Facebook comprou a Oculus VR. E daí?

Facebook comprou a Oculus VR. E daí?

Algumas reflexões iniciais sobre o assunto da semana

por Luiz Yassuda
Oculus VR

O assunto tech da semana: a venda da empresa Oculus VR para o Facebook pela bagatela de US$ 2 bilhões. O valor, maior que o desembolsado pelo Google na compra do YouTube há alguns anos, pode até não ser real (o valor pago à vista é menos do que um quarto do número anunciado), mas já serviu para que muitos questionassem o negócio.

Tudo bem que ninguém mais se surpreende com valores negociados pelo Facebook desde a compra do WhatsApp. Mas a Oculus VR é uma empresa que jamais colocou um produto sequer no mercado. Então como surge uma negociação como esta?

O amigo Daniel Resende comentou na semana da compra do WhatsApp que os valores finais são inflados pela imprensa porque também estimamos o Facebook valendo muitos bilhões que, na realidade, não existem no mercado. Desta maneira, é possível que o Mark Zuckerberg contrate um Mark Zuckerberg, pagando com ações.

A compra da Oculus VR segue o mesmo princípio: ao notar uma equipe de desenvolvimento promissora, o Facebook compra a empresa, coloca os brilhantes profissionais dentro de seu escritório e, talvez, até possa ganhar algum dinheiro com o produto a ser lançado – o que já seria puro lucro.

Resolvido o primeiro ponto, vamos à segunda polêmica, bem mais difícil de digerir quando estamos justamente discutindo com bastante energia os nossos direitos e deveres ao nos relacionarmos com negócios na Internet: como ficam os milhares que ajudaram a Oculus VR doando seu sagrado dinheirinho no Kickstarter?

A empresa levantou por crowdfunding muito mais dinheiro do que havia pedido (cerca de US$ 2 milhões). Entregou os kits prometidos a todos aqueles que ajudaram (não prometeram o produto final), mas o sentimento de uma série deles, após se depararem com as cifras nas notícias, era de descontentamento – inclusive pedindo seu dinheiro de volta. Afinal, se ajudaram a empresa a nascer, onde estaria a parte deles desses bilhões?

Como ficam os milhares que ajudaram a Oculus VR doando seu sagrado dinheirinho no Kickstarter?

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O que nos leva a uma questão importante: ao ajudar qualquer tipo de empresa, criador ou produto com algum dinheiro em ferramentas de crowdfunding, eu não estaria investindo, ou seja, comprando parte dela? Joel Johnson, da Valleywag, comenta que não vai mais ajudar nenhum projeto de crowdfunding enquanto uma lei que permita aos doadores iniciais uma chance de recuperar o investimento no caso de um grande sucesso não for aprovada.

Será que deveríamos ganhar mais do que o prometido no ato de doação? Penso em algumas coisas sobre o assunto, mas não são conclusões definitivas:

Quando contribuo com alguma causa específica, realmente não espero qualquer retorno financeiro, porque também não vejo nenhum retorno financeiro vindo do projeto. Por exemplo: contribuí com R$ 50 para o Festival do Baixo Centro há algum tempo, por acreditar que o melhor retorno que este dinheiro poderia proporcionar seria única e exclusivamente a realização das atividades programadas.

KickStarter

Também já fiquei jogando dinheiro na minha tela quando vi um projeto de uma espécie de Nespresso de cervejas, mas não cheguei a financiá-la. Seria muito legal ter este produto no mercado, mesmo que eu não lucrasse um centavo com isso. Mas fiquei com aquela sensação de que pagar US$ 1,5 mil era demais. Mas, sei lá: se estivesse sobrando, talvez eu pagasse só para ter o produto em casa.

Quando você coloca dinheiro em uma ideia no Kickstarter, mais do que ser um dos primeiros a receber um protótipo, você tem a esperança de ver aquela inovação na rua

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Ao mesmo tempo, entendo a decepção por parte de quem ajudou a Oculus VR. Creio que não é exatamente pelos bilhões, mas pela especulação sofrida pela empresa antes mesmo de termos um novo produto no mercado.

Quando você coloca dinheiro em uma ideia no Kickstarter, mais do que ser um dos primeiros a receber um protótipo, você tem a esperança de ver aquela inovação na rua, no dia-a-dia das pessoas. A realidade para o Rift é apenas uma: por mais que o Facebook diga que vai lançar o produto no futuro, as chances parecem menores para quem vê de fora.

No entanto, ainda acredito que o crowdfunding é meio essencial de financiamento de inovação. Colocar algum dinheiro em alguma ideia pelo simples motivo de viver num mundo melhor já seria um bom investimento. Penso que boa parte do que está lá esperando por doação é besteira (sério, bacon seco de bolso?), mas o pouco que vale a pena realmente pode fazer alguma diferença.

De qualquer maneira, tudo isso faz pensar.

//Imagens: Nan Palmero; Gil C / Shutterstock.com.

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