Cinco grandes criações de Stan Lee

Se pensarmos na cultura pop como hoje a conhecemos, Stan Lee foi, indubitavelmente, um dos grandes responsáveis por ela. Escritor, editor, produtor e empresário, Lee criou, na Marvel, alguns dos super-heróis mais populares da história. Ao lado de artistas como Jack Kirby, Steve Ditko e John Romita, com quem trabalhou por muito tempo ao longo de sua quase centenária vida – Lee era o idealizador, Jack, Steve e John transformavam as ideias em ilustração –, Stan Lee criou figuras que são relevantes não só para os gibis, mas para a popularização dos heróis, já que são dele criações que fizeram o público se identificar de forma inédita com personagens de histórias em quadrinhos.

Curiosamente, o legado de Lee ainda reverbera pela cultura. Mesmo que suas criações tenham metade de um século de vida, elas ainda revolucionam indústrias. O Homem de Ferro, por exemplo, foi criado em 1963, e em 2008, 45 anos depois, foi o ponto de partida de uma revolução na indústria do cinema: a criação do Marvel Cinematic Universe. Em homenagem ao lendário autor, decidimos listar cinco de suas muitas criações e comentar um pouco sobre o impacto delas na cultura.

Homem-Aranha

O Homem-Aranha talvez seja a grande criação de Stan Lee. O personagem alter-ego de Peter Parker surgiu pela primeira vez em Amazing Fantasy #15, de 1962. Com design criado por Steve Ditko, o “cabeça de teia”, como também é conhecido, conquistou os leitores e, posteriormente, os espectadores das séries de televisão e filmes, por sua humanidade.

Diferente de boa parte dos heróis da época, o Homem-Aranha é um personagem com dilemas humanos. Órfão, oriundo de uma das partes mais simples de Nova Iorque, o Queens, e tendo que administrar sua vida acadêmica e profissional com o heroísmo, o Aranha é um herói mais próximo de seu público.

Diferente de ícones como o Super-Homem, que é um alienígena indestrutível, e do Batman, que é um magnata dotado de habilidades de investigação e combate incomparáveis, o Homem-Aranha é um rapaz que não escolheu ser picado pela aranha e vê em seus poderes uma responsabilidade que o obriga a amadurecer. É um personagem que, em vez de se preocupar em salvar o mundo ou o universo, se divide entre pagar a conta de luz e enfrentar vilões mais urbanos e com quem tem alguma conexão emocional, como o pai de seu melhor amigo (o Duende Verde).

X-Men

A segunda criação mais popular de Stan Lee hoje está nas mãos da Fox, que já fez mais de dez filmes inspirados no universo mutante. Os X-Men são, provavelmente, os personagens que mais causaram identificação no público que buscava por histórias de heróis que representassem dilemas sociais.

Com arte de Jack Kirby, a equipe surgiu pela primeira vez em The X-Men #1, de 1963. Não à toa, o grupo de mutantes surgiu no mesmo ano em que Martin Luther King fez seu histórico discurso “I have a dream”. Os X-Men são uma clara metáfora para os conflitos raciais existentes na América desde sua fundação. Os líderes dos heróis e dos vilões – respectivamente, o professor Charles Xavier e Magneto –, são as versões em quadrinhos do próprio Martin Luther King e de Malcolm X, duas figuras que, de diferentes maneiras, lutaram pelos direitos dos negros.

Quarteto Fantástico

Hoje, o Quarteto não é um grupo tão popular. Após os problemáticos filmes de 2005, 2007 e 2015, a equipe liderada por Reed Richards ficou um pouco sumida, tendo até desaparecido dos quadrinhos por um tempo. O grupo composto por Senhor Fantástico, Mulher Invisível, Tocha Humana e Coisa, porém, foi o primeiro grande passo da Marvel.

Criada em 1961, em The Fantastic Four #1, a equipe foi o primeiro time de heróis do hoje conhecido panteão de personagens da Marvel. Sem eles, provavelmente não existiriam boa parte dos heróis da Casa das Ideias que hoje conhecemos. Eles inauguraram não só uma nova fase na vida de Lee, mas foram a primeira grande revolução nos quadrinhos que o autor capitaneou.

Hulk

Visto pela primeira vez em The Incredible Hulk #1, de 1962, o monstro esmeraldino da Marvel que habita o corpo do cientista Bruce Banner é um dos mais aproveitados personagens criados por Stan Lee. Além de ser figura constante nos filmes da saga “Vingadores”, o Hulk já ganhou dois filmes de 2002 (dirigido por Ang Lee) e de 2008 (dirigido por Louis Leterrier). Um de seus grandes marcos de sua trajet´øria, porém, é a série “The Incredible Hulk”, protagonizada por Lou Ferrigno que foi exibida de 1978 a 1982. A série foi o maior sucesso da Marvel na televisão antes da parceria que a empresa viria a firmar com a Netflix nos últimos anos.

Homem de Ferro

Criado no mesmo ano em que os X-Men, o Homem de Ferro sempre foi um personagem B da Marvel. Tudo mudou, porém, em 2008, quando a Marvel lançou seu universo cinematográfico que veio a revolucionar a fórmula blockbuster do cinema hollywoodiano. O filme de Jon Favreau eternizou Robert Downey Jr no papel do herói e garantiu vida nova ao estúdio, que nos anos 90 chegou a vender suas principais propriedades intelectuais para não ir à falência.

Legado em outras mídias

Além da revolução nos quadrinhos e na criação da mais bem sucedida franquia da história do cinema, os personagens criados por Stan Lee também marcaram a vida de muita gente de outras formas. No começo do século XXI, o Homem-Aranha e os X-Men ganharam adaptações cinematográficas que reviveram o gênero, que parecia estar morto após o fracasso dos filmes do Batman da época.

Na televisão, o Aranha e os mutantes também tiveram muito sucesso. Ambos ganharam animações que, no Brasil, foram exibidas na Fox Kids e foram o primeiro contato de boa parte da geração dos anos 90 com a Marvel. Isso sem falar no impacto da Marvel nos video-games. Em 2018, por exemplo, o Marvel’s Spiderman se tornou um dos jogos mais vendidos de sua geração.

Independente da mídia, o fato é que Stan Lee foi, ao lado de outros talentosos artistas, o pai de personagens e histórias que revolucionaram a cultura pop americana e, consequentemente, do mundo. Não à toa, mais de cinquenta anos depois de sua criação, vários desses personagens ainda quebram recordes nas mais diversas mídias.