Suas idéias não correspondem aos fatos
Pegue um cara porra-louca que teve uma vida intensa, escreveu poesias tão intensas quanto e se tornou mais um herói de uma geração com músicas que foram cantadas em uníssono por muita gente. Que tipo de filme isso pode virar? Certamente numa história dramática, forte e emocionante.
Mas isso não acontece em “Cazuza – O Tempo Não Pára”. Apesar de sua biografia poderosa, o filme não emociona e nem decola. A sensação que se tem é que o personagem ficou incompleto. Como bem definiu o crítico Marcelo Tavela, a diretora Sandra Werneck estava com uma Ferrari em uma autobahn alemã e dirigiu a 20 km/h. Cazuza teria ido a 320 km/h.
Em “The Doors”, Oliver Stone conseguiu capturar toda a dramaticidade e poesia de Jim Morrison, fazendo o espectador estabelecer uma relação intensa com o protagonista. A história não só de Jim, mas de toda a banda é mostrada de forma visceral e impactante, o que não acontece na cine-biografia de Cazuza.
Porém, assim como Val Kilmer na pele do Rei Lagarto, Daniel Oliveira praticamente incorpora Cazuza numa atuação medíunica. Não só pela semelhança física, mas pelos trejeitos e até na leve língua presa. É tão assombroso, que em muitos momentos é possível confudir personagem com a figura real do cantor.
Outro ponto baixo do filme está na simples exclusão de figuras muito relevantes na vida do poeta, como Ney Matogrosso e até Lobão. A presença da narração é desnecessária, não acrescenta nada e é um sinal de que a diretora não acreditou na força das cenas isoladamente.
Com as geniais composições criadas por Cazuza, o filme poderia se tornar poderoso. Porém, a trilha sonora não é em nenhum momento usada em favor da trama. As músicas são executadas durante os shows enquanto a platéia emocionada canta junto, nada mais.
Enquanto as canções poderiam ser utilizadas para dar maior carga dramática e se encaixar com o enredo, a diretora se limita apenas a apresentá-las no palco. Além do mais, muitas das músicas estão fora de sincronia nas dublagens. Um detalhe mínimo, mas que pode ser percebido várias vezes.
Mas o filme tem o grande mérito de resgatar a figura de Cazuza numa sociedade tão esquecida como a nossa. Apesar de não ter descontruído o mito por trás do homem e mostrá-lo apenas como um rebelde sem causa em muitos momentos.
Mesmo assim, “Cazuza – O Tempo Não Pára” é a terceira maior abertura desde 2000 no cinema nacional, perdendo apenas para “Carandiru” e para “Os Normais – O Filme”. Nenhuma grande surpresa, pois é um filme feito pela Globo para quem assiste a Globo.