Bots não estão focados em noticiar política no Twitter como imaginamos, concluem pesquisadores
Sites de entretenimento ou de opiniões políticas moderadas estão entre as fontes mais compartilhadas por perfis automatizados
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Aparentemente, não poderemos, durante as eleições, culpar os robôs pela linha-de-frente da disseminação de fake news ou das notícias mais calorosas relacionadas à política. É uma das conclusões que podemos tirar dos resultados de uma pesquisa realizada por um centro de estudos americano e especializado em política e opinião pública, o Pew Research Center. Ao analisar o conteúdo compartilhado por “suspected bots”, ou perfis aparentemente automatizados do Twitter, a pesquisa chegou a resultados que só aumentam a complexidade do debate sobre os principais atores da forte influência exercida pelas mídias sociais nas últimas eleições americanas, algo que acende um alerta sobre como o fenômeno vai influenciar o pleito brasileiro.
Para realizar a análise, os pesquisadores usaram um algoritmo de rastreio de perfis automatizados, o Botometer, que identificou cerca de 636 contas que poderiam ser categorizadas como bots. A partir da API do Twitter e de scripts, foram rastreados 108.552 tweets ligados a 50 sites populares de notícias durante um período de seis semanas entre os meses de junho a setembro de 2017. São sites que produzem conteúdo original, mas que foram divididos entre aqueles que são de veículos online, e aqueles que são websites de jornais e emissoras de rádio e televisão não-digitais.
Entre os resultados, destacam-se a diferença maciça entre o conteúdo compartilhado dos portais de notícia rastreados na pesquisa, e aquele oriundo de outros tipos de websites (blogs de entretenimento, esportes, entre outros). Enquanto apenas 59% dos perfis analisados compartilharam conteúdo noticioso, uma pesquisa anterior do Center Pew Research Center constatou que 66% dos bots compartilharam conteúdo de sites de nicho.
E quando o conteúdo é noticioso, ele não está veiculado à política: apenas 25% do conteúdo identificado com a editoria foi compartilhada pelos bots.
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Gráfico que mostra a relação inversamente direta entre conteúdo noticioso compartilhado e política
Do conteúdo político compartilhado, os pesquisadores também identificaram a visão ideológica dos veículos: boa parte das fontes dos bots são sites de posição moderada, que compõe de 57% a 66% das notícias.
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Gráfico que mostra a relação entre conteúdo oriundo de sites com posicionamento ou audiências mais liberais (à esquerda) e de sites com posicionamento ou audiências mais conservadoras (à direita).
Apesar da pesquisa lançar criticismo sobre o papel-chave que seria desempenhado pela disseminação de notícias políticas por bots, é importante ressaltar que a identificação de polaridades possui suas diferenças com o contexto noticioso brasileiro, que apesar da influência do mass media americano, ainda está muito ligada a um viés de neutralidade política, ainda que muito questionável. No entanto, os resultados mostram o potencial do engajamento de conteúdo por bots, independentemente da editoria, e de que forma o seu alcance está diretamente ligado à relação entre conteúdo e o público-alvo dessa forma de propagação: quem consome e contribui para o compartilhamento desses links? E qual é a sua parcela entre o público dos websites que foram fontes para esses conteúdos divulgados pelos bots?