Personal cria hashtag polêmica para divulgar papel higiênico preto
Campanha usa haghtag #BlackisBeautiful, expressão comumente usada pela militância negra contra o racismo desde a década de 1960
Mais uma campanha publicitária esbarra em questões raciais de forma irresponsável ou impensada. A Santher resolveu divulgar uma linha Personal de papeis higiênicos pretos, o primeiro do tipo a ser vendido no Brasil. Para tanto, contou com a agência Neogama, que pensou uma ação que valorizasse a cor como símbolo de elegância e requinte. A atriz Marina Ruy Barbosa foi chamada como garota-propaganda, enrolada em um traje próximo a um rolo preto de luxo, fotografada sob as lentes do fotógrafo Bob Woodward.
O problema, no entanto, foi a forma escolhida para divulgar a campanha: a hashtag #BlackisBeautiful está sendo utilizada nas redes sociais para o compartilhamento das peças realizadas para a divulgação do papel higiênico, dentro de um país em que a cor da pele negra é constantemente marcada como um tom autorizado a sofrer várias formas de violência.
A controvérsia da hashtag não para apenas no racismo implícito da associação entre o ato ligado de usar um papel higiênico e a cor preta: #BlackisBeautiful é uma apropriação distorcida de uma expressão comumente usada pela militância negra, difundida principalmente no calor das lutas de Direitos Civis nos Estados Unidos na década de 1960. Nina Simone, Panteras Negras e outras personalidades exaltaram a beleza negra como uma ferramenta de empoderamento frente às formas diversas de opressão e genocídio da população negra que eram feitas não apenas pela sociedade civil e racista da época, como pelo próprio Estado Americano.
A campanha acontece diante de um genocídio da juventude negra que é ignorado pelos jornais brasileiros, e de um país que ainda hiperssexualiza o corpo da mulher negra, mas não o considera belo ou requintado para formar o lar tradicionalmente brasileiro que está como público-alvo da campanha.
A ação polêmica da agência ocorre nas redes sociais, dentro de uma época em que fica cada vez mais latente a distância entre os algoritmos das principais empresas da internet às demandas de pautas identitárias contra o racismo. Uma campanha recente denunciou como os bancos de imagens online inviabilizam a humanidade da população negra por meio das suas ferramentas de buscas, que devolvem imagens brancas para usuários que realizam pesquisas com o uso de palavras-chaves gerais em relação à Humanidade, como “people”, “pessoas”, “família”.
O primeiro concurso de beleza julgado por máquinas do mundo também teve um final controverso: a Beauty.Al foi um projeto criado dentro de uma parceria entre programadores russos e chineses que elegeu, por inteligência artificial, os rostos mais belos do mundo, a partir da análise de fotos de pessoas entre 18 e 69 anos de diversas etnias. Ao final, os rostos escolhidos eram aqueles de pessoas eram em sua maioria brancos.
Pode não ter sido a intenção da agência, mas já sabemos qual será a consequência.