Reagir a tudo nas redes sociais atrapalha experiência do cinema, afirma David Lynch
“A não ser que você seja um poeta, as palavras falharão com você” disse o cineasta sobre a tentação constante do público em escrever o mais rápido possível sobre aquilo que acabou de ver
Ainda que sempre esteja promovendo revoluções dentro de seu cinema, David Lynch nunca foi exatamente uma pessoa “contemporânea” no que diz a abraçar as redes sociais e outros ambientes e rituais tecnológicos dos dias de hoje. O diretor de obras magníficas como “Cidade dos Sonhos” e “Twin Peaks” já afirmou em entrevistas recentes não ter assistido um filme em cinco anos e que os trailers atuais prejudicam as produções divulgadas, mas esta semana dirigiu suas atenções à relação atual de plataformas virtuais como o Facebook e o Twitter com o cinema durante o Festival da Disrupção, tradicional evento de música, cinema, artes e meditação que o cineasta organiza junto de sua David Lynch Foundation.
De acordo com o Indiewire, Lynch criticou a necessidade constante das pessoas de expor seus pensamentos nas redes sociais como algo que está atrapalhando a forma pela qual se prestigia a sétima arte. “Você termina um filme estes dias e imediatamente tem esta pressão de escrever sobre ele em suas próprias palavras.” afirmou o diretor, que também comentou sobre como é importante explorar as sensações promovidas por uma obra nos momentos posteriores ao seu fim. Neste sentido, tudo que o ambiente virtual faz é prejudicar esta experiência ao encurta-la, algo que ele resumiu ao afirmar que “A não ser que você seja um poeta, as palavras falharão com você”.
Estas declarações se deram durante uma conversa do diretor com o público promovida pelo festival, uma discussão mediada pelo cineasta Paul Holdengräber onde o próprio Lynch pediu aos espectadores que guardassem seus celulares até que a sessão de perguntas e respostas terminasse. O cineasta também comentou sobre como estes aparelhos impedem que seus usuários experimentem o momento que passam, estando muito mais preocupados em registrar os acontecimentos que exatamente vivê-los – segundo ele, as câmeras “não fotografam o seu interior”, então é melhor relembrar a emoção que assistir depois o vídeo da situação.
Além dos temas contemporâneos, Lynch também discutiu sua relação com o tabaco e voltou a afirmar que seu interesse artístico no momento está na pintura. Entre suas atividades de lazer, o diretor disse que tem assistido alguns programas na TV com certa regularidade: “Eu assisto séries sobre crimes e o canal da Velocity. Eu amo ver pessoas construindo e customizando seus carros” ele declarou no evento. O cineasta não fez nenhum comentário sobre o futuro de “Twin Peaks”, série cujo revival no ano passado foi um grande sucesso de crítica e rendeu até colocação nas listas de melhores filmes do ano de veículos importantes como a Sight & Sound.