sobre o impacto de compartilhar informações falsas, a nossa responsabilidade e como não ser parte do problema, mas da solução. Então, Cris, eu vou começar perguntando qual é que você acha o maior impacto que tem essa disseminação de notícias falsas? Quando você começa a ter um monte de informação que você não sabe se é verdade ou se não é? quando as pessoas começam a compartilhar, compartilhar, compartilhar coisas e você vai descobrindo que algumas não são verdade?
Cris de Luca: Não acontece só com notícia, né. Acontece…
Ju: [Interrompe] Exato.
Cris de Luca: com textos maiores. Eu me lembro que há uns dez anos atrás, e a gente ainda não tinha o fenômeno das redes sociais, era tudo por e-mail ou por BBS, um pouco antes, mas por e-mail ficou pior. Você tinha disseminação de falsos textos, então tinha texto com autoria… A Cora [Ronai] tem um livro, chamado Caiu Na Rede, e esse texto Caiu Na Rede são textos apócrifos que ela foi coletando por e-mail, na internet. Tem texto de autoria dela, do Millôr, de um monte de amigo, então…
Cris: [Interrompe] Pedro Bial.
Cris de Luca: Pedro Bial, é.
Cris: Pedro Bial e Clarice Lispector, minha amiga, escreveram esses dois, viu.
Cris de Luca: Exatamente. Então, e assim, às vezes são tão verossímeis que você acredita que aquela pessoa pode ter escrito. Outras vezes tá tão fora do pensamento normal daquela pessoa que você consegue identificar. Hoje em dia, com as redes sociais, a gente entrou na questão da informação e contra-informação.
Ju: Exato.
Cris de Luca: Então os políticos utilizam isso, né. Algumas empresas, é… usam desse expediente quando querem se livrar de algum tipo de problema, assim, mais pra imagem, né, e aí a empresa um pouco mais, é… menos ética, né, acaba utilizando. Já aconteceu. Algumas vezes.
Ju: É, o que você tá querendo dizer é o seguinte: antes você poderia silenciar quem falava uma informação que você não queria que viesse a público.
Cris de Luca: Isso.
Ju: Hoje, como você não consegue mais silenciar…
Cris de Luca: [Interrompe] É mais difícil.
Ju: você faz muito barulho pra que aquela informação, que era importante…
Cris de Luca: [Interrompe] Não apareça.
Ju: não apareça.
Cris de Luca: Isso acontece principalmente nas ferramentas de busca, né. A técnica de SEO é exatamente pra isso. A SEO é Search Engine Optimization, então é otimização de um determinado conteúdo no buscador do Google pra esconder uma determinada informação. Então você bota um monte de informação boa sobre a empresa, e esconde aquela ruim que apareceu num determinado veículo lá que tem uma grande audiência e amplitude e ranqueia bem no buscador. Isso também acontece. Então assim, você tem várias formas de disseminar uma informação que não é uma informação verdadeira. Quem mais usa isso, além dos políticos aqui no Brasil, e no exterior também, não é à toa…
Ju: [interrompe] Qualquer lugar do mundo, né, a gente não inventou isso.
Cris de Luca: Não, não foi à toa que agora o Google lançou essa ferramenta pra você checar os fatos, né. Então ele tá apontando no Google News, agora recebe uma etiqueta dizendo “Fato Checado”…
Ju: Que legal! Não sabia disso, Cris!
Cris de Luca: Não? É uma ferramenta… é, tem umas duas semanas que o Google lançou isso, e lançou…
Ju: [interrompe] Que demais!
Cris: É um Verify.
Cris de Luca: É um Verify, exatamente. Mas já assim, aquele…
Ju: [Interrompe] Que vergonha pro jornalista, hein, Cris.
Cris de Luca: Vou até ler aqui, que aquele fato já foi checado. Na verdade…
Ju: [Interrompe] Conta aqui pra mim, seu coração de jornalista, como se sente de alguém externo ter que dizer que a sua informação é…
Cris de Luca: [interrompe] É que não é alguém externo, vamo lá. É o seguinte: Como que ele tá checando aquilo? Indo buscar nas fontes que ele considera fontes confiáveis. Então onde são essas fontes confiáveis? Pouca gente… ele não tá dizendo isso abertamente, mas pouca gente sabe que o Google há algum tempo, e agora o Twitter e o Facebook se juntaram à essa iniciativa, tem junto com alguns veículos de grande imprensa americana e algumas universidades, como Columbia e tal (acho que também tem o MIT), que se chama First Draft Coalition. Que que é isso? É ensinar ao jornalista como ele usa a internet pra checar determinadas informações. E justamente fazer com que o jornalista seja esse veículo de, é…. se você tá usando a internet pra fazer pesquisa pra escrever um artigo – como a gente usa aqui pra poder fazer a pauta do Mamilos. Quais são os cuidados que você tem que ter pra ir numa fonte confiável?
Ju: O que é uma fonte confiável?
Cris de Luca: É, o que é uma fonte confiável? Qual é a fonte confiável? A gente considera…
Ju: [interrompe] Porque pra gente, tá na internet… É quase aquela coisa que a gente tinha o respeito pelo livro, né. “Está no livro”. “Cris, mas eu vi na revista! Tá na capa da revista, como não vai ser verdade, Cris?”
Cris de Luca: Então, é interessante. Porque quando a internet começou, lá nos idos de 1995, um dos sites que eu mais frequentava se chamava ebig.com. Que que é o ebig.com? É a Enciclopédia Britânica, tá? Mas não a Enciclopédia Britânica que a gente conhece. Era um site, porque naquela época os buscadores eram na verdade grandes catálogos, né.
Ju: [interrompe] Catálogo.
Cris de Luca: Eles não eram o que o Google é hoje. Você…
Ju: [interrompe] Eu já fiz cadastramento em ferramenta de busca.
Cris de Luca: Você tinha lá aquela informação catalogada, então o eBIG era uma espécie de local onde você ia buscar uma informação que tinha passado pelo crivo dos pesquisadores da Enciclopédia Britânica.
Cris: Uau!
Cris de Luca: Era uma informação checada, nada mais do que o Google tá fazendo agora pro site de notícias dele. Então, exatamente pra te dar… separar o joio do trigo. “Isso aqui é um fato checado, é verdadeiro, é esse valor”…
Cris: [interrompe] Carimbo.
Cris de Luca: Um carimbo, né. E muito desse carimbo, muito provavelmente, vem dessa outra iniciativa que ele tem, que agora o Facebook, o Twitter também estão fazendo parte. Porque o próprio Facebook também tem tentado diminuir o ranqueamento das notícias falsas, dos memes, né, então…
Ju: [interrompe] É, então, não é só de política que a gente tá falando. Eu ia puxar até pra Cris falar disso. Porque assim, a gente tá falando de, por exemplo, investigações policiais que o povo, é… faz… como é que fala? Caseiramente, vai…
Cris de Luca: [interrompe] É.
Ju: Investigações colaborativas que acabam apontando um suspeito, e acabam causando problemas muito graves, né.
Cris: É, nessa era que a gente tá, é… você é culpado até que se prove sua inocência. Isso realmente… a gente sabe muito bem que destrói a vida das pessoas.
Cris de Luca: Não só destrói literalmente, porque aquela moça lá em Santos morreu.
Cris: Exato.
Cris de Luca: Por causa de uma falsa notícia, né.
Cris: Exato.
Cris de Luca: E como as pessoas receberam aquela notícia, de que ela era culpada por um determinado… eu não lembro agora o que era.
Cris: Ela foi acusada de bruxaria e pedofilia, e aí ela foi linchada…
Cris de Luca: [interrompe] Linchada.
Cris: Por isso.
Cris de Luca: É, exatamente.
Ju: É, são casos mais extremos, mas a gente todo dia vê casos de reputação de pessoas que também são acabadas profissionalmente, socialmente, por conta de denúncias que, assim, ninguém precisa checar denúncia. Ninguém precisa nem apresentar prova, né. Porque no tribunal da internet basta fazer a denúncia.
Cris: É o STI ele é implacável.
Ju: O que é STI?
Cris: O Superior Tribunal da Internet. Caiu ali, já é culpado. Então, tem um outro aspecto disso muito interessante que o Márcio Ribeiro, que é professor da USP e pesquisador do grupo de Pesquisa em Políticas Públicas e Acesso à Informação da Universidade, conversou com o Nexo e falou, que é a respeito do viés de confirmação, que a dinâmica de compartilhamento de rede sociais, né, geralmente vai cair na sua timeline o viés que confirma já a tendência cognitiva que você tem. Então quando cai aquilo “Ahhh eu sabia!” E aí cê tende a reproduzir aquilo, porque na verdade, você gostaria muito que aquilo fosse verdade, que aquilo tá confirmando…
Cris de Luca: [Interrompe] Tá no seu inconsciente né.
Cris: ….um pensamento que você já tinha.
Cris: Então quando entra o algoritmo junto com o desejo de confirmar o próprio ponto de vista, a criticidade vai lá para o pé. Então, bora reproduzir! Bora reproduzir com base naquilo que: “Eu sabia!!”. O “eu sabia” é isso: “tá vendo, eu não falei!” A gente viu isso agora. O [João] Dória [Jr] ganhou a eleição num dia, a enxurrada de coisa que apareceu já no dia seguinte sobre o que ele ia fazer. Acho que qualquer pessoa, um et, chegou aqui em São Paulo, leu uma timeline e falou assim: “É o apocalipse! Só pode ser o apocalipse!” Então, assim, começam a pipocar notícias de tudo quanto é canto. E, claro né, eu até ri e coloquei isso no Twitter, na época, porque a bolha é um negócio muito difícil de sair. Por mais que você tenha pontos dissonantes, cê acaba numa constante. Porque a minha amiga é a Juliana, é o Daniel, a Cris de Luca, a gente se segue e tudo mais, então na minha timeline o [Fernando] Haddad tava eleito no primeiro turno!
[Risos]
Cris: O Dória ganhou no primeiro turno!!
Cris de Luca: [Interrompe] mas isso por causa da bolha, né. É uma bolha. Exatamente é uma bolha.
Cris: Exatamente! Então, por mais que você faça a força para sair aquelas notícias que toda hora ficam aparecendo ali para você, por que elas fazem parte desse universo que você vive.
Ju: Mas por que que isso interfere na questão de boato, de você perder a crítica do que que é verdade ou não?
Cris de Luca: Então, os hoax sempre existiram né, que são os boatos da internet. Existe em vídeo também, tanto que o Fantástico tem um quadro que é aquele “Doutor Fantástico” lá da mentira né.
Ju: Sim!
Cris de Luca: “É mentira ou verdade”, que é exatamente para você saber se foi montagem, no no caso deles é a montagem do vídeo, que o cara se presta a fazer uma montagem pra aquele vídeo bombar na internet, viralizar e ele ganhar um monte de seguidores. Então: o que que leva uma pessoa a colocar uma falsa informação na internet? Quem mais utiliza isso são os hackers, né. Na verdade eu não gosto dessa expressão ‘são os hackers’, porque hacker pra mim tem uma conotação positiva e não negativa. Os crackers que são os caras que realmente se utilizam da internet pra roubar informação, pra lesar você de alguma forma. Eles utilizam todos os expedientes possíveis e imaginários pra fazer você clicar num determinado…
Ju: [Interrompe] Link.
Cris de Luca: …conteúdo, num determinado link, que é falso, que não existe. Então eles são especialistas em gerar falsas informações e falsos conteúdos, que tão rolando na rede. A questão da checagem, bom, a gente que é jornalista, eu que tô nessa estrada, vai, desde 1995…
Cris: Uauuu [Risos]
Cris de Luca: tá no século passado, até engasguei agora, mas é isso, desde 1995, que que eu sempre tomei muito cuidado de checar em vários locais, né.
Ju: Ótima dica!
Cris de Luca: A primeira coisa que você percebe quando você vai checar em vários locais é que há uma distorção enorme na comunicação. Isso ficou um pouquinho dificultado agora com a rede social, porque a tendência é essa que a Cris falou. Você tá na bolha e os seus amigos tem mais ou menos o mesmo pensamento que você, ele vai ter aquele reforço de você estar vendo sempre a mesma informação chegando.
Ju: Parece que ela ganha credibilidade, né. Eu tava discutindo um pouco isso com a Cris antes de começar a gravar. Que eu falei assim: Não tem a ver, às vezes é uma informação que você nem analisou, tá, que você não pensou sobre ela; mas a Cris compartilhou, o Dani compartilhou, eu compartilhei então você nem parou pra pensar, mas pra você aquilo ganhou uma relevância.
Cris de Luca: Sim.
Ju: Aquilo ali ou é uma verdade ou ganha um status de que aquilo deve ser sério, tá todo mundo falando.
Cris de Luca: Não, é que é a questão da reputação, porque a Cris você considera uma pessoa bem informada, o fulano você considera…
Ju: [Interrompe] Sim.
Cris de Luca: uma pessoa bem informada, se todo mundo tá falando…
Cris: [Interrompe] Não, tem uma coisa que cê não leu. Aí passa a segunda você já fala: ‘Opa!’ Passou a terceira, ‘é, essas três pessoas eu considero, se elas falaram… Peraí, deixa eu ler.’ Então isso isso seta muito a sua atenção.
Daniel: Mas nessa lógica de checar informação é muito importante que a Cris falou antes, que é a estratégia: vamos gerar bastante lixo para dificultar porque sempre pergunto quando alguém me conta uma coisa: “Mas qual é a fonte?” A dificuldade de você preservar e saber: “Porra…eu não me lembro muito bem se foi na F-Folha”, “Não me lembro muito bem se foi no Estadão, não lembro se foi..” Então primeiro as pessoas começam a perder um pouquinho a criticidade da fonte; e a segunda coisa que fiquei pensando é que tem um pouquinho do ser humano gostar do boato, né?
Ju: Ahhhhh
Cris de Luca: Tem.
Cris: Ahh mas a fofoca é pré histórica.
Ju: É tipo hambúrguer né, é tipo hambúrguer né, faz mal mas a gente gosta.
Daniel: Tipo assim a gente tem uma ferramenta que fomenta, que acelera, que deixa a roupagem bonita, praquilo que o ser humano gosta que é: Vamo criar ciumeira.
Cris: [Risos]. Vamo ancorar o burburinho.
Ju: Nãaoooo a gente tava falando, no nosso mercado teve um casal que é bem expoente no mercado publicitário, e que aconteceu um mega escândalo. E assim, aconteceu um mega escândalo e todo mundo comentou e ta ta ta ta tatata. E agora a pessoa tá indo se explicar, mostrar prova, mostrar “Cadê a acusação contra mim, mostra a acusação!”. “Não tem nenhuma acusação”. “Cês tão compartilhando coisa e não tem.” Cadê prova? E aí…
Cris: Shiiuu CRICRI
Ju: Morreu o assunto! Porque é menos… é aquela coisa cenoura né. Cenoura versus hambúrguer. A Cris ter se envolvido num caso sexual escandalosíssimo, gente, isso dá muito ibope, todo mundo quer falar: “mas a Cris… eu nunca pensei”… num sei o que… agora: “ah, não era verdade”. Ah, quem que vai falar isso, gente?!
[Risos da Cris]
Ju: “Gente, num era verdade, viu, não tava não e…”
Cris de Luca: É que muitas vezes a gente se contenta com a meia verdade né. É conveniente, foi o que a Cris falou né, ‘me identifiquei com aquilo e tô passando’. Mas é a meia verdade. Você não pensou antes de sair replicando aquilo. Que também tem isso: ficou muito fácil replicar.
Daniel: Sim.
Cris de Luca: Antes era mais difícil. Então…
Cris: [Interrompe] Pois é!
Cris de Luca: …você pensava duas vezes.
Cris: É que assim, isso me assusta um pouco sabe, a gente pode brincar aqui com os casos extremos, que é o porco de três cabeças, ou a Dilma implantando o chip [Risos da Ju] nos brasileiros, que isso é, sei lá, ainda dá pra você… só que tem notícias que vão num viés, que cê fala: “Será???” E essas me preocupam mais, porque eu vejo pessoas que realmente são pessoas bem intencionadas, são pessoas inteligentes, são pessoas bem informadas e elas compartilham. Compartilha! Porque eu acho que no fundo, ela queria… Agora, voltando só a eleição municipal: pessoal que tava torcendo pro Haddad e viu o Dória ganhar, na sequência falou: “Tá vendo, agora vai destruir a cidade!” Parece que as pessoas querem que a cidade seja destruída…
strong>Daniel: [Interrompe] Terra arrasada, né!
Cris: …só para provar o ponto que: “Tá vendo como cês votam mal.” Então assim, as pessoas esquecem que a gente mora aqui, né. É a mesma coisa de colocar fogo no colchão preso na cela. Você coloca fogo no colchão do companheiro. O que me assusta é a quantidade de gente que compartilha só lendo a manchete.
Cris de Luca: Ah, mas isso sempre foi assim… e quantidade, assim, a gente logo que começou a internet a gente tinha um plantão de notícias…
Cris: [Interrompe] Eu fico assustada com gente que compartilha o Mamilos e fala: “Não ouvi e já gostei.“
Cris de Luca: que hoje é o Twitter. Isso.
[Risos]
Cris: Eu assusto.
Cris de Luca: Mas é isso. Hoje o twitter é o antigo plantão de notícias. Você ficava ali lendo uma linha, linha, linha. As pessoas não clicavam naquilo, elas só recebiam a linha e achavam que tavam bem informadas. Tão só título, título, título. É o Twitter. E aí a pessoa lê o título e compartilha sem ler. É o que acontece no Facebook. E Facebook tá tentando coibir são justamente essas notícias que, na verdade, quando você vai ler a notícia não é nada daquilo que o enunciado dela trouxe, é completamente diferente. Mas você já compartilhou , porque cê só leu o enunciado.
Cris: É.
Ju: É. Uma dica que eu acho ótima… Que é uma coisa tipo, mais básica, mas que a gente vê que… tem muita gente entrando na internet agora, né. Tem um monte de tia, que está passando pelo processo que a gente passou há 10, 15 anos atrás. Então que sai compartilhando coisas que a gente que tá há 15 anos na internet, cê olha e cê já sabe de cara, que assim, aquelas coisas num tom alarmista, sabe… “Cuidado. Alerta. Tudo vai mudar amanhã se você não compartilhar.” Tipo. Olha: nada vai acontecer se você não compartilhar, nada. NADA! Nada vai acontecer.
[Risos]
Cris de Luca: Mas é o desconfiômetro, né. A gente já tem desconfiômetro. Coisa que as outras pessoas não tem. Só que a gente chega aqui falando disso tudo. Olha eu, me considero uma pessoa experiente em internet. Considero que eu checo, recheco, antes de escrever alguma coisa e colocar no ar, né. E aí tem uma questão que é assim: você lê uma notícia que você considera uma notícia bombástica, o seu primeiro ímpeto… e se vem de uma pessoa que você confia ou de um jornal que você confie, seu primeiro ímpeto é mandar para frente e depois que você vai ler;
Ju: Sim.
Cris de Luca: Já aconteceu comigo. Eu conto essa história sempre quando vou dar palestra. Eu acompanho Fórmula 1, sou louca por Fórmula 1, gosto… Acordo de madrugada para ver corrida, essas coisas todas. Quando o Flavio Briatore tava saindo da Benetton, tava aquela coisa assim fica, não fica, que foi depois da história com o Nelsinho Piquet aquela enrosco todo que deu no GP da Malásia, tal, não sei o quê… Um cara que eu conheço de longa data, que é o Renato Maurício Prado, que foi editor d’O Globo durante muitos anos, depois foi colunista d’O Globo e que eu sabia que tinha coberto Fórmula 1 e que tinha acompanhado o circuito todo e tal, e era amigo pessoal do Flavio Briatore, coloca no Facebook dele: “Confirmado: Flavio Briatore está saindo da Renault”. Automático, foi automático. Cara [risos], eu saí dali e fui pro Twitter, falei assim: “O Renato Maurício Prado…!”, assim, né! Automático, pra minha galera toda que seguia Fórmula 1. E aí, por uma questão de profissão e de cagüete, a primeira coisa que eu fui fazer foi buscar o link da informação.
Cris: [Interrompe] Cê deu a manchete e correu atrás da informação.
Cris de Luca: … da informação. Exatamente. Fiz o oposto do que eu digo que todo mundo tem que fazer [risos]. E ao ir buscar a informação, não achei em lugar nenhum, então começou a me dar um pânico.
Daniel: Um gelo, aquele gelo, volta!
Cris: Aquele calor.
Cris de Luca: Não tinha. Não tinha em nenhum veículo brasileiro, não tinha em nenhum veículo da França, não tinha na página da Benetton, não tinha em lugar nenhum, não tinha na página da FIA, não tinha em lugar nenhum!
Daniel: F5, F5, F5, atualiza.
Cris: O desespero! Deleta, deleta, deleta!
[Risos]
Cris de Luca: Não, e aí…
Daniel: [Interrompe] Primeiro atualiza pra ver se vai chegar a notícia, depois…
Cris de Luca: E aí eu voltei pro Facebook e falei “Renato!” e ele “Já sei, vazou no Twitter. Você publicou, mas não foi só você, não. Você, o fulano, o fulano, o fulano, já virou uma zona, e o que eu tinha guardado pra falar amanhã de manhã no Bom Dia Brasil, eu vou ter que falar agora no Jornal da Globo [risos]. Porque vocês acabaram com o meu furo.
Ju: [Interrompe] Não, péra, cê guardou no Facebook, cê guardou errado, né, amigo? [risos]
Cris de Luca: Aí é que tá, né? Então, mas ele informou para os amigos. Não tinha tanta gente assim no Facebook naquela época. A gente é que tirou dali e levou pra outro lugar.
Cris: Que era na época o Twitter que bombava.
Cris de Luca: Exatamente, então são dois erros. Né, quando eu dou as palestras, eu falo isso. São dois erros: 1) passei pra frente sem checar porque eu confiei na fonte; segundo erro: tirei do local onde ele tava e levei pra outro contexto, em outra ferramenta, né. E é aquela história, o Facebook, eu tô falando pra um grupo de amigos na mesa do bar, no Twitter tô gritando pela janela, né. Fui lá e gritei “Olha, o cara saiu!” [risos]
Cris: Ainda mais Cris de Luca que o Obama segue, então…
Ju: É, então, bateu lá na Casa Branca.
Cris: Aí pronto. Aí cagou a Benetton inteira. [risos] Mas eu fico realmente preocupada não só com o fato das pessoas reproduzirem, como elas não terem a percepção que isso pode ser um crime. Elas podem estar cometendo um crime. Porque ela tem injúria, tem calúnia, tem… tá acabando com a moral da pessoa. Então assim, gente, não é só questão de “ah, eu só compartilhei, não fui eu que publiquei a matéria, só mandei o link”.
Ju: É, mas você ajudou a fazer o dano, e aí é muito interessante, porque você falou assim: ‘nossa, Ju, mas agora eu só apertei no botão de compartilhar e agora eu tô num processo gigantesco e tal.’ A questão é muito simples: quando você tem um potencial de dano muito grande, cara, fica de fora. Fica de fora, não se mete.
Cris: Cê sabe o que que eu acho, Ju? As pessoas tem, é…
Ju: [interrompe] Não se mete.
Cris: …espírito de jornalista, sem ser jornalista, que é: eu preciso dar o furo. Eu preciso ser o primeiro a contar.
Cris de Luca: Eu tenho que opinar sobre isso, eu tenho que falar.
Cris: Eu tenho que falar, eu tenho que jogar, eu tenho que vir aqui falar. A gente sabe disso. Vamos pra um fato concreto que é quando morre alguém, que o primeiro a falar “R.I.P. Fulano”, yes! Então assim, é uma corrida meio… meio bizarra, se você for pensar.
Daniel: Você sabe que eu, infelizmente, fiquei sabendo da morte do B.B. King por algum rest in peace que lançaram na internet, e eu tinha certeza que era golpe. E eu fui pesquisar como “não, não é verdade!”
Cris: Ai, tadinho!
Daniel: E puta. Era verdade.
Cris: Um show que eu queria ter visto.
Daniel: É.
Cris: Então assim, tem muita informação, mas tem esse desejo de falar sobre tudo. É isso que eu não entendo, sabe. Você pode falar, mas espera um pouquinho pra falar.
Ju: Não, saiba o que você tá falando antes, né.
Cris: Saiba um pouquinho, pesquisa um pouquinho. Quando acontece um fato tipo uma eleição, tipo um grande fato, vai vir um chorume, sabe, vem uma avalanche [Ju: É uma onda.], você tem que ir lá, esperar a onda… Você tem que mergulhar sabendo, que quando a gente é criança, que a onda vem, a gente segura o nariz e afunda e espera a onda passar? Aí você levanta e beleza. Aí cê vai lá e pega a informação, entende, e realmente é óbvio, a rede social é pra emitir opinião.
Cris de Luca: É que tá ficando cada vez mais difícil separar o joio do trigo, fora…
Ju: Não, mas a gente tá ganhando algumas ferramentas, Cris, que eu acho que assim, se tá difícil porque tá mais misturado, porque não dá mais pra você falar assim: ‘poxa, mas isso é o antagonista. Também, cê foi me compartilhar um link do antagonista…”
Cris: [interrompe] Miga…
Ju: Se respeita. Se dá o respeito, sabe. Não é Brasil 247, mas às vezes assim, tem coisas gritantemente erradas na Folha, gritantemente erradas no Estadão, gritantemente… mas aí, fica mais difícil.
Cris de Luca: Sim, gente, mas a Escola Base foi isso. O caso da Escola Base é, até hoje, é um exemplo de que, peraí, meu amigo, vamos apurar direito. A gente já falou disso aqui.
Cris: E não tinha redes sociais, hein, amigos….
Cris de Luca: [interrompe] Não tinha na época.
Cris: Pra quem não lembra, isso é um caso de uma família que foi acusada há mais de dez anos atrás [em 1994], numa escola que eles tinham, destruiu a vida da família e depois não era nada. Eles não… a acusação era falsa.
Ju: É, mas o que eu acho: agora a gente tá tendo algumas, porque eu acho muito cruel quando você fala, “ah, então gente, não vamo compartilhar boato, checa os fatos”. Você acha que as pessoas vão ter capacidade e tempo de checar todas as informações? É mais fácil você dizer “não compartilha”. Cê não tem certeza, cê não checou, não compartilha, não passa pra frente porque você tem responsabilidade sobre o que você compartilhou, porque você ajudou a espalhar uma mentira, você foi veículo. Então, preste atenção e tenha responsabilidade. E aí pra isso, acho que se a gente não consegue fazer a checagem, tem algumas ferramentas, né, Cris? Tem alguns sites que tem pra nos ajudar com isso.
Cris: Tem.
Cris de Luca: Então, eu digo pra você o seguinte, ó. Vai, o Google agora tá te ajudando.
Ju: Eu não sabia, adorei saber, muito bom.
Cris de Luca: É, tá no Google News, lá tem um label, né…
Daniel: [interrompe] Que legal.
Cris de Luca: Que aquilo ali tá checado.
Ju: [interrompe] Tá.
Cris de Luca: Então a informação é verídica. Tá ali, do ladinho. A outra questão é, eu acho que o pessoal tem que ir nesses sites que eu falei aqui, do First Draft, o site deles é firstdraft.com, e eles tem também uma página no Medium. E ali, você já tem uma série de dicas de como você pode checar informações rapidamente, onde você vai. A outra coisa é desconfiar, gente, pelo amor de Deus…
Ju: [interrompe] Seja mais cético, né.
Cris de Luca: Né, ninguém dá nada de graça. Tem sempre aquela coisa de, nunca confie na primeira informação que você recebe. Ou vai na fonte, que foi o que a gente falou aqui. Cheque na fonte primária, sabe. Se você soube que o Temer deu um jantar que custou 30 milhões, vai no site da Presidência da República, porque provavelmente, o preço do jantar tá lá, que a lei de transparência manda colocar. Se não colocou, você tem que cobrar, porque deveria estar lá.
Daniel: Mas antes de checar a informação, tem a questão de ter um pouco de bom senso, né?
Cris de Luca: Tem.
Daniel: 30 milhões pra 40 pessoas?
Cris de Luca: Não, não foram 40, foram 130.
[Risos]
Daniel: Tá, eu to dizendo assim…
Cris: [Interrompe] Tudo bem que a gente gasta… é que tem coisas que é isso. Na dúvida, aplique o mineirês.
Cris de Luca: [interrompe] Isso!
Cris: Desconfie de tudo.
Daniel: Sim, sim.
Cris: Será? Mas será?
Daniel: E tem um ponto também que eu acho que eu tô ouvindo vocês falando aqui, que eu gostaria de ver reproduzido isso como verdade, de esse senso investigativo, essa vontade. Eu não queria falar o número, mas depois cê pesquisa aí no Google e vê se tá certificado ou não, você checa a informação [risos]. Mas é assustador o tempo médio que o usuário de internet gasta de atenção dispensada pra um texto. Não dá 20 segundos o tempo médio de leitura de uma matéria. Em 20 segundos, você não consegue ser investigativo. Então acho que antes da gente falar “investiga”, leia. [risos] Veja o que a matéria tá dizendo. Respira, respira.
Cris: Às vezes não tem uma fonte. “50% da população…”, ué, mas de onde veio essa fonte, do IBGE? Não, de lugar nenhum.
[Risos]
Cris de Luca: Não tem lugar, pois é.
Ju: Não, é. Já teve coisa de entrar em pauta que falei assim: tá, gente, mas onde tá? Se o El País não deu, não é, né, gente? Porque assim, é uma notícia. Notícia que é notícia, a ponto de entrar no trending topics, a BBC deu, o El País deu, A Folha deu, o Estadão deu. Se só tem naquele site escuso que você gosta de seguir, não, não é notícia.
Cris de Luca: Mas sabe, cê quer ver um bom exercício, que a gente como jornalista faz? Tem um dia específico do ano, que fica todo mundo que é jornalista de cabelo em pé, que é primeiro de abril.
Daniel: Sim. [risos]
Cris de Luca: Porque no mundo inteiro, nascem notícias falsas. No mundo inteiro…
Daniel: [interrompe] Incríveis.
Cris de Luca: Inteiro inteiro inteiro. Incríveis. Então o negócio bate na sua mão, e você olha pra aquilo e diz assim: ai, ai, ai, ai, ai. Ó, o Google emplacou um monte. O próprio Google já emplacou um monte.
Daniel: Eu morei três meses, tive o privilégio de morar com um tio na Califórnia. E eu lembro que ele é um cara da família tradicional, extrema direita, era muito difícil porque nossas opiniões não batiam muito. E eu olhava o posicionamento da família americana com quem eu tava convivendo, era muito claro. Os filhos viam alguns canais, e ele via alguns canais. Parecia muito investigativo, as fontes eram muito confiáveis, mas um olhava pro outro e falava “Pai, sua informação não presta, porque você viu na FOX”. E ele falava, “Filho, seu canal não presta, porque ele só dá..” Então, eu lembro que era muito caricato isso, a conversa de sábado e de domingo, quando sabiam-se que tinham bias na fonte, tinha um ponto de vista muito claro defendido por cada uma das mídias, ou por cada um dos veículos.
Ju: [interrompe] Viés.
Daniel: O viés, né. E eles falavam ‘tá bom, eu respeito, sei o que tá dizendo, mas não confio porque é muito partidário.’
Cris de Luca: Mas aí que tá, é que o viés, mesmo sendo partidário, o viés vem na forma como você classifica a informação. Então aquilo que você considera mais importante, você vai dar a mesma notícia, né? Se eu sou de corrente de direita ou se eu sou de corrente de esquerda, eu vou chamar de uma forma diferente.
Ju: É o jeito de contar história.
Cris de Luca: É, o jeito de contar a história [Daniel: Os fatos.], é diferente. Eu vou carregar mais num determinado fato, num determinado número.
Cris: Aquele da…
Ju: [Interrompe] Saber ler tirando adjetivo. Cara, você pega um texto, principalmente de vários veículos, cê risca os adjetivos, risca opinião, cê não consegue espremer o fato. Não, o que que… Não, não quero saber o que que você acha disso, quero saber o que que aconteceu, o que que você tá noticiando. Tem lugar que é muito difícil, isso me irrita profundamente. Hoje, por conta de pauta, que a gente precisa saber, né, toda a nossa pauta começa: qual é o fato? Cê não consegue ter um fato ali, porque não… acho que isso é uma coisa que a gente precisa, antes de, entendendo que agora a gente é veículo, que a gente tem responsabilidade com o que a gente compartilha, a sua responsabilidade como veículo é justamente separar o que que é opinião e o que que é fato.
Cris: E veículos, não é ‘Mamilos veículos’. Todos nós somos veículos. [Ju: Não, a gente pessoa. A gente que tá falando.] Você compartilhou, você é veículo. Então a gente tá falando aqui pessoa mesmo.
Cris de Luca: Isso.
Cris: Eu queria fazer um wrap up aqui rapidinho pra gente passar… só juntar tudo que a gente falou espalhadinho aqui. Mas então antes de compartilhar, dá uma olhada se não tá esse tom alarmista mesmo, “atenção!”, “alerta!”, verificar a data de publicação. Tem muita, tem muitas informações…
Ju: Nossa… eu já caí.
Cris de Luca: Tem muita gente que já morreu quinhentas, olha… [Ju: Eu já caí.] Morre de ano em ano, a pessoa morre, a mesma pessoa.
Cris: Então, data. Tem matérias que são escritas pra isso, que ela, ela vem assim “Sexta-feira”. Sexta-feira de que ano, amigo? De que mês? Então são coisas escritas pra acontecerem em ondas. Ela aparece aqui, daqui um ano começam a compartilhar de novo, cê fala, Walking Dead essa notícia, né? Procurar os detalhes, então é isso, tem local, tem fato, tem especialista falando sobre isso? A maioria das matérias que são bem escritas buscam-se fontes de pessoas que trabalham, estudam aquela área. O cruzamento de fontes; isso é muito fácil de fazer, joga no Google, vê se tem mais veículo falando sobre aquilo, vê se aquilo tá acontecendo em outros lugares.
Ju: [Interrompe] Só uma coisa que você falou de especialista, o meu pai vivia me mandando email que era aquela coisa absurda, eu falei “pai…”, porque daí eles colocam, usam especialista pra dar credibilidade, né? Cris Bartis, presidente dos Estados Unidos e tal… pai, só pega o nome da Cris Bartis, [risos] só um, só um, joga no Google, pai, vê se ela existe, se ela é presidente… não precisa checar o email todo, porque ele não vai ser verdade na primeira, ele não vai falar noventa coisas certas e uma errada.
Cris de Luca: Isso vale pros textos apócrifos também, outro dia correu aí a internet um texto da Miriam Leitão que não foi ela que escreveu. [risos]
Daniel: Bizarro.
Cris de Luca: É bizarro, você olhava pro texto assim, dizia assim “nossa”. Aí cê procura na coluna dela do Globo, não tá. Procura no blog, não tá. Procura no não sei quê [Ju: Não, o meu texto.] Aí ela fez assim: Não, não fui eu, não fui eu.
Ju: O meu texto já rodou a internet inteira, aquele do Mamilos 31? Que é do Tudo Puta. Que é um texto super bacana. [Cris: O Pedro Bial que escreveu] Foi o Pedro Bial que escreveu! Mas pensa, a quantidade de página que saiu, a Gina Indelicada, deu em um monte de lugar, e sai um monte de gente compartilhando aí.
Cris: Outra coisa que era justamente o que a Cris tava falando, que é buscar a fonte original, se for a Miriam Leitão, vai estar em algum canal oficial dela; se for a Juliana Wallauer, vai estar em algum canal oficial dela, então procure saber se foi a Clarice Lispector. Não, gente, não foi, Clarice já não foi mesmo. A credibilidade de quem se aplica, verificar, porque assim, tem essa notícia, né, saiu em um veículo só. E aí aquilo virou verdade. É claro que tem um furo, sai num primeiro lugar, mas quando é uma notícia verídica, vários outros veículos vem depois aprofundando, trazendo outra visão, de outra forma. Se deu num lugar só, ou se deu em vários lugares, mas é a mesma matéria, só copiou e colou em outros veículos… não, gente, não, não é uma boa informação, não é uma informação válida. Outra coisa é isso que a Juliana falou que são adjetivos demais, né? Então é o “terrível”, né? O “magnífico”, então desconfie…
Ju: [Interrompe] Como que era? Que a PEC tá sendo tratada? O fim dos tempos, né?
Cris: É a PEC do apocalipse.
Ju: É, PEC do apocalipse. Tem um pequeno viés aí.
Daniel: E tem também uma coisa que a gente abordou um pouquinho é: pra que que… qual é o teu intuito ao compartilhar essa informação? Tipo, pode ser até verdade, pode ter checado… mas o que que você quer com isso? É informar? Polemizar? Porque tem muita coisa que é verdade, mas você percebe justamente que tem má-fé. Uma verdade, descontextualizada, pra uma coisa com pouquíssimo realmente valor. Você fala, ah, vamo jogar um pouquinho de… bosta, com todo o respeito, aí no ventilador.
Cris de Luca: Ah, isso é uma outra coisa difícil, né. Outro dia, por exemplo, quando o Mantega foi preso, eu ouvi uma informação na rádio, no Twitter…
Cris: Ah, eu lembro disso.
Ju: Eu vi isso.
Cris de Luca: Isso virou uma polêmica, né?
Ju: Virou.
Cris: Eu chamei ela na hora e falei: o que que é isso?!
Cris de Luca: Virou uma polêmica no meu Facebook, porque eu fiz uma pergunta: Como assim prenderam o cara dentro da sala de cirurgia?
Cris: Pode isso, Arnaldo?
Cris de Luca: Pode isso? Exatamente. Aí começou. Um dia depois, tinha gente dizendo assim “não prenderam ele dentro da sala de cirurgia!” Gente, por favor, vai lá e lê. Aí as pessoas queriam que eu atualizasse aquele post. Gente, vai lá na minha timeline que já tá a atualização. Vai nos comentários que também já tá atualizado. Mas é aquela história de ler só o que tá ali. A pessoa não vê a data que foi publicado, o horário que foi publicado, porquê que foi publicado, e que tem um ponto de interrogação!
Cris: Não era uma afirmação, era uma pergunta de… [risos] “é sério, gente! Aconteceu isso?!”.
Cris de Luca: Isso, exatamente.
Cris: Foi tipo, não. Foi colocação. Além do título, né, que é, amigos, leiam a informação inteira. Se não tiver fonte; tem número, não tem fonte, não tem especialista, ou o especialista é a Cris Bartis presidente dos Estados Unidos [risos], não é verdade, tá? Tem que ver se esse especialista existe mesmo, se aquela pessoa é real, trabalha naquele lugar. Isso, é aquilo que a Ju falou, não dá pra você ver de tudo, mas daquilo que você quer formar uma opinião ou quer compartilhar ou quer discutir, minimamente você vai ter que se informar. Muito boa a dica também, que tem gente que se dedica a desbravar boatos. [Daniel: É, isso que eu ia falar.] Então tem gente boa pra isso. Tem o E-farsas, tem o Boatos.org, que é justamente o “me explica”, ajuda a explicar as coisas de uma maneira bastante atenta ao fato. Então, na política tem o Aos Fatos, que vai lá e coloca dado, coloca número, pega documento, coloca tudo ali pra você entender o fato, então assim, tem ferramentas, que era isso que a Ju tava falando, que é rapidão, entendeu? Não demora muito. Se é uma coisa que você quer se aprofundar realmente, formar opinião, conversar, compartilhar, vai ter que olhar. E Ju, tem alguma premissa aí de, “na dúvida”?
Ju: Ó Dani, fala o que eu vou falar, das três peneiras.
Daniel: Eu não lembro direitinho, me ajuda, Ju, vamo lá. Se for bom…
Ju: A primeira peneira da verdade.
Daniel: É. É verdade o que você vai dizer?
Ju: É. O que você vai me contar é verdade? Se você ouvir falar, cê não pode repetir, porque você não sabe.
Daniel: Isso.
Ju: A segunda peneira é a da bondade. O que você vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou destruir o caminho de alguém? Então, essa peneira, assim.. A primeira, a gente falha miseravelmente na internet. Mas assim, o que passa na primeira peneira, na segunda, meu amigo… que é o que você perguntou, qual a finalidade disso, qual o seu propósito, né? E a terceira é a necessidade. Convém contar? Resolve alguma coisa? Ajuda? Melhora o lugar que cê vive?
Cris: Tem um meme muito bom na internet, que é um cachorro com uma cara muito engraçada, e tá escrito assim “Qual que é a necessidade disso?” [risos] A minha vontade é ficar… fazer uma tatuagem desse meme, porque a maioria das vezes não vai passar. Na verdade, se você passar pelos três aqui, você vai publicar bem pouquinha coisa, inclusive.
Ju: É, mas você pode fazer a Glória [Pires], né, e fazer um “eu não sei opinar sobre isso” [risos], porque você não precisa opinião sobre tudo, sabe?
Cris de Luca:É isso, não precisa [Daniel: É super nobre não ter opinião sobre tudo.] ter opinião sobre tudo. Então é o seguinte, duvidou? Não passa adiante. É simples assim.
Ju: Principalmente se você pensou em colocar alguma coisa no WhatsApp, já deve ser mentira. [risos] Ô rede desgraçada pra ter boato, coisa inútil, [Cris: Vexatória.] vexatória, então assim, se você vai publicar alguma coisa no… não publica. É mentira sua.
Cris de Luca: Não, você tem que ser assim ó: existe prova? A prova é confiável? A fonte é confiável? Né? Isso tudo passa pela cabeça da gente.
Ju: E o que que isso vai provocar? O que você quer com isso? Qual é o objetivo, né?
Cris: Não, só faz essas três perguntas, que tá bom. É verdade? Bondade? Necessidade? Passou? Vai lá, vai fundo. Fica na consciência. [risos] Não é isso? Tem um negócio muito interessante que a Juliana tava falando antes da gente começar a gravar, que, na verdade, é assim: não é só o fato de compartilhar, porque eu, tudo eu falo, ‘será?’ Porque eu sou assim.
Cris de Luca: É mineira.
Cris: Não, eu sempre falo, mas será? E não é só compartilhar ou não. É que aquilo vai formando uma poeirinha ali na sua cabeça, sabe? Vai te trazendo informação, informação, que depois, vai formando um conceito, mesmo que você não se dê conta. Então, não é só compartilhar ou não compartilhar, é de que fontes você tá formando seus conceitos. O negócio do Wagner Moura não interpretar o Sérgio Moro, [risos] passou assim na minha timeline e eu olhei e falei “ah, azar”, tipo, eu falei será, mas se será ou não, não muda nada na minha vida. Mas se fosse verdade, eu acho que teria a ver com a postura dele. Se for mentira, é só uma mentira idiota, não faz diferença na minha vida. Mas no mínimo, você tem um joio e um trigo ali na hora que passa, sabe?
Cris de Luca: É, a primeira coisa que eu olhei, foi assim, ele disse que ele não ia, que se recusou, porque ele não interpretava [Ju: Bandido, mau caráter.] mau caráter. Penso assim, pô, ele faz um narcotraficante [risos], ele já fez um personagem na TV que era mau caráter, não entendi. [risos] Só que assim, não entendi, melhor não passar pra frente.
Cris: Ele não falou isso. O que ele falou foi ”Yo no faço mal parido”. [risos]
Daniel: Mal parido! [risos]
Ju: Gorda mal parida! [risos]
Daniel: E tem uma coisa que eu falo com a minha mãe, minha mãe às vezes fica morrendo de vergonha quando ela percebe que ela caiu no, [Cris: Ai, tadinha.] no conto. “Mãe, ó, mesmo que seja verdade, quando você receber informação de tal fonte que você já recebeu que é falaciosa…
Cris: [Interrompe] Que é aquela sua prima, mãe, bloqueia aquela prima.
Daniel: … aí você aumenta muito seu critério de qualquer informação que vier.”
Cris de Luca: Mas são umas coisas básicas assim, ó.
Cris: [Interrompe] A fifi, gente, todo mundo tem uma fifi. A fifi sempre traz uma lama.
Cris de Luca: “Cristina, acabei de receber uma fatura da Net dizendo que eu não paguei!” De quando é a fatura, mamãe? “De três meses atrás!” Falei, a sua Net está funcionando? “Tá.” Então… [risos]
Cris: Né, eu acho que todo mundo tá sujeito a isso, não é necessariamente porque a pessoa é ignorante ou mal intencionada porque tem gente que escreve boatos muito bem. O cara do “Não Salvo” costuma passar uns trotes homéeeericos e em geral….Hoje aconteceu uma coisa que o [Luiz] Yassuda postou, eu chorei de…eu juro, eu ri alto! Um cara colocou um print e falando “você quer que o seu nome seja um nome só no Facebook?” e tava lá o nome dele no print só “Bruno”, “então você tem que entrar aqui…” e aí ele fez um print do passo a passo “aí você coloca o seu nome, sobrenome e terceiro nome o mesmo e atualiza” [risos] E tinha um monte de gente “Alex Alex Alex”
[Risos de todos]
Cris: E um monte de gente [risos] um monte de gente caiu e voltou pra xingar o cara. E tinha um “João João João” que ficou muito puto! [risos] Tinha uma “Inês Inês Inês”!… E o cara, ele só fez um print! Mudou as coisas ali no Photoshop, [risos] um monte de gente com o nome três vezes!! Então assim, amigos, nem tudo que tá na internet é verdade!!! [Risos]
Ju: Tem umas maldades, né? [Risos] Esse é o problema. Internet não é lugar de ingênuo, né? Essa é a questão, gente. Nao é pra iniciante. [Risos]
Cris: [Risos] O João João João falou “eu vou ter que ficar 90 dias com esse nome. Seu miserável! Eu vou deletar minha conta, mas eu vou te achar!” [Risos]
Cris de Luca: Você sabe que esse que é o problema, né? As pessoas tendem a usar a tecnologia e tendem a usar a internet como se tudo que tivesse dito ali fosse verdade absoluta. Então…é o exemplo do Waze. O Waze está mandando você ir pra um lugar. Meu amigo, se você já foi ali e viu que é uma boca de fumo…
Ju: [Interrompe] [risos] Não entra!!
Cris de Luca: …não entra, caramba!!
Cris: [Risos] Você lembra de uma pessoa que entrou no rio? “Vire à direita”, “Mas é o rio”, “Não, segue o Waze!” [Risos]
Cris de Luca: Tchibum dentro d’água, né? Sabe! A gente tem livre-arbítrio, livre-arbítrio é para isso…
Daniel: Mas é muito engraçado porque se há 30 anos alguém chegasse e falasse… na escola por exemplo, se a professora falasse: “Pô, isso é isso porque tá na Barsa!”, o cara ia falar “não! Como assim a Sra. acredita em um negócio tão… sério?”
Ju: [Interrompe] É, exatamente…
Cris: [Interrompe] É, na Barsa tá impressa então, é verdade! [risos]
Daniel: É! Exatamente! Alguém vai se dar ao luxo, gastar tempo pra fazer uma coisa
que é falaciosa? Não cabia! Hoje cabe! Ficou mais fácil produzir; mais barato…
Ju: [Interrompe] Só uma coisa, Dani, sempre fizeram, independente de ser caro, tá? Tinha muito livro, é, muito ruim com informação falsa; sempre teve, e eu acho interessante até para amarrar, porque assim, essa dificuldade de o quanto o boato é informação falsa interfere na nossa vida, interfere na sociedade, isso é tão verdade que esse continho que a gente falou que a vovó sempre falava, teoricamente tá num dos livros de Platão, teoricamente foi Sócrates que falou. Ou seja, essa preocupação da peneira de como é complicado e como você é responsável pelo que você fala não importa se foi você que criou ou não, o que você reproduz você é responsável e isso tem um alcance, e que você tem que ser consciente disso, isso não é internet. Isso vem desde que a gente aprendeu a falar! Então eu acho que é bom fechar com essa amarração, porque assim, às vezes a gente fica “não, porque a internet, porque a internet..” não gente, desde que a gente aprendeu a falar, isso é um poder e “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”.
Cris: É isso então, vamos para o Farol Aceso!
Ju: Bora lá!
[Sobe trilha]
Um olho no padre e o outro na missa
Mas sempre com paciência
[Sobe Áudio]
O rapper Sabotage foi assassinado em São Paulo. O músico, de 29 anos, levou 4 tiros nesta sexta-feira, em um crime ainda sem explicação…
[Desce áudio]
não só o louquinho e o deskila jás
senhor, a dor dos seus herdou, ao menos peço a paz
um pobre réu, agora é fel
herdantes animais
que o homem erra, bela e a fera e mais
hoje até me lembro do passado
[Desce trilha]
Cris: Vamos então para o Farol Aceso! Vamos começar com quem trouxe a pizza hoje e nos alimentou?
Daniel: É uma solução bem provinciana e caseira, queria… Meu Farol Aceso é o ‘Jazz na Sacada’, no Divina Encrenca, na Pompéia, Rua Doutor Miranda de Azevedo, 152. Todo mundo convidado, a partir das dezenove até o vizinho chamar a polícia.
Cris: E a gente ainda pode…
Ju: [interrompe] E a pizza é uma de-lí-cia!
Cris: A gente tá super confirmando isso, tá? Selo Mamilos de qualidade. Verify. [Risos da Ju] Cris de Luca, querida, que é que você manda ‘pa nóis’?
Cris de Luca: Eu vou indicar uma plataforma de cursos online gratuitos chamada TimTech. Então tem… Hoje tem mais de trinta e um cursos já disponíveis, desde cursos de UX [User Experience] até cursos de como você escrever um bom texto pra web e tal. Vai desde o cara que quer ser técnico e desenvolver coisas técnicas, linguagens de programação e essas questões até aquele cara que vai trabalhar com conteúdo pra internet. Então são cursos, na verdade, feitos com uma curadoria da própria TIM e colocados ali, abertos, pra quem quiser fazer. E outra coisa, como a plataforma é uma plataforma aberta, você pode, se você for dono de uma empresa e quiser treinar os funcionários e usar os cursos que já estão lá dentro da sua empresa e usar a plataforma para gerar novos cursos específicos para sua empresa, porque a plataforma é também…
Cris: [interrompe] Que legal!
Cris de Luca: Incrementável…
Ju: [interrompe] Aberta.
Cris de Luca: Aberta para qualquer pessoa.
Daniel: Que legal.
Cris de Luca: Muito legal.
Ju: E você, Cris?
Cris: Então, eu andei ouvindo por aí o Thiago Queiroz, ele faz o podcast ‘Tricô dos Pais’, é um trabalho muito legal onde ele conversa com [sobre] paternidade com dois amigos dele, que é [são] o Victor Ourives e o Thiago Berto, eles já estão no quinto episódio. Eles já conversaram sobre creche, gestação, alimentação, dias dos pais e trabalho. Acho que vale muito a pena ouvir a visão dos meninos, que é um pai ressignificado ali, cheio de dúvidas e de medo e de muito amor. Um bate papo bem descontraído sobre… Eu achei muito legal, porque eles leem algumas dúvidas de ouvintes, sabe? De outros pais, assim, e ficam trocando ideia sobre achar saídas cheias de cautela pra fazer o melhor possível, então é um podcast na base do carinho. Parabéns, Thiago, pelo trabalho aí com os outros rapazes. Vida longa ao projeto. Gente, ouve lá! Ju, o que é que você tem de bom?
Ju: Eu vou indicar um outro podcast da casa que eu fiz uma maratona esse fim de semana, ouvi vários na sequência porque ele é supercurtinho, o ‘Naruhodo’. E tem tudo a ver com o papo que a gente conversou agora sobre buscar fontes, de pensar melhor as coisas que você tem como verdade, porque o Naruhodo vai buscar a informação científica e bater, assim por exemplo, a sabedoria popular “Faz sentido?”, aquele clássico “Estudo indica…”, né? “Estudos indicam que não sei o quê”. Dá pra confiar nisso? Então eles… Cada semana eles pegam um estudo e falam e é muito interessante. Primeiro assim, eu fiz uma maratona e eu já saí me sentindo muito mais inteligente. [Risada da Cris] É ótimo para conversa de bar, sabe? Aquelas…
Cris: [interrompe] Inteligentona do boteco?
Cris de Luca: [interrompe] Você sabia que… [Risos da Cris de Luca]
Ju: Nossa, cara, é muito bom para essas coisas. É um podcast que você tem vontade de mandar pra todo mundo, sabe, “Mãe, escuta porque são só cinco minutinhos e daí você para de falar besteira”.
[Risos]
Cris: Que maldade!
Ju: E é muito engraçado porque todos nós temos aquelas coisas que a gente acredita e… é muito engraçado porque todo mundo fala a mesma coisa: “Não, esse eu não vou ouvir porque eu não quero saber que é mentira”, sabe? Tipo, chá de camomila acalma? Mas eu vou continuar tomando que aí então… Não me conta que não é assim, eu não quero saber. Mas aí você escuta, super legal, você aprende e no final você vai continuar a fazer as coisas como você fazia antes… [Risos]
Cris: É só pra saber, não é necessariamente para praticar. [Risos]
Ju: Não, mas é legal porque ele te faz pensar viés de confirmação, sabe? Porque, assim, se você acha que chá de camomila de fato acalma, você acaba compartilhando um monte de notícias falando sobre isso, entendeu? Você está predisposto a concordar com opiniões que expressam a sua visão de mundo então é bem legal. O Naruhodo… Eu acho que todos os episódios que eu ouvi, ele vai contra as coisas que eu achava que funcionavam, só que ele explica super bem, é bem bacana o jeito que eles explicam e é muito curtinho, muito objetivo. Então você sai com a sensação que o tempo foi super aproveitado, sabe, tipo, se você quiser ficar inteligente, você pode começar todo dia de manhã ouvindo cinco minutos de Naruhodo e você, ó, já aprendeu uma coisa importante no seu dia. Então é isso, essa é minha dica: Naruhodo.
Cris: Então, temos um programa?
Ju: Temos um super programa.
Cris: Fica a gostosa sensação de ter conversado com vocês mais uma semana. Brigada, gente.
Cris e Ju: Beijo
[Sobe trilha]
Sei é a chave, é o segredo, eu vou viver bem mais, mais mais mais….
Pobre réu, agora é fel, homens animais
Pobre réu, agora é fel, homens animais
Pobre réu, agora é fel, homens animais
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