Os Infiltrados ****
“Marty voltou!”. Quem diz isso depois de assistir “Os Infiltrados” comete a sandice de pensar que Martin Scorsese não fazia um bom filme há anos. Bullshit. “O Aviador” é um filmaço, e digo mais, muito mais autoral que este remake do chinês “Conflitos Internos”.
Para chover no molhado, vou dizer que o elenco estelar é um show à parte, apesar de Jack Nicholson, caricatural, já estar numa fase em que faz papel dele mesmo. Leonardo DiCaprio colocando mais uma pá de areia sob seu estigma passado de ser só um rostinho bonito, Matt Damon quase num novo Ripley e Mark Wahlberg para ator coadjuvante no Oscar 2007, por favor.
Mas os momentos realmente ‘a lá Scorsese’ são poucos. Alguns movimentos de câmera, planos-seqüência, câmera lenta e outros maneirismos visualmente e narrativamente típicos do diretor estão lá, mas pouco para quem esperava ver a genialidade de “Os Bons Companheiros” e “Cassino” (sinal da cruz três vezes ao mencionar esses clássicos).
Ainda assim, “Os Infiltrados” é um dos thrillers mais inteligentes dos últimos anos e, ao mesmo tempo, de uma simplicidade que me fez perguntar em certo momento: “será que nenhum roteirista tinha pensado nisso antes?”. Bem, tirando os chineses, não.
É bom ver Scorsese voltando ao mundo do drama urbano, com gângsters irônicos, discussões morais, a violência que nunca é ocultada e mais preocupado com seus personagens do que com uma história. E mais uma vez ele faz com que, mesmo sabendo da insanidade do sujeito, torçamos para o “bandido”.
O que faltou para tornar-se mais um épico do diretor, foi mais de sua originalidade e menos das convenções hollywodianas para um remake. Planos como o último do filme, onde vemos a literalização de tudo com um rato na sacada e a assembléia ao fundo.