Campanha da Salon Line com rap de empoderamento sobre cabelo liso divide opinião do público
Filme que traz pluralidade de mulheres, mas pede respeito ao cabelo liso, deixou o público confuso quanto ao discurso
Lançada no último dia 22 de abril, a nova campanha da Salon Line acabou dividindo a opinião do público em relação ao discurso utilizado. Explorando o mote “Meu Cabelo é Liso e o Papo é Reto”, o filme traz uma pluralidade de mulheres (asiáticas, negras, indígenas e brancas) em uma espécie de movimento de empoderamento do cabelo liso. O vídeo conta ainda com uma trilha exclusiva interpretada pela rapper Katú Mirim.
De acordo com a Salon Line, a ideia da campanha foi mostrar a “importância da valorização da pluralidade do liso“. Já o diretor de criação da marca, Alexandre Manisck, ressalta que a escolha de um rap para o filme teve como intenção trazer força ao trabalho: “Trouxemos um rap com a Katú, uma letra incisiva, com um histórico de música de protesto. Fazendo um contraponto, trabalhamos em evidenciar a personalidade do cabelo liso e também a potência da mulher em si“, afirma.
O resultado, no entanto, gerou polêmica. Muitas pessoas questionaram o discurso da campanha, que pede respeito ao cabelo liso. O blog Mundo Negro ressaltou que o pedido de respeito e aceitação aos cabelos lisos não faz sentido, uma vez que o mesmo não sofre qualquer tipo de preconceito, pelo contrário: “[a marca] errou ao sugerir que cabelo liso sofra algum tipo de preconceito também”.
Nas redes sociais, a marca se defende dizendo que a campanha mostra diversidade nas participantes do filme. No entanto, alguns elementos do discurso não colaboram com essa visão mais ampla da mensagem. Especialmente a utilização do rap na trilha sonora, gênero musical que historicamente é uma ferramenta cultural de expressão da comunidade negra.
Intérprete da canção, Katú Mirim também defende o posicionamento da marca e reforçou que não viu problema na campanha, que abriu espaço para pessoas “não-padrão”: “Sou indígena, sapatão e periférica e fiquei feliz em receber um convite onde seria a protagonista sem reforçar estereótipo. Ocupar um espaço onde nunca me vejo. No momento que recebi a letra, fiz algumas alterações. A letra teve como base minha vivência, com um cabelo com dread e, por isso, falei que cabelos lisos são diferentes.“.
Parte do público também não viu problema na peça, entendendo a campanha como uma forma de mostrar que não são apenas pessoas brancas que têm cabelo liso, e que os cuidados com o mesmo devem ser incentivados para todos.
Procurada pelo B9, a marca ainda não comentou a repercussão da peça.
[Atualização 29/04] A Salon Line enviou o seu posicionamento sobre discussão envolvendo a campanha “Meu cabelo é liso e o papo é reto”. Segundo a empresa, sua intenção é “passar a mensagem que dentro desse recorte do cabelo liso existe diversidade. Sabemos que pessoas com o cabelo liso não são alvo de preconceito e opressão. A ideia da campanha, não é uma contraposição do cabelo liso ao crespo, o intuito é exaltar o empoderamento da mulher como um todo, respeitando sua liberdade de escolha de modo geral.
Respeitamos a luta contra o preconceito sofrido por mulheres que têm o cabelo afro, crespo ou cacheado. Compartilhamos do movimento contra a opressão, desejamos uma sociedade de liberdade e respeito. A Salon Line trabalha a favor do empoderamento da mulher negra em suas linhas, seja ela Hidra, S.O.S Cachos, #todecacho, dentre outras, bem como nas campanhas e em suas redes sociais. Valorizamos todas as belezas e a diversidade da mulher. A Salon Line foi uma das primeiras marcas a fazer produtos para cada tipo de curvatura e a primeira a trazer embaixadoras plurais.
Entendemos que a mulher, por ser mulher, sofre preconceito em escalas e graus diferentes, seja mudando a cor do cabelo, cortando, raspando. A mulher sofre preconceito também pelo tipo físico, orientação sexual, tom da pele e estilo de vida. Queremos enfatizar que todas têm o direito de mudanças, escolha, ser livre e de ter o cabelo que desejar.” [fim da atualização].