Resenha em 6 vs. Boteco São Bento, mais um episódio para aprender
Durante a semana passada, o blog Resenha em 6 publicou uma nota curta sobre o bar Boteco São Bento, localizado em uma das esquinas mais famosas e disputadas da noite paulistana. Apesar do tom ácido, a nota assinada por Raphael Quatrocci fala sobre a experiência vivida por ele no bar.
É importante fazermos uma pausa aqui. Falando em bares, um ambiente que também agrada (e muito) este que vos escreve, podemos explicar que São Paulo possui bares para os mais variados gostos e estilos. Desde a carta, que pode incluir extensas listas de cachaças e cervejas importadas e acepipes de todos os tipos, à decoração. Contudo, os bares de uma determinada região tendem a guardar semelhanças entre si, seja por público freqüentador, tipo de serviço, aspectos qualitativos e preço. Por assim dizer, em minha opinião e deixadas as críticas diversas de lado, o Boteco São Bento é um retrato fiel da Vila Madalena: um bairro que já teve mais charme boêmio e menos holofotes da Vejinha e que hoje está entregue a quem procura aglomeração, algum tipo de status (verdadeiro ou não) e recomendações em guias semanais. Mas voltemos à questão do blog…
Um suposto administrador do bar passou a fazer ameaças via comentários, gerando a primeira horda furiosa de comentários contra o bar, no próprio blog e no Twitter. O mais importante daqueles primeiros relatos era perceber que este pequeno incidente foi o suficiente para que todos aqueles que tiveram experiências ruins com o dito bar começassem a mostrar a cara. Falso ou verdadeiro, o comentário do suposto administrador serviu para que os insatisfeitos se identificassem como um coletivo. E um coletivo barulhento.
Talvez com uma certa curiosidade mórbida, resolvi dar uma passada no Boteco São Bento na noite de sábado. Obviamente, o bar estava muito cheio. É: outra coisa que temos que enfatizar sobre bafafás na Internet é que os efeitos de um boca-a-boca raramente são sentidos da noite para o dia. Ou ainda podemos dizer que não é só porque você se considera formador de opinião que você forma a opinião de todo mundo.
Já nesta semana, a Época SP noticia que o bar notificará judicialmente os donos do blog Resenha em 6 para que eles apaguem os comentários de pessoas que dizem se passar por responsáveis pelo Boteco São Bento, uma vez que, segundo a assessoria de imprensa do grupo responsável pelo estabelecimento, tais relatos podem ser enquadrados no crime de falsidade ideológica e, diante de tantas outras decisões judiciais envolvendo blogs, os responsáveis pela publicação de comentários são os editores, não os comentaristas.
Caso o caso chegue a um processo, este não será o primeiro e nem o último caso.
Reação das pessoas
Confesso que não gosto de ser o advogado do diabo, mas os agora reais administradores do bar têm sua parcela de razão na notificação, uma vez que o blog não pode comprovar se os comentários supostamente escritos por um gerente são verdadeiros. Quer dizer, eles até podem tentar provar, num outro processo, provavelmente para descobrir os autores de ameaças sofridas.
O que está em jogo não é o post em si (uma vez que sua exclusão iria de fato contra a liberdade de expressão, tal qual aconteceu no caso Ag407 x Pristina.org), mas sim os comentários falsos.
Entretanto, palavras como processo e censura têm uma carga reativa enorme. Rapidamente, blogs passaram a escrever em defesa da liberdade de expressão do Resenha em 6. Não só isso: vídeos explicitando o atendimento ruim do bar começaram a pipocar no Twitter:
Eu sou da opinião de que nem tudo o que se chama de censura é censura. Mas isto é assunto para um próximo post.
Sobre o episódio apresentado aqui, ficam dois aprendizados: aos blogs, averiguar fontes. Um comentário recebido nem sempre é verdadeiro. E mesmo que seja, vale investigar antes de incitar a polêmica.
Já ao bar Boteco São Bento, fica a lição de que pouco adianta ser bem avaliado na Vejinha, no Guia da Folha, no Guia da Semana e o escambau se logo na primeira página de uma busca no Google, o resultado é a treta. Tem outra: quanto mais o bar se fechar ao diálogo, a tendência é que o barulho da horda furiosa aumente, ocasionando mais posts, mais aparições na primeira página do Google, mais pautas na imprensa… Vocês já conhecem o roteiro.
Talvez realizar uma noite de bar fechado para os críticos, para que eles possam tirar a sua má impressão sobre o bar e para que os donos dialoguem, expliquem e aceitem algumas das sugestões recebidas. Talvez até menos, como colocar um assessor para falar diretamente com os blogueiros do Resenha em 6. Talvez nada disso, mas algo para atenuar os efeitos das palavras de ordem como “censura não!” e “liberdade de expressão”, uma vez que o os verdadeiros donos disseram-se a favor do livre pensamento. Ou não levem a sério. São só idéias em modo de brainstorm.
No mais, torço para que o imbróglio acabe bem para os blogueiros e que o bar continue atendendo quem se dispor a ser atendido por ele, porque eu vou assistir a tudo de outro canto, já que eles não têm a minha cerveja preferida, e eu não faço bem o perfil de quem paquera em fila de espera. ABS.
UPDATE: A Folha Online publicou na íntegra o pedido extrajudicial enviado ao blog Resenha em 6. Nele, o pedido é para a exclusão completa do post e dos comentários. Sendo assim, advogado do diabo é o c$#@*&$: o bar escorregou mesmo no quiabo e toda a manifestação contra a tentativa de calar o diálogo (que já pode ser encarada como censura) é bem-vinda. A carta está aqui.