9 filmes do Festival de Sundance 2018 que você vai querer conferir este ano
Menos interessado no Oscar, produções do festival migram suas atenções para a televisão e o streaming
O Festival de Sundance de 2018 oficialmente encerrou os trabalhos no último domingo com a sua tradicional cerimônia de premiação. Primeira parada importante no circuito de festivais, o evento criado pelo Sundance Institute do famoso ator Robert Redford é desde 1978 uma das principais casas da produção independente do cinema estadunidense, tendo revelado todo tipo de filme que meses depois ganha o mundo e marca presença nas premiações de fim de ano – nesta 90° edição do Oscar, por exemplo, longas celebrados como “Me Chame Pelo Seu Nome” e “Mudbound – Lágrimas no Mississipi” tiveram seu debute justo no festival sediado em Park City, Utah. Foram produções assim, inclusive, que ajudaram a tornar Sundance ao longo dos anos em sinônimo de parada inaugural para a temporada de prêmios.
Mas se nos últimos dois ciclos o público que frequentou o festival saiu de lá com a certeza de ter visto um dos indicados ao prêmio de Melhor Filme, a edição 2018 do evento parece ter recuado um pouco nesta escala. Nos comentários feitos nas redes sociais, prevaleceu a opinião entre os jornalistas credenciados que não há um potencial “Manchester à Beira-Mar” ou “Brooklyn” nas produções selecionadas para o festival.
Isso não significa, porém, que Sundance tenha perdido a qualidade de sua seleção, pois ainda houveram títulos apresentados no evento que foram muito bem falados pelo público e a crítica nas últimas duas semanas. Abaixo, listamos nove filmes que fizeram sucesso no festival e devem se tornar em tópico de discussão daqui alguns meses quando serem disponibilizados ao público brasileiro. Como nem todas produções aqui mencionadas foram adquiridas por distribuidoras internacionais, ainda não há previsão de lançamento no Brasil para nenhuma delas. Confira:
“Eighth Grade”
Comediante que apareceu em uma janela de maior destaque recentemente com o oscarizado “Doentes de Amor”, Bo Burnham vem recebendo elogios da crítica especializada nos últimos anos por seus trabalhos como diretor de especiais de stand-up, incluindo aí o seu próprio em “Make Happy” (disponível na Netflix) e o “8” do amigo Jerrod Carmichael (da HBO). Nada mais justo, então, que o performer faça sua estreia em longa-metragens, debutando em Sundance este ano com uma comédia sobre uma garota que tenta sobreviver ao fim da oitava série. Protagonizado pela jovem Elsie Fisher (que fez a voz de Agnes nos dois primeiros “Meu Malvado Favorito” e não tem nenhum parentesco com a saudosa Carrie) e composto por um elenco não muito conhecido, “Eighth Grade” ganhou elogios no festival por seu humor oriundo do trauma, sendo valorizado pelo crítico Jordan Raup por sua capacidade de usar de elementos das novas gerações sem soar antiquado em suas pretensões.
“Hereditary”
Além de se firmar como um estúdio dedicado a produções independentes de prestígio (uma tendência consagrada no ano passado com a vitória de “Moonlight – Sob a Luz do Luar” no Oscar), a A24 também tem se destacado pelos filmes de horror que vem distribuindo no mercado. Depois do estrondoso sucesso de “A Bruxa” e a recepção no geral positiva de “Ao Cair da Noite”, a sua aposta para o gênero este ano é “Hereditary”, estreia do diretor Ari Aster em longas que tem o elenco liderado por Toni Collette, Gabriel Byrne e Ann Dowd. O filme, que já teve a estreia marcada para o dia 8 de junho nos Estados Unidos, é descrito como uma mistura de “Invocação do Mal” com “O Babadook” e o próprio “A Bruxa”, um horror arthouse centrado em uma casa mal-assombrada que na verdade se trata da crueldade das relações humanas.
“I Think We’re Alone Now”
Reed Morano está na crista da onda. Diretora de fotografia consagrada no ano passado por conta de seu trabalho de direção nos três primeiros episódios de “The Handmaid’s Tale”, a cineasta vem sendo especulada para um possível trabalho com “Star Wars” – depois de ser reportado na imprensa que ela se reuniu com a toda poderosa da Lucasfilm Kathleen Kennedy – e agora recebeu um prêmio especial do júri de Sundance por seu “I Think We’re Alone Now”. Protagonizado por Peter Dinklage e Elle Fanning, o longa trata de um bibliotecário que acaba se tornando o último homem vivo numa Terra pós-apocalíptica – isso, pelo menos, até ele se deparar com uma garota que também sobreviveu até o fim do mundo.
“The Kindergarten Teacher”
Ainda que tenha saído vencedor do prêmio de direção no festival, “The Kindergarten Teacher” colecionou alguns admiradores em Sundance por conta do trabalho Maggie Gyllenhaal, que dizem estar em uma de suas melhores atuações como a protagonista do drama de Sara Colangelo. Recentemente de volta aos principais holofotes da imprensa americana graças a sua participação na série da HBO “The Deuce”, a atriz interpreta no filme uma professora do jardim de infância que descobre um garoto prodígio em sua sala de aula, resolvendo ajudá-lo a melhorar de vida como forma de fazer evaporar suas frustrações com a carreira. Com apenas uma indicação ao Oscar (Atriz Coadjuvante por “Coração Louco”) concedida em uma carreira repleta de ótimos trabalhos, talvez seja agora que Gyllenhaal enfim receba o merecido reconhecimento da indústria.
“Madeline’s Madeline”
Novo trabalho da cineasta e artista performática Josephine Decker, “Madeline’s Madeline” foi considerado por alguns dos frequentadores de Sundance como um dos melhores filmes exibidos no festival deste ano. Descrito como uma “experiência desorientadora”, o longa se envereda pela mente de uma garota que tem psicológico destruído pela difícil relação com a mãe e que começa a levar muito a sério seu papel numa peça de teatro. Este processo, em conjunto com os enfrentamentos cada vez maiores entre mãe e filha, aparentemente são abraçados pelo filme em caráter quase alucinógeno, que parece também levar ao limite o comentário sobre o ofício do ator.
“The Miseducation of Cameron Post”
Vencedor do prêmio principal do júri, “The Miseducation of Cameron Post” foi o principal filme de temática social de Sundance este ano. O longa de Desiree Akhavan (diretora talvez mais conhecida por seu papel de protagonista do terror “Creep 2”), que trata do caso real de uma garota que em 1993 foi enviada para um centro de “cura gay” após ser flagrada beijando a rainha da festa de formatura da sua escola, é descrito como uma versão cômica de “Um Estranho no Ninho” sobre o avanço perigoso do conservadorismo religioso em questões que não lhe dizem respeito. Protagonizado por Chloë Grace Moretz, o filme recebeu mais elogios por seu elenco coadjuvante que inclui entre outros a jovem Sasha Lane, revelada há dois anos no “Docinho da América” da diretora Andrea Arnold.
“Private Life”
Além de estar em Sundance para comprar e distribuir filmes (incluindo aí o “A Futile and Stupid Gesture” de David Wain, lançado recentemente no catálogo do canal), a Netflix este ano também veio pro festival com uma produção própria. Produzido em parceria com a Likely Story, “Private Life” é o terceiro longa-metragem de Tamara Jenkins, diretora que há mais de dez anos ganhou os holofotes do mesmo evento com o elogiado “A Família Savage”, e acompanha uma escritora que tenta engravidar de seu marido a qualquer custo em sua meia-idade. Assim como “Savage” em 2007, “Private Life” foi bastante notado pela crítica e o público pelo trabalho do elenco, liderados por atuações inspiradas de Kathryn Hahn e Paul Giamatti.
“Sorry to Bother You”
Em evidência graças às suas participações em projetos celebrados como “Corra!” e “Atlanta”, Lakeith Stanfield parece ter encontrado em Sundance mais um veículo prestigiado para chamar de seu com “Sorry to Bother You”. Protagonista do filme do estreante e rapper Boots Riley, Stanfield interpreta na história um atendente de telemarketing que descobre a chave para o sucesso em uma versão alternativa da Oakland atual. Definido como uma das produções mais doidas do festival este ano, o longa traz ainda no elenco nomes em alta em Hollywood como Tessa Thompson, Armie Hammer e Terry Crews.
“The Tale”
Talvez o maior destaque de Sundance este ano foi o “The Tale” de Jennifer Fox, que já teve os direitos de distribuição vendidos com exclusividade à HBO. Inspirado no próprio caso de assédio sexual que a diretora sofreu quando criança, o longa estrelado por Laura Dern mostra uma mulher sendo forçada a revisitar o seu primeiro contato com o sexo muitos anos depois do ocorrido para tentar determinar – dentro das próprias memórias distorcidas por ela mesma – se o evento aconteceu ou não da maneira que ela recorda. Extremamente pessoal e produzido num momento tão sensível ao tema, a produção tem tudo para dominar as atenções quando o canal resolver lançá-lo em sua programação.